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A partir das reflexões apresentadas pelos autores, há de se perceber que, no campo dos recursos tecnológicos para a prática de ensino de Geografia, as geotecnologias têm sido utilizadas para instrumentalizar e potencializar a prática docente por intermédio de diversos softwares e aplicativos. É importante lembrar que existe a possibilidade das informações advindas desses recursos tecnológicos se sobreporem aos objetivos didáticos do ensino; questão que o professor, por meio de sua racionalidade pedagógica e de seu conhecimento técnico, poderá dirimir em seus encaminhamentos para o fluxo do processo pedagógico. Apenas para exemplificar, tem sido reconhecida a importância das geotecnologias para o ensino de cartografia nas escolas, possibilitando maior compreensão de como ferramentas e recursos de geoprocessamento podem ser utilizados potencialmente pelos professores para sua prática docente. No entanto, muitas vezes, as informações advindas desses recursos tecnológicos extrapolam os objetivos do ensino, em diferentes fluxos e complexidades, em termos de informações específicas e técnicas, que precisam ser ajustadas e mediadas pedagogicamente pelo professor, para atender os níveis exigidos para cada série (SOUSA, 2018, OLIVEIRA et al, 2018; OLIVEIRA e NASCIMENTO, 2017).

Na figura 2, a seguir, a título de exemplo, é possível perceber as interações existentes com algumas ferramentas das geotecnologias para o ensino de cartografia nas escolas.

Figura 2 - As geotecnologias no contexto da Geomática

Fonte: (OLIVEIRA; NASCIMENTO, 2017, P. 161).

De acordo com Oliveira e Nascimento (2017, p. 160-161),

Dentre as principais geotecnologias estão o Sensoriamento Remoto, o Geoprocessamento, os Sistemas de Informações Geográficas, o Sistema de Navegação por Satélite (GNSS; mais conhecido pelo primeiro sistema criado, o GPS), a Cartografia Digital e a Web Cartografia. [...]. No escopo das geotecnologias há inúmeros formatos distintos de softwares e aplicativos, que envolvem desde a cartografia digital, a webcartografia, até o geoprocessamento e o trabalho com imagens digitais de sensoriamento remoto. [...]. Os programas que mais se destacam no mercado brasileiro, atualmente, são: ArcGIS, ERDAS IMAGEM, IDRISI, GRASS, QGIS, gvSIG e Spring. Desses, os quatro últimos possuem licença gratuita de utilização e apenas o último tem procedência brasileira.

No campo dos recursos tecnológicos temos percebido também que muitos sites, bancos de dados e plataformas midiáticas têm sido utilizados para instrumentalizar a prática dos professores de Geografia, tornando a sala de aula muito mais dinâmica, interativa e atrativa para o fluxo do processo de ensino. Trata-se de um novo formato de sala de aula que aos poucos passa a se constituir dentro do espaço escolar. Entre algumas plataformas disponíveis no Brasil, por exemplo, temos o portal do IBGE, como o mais importante provedor de dados e informações oficiais, que disponibiliza dados estatísticos e informações de diferentes áreas e segmentos de nossa sociedade e das esferas de governo do país. Os dados oficiais são legítima fonte de documentação sobre os mais variados assuntos sobre o Brasil, com dados estatísticos por temas, por cidades e estados da federação. Pelo IBGE obtêm-se

dados sobre: - a organização do território nacional, - posicionamento geodésico, - atlas (nacional e temáticos), - cartas e mapas, - imagens do território, - informações ambientais, - biblioteca digital, - banco de mídias, - censos demográfico, - agropecuário, - metadados, - informações sobre os países membros do BRICS, - agência de notícias, - calendário das atividades institucionais, - produção e análise de informações estatísticas, - coordenação e consolidação das informações estatísticas, - produção e análise de informações geográficas, - coordenação e consolidação das informações geográficas, - estruturação e implantação de um sistema das informações ambientais, - documentação e disseminação de informações, - coordenação dos sistemas estatístico e cartográfico nacionais, entre outros documentos que se encontram disponíveis em diversos formatos para estudos, ensino e pesquisas (IBGE, 2018a). Todos esses recursos encontram-se disponíveis em seu portal, disponibilizando informações para ensino, estudos e pesquisas científicas, e para o conhecimento do público em geral, podendo ainda servir como um excelente banco de dados para potencializar a prática de ensino dos professores, em particular os de Geografia.

