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CAPÍTULO 1: DO CAMINHO AO CAMINHAR

1.2 O caminho e a definição do percurso

1.2.2 As fases da pesquisa

A escolha de trabalhar com análise documental de reportagens jornalísticas se deve ao fato de que participei de dois grupos de estudo que possuem constituição própria ou socialmente construída, características bastante mutáveis, oriundos um do governo e outro dos movimentos sociais. Para Cellard (2008), a análise documental favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre outros.

O trabalho com esse tipo de documento foi bastante interessante, principalmente porque permitiu observar que as reportagens trazem implícito um discurso midiático, que nem sempre reflete a impressão da sociedade civil ou que s

reproduz um discurso imposto por uma categoria dominante que, às vezes, leva à condução da política pública pelo governo.

O município de Fortaleza possui dois grandes jornais de circulação e esses, normalmente, promovem discussões sobre questões de interesse social. Portanto, utilizei-me de reportagens que foram publicadas no período de 2004 a 2012 e que discutiam alguns pontos cruciais da política de Educação Infantil local e nacional.

Para tanto, aprofundei-me na conjuntura socioeconômica e política que propiciou a produção das reportagens. Esse conhecimento permitiu compreender o contexto em que as discussões foram construídas, os conceitos, os argumentos e as refutações das pessoas ou grupos sociais representados nos documentos.

No ano de 2004, o Município realizou a transferência financeira dos convênios formalizados com entidades comunitárias para gerenciamento de creches, da área da assistência para a educação, o que justifica o recorte temporal da pesquisa, que compreende o período de 2004 a 2012. Esse recorte possibilitará uma análise da Educação Infantil na sua integralidade de atendimento de creches e pré-escolas, realizado na esfera da educação.

Na fase da pesquisa que corresponde à análise dos dados, que defino como a mais importante, articularei os dados empíricos com as questões levantadas, confirmando ou não os pressupostos. De acordo com Bodgan & Birklen (1994, p. 205):

A análise de dados é o processo de busca e de organização sistemático de transcrição de entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o objetivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou.

Ludke & André (1986, p.45) também afirmam que “a análise está presente em vários estágios da investigação, tornando-se mais sistemática e mais formal após o encerramento da coleta de dados”. Conforme Chizzotti (2008) existem diferentes termos que podem ser utilizados para extrair os significados de textos ou outros elementos de coletas de dados. O autor apresenta especificamente três possibilidades: a análise do conteúdo, a análise do discurso e a análise de narrativas.

A análise do discurso é a possibilidade de análise dos dados que se apresenta, a meu ver, como mais adequada ao propósito desta pesquisa, pois, pois segundo Chizzotti (2008, p.120):

A análise do discurso pressupõe que tal discurso não se restrinja à estrutura ordenada de palavras, nem a uma descrição ou a um meio de comunicação, nem tampouco se reduz à mera expressão verbal do mundo. O discurso é a expressão de um sujeito no mundo explicita sua identidade (quem sou, o que quero) e social (com quem estou) e expõe a ação primordial pela qual constitui a realidade.

O contexto histórico e a posição social concorrem para a produção de significados de cada discurso, inserindo nesses significados visões de mundo diferenciadas e que, na minha análise, não serão consideradas como um estágio final, visto que estará permeada também pela minha compreensão de mundo e do contexto em que me insiro.

A fase de análise dos dados também será dividida em etapas que estarão interligadas e, embora sendo distintas, fazem parte de um todo. A primeira etapa constitui-se na caracterização detalhada dos dados empíricos, colhidos no primeiro nível da atuação da política. Essa fase serviu para caracterização das ações que orientam e estruturam a política e deverá apontar como as relações e os embates se constituem.

Na etapa seguinte, busquei compreender as relações constituintes e constituídas na atuação da política, visto que estas dizem respeito aos processos vivenciados. Foi nessa fase que tentei conhecer, por meio da análise das entrevistas, a ação concreta dos atores envolvidos, os problemas vivenciados, os embates sociais e o relacionamento entre as proposições e o desenvolvimento das ações. O contexto das interações estabelecidas entre os diversos atores sociais envolvidos nas atividades (executores da política e representantes da sociedade civil) foi imprescindível para a compreensão das relações que se estabelecem entre Estado e sociedade.

Essa relação além de frágil é permeada por divergências de conceitos e de interesses, que às vezes se alargam ou se estreitam, dependendo da gestão de um ou outro espaço social. Existe ainda, correlação entre a condução da política local e o quadro mais amplo da política pública nacional, bem como das relações de poder nessas esferas, fato que corrobora ainda mais com a necessidade de entender o contexto em que são construídas as políticas.

A análise da atuação dos sujeitos da pesquisa será um desdobramento da fase anterior. Esta também me possibilitou compreender os conceitos acerca da política avaliada, bem como identificar a perspectiva em que a questão do direito à educação está posta. Foi também nessa fase que pude perceber contradições e antagonismos latentes na política, habilitando-me assim a postular novos problemas à investigação.

A tarefa de compreensão das expectativas e interesses sociais requer uma observação atenta dos aspectos culturais e ideológicos que permeiam o contexto em que os atores diretamente envolvidos com a política se inserem. Portanto, é crucial identificar em que contexto político se desenvolve a ação, para compreender as formas de construção e implementação da política.

Nessa última fase, para o tratamento dos dados a articulação dos conhecimentos teóricos que embasaram a pesquisa com as opiniões colhidas no campo empírico foi fundamental. Isso proporcionou elucidar as hipóteses levantadas e responder aos objetivos propostos, apresentando as conclusões do trabalho não como produto final, mas como ampliação de conhecimentos, visto que tanto a política quanto a avaliação desta se constituem como processos dinâmicos.

Concluo, então, que este percurso da pesquisa e as contribuições teóricas apresentadas neste capítulo se configuraram como norte investigativo que possibilitou a análise das concepções presentes na construção da política municipal, a interpretação dos fenômenos de causalidades da sua implementação e, a partir das interrogações e embates apresentadas no seu percurso histórico, compreender a relação existente entre Estado e sociedade na proposição e execução da política de Educação Infantil, principalmente no tocante à afirmação do direito da criança.

Assim, no capítulo seguinte, discorrerei sobre a trajetória da política de Educação Infantil no contexto nacional, evidenciando os fatos marcantes deste percurso que, direta ou indiretamente, influenciou ou influencia o processo de construção e execução da política local. É também nesse capítulo que discutirei a Educação Infantil enquanto direito, a legislação que a fundamenta e o descompasso existente entre sua regulamentação e sua efetivação.

CAPÍTULO 2: ATENDIMENTO À “CRIANÇA PEQUENA” NO BRASIL:

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