10 “info‐inclusão” Termo utilizado pela Comissão das Comunidades Europeias (2007) Iniciativa Europeia i2010 sobre Info‐
2009 iPod shuffle
3. Os desafios da escola na sociedade da informação
3.2 As Evidências e contradições da escola no uso das TIC
Como já referimos, o relatório da agência das Nações Unidas (2009), indica que o telemóvel é a tecnologia mais utilizada mundialmente. Em Portugal, nos últimos cinco anos, os portugueses adquiriram mais de 23 milhões de telemóveis – mais do dobro da população portuguesa. Estas aquisições são explicadas, em parte, pelo facto dos telemóveis oferecerem cada vez mais funcionalidades que os tornam imprescindíveis77.
Cardoso (2007), num estudo a nível nacional, aponta que 84% dos jovens, dos 9 aos 18 anos de idade, usam o telemóvel (diariamente fazem cerca de 4 chamadas e enviam em média 26 sms’s). Verificamos que hoje, na mochila escolar de um jovem, é frequente encontrar não só cadernos, livros e lápis, mas também, consolas, computadores portáteis e leitores mp3.
A escola parece, em parte, ainda viver num mundo fechado de escrever e falar, em oposição à escola em comunicação com o mundo exterior, através das tecnologias de informação. Vive-se o dilema entre o PTE e as novas disposições regulamentares: por um lado, há a implementação do PTE no âmbito da Sociedade da Informação, que promove o uso de dispositivos tecnológicos como quadros interactivos, videoprojectores, computadores com acesso em banda larga, por parte das crianças e jovens em educação formal; contraditoriamente, temos o novo estatuto do aluno que pode incentivar a proibição de artefactos electrónicos dentro da escola. Esta parece ser uma contradição que a escola deve resolver.
77 In Falar global. Disponível em http://sic.aeiou.pt/online/noticias/programas/falarglobal/Artigos/Telemoveis+do+futuro.htm ,
Como evidências, temos crianças e jovens que, com o incentivo dado pelo PTE, usam frequentemente computadores portáteis e outros artefactos electrónicos dentro da escola. Através da câmara digital do Magalhães e outros computadores, telemóveis e mp3, os alunos registam situações que ocorrem dentro da escola. O uso de artefactos electrónicos móveis é uma realidade; estes equipamentos permitem registar, receber e enviar dados do recinto escolar para o exterior, sem passar por qualquer espécie de controlo.
Ora, se hoje em dia os jovens, nas nossas escolas, apresentam telemóveis, consolas e toda a panóplia de artefactos tecnológicos, por que não aproveitar essas ferramentas na escola ou mesmo na sala de aula para fins educativos? Como refere Kukulska-Hulme et al. (2007), a proliferação de telemóveis e de outros artefactos portáteis tornou a aprendizagem móvel. O ensino e a aprendizagem passou de uma tarefa conduzida por especialistas para uma actividade quotidiana, onde os artefactos móveis são ferramentas pessoais que podem ajudar as pessoas a aprender, onde quer que estejam. Segundo os autores, o conhecimento pode ser adquirido, quer em situações de educação formal quer através de conversação ou no apoio informal.
O vídeo “Dá-me o telemóvel, Já!”, colocado no YouTube, que chocou o país, pode bem ilustrar o que se passa nas escolas relativamente ao uso de artefactos electrónicos por parte dos jovens. A cena, filmada por um aluno, passou-se em Março de 2009, numa escola secundária do Porto, e nela via-se uma aluna de 15 anos que exigia a devolução do seu telemóvel. Os restantes alunos assistiram divertidos à cena, e até impediram que um deles acalmasse a colega. Este episódio teve como consequência, lançar uma discussão alargada sobre o que já se ia passando, o uso dos telemóveis na sala de aula. Os alunos registam, gravam e comunicam na escola e durante as aulas. Muitos professores são da opinião que o telemóvel deve ser simplesmente proibido independentemente da sua utilização, mas outros há que defendem o seu uso e queele pode ser um recurso pedagógico, a incluir como ferramenta de trabalho.
A contradição surge no novo Estatuto do Aluno que, ao elencar os deveres dos alunos, no Artigo 15.º, refere:
Não transportar quaisquer materiais, equipamentos tecnológicos, instrumentos ou engenhos, passíveis de, objectivamente, perturbarem o normal funcionamento das actividades lectivas, ou poderem causar danos físicos ou morais aos alunos ou a terceiros.
Objectivamente, este Estatuto proíbe o uso de equipamentos tecnológicos se perturbarem o normal funcionamento das aulas. Contudo, cabe ao professor orientar as actividades;
se, em determinado contexto ou actividade, o professor incluir estes equipamentos como ferramentas de trabalho, estes já poderão ser considerados como recursos válidos. Várias escolas têm já no seu Regulamento Interno a proibição efectiva de telemóveis, máquinas fotográficas, materiais de recolha de som e imagem, recursos que podem ajudar na recolha e pesquisa de informação. O uso destes artefactos alargam as potencialidades do computador que por sinal são amplamente incentivados pela democratização do acesso (empresas comerciais e operadores promovem frequentemente campanhas). A disseminação destes pequenos objectos electrónicos, complementada com os programas de distribuição de computadores portáteis, torna esta proibição desajustada.
Relembrando Elisabete Guimarães, professora de Inglês da E.B. 2;3 Julio-Saúl Dias “A legislação actual, nomeadamente, o novo Estatuto do Aluno, os Regulamentos Internos das escolas, proíbem os telemóveis nas aulas. No entanto, os adolescentes escrevem diariamente centenas e centenas de mensagens de texto, mensagens de chat rooms que são escritas usando o menor número de letras possíveis.” (Agrupamento Vertical de Escolas Julio-Saúl Dias, 2008)78
Defendemos que os regulamentos internos das escolas, em vez de estabelecerem uma atitude radical de proibição, devem deixar em aberto a opção da utilização destes artefactos electrónicos de forma a permitir o seu uso, enquanto ferramentas pessoais de aprendizagem. O Regulamento Interno deve contemplar a possibilidade de utilização, permitir ao professor a decisão de em determinado contexto incluir o uso destes equipamentos no seu trabalho, da mesma forma que o professor pode optar pela utilização na sala de aula, do computador, do quadro interactivo, ou videoprojector. Esta proposta foi apresentada e aprovada em Conselho Pedagógico, em 2009, de forma a ser incluída no novo Regulamento Interno do Agrupamento Vertical de Escolas Julio- Saúl Dias – Vila do Conde.
Em jeito de resumo, podemos concluir que a resolução não passa pela proibição de artefactos mas sim pela aquisição de aplicações e software educativo, que permita a professores e alunos tirarem partido de forma a desenvolverem contextos significativos de ensino e aprendizagem.