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2.2 – AS EXIGÊNCIAS E O HERMETISMO DO MERCADO DE TRABALHO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

De acordo com comentários de Celso Furtado, em entrevista dada para a TVE no programa “Conexão Roberto D’Ávila” no ano de 2002, o Brasil, sob certos aspectos, é um país de estruturas sócio-econômicas atrasadas dentro dos padrões da própria localidade latino-americana. Assim sendo e tomando como referencial os ensinamentos do citado autor quanto ao âmbito econômico do labor, podemos comparativamente dizer que a Argentina possui níveis de vida, renda per capita e de produção formal, bem mais equacionados que os nossos.

Então, isso nos faz ver que as maneiras nocivas como às classes empresariais dominantes - nacionais e estrangeiras - tratam os trabalhadores no Brasil. Esse fato foi incapaz de colocar a nação dentro dos patamares exigidos pelo processo de produção, outrora criado e aprimorado pelos países desenvolvidos desde o final do século XVIII e início do século XIX.

Na verdade, nosso país saiu de uma economia meramente agrária para ingressar aos poucos no modo industrial de produção. Contudo, permanecem resquícios das raízes arcaicas de uma forte cultura colonial arraigada à essência da nossa sociedade contemporânea na sua compreensão espoliadora acerca da forma como as estruturas produtivas devem lidar com os trabalhadores.

Nesse sentido, a construção dos direitos laborais no Brasil foi tardia de modo que a flexibilização da CLT, nos conformes dos interesses dos empregadores, pode significar a negação desse conjunto mínimo de garantias jurídicas e sociais necessárias à sobrevivência da classe que vive do trabalho.24

Portanto, no nosso passado, sobretudo, no período do milagre econômico (fase dos governos militares 1964 – 1985) as nossas estruturas de poder e contenção social       

24  Tomando como base esse entendimento genericamente injusto e equivocado, os governos 

que nos dirigiram até a presente data sempre mantiveram laços políticos de controle social em  consonância  com  a  exploração  dos  empregados  pelos  empregadores,  na  manutenção  das  relações  de  dominação  laboral,  bem  como  nas  crescentes  diferenças  sócio‐econômicas  históricas  com  as  quais  temos  que  conviver  diariamente  e  sobre  as  quais  o  setor  produtivo  tanto vem se apoiando ao longo dos tempos. 

acreditavam que apenas o desenvolvimento industrial e o aquecimento do comércio em geral seriam suficientes para combater as variadas formas de discrepâncias sociais e econômicas com as quais temos que conviver no Brasil.

A opinião pertinente ao senso comum que reinava até então, fazia com que a maioria dos indivíduos da população trabalhadora tivessem a impressão de o desenvolvimento industrial bastava para que males como a pobreza, a contração de rendas e as desigualdades regionais pudessem ser dissipadas paulatinamente e em caráter definitivo. Contudo, tal condição estava distante dos ideais a serem alcançados em prol da justiça social.25

É fundamental que haja a real compreensão de um sistema que alimenta as muitas desigualdades através do subdesenvolvimento permanente e cruel por excelência, pois a partir do momento em que ele cria e estimula as diversas formas de exigências, ele também gera dificuldades e hermetismos no mercado de trabalho no Brasil.

Assim sendo, o atual sistema econômico global aprisiona a evolução do direito do trabalho como resultado direto de todo um processo histórico local de luta pela justiça social. O direito do trabalho nasceu especificamente alicerçado nas teorias de contraposição ao poder opressivo economicamente direcionado contra os trabalhadores. Tornar flexível o seu conjunto de normas positivadas é enfraquecer a sua força de proteção e equilíbrio sobre as relações de trabalho.

No entanto, a expansão industrial que se projetou no país durante o século passado e este século camuflou relevantes problemas que se agravavam em ritmo crescente. Reforçando alguns pontos que já mencionamos antes e acrescentando outros pontos que discorreremos mais à diante, devemos citar que no computo total da teoria da flexibilização das leis trabalhistas encontramos um conjunto de fatores.

São eles os seguintes: as correntes migratórias internas, a destruição do meio ambiente, a supremacia da política estrangeira sobre a política nacional, a desarticulação e a repressão referente aos pleitos das lutas sócio-políticas, o enfraquecimento dos sindicatos, o sucateamento das instituições do Estado, a favelização das paisagens       

25  A raiz do problema do desemprego estrutural se encontra no desrespeito à aplicação literal 

daquilo  que  é  preceituado  pelos  textos  positivados  pelo  direito  do  trabalho  em  benéfico  de  toda classe trabalhadora. A maior comprovação disso se revela no próprio desequilíbrio sócio‐ econômico fomentado pelo sistema capitalista selvagem ao qual vivemos atrelados. 

urbanas, o aumento nos índices de violência, a desproporção entre mão-de-obra excedente e as escassas ofertas de trabalho formal e acessível, a insegurança jurídica quanto à manutenção dos princípios do direito do trabalho pertinentes à proteção do proletariado, a precarização das relações de trabalho, a informalidade laboral como meio de vida, a quebra da soberania dos Estados nacionais, entre outras preocupantes questões paralelas dentro de uma realidade mundial aceleradamente impositiva e cambiante quanto ao universo do trabalho nas suas diversas acepções de evolução constante.

Pela ótica crítica de Celso Furtado em “O capitalismo global” (2001, p.22), ele nos acrescenta o seguinte comentário:

Estamos vivendo hoje uma nova fase dessa luta. A integração política planetária em curso avançado de realização está reduzindo o alcance da ação reguladora dos Estados nacionais em que se apoiavam as organizações sindicais. Em conseqüência, a organização da multinacional e mesmo planetária, em prejuízo do poder de negociação das massas trabalhadoras. Daí, que o duplo processo de desemprego e exclusão social, por um lado, e, por outro, de concentração de renda se haja intensificado por todas as partes.

Um forte indicador disso é a desproporção existente entre o crescimento populacional posto em contraposição às contribuições que a previdência social arrecada em face à impotência do Estado com suas estruturas básicas já devastadas pela voracidade econômica do neoliberalismo global.

A presente desconstrução dos conceitos edificados em torno da idéia de soberania nacional em parceria com a formação de um Estado de Bem Estar Social é o resultado direto das práticas neoliberais. Esses fenômenos socialmente nefastos da globalização se fazem valer por via da extinção das medidas protecionistas voltadas para os trabalhadores, posto que o capitalismo global passou a entendê-las como barreiras impeditivas do crescimento econômico em geral.

Com o endosso institucional desse tipo de posicionamento neoliberal, os instrumentos de amparo laboral da sociedade passam a ser quebrados desde a base da sua tutela constitucional até a sua aplicação empírica conforme preceituam as determinações da CLT e de todo conjunto jurídico que forma o nosso ordenamento jurídico trabalhista em vigor.