De forma específica para a prática docente, o IBGE também disponibiliza uma ferramenta para o ensino de Geografia que aqui será utilizada (na oficina pedagógica, item 4.2) como apoio para a experimentação prática das racionalidades técnicas e pedagógicas: a WebCart beta. Este programa possibilita a criação de cartogramas a partir de informações advindas do banco de dados do canal Cidades. Para usá-la é preciso que a plataforma JavaScrip esteja habilitada. Os cálculos são feitos a partir de indicadores e variáveis selecionados pelo usuário, e os resultados são disponibilizados nos formatos PDF ou SVG, podendo gerar tabelas nos formatos CSV ou XML para uso nos recursos de editores de textos e de planilhas eletrônicas, conforme apresentado em sua página inicial pela figura 3, e no formato de arquivos para impressão (formatos PDF ou SVG), conforme apresentado na figura 4, a seguir.

Figura 3 - WebCart beta – Página Inicial

Fonte: (IBGE, 2018b).

Figura 4 - WebCart beta – Formato de arquivos para impressão

Fonte: (IBGE, 2018b).

Os temas disponíveis para pesquisa e criação de cartogramas encontram-se distribuídos nas áreas de finanças públicas, ensino (matrículas, docentes e rede escolar pública e privada), estatísticas diversas, censos demográfico e agropecuário, serviços de saúde e sobre extração vegetal e silvicultura, conforme apresentado na figura 5, a seguir:

Figura 5 - WebCart beta – Temas abrangentes

Fonte: (IBGE, 2018b)

Todas as pesquisas para a construção do cartograma podem ser feitas a partir do tema escolhido com no máximo três variáveis dentro da mesma temática. A título de exemplo, escolhemos dentro da temática Ensino – (Matrículas, Docentes e Rede Escolar). Em seguida, selecionamos as variáveis Matrículas no Ensino Médio em Pernambuco, nas escolas públicas das redes estadual, federal e da rede privada (conforme apresentado na figura 6), a fim de chegarmos à informação de quantos alunos matriculados no ensino médio existem em Pernambuco, e em que localidade está a maior concentração. É importante ressaltar que os cartogramas podem ser construídos de formas dinâmicas e sob diversos aspectos e interesses de seus usuários.

Para os professores de Geografia, particularmente, a WebCart beta contribui para a análise de informações dentro das diversas temáticas, pela disponibilização, confrontação e inter-relações de dados e variáveis (figura 7), apresentando ao final, um cartograma (figura 8) com a espacialização das informações e variáveis, de acordo com a fórmula de cálculo e precisão selecionadas. Todos esses recursos são alimentados pelas informações dos bancos de dados para essa ferramenta, com informações e dados disponíveis até o ano de 2015. Em nossa análise, essa tem sido a maior limitação para a construção de cartogramas para o ensino, pela falta de banco de dados mais recente. No entanto, a facilidade de acesso à plataforma sem maiores exigências de conhecimentos tecnológicos e as possibilidades de cruzamentos de dados e informações que podem ser realizados autonomamente, são grandes diferenciais e potencialidades que permitem maiores interações entre professores e alunos.

Figura 6 - WebCart beta – Seleção de temas e variáveis

Fonte: (IBGE, 2018b).

Figura 7 - WebCart beta – Configuração de campos da pesquisa

Figura 8 - WebCart beta – Impressão do cartograma

Fonte: (IBGE, 2018b).

A partir das possibilidades existentes para o uso da tecnologia no ensino pelos mais diversificados recursos, dentre os quais as TIC, percebemos que diversas plataformas de mídias podem ser relacionadas às ferramentas e aos recursos didático-interativos. Ainda que de forma incipiente em âmbito nacional, pernambucano e EREMs e ETEs pesquisadas, estas ferramentas e recursos têm cada vez mais mobilizado e potencializado o conhecimento de professores e alunos para tornar o ensino de Geografia menos hierarquizado, mais dialógico e compartilhado. Compreendemos que as inovações trazidas no contexto da Cultura da Convergência tenham promovido maiores interações entre os sujeitos participantes, onde as trocas de experiências e de conhecimentos passam a ser possíveis pelo espaço do diálogo construído, e pelas interações e entendimentos que passam a existir em seu cotidiano. Assim, a hierarquia se desfaz pela via de comunicação, pelo compartilhamento e diálogo de informações entre professor e alunos, demonstrando, a partir dessa análise, uma aproximação ao Mundo da Vida (HABERMAS, 2016, 2002).

Neste movimento as mudanças promovidas pelas interações tecnológicas têm refletido para uma convergência de ações no ensino de Geografia, visando à utilização dos conhecimentos do aparelhamento técnico, entendido no campo de uma racionalidade técnico- instrumental. Mas também apresenta-se em termos pedagógicos e pelas experiências e habilidades advindas do saber docente e de suas interações com os discentes, para os

enfrentamentos e superações das limitações trazidas pelo próprio conhecimento técnico, e que tendem a ser superados pelos conhecimentos movidos por ações intersubjetivas entre professores e alunos, no fluxo do processo de ensino. Na verdade, são reflexos da resistência do Mundo da Vida às imposições do Sistema (ARAÚJO, 2010, GUTIERREZ e ALMEIDA, 2013).

Esse movimento que tem refletido no campo do ensino com o uso das TIC é fruto da crescente convergência tecnológica da cultura midiática, a partir de uma análise dos processos produtivos, e pelo reforço que as tecnologias têm produzido no poder de interação de processos de ensino e de aprendizagem na sociedade informacional, ao considerar as interligações existentes na trajetória do desenvolvimento tecnológico (LÉVY, 2010). Desse modo, torna-se compreensível concordar que os recursos trazidos para a nova sala de aula pelo desenvolvimento tecnológico hão de, cada vez mais, permitir interligar diversas informações e saberes para o entendimento dos processos geográficos, estabelecendo ligações em diferentes áreas do conhecimento. Na verdade, o desenvolvimento tecnológico, presente na base da sociedade da informação, trouxe essa capacidade flexível promovida pelas tecnologias para o processo de aprendizagem (WERTHEIN, 2000).

Para a prática docente essa convergência tem possibilitado a (re)construção de um espaço propício para o alargamento dos métodos e técnicas de ensino, promovendo espaços de interação entre professores e alunos com trocas que podem resultar numa tentativa mais autônoma de organização e construção de saberes, tendo no professor um mediador (e não iluminador) nessa construção. Nesse sentido, é importante compreender que no processo de ensino-aprendizagem com o uso das TIC, a construção do espaço de diálogo midiatizado é imprescindível para uma interatividade e integralização de ações entre professores e alunos, que por meio das tecnologias têm possibilitado dinamizar o processo de ensino, buscando transformar a nova sala de aula em um jogo de interações, em que se permite flexibilizar as ações para o fluxo da aprendizagem.

A nova sala de aula é resultado, assim, de uma convergência de ferramentas, processos e ações, fruto de um intenso e significativo conjunto de acontecimentos que marcou a sociedade informacional no transcurso do século XX ao XXI. Esse movimento promoveu e integrou uma série de informações e dados, com o uso dos instrumentos técnicos e científicos da informática e da cibernética, como as multimídias, o sensoriamento remoto, as tecnologias geoespaciais e, em particular, o SIG. Esse arcabouço trouxe uma nova realidade para o cotidiano das pessoas, e novas ferramentas para lidar com a pesquisa, entendimento e ensino dos processos geográficos. Nesse sentido, ao incorporar as TIC à nova sala de aula, encontrará

dificuldade em seguir o formato tradicional, ou seja, unidirecionalmente por uma via monológica, racionalizadora, linear e meramente instrumental em suas ações. O esforço será sair de uma atitude materializada numa relação hierarquizada e linear do sujeito-objeto para, aos poucos, pela integralização das TIC no ensino, incorporar e se desenvolver por um canal intersubjetivo e reflexivo entre os envolvidos – isso considerando que o uso das TIC tende a se intensificar na sociedade da informação, aumentando os canais que agregam envolvimento e interação. Esse movimento, que é um fenômeno global, tem possibilitado construir espaços de diálogo midiatizados, e tem se mostrado propício à integralização de processos e ações em meio à grande disponibilidade de recursos existentes para o ensino de Geografia.

De modo geral, acreditamos que essas condições advindas desse fenômeno global possam conceber a possibilidade de melhorias nas interações entre professores e alunos, gerando mais iniciativa e autonomia na busca pelo saber, e possibilitando espaços de „reflexão‟, que em nosso caso específico se refletiria na prática dos professores das escolas participantes desta pesquisa. Buscaremos agora discutir e praticar essas “possibilidades e reflexividades” potencializadas pelas TIC a partir do diálogo entre racionalidades (técnico- instrumental e comunicativo-pedagógica). Tendo os professores de Geografia das EREMs e ETEs como referencial empírico, a realização da oficina com os professores de Geografia veio como meio de contribuir para o aperfeiçoamento da prática do professor pelo uso das TIC, oferecendo técnicas (plataforma WebCart Beta) e reflexões em direção àquela emancipação preconizada em Habermas.

5 POSSIBILIDADES E REFLEXIVIDADE COM O USO DAS TIC NA PRÁTICA