• Nenhum resultado encontrado

Páginas carregadas de textos não são mais habituais no jornalismo contemporâneo, às vezes se limitando a publicações como Diários Oficiais. Um dos motivos para essa mudança foi a concorrência estabelecida com a chegada da televisão, que trouxe imagens agregadas à informação, forçando os jornais a buscarem novas alternativas para competirem com a tela.

Como relata Finberg e Itule (1989), as primeiras ilustrações relacionadas ao conteúdo escrito foram utilizadas pelo jornal “New York World”, de propriedade de Joseph Pulitzer, trazendo rostos de figuras políticas em suas publicações. A consequência foi o aumento na tiragem e vendagem do jornal. Para surtir o efeito desejado, é preciso estar atento quanto ao uso da ilustração nos jornais. FUENTES (2006, 83) alerta que se não for bem utilizada, a ilustração não traz benefícios.

Ainda hoje, mesmo com recursos gráficos praticamente infinitos ofertados por

softwares e um gigantesco banco de dados à disposição na Internet, os jornais populares

ainda utilizam elementos ilustrativos em suas capas:

Figura 82 - Detalhe da capa do SN de 5.10.11; 18.10.11 e 6.12.11

Ambos os jornais se valem das figuras para agregar valor informativo à suas capas. O SN utiliza as ilustrações para agregar conteúdo à informação de que aquelas pessoas estão sendo procuradas pela polícia, para ilustrar comemorativamente os jogos Pan-Americanos e como símbolo da equipe do Atlético Mineiro, se valendo da mascote do time de futebol. O JN utiliza ilustrações também de forma a atrair seus leitores. A primeira à esquerda traz uma caricatura para remeter a Vítor Gaspar. Ao centro, as ilustrações criam organogramas como uma espécie de mapa onde a beleza pode ser encontrada e, à direita, uma ilustração de matéria relacionada ao Natal.

Os elementos devem agir em harmonia, agregando forma e conteúdo na composição visual, sem prejuízos para uma ou outra face da página jornalística.

Poderíamos falar de uma infinidade de princípios que podem ser aplicados ao design dos jornais, mas vamos resumi-los à soma de todos aqueles que, em nossa opinião, resultam de qualquer ponto de vista fundamental: contraste, equilíbrio, simplicidade, organização, ordem e uniformidade ou continuidade gráfica.39 [tradução nossa] (LAREQUI, 1994, p.39)

Diante desses princípios de organização, tem especial importância para o jornalismo a fotografia. Seja por atrair o olhar ou constituir parte da narrativa jornalística, as fotografias têm importante papel no jornalismo popular. A fotografia ganhou espaço no território da mídia impressa com os avanços tecnológicos que permitiram sua impressão com qualidade, além de tornar mais fácil o trabalho de edição de imagens.

Para a capa do jornal o uso da fotografia extrapola o limite do informacional para chegar ao mercadológico, o que justifica, em parte, a predileção por determinados ângulos fotográficos no jornal, ampliando a capacidade de alcançar os leitores. As publicações populares, como o SN e o JN, seguem essa tendência. Devido ao tamanho reduzido das páginas as imagens são pontualmente escolhidas para atrair diretamente seus leitores.

FUENTES (2006, p.85) determina dois principais usos das fotografias no âmbito do jornalismo impresso: registro documental ou ilustração fotográfica. A primeira forma está ligada ao conceito de que jornais são fontes de informação de tempos remotos, e as fotografias fornecem detalhes incapazes de serem identificados nos textos escritos. Aqui também se enquadram as imagens dos acontecimentos jornalísticos.

39 Podríamos hablar de un sinfín de principios que pueden ser aplicables al diseño periodístico, pero

vamos a resumir-los a los que, en nuestra opinión, resultan desde cualquier punto de vista fundamentales: contraste, equilibrio, sencillez, organización, orden y homogeneidad o continuidad gráfica

Já no âmbito ilustrativo o uso mais comum se dá por meio das fotos de arquivo, especialmente de pessoas. Quando não