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3.2 OS INFORMANTES

3.2.4 As gerações como ponto de análise

Comparar gerações é uma tarefa árdua e, inclusive, uma atividade complexa. As gerações possuem as suas particularidades e a cada nova perspectiva geracional tem-se implicações diretas na forma como as novas pessoas agem e pensam, mas não só isso, pois, também podem se acentuar as diferenças e os conflitos entre as mesmas.

De acordo com Pinto (2001), que pesquisa sobre as gerações e as suas particularidades, foram traçadas características geracionais que impactam sobretudo naquilo que vivemos ou vivenciamos Assim, de acordo com Pinto (2001), tem-se um perfil geracional no quadro 06.

VETERANOS BOOMERS GERAÇÃO X GERAÇÃO Y podemos verificar que os comportamentos adotados pelas diversas gerações também são refletidos no campo da comunicação. Enquanto as gerações mais velhas (veteranos e baby boomers) são tradicionais quanto aos aspectos organizacionais, lógicos e apegados às regras, inclusive às regras de linguagem, o processo inverso ocorre com as gerações mais recentes (x e y), em que a informalidade e o descompromisso com as normas são uma constante. A

sobrecarga de informações e a indiferença às autoridades também são característicos dessas duas últimas. Cabe citar que muitos da geração X poderão adotar uma postura mais tradicional, e muitos baby boomers poderão ter posturas mais modernas, o que implica que generalizações sejam perigosas e, que entre uma geração e outra, ainda transitam perfis. O que podemos destacar são as mudanças e as características geracionais quanto às consequências que podem ocasionar nos comportamentos e culturas de uma civilização.

Assim, entendemos que, ao darmos foco às mudanças de gerações, estamos inseridos em uma realidade. Em razão desse fato, no presente estudo foi controlada a variável “idade”, em lugar da variável “escolaridade”, a qual também tem sido objeto de análise em muitas investigações de caráter sociolinguístico.

A escolha do controle da variável “faixa etária” em lugar da variável “escolaridade”

encontra argumento no fato de que não houve grandes diferenças no planejamento curricular no sistema educacional do Uruguai nas últimas gerações, de acordo com os estudos publicados no livro editado pelo Instituto Nacional de Evaluación Educativa (INEEd)

“Continuidad y cambio en el currículum - Los planes de estúdio de educación primaria y media en Uruguay”. Podemos destacar, quanto às modificações de planejamento curricular, que, de acordo com o INEDd, ao analisarmos a educação primária, a mesma foi regida, basicamente, por três planejamentos de estudo desde 1979. Nessas revisões, durante trinta anos, a organização do conteúdo escolar manteve uma estrutura clássica. Na verdade, houve uma evolução conceitual e uma substancial variação no programa para a Educação inicial e primária apenas no planejamento de 2008, que introduziu importantes modificações nas formas de regular o currículo.

Portanto, se considerarmos as gerações que serviram como informantes na pesquisa, poderemos notar que ainda a geração Y, até 2008, foi instruída com a mesma base de pensamento educacional das gerações anteriores, cuja estrutura básica era relativamente igual, centrada na distribuição típica por áreas escolares: Língua (Idioma Espanhol), Matemática, História, Geografia, Ciências, Educação Moral e Cívica, Expressão e Educação Física.

Somente indivíduos da geração Alpha6, estariam experimentando a nova proposta curricular.

No entanto, não há, na presente pesquisa, nenhum informante da geração Alpha ou com essa faixa etária. Entre as propostas curriculares, seja ela de 1979 ou de 1986, a maior diferença encontra-se na carga horária disponibilizada para a língua materna, conforme demonstrado nos Quadros 7 e 8.

6 Geração Alpha é expressão usada para designar a nova geração de crianças nascidas a partir de 2010.

Quadro 7: Plano de 1979. Carga horária segundo grau e área (em porcentagem)

Quadro 8: Plano de 1986. Carga horária segundo grau e área (em porcentagem)

Como podemos ver nos Quadros 7 e 8, na área de língua materna, havia um domínio no planejamento de 1979 e no planejamento de 1986, com a média entre 40% a 45% do tempo nos três primeiros anos. A perda de 10% do total de horas que sofre essa área no planejamento de 1986, que direciona maior tempo às áreas de matemática e ciências naturais, estaria justificada por visualizarem a “transversalidade”. Assim está designado nos fundamentos do programa:

A linguagem ocupará nesta reformulação do Programa de 1957 um lugar de destaque no afazer docente. Está imaginado como o fio condutor de todo o curriculum, como um fio envolvente para cada disciplina; a sua presença será permanente em cada momento da vida escolar. Talvez, exista menos “aulas de línguas” para deixar passagem, no ámbito da liberdade, a linguagem viva, unida a toda atividade curricular (Programa de Escuelas Urbanas 1986, p. 22).7

Estas mudanças estruturais também são acompanhadas no ensino superior; portanto, ao haver modificações nos planejamentos, também haverá uma revisão no terceiro grau.

Dessa forma, para cada geração analisada, não foi possível identificar mudanças significativas quanto ao sistema educacional. Portanto, o que parece influenciar aqui, após tudo o que foi dito, é o perfil de cada geração.

Ainda cabe destacar que as gerações anteriores às X e Y, se comparadas com as gerações mais recentes, foram submetidas a uma cultura de rigor e disciplina educacional maior no processo instrucional, corroborado nas entrevistas pelos informantes do presente estudo.

Reitera-se, assim, a escolha, para a presente investigação, do controle da variável

“idade” a qual, pelo recorte escolhido, coincide com diferentes perfis geracionais caracterizados no Quadro 8. Essa correspondência pode ser observada no Quadro 9.

Geração Grupo de faixa etária selecionados na pesquisa

Veteranos, Baby boomers Acima de 55

Baby boomers, Geração X, De 31 a 55

Geração X. Geração Y De 16 a 30

Quadro 9: Recorte Geracional escolhido para a pesquisa.