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As hidrovias e a ferrovia na produção socioeconômica

2 MÉTODO: O CAMINHO PERCORRIDO

3.2 As hidrovias e a ferrovia na produção socioeconômica

Os relatos históricos apontam que os primeiros sinais da navegação do rio Parnaíba se deram em 1857, quando a Assembleia Provincial aprovou o primeiro orçamento para compra de um barco para fazer a navegação de Parnaíba à Teresina. Segundo Dias (2004, p. 108), “Consolidada a implantação da hidrovia, uma grande e revolucionária fase de progresso fez-se sentir em toda a economia do Piauí”. Cidades floresceram às margens de um rio ou próximo de uma estação de trem (NUNES, 1972).

3.2.1 Porto das Barcas

Com grandes embarcações transportando as mercadorias do Piauí para os outros estados comercialmente importantes, e dos centros comerciais para o interior

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do Piauí, em 1911, a cabotagem com barcos a vapor chegava ao apogeu no estado, alcançando a cidade de Santa Filomena, distante de Parnaíba mais de 1.000 km, cidade considerada como entreposto exportador (DIAS, 2004). Mais de 100 anos perdurou o domínio da hidrovia no cenário econômico do estado, que se consolidou como ponto inicial do embarque e desembarque de cargas e passageiros no Porto Salgado ou Porto das Barcas, no município de Parnaíba. (ALMANAQUE DA PARNAÍBA, 1938, p. 95)

O rio Parnaíba, na década de 1950, era o caminho principal para o escoamento da produção advinda de outros municípios da região. A partir da década de 1960, o comércio da carnaúba entrou em declínio e a região passou a viver da atividade agropecuária e pesqueira. Na década de 1970, a indústria pesqueira cresceu em Parnaíba com a implantação de frigoríficos e carpintarias navais e, em 1980, com a implantação das fazendas de cultivo de camarão. Mas tal situação não chega a caracterizar um desenvolvimento, pois o setor passou por inúmeras dificuldades, dentre elas a política de desenvolvimento e a escassez de mão de obra capacitada (MOREIRA; MAVIGNIER, 2007, p. 67).

O Porto das Barcas nasceu com a história da cidade de Parnaíba. Localizado no rio Igaraçu, afluente importante do rio Parnaíba, que separa o município de Parnaíba da Ilha Grande de Santa Isabel. “Com o crescente movimento de barcos de passageiros e de comerciantes, o português e fazendeiro Domingos Dias da Silva passou a exportar carne de charque para os países da Europa como Portugal, Espanha e Inglaterra.” (MOREIRA; MAVIGNIER, 2007, p. 68). O comércio tomou grandes dimensões e o Porto das Barcas passou a se chamar Porto Salgado. O governador Gonçalo Botelho de Castro transferiu, em 1770, a sede administrativa da Vila de São João do Parnaíba para o Porto das Barcas e construiu várias edificações em estilo barroco (DIAS, 2004, p. 98). (Figura 2)

64 Figura 2 - Porto das Barcas e seus casarões centenários

Fonte: Majaci Moura da Silvia (2011).

Ao redor do Porto foram construídos, também, inúmeros armazéns que estocavam as mercadorias importadas e para exportação, como a cera da carnaúba e do babaçu. Essas atividades comerciais e industriais renderam ao município de Parnaíba, à época, o título de cidade mais rica e desenvolvida da região. Com o enfraquecimento da exploração dos recursos vegetais e animais, o Porto das Barcas entrou em decadência.

No que concerne ao transporte fluvial, que teve grande importância econômica até meados do século passado, deve ser destacado o problema do assoreamento do rio Parnaíba e de um de seus braços, o Igaraçu. Vale salientar que, além de prejudicar o transporte nas comunidades ribeirinhas, esse problema ainda repercute na paisagem regional, impactando diretamente a configuração de dunas e dos manguezais.

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Após aproximadamente 35 anos do fechamento dos comércios e das indústrias, alguns prédios foram restaurados, preservando-se a mesma arquitetura, transformados em espaço turístico como museus, bares, galerias, agência de viagens, restaurantes, auditório, pousadas, espaço para realização de feiras e congressos (Figura 3), outros estão lançados ao abandono e ao esquecimento dos seus proprietários herdeiros, servindo de esconderijo para marginais e usuários de droga.

Figura 3 - Porto das Barcas restaurado Fonte: Majaci Moura da Silva (2010).

Atualmente é considerado um ponto turístico importante no Delta do rio Parnaíba e voltou a se chamar Porto das Barcas.

3.2.2 Porto dos Tatus

Outro porto de grande importância, mas com história recente, é o Porto dos Tatus. É um ponto de muito movimento; embarque e desembarque de turistas e de pessoas residentes no Delta, que estudam em Ilha Grande ou Parnaíba; entrada e saída de mercadorias e de produtos agrícolas, de pescadores, de pessoas de Ilha Grande que trabalham em roças nas ilhas do Delta ou no outro lado do rio e, por fim, entrada diária de caranguejos e pescados.

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O uso do rio e dos igarapés como via de circulação está condicionado ao movimento das marés e, também, à profundidade dos canais que a cada dia se percebem mais assoreados, restringindo o uso às embarcações de maior calado.

A visitação turística ao Delta do Parnaíba se dá por meio de embarcações de diversos portes, variando-se a velocidade do passeio e o número de turistas, com saídas geralmente realizadas por esses. Dentre as classificações das embarcações têm-se os barcos com capacidade para até 65 passageiros, as Chalanas para até dez passageiros e lanchas rápidas para até oito passageiros. Segundo a Capitania dos Portos, o número total de embarcações para fins comerciais é de cinco barcos, com grande capacidade, e 15 embarcações do tipo chalanas ou lanchas.

A Capitania dos Portos, faz o controle anual e inspeções instantâneas. São aplicadas multas, apreensões e retenções no caso de constatação de irregularidades. A inspeção verifica materiais de segurança (coletes, boias, extintores de incêndio, bomba de esgoto, lanternas, luzes de navegação, rádios de comunicação), sendo que nem todas as embarcações possuem o equipamento ou apresentam ótimo estado de conservação, habilitação dos tripulantes, documentos da embarcação ou seguro obrigatório. LUSTOSA, 2005).

O movimento de transporte fluvial concentra-se no Porto dos Tatus (Fig. 4), onde o cais, propriamente dito, é uma pequena área pavimentada com piso irregular, tanto no material empregado quanto nas características geométricas.