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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

3.4 As Fontes Historiográficas

Em nosso trabalho, utilizamos como fonte secundária o jornal e livros sobre o tema e, como fonte primária, a lei da Reforma Educacional de Carneiro Leão. Desse modo, fazendo uso da metodologia da Análise de Discurso, seguimos a ideia de Burke (2011) quando afirma que “nos preocupamos com o elemento social na

política e com o elemento político na sociedade” (BURKE, 2011, p. 37), tais elementos examinados sobretudo, a partir dos discursos educacionais circulantes na sociedade do início do século XX. Neste aspecto, a própria leitura dos documentos na Nova História é diferenciada (e assim procedemos) já que nossa relação com os textos, mesmo sendo eles, textos do passado, não pode ser a mesma que aquela dos leitores do passado:

Com o gesto de selecionar e reunir os objetos, o historiador se defronta com a responsabilidade de reconduzir as fontes ligando-as ao passado, cuja cumplicidade repousa na memória. Somente dessa maneira é possível transformar em documentos o que existia sob outra perspectiva, inclusive o que era exposto socialmente com outra finalidade que não a atribuída pelo historiador. [...] Talvez o principal trabalho da historiografia seja o de transformar em documentos uma variedade de objetos distribuídos de maneira dispersa em determinados lugares unidos a uma “produção sócio-econômica e cultural”, ajuizado, portanto, a um discurso. (SOUZA, 2009, p. 16). Assim, as etapas metodológicas da pesquisa consistiram inicialmente de pesquisa bibliográfica e posterior revisão e aprofundamento das questões teóricas e metodológicas das referidas obras, analisando, discutindo e aprofundando tais questões. E o trabalho de campo, que incidiu na coleta e análise documental de artigos do Jornal do Recife, em sua publicação da tarde, dos anos de 1928 a 1930, sob guarda do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano5, em Recife- PE, e do Ato nº 1.239 da Reforma Educacional de Carneiro Leão, também sob guarda do Arquivo Público Estadual. Diante disso, fez-se uma triangulação de dados que segundo Flick (2009), possibilita relacionar diferentes abordagens metodológicas, como fatos objetivos, subjetivos, históricos ou mesmo atuais, inclusive em pesquisas qualitativas:

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Inicialmente em nossa pesquisa pretendíamos analisar os artigos do jornal Diário de Pernambuco dos anos 1928-1930, porém, embora esta fonte estivesse disponível através do arquivo de microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), durante a formulação das bases deste trabalho, no momento em que fomos coletar os dados efetivamente, não conseguimos fontes em bom estado para leitura e ao que pudemos constatar, a parte do Diario de Pernambuco que tratava da educação, não nos possibilitava a leitura pela mesma estar ilegível. Procuramos na ocasião então, nos arquivos do Arquivo Publico Estadual Jordão Emerenciano, que possui os originais destes jornais, porém, os mesmos estavam interditados, pois fomos informados que, com seu manuseio, o mesmo ficou em péssimas condições de uso/pesquisa. Neste caso, mudamos então o jornal a ser pesquisado.

A triangulação implica que os pesquisadores assumam diferentes perspectivas sobre uma questão em estudo ou, de forma mais geral, ao responder a perguntas da pesquisa. Essas perspectivas podem ser substanciadas pelo emprego de vários métodos e/ ou abordagens teóricas. Ambas devem estar ligadas. Além disso, refere- se à combinação de diferentes tipos de dados no contexto das perspectivas teóricas que são aplicadas aos dados. [...] A triangulação deve produzir conhecimentos de diferentes níveis, o que significa que eles vão além daquele possibilitado por uma abordagem e, assim, contribuem para promover a qualidade da pesquisa. (FLICK, 2009, p. 62).

A partir da triangulação dos dados, realizamos em seguida a análise de discurso do material coletado, entrecruzando essa análise aos teóricos trabalhados na pesquisa, para então produzir resultados, levantados a partir dos objetivos estabelecidos. Neste sentido, para obtenção dos dados foi adotada a pesquisa documental a partir de artigos de jornais. Levando-se em consideração a ideia de Le Goff (1994) de que “o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder” (LE GOFF, 1994, p. 545), foram pesquisadas as publicações do Jornal do Recife datadas de: 01 de novembro de 1928 a 31 de dezembro de 1928; 01 de janeiro de 1929 a 31 de janeiro de 1929; 01 de dezembro de 1929 a 31 de dezembro de 1929 e 01 de janeiro de 1930 a 31 de janeiro de 1930 (datações que correspondem ao período de instituição do Ato nº 1.239 de 1928; decorrer do mesmo Ato, 1929; e final do mesmo, 1930). A partir do exame destas publicações foi possível obter diversas informações relativas à educação no período, bem como suas leis, estrutura das escolas, disciplinas estudadas, ações proferidas pelas escolas, informações sobre o magistério, especificações sobre os professores, visitas técnicas escolares, manifestações relativas à organização da educação e de seus professores, etc. Além disso, o nosso trabalho também está embasado no Ato da Reforma Educacional do estado de Pernambuco (Reforma Educacional de Carneiro Leão). Ambos os documentos são analisados a partir da ideia de que:

O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado da montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido, durante os quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento [...] que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados, desmistificando-lhe o seu esforço aparente. (IBIDEM, 1994, p. 547).

Diante dos dados coletados, foi realizada a Análise de Discurso baseada na observação dos dados extraídos dos artigos utilizados nesta pesquisa. Os registros dos documentos citados acima foram obtidos por meio da pesquisa direta (ARÓSTEGUI, 2006). Levando-se em consideração que os documentos não são simplesmente, nem somente, uma representação dos fatos ou da realidade, tratamos o documento, como aconselha Flick (2009), ou seja, sublinhando que:

Alguém (ou uma instituição) os produz visando a algum objetivo (prático) e a algum tipo de uso (o que também inclui a definição sobre a quem está destinado o acesso a esses dados). Ao decidir-se pela utilização de documentos em um estudo, deve-se sempre vê-los como um meio de comunicação. (FLICK, 2009, p. 232).

A escolha dos documentos seguiu a teoria de Mazzotti e Gewandsznajder (2002) que “considera como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação”. (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 169). A análise dos dados coletados na pesquisa inicial fez, no decorrer do processo, nos limitarmos em detalhar os documentos que, de fato, nos serviram como base para nosso estudo, levando em consideração que se faz necessário definir os documentos mais importantes e que demonstrem de maneira evidente, o que a pesquisa quer estudar:

Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando- lhes o significado. Este é um processo complexo, não-linear, que implica um trabalho de redução, organização e interpretação dos dados que se inicia na fase exploratória e acompanha toda a investigação. (MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 170).