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3.3 As famílias políticas mais influentes no Legislativo Piauiense

Até final no século XIX, precisamente no início das décadas de 1980 e 1990, a linha de reprodução e recrutamento das bancadas políticas no Legislativo piauiense tinha passado impreterivelmente pelas principais origens familiares do Piauí. Durante as décadas citadas, duas origens familiares se destacavam no provimento de consecutivas linhagens que possuíam números significativos de representantes diretos no Legislativo do Estado: as famílias Almendra Freitas e Portella.166 Outra de grande destaque era a família Castelo Branco, tida como “uma oligarquia velha do Piauí, onde seu tronco, Francisco da Cunha de Castelo

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ARRAES, 2014, p. 45-46.

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Branco, fixou-se em começos do século XVIII; era irmão do primeiro conde de Pombeiro”.167 Esta apresentou representantes para o Legislativo até o final dos anos 1990.

Desde o início dos anos 1950 até os anos 1990, a família Freitas possuía representatividade significativa no cenário político piauiense, assumindo cargos de prefeituras municipais até cargos de autoridade máxima do poder executivo. Os membros dessa família foram eleitos pelo PFL e, cronologicamente, pelo PSD, Arena e PDS. A família Freitas formava no estado o cenário político oligárquico típico e confirmava a ideia de governo de poucos.

As conquistas políticas da família Freitas afirmavam a ideia de que o sistema familiar era um importante indício da manutenção da política oligárquica dominante no Piauí. A condição de oligarquia não era vista com bons olhos por alguns políticos descendentes deste grupo familiar, pois, para eles, o processo eleitoral era a única fonte de acesso ao poder. Tal ideia poderia ser contrariada diante de um grande número de políticos descendentes desse grupo familiar no cenário político naquela época.168

Petrônio Portella era o político notório da família Portella. Trata-se de um indivíduo que conquistou destaque tanto no cenário estadual quanto no Nacional. Foi de vereador a governador do estado, presidiu a Arena e o Congresso Nacional e foi Ministro da Justiça. Com capacidade política na direção das alianças e nas negociações, ele conduziu o esquema político UDN-PSD por vinte anos, que permaneceu unido e vitorioso por vinte e dois anos no Piauí. Somando-se à ascensão da família Freitas, com o casamento de Petrônio Portella com uma filha do então governador piauiense, Pedro Freitas, ainda na década de 1950, as duas oligarquias passaram 35 anos ininterruptos no controle do Poder Executivo do Estado.169

A família Portella, guiada por Petrônio Portella, comandou uma das maiores e vitoriosas oligarquias, conquistando cargos do alto escalão da política nacional. Esse clã familiar conquistou inúmeros postos políticos que, até 1999, somavam-se quatro governadores, dois senadores e onze deputados. A oligarquia Portella viveu seu apogeu e hegemonia durante as décadas de 1960 e 1970. A partir dos anos 1980, quando a elite local desmembrou-se em duas partes, a família viu seu poder declinar. No entanto, ainda há resquícios de seu poder no atual cenário político federal.

O quadro político piauiense foi espaço historicamente de predomínio e hegemonia de basicamente duas famílias, levando a concluir que o recrutamento das bancadas parlamentares

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DORIA, Francisco Antonio et al. Herdeiros do Poder. Rio de Janeiro: Revan, 1994. p. 28.

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ARRAES, 2000, p. 88.

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ocorria no interior dos esquemas oligárquicos hegemônicos e das famílias tradicionais piauienses. A análise dos tópicos seguintes tem o intuito de discutir se a configuração das bancadas continua sendo a mesma nos quinze primeiros anos da década de 2000.

É possível adiantar que as relações familiares e seus arranjos com o poder político não deixaram de existir, pois as práticas são basicamente as mesmas. No entanto, a mudança ocorre nas concepções de não se limitar na ideia da família nuclear e, a partir disso, tornarem-se mais extensas e com alianças mais diversificadas, mirando no controle e na manutenção do poder político.

Com isso, até às eleições de 1998 observou-se resquícios do poder e influência da família Freitas na composição da bancada parlamentar. Nesse mesmo pleito, o clã familiar elegeu o deputado Robert Freitas que, ainda ligado ao PFL, acumulava mandatos na Alepi desde 1986 e seguiu para exercer o cargo de prefeito de sua cidade natal nos anos seguintes. Dentro desse mesmo grupo familiar, encontramos os políticos Átila Lira e Hugo Napoleão Neto que resistiram ao tempo e conseguiram ocupar postos políticos durante os anos 1990 e 2000.

Wilson Martins (PSDB) e Homero Castelo Branco Neto (PFL) foram outros dois deputados de linhagens familiares tradicionais do estado. Ambos são ligados por entrelaçamento familiar e originários dos primeiros políticos a construir a história política do estado: o primeiro ligado ao Presidente da Província do Piauí, Manuel de Sousa Martins, e o segundo pertence à dinastia dos Castelo Branco.

A família Portella tem mantido uma cadeira na Câmara Federal, com a deputada Iracema Portella (PP). A manutenção do poder político dessa família contou com a ajuda de outra família tradicional do estado: os Nogueira. Ciro Nogueira é o atual líder político dessa família, senador e presidente nacional do Partido Progressista e casado com a deputada supracitada. No Parlamento estadual, também houve outros representantes: o ex-deputado Marcelo Coelho (PPB) e sua esposa Margarete Coelho (PP).

As seguintes legislaturas apresentaram um leque mais diversificado de famílias políticas. A diversificação familiar na composição das bancadas eleitas entre os anos eleitorais de 2002 e 2014, não serve como base para dizer que são famílias frágeis no cenário político piauiense ou que seu poder político está mais fragmentado. A diversificação familiar no Parlamento Estadual evidencia que aquelas famílias tradicionais, coesas, homogêneas e controladoras de todo o poder político, precisavam arquitetar novas táticas de sobrevivência. Para isso, elas se relacionaram com outras famílias que também eram importantes no meio político, mas com poder político mais regionalizado.

Desse pontapé inicial, essas famílias conseguiram estabelecer novas alianças e mais força política, perpetuando-se no poder e transmitindo o mesmo para as gerações futuras. Vale lembrar que essa situação não abrangeu todas as famílias que tiveram representação significativa dentro da Alepi e essas relações se davam tanto em laços de amizade como em laços partidários.

Durante essas legislaturas, houve quatorze famílias influentes que estiveram presentes no Legislativo nas últimas três décadas, como as famílias Dantas Eulálio, da família Monteiro, Paes Landim, Leite, Brandão, Xavier, Paulo, Santos, Castro, Neiva, Ferreira, Moraes Souza, Tapety e Marques. Isso nos levar a considerar que os arranjos realizados pelas famílias políticas servem para controlar uma das vias mais significativas de intermediação entre o poder político e suas zonas de influência eleitorais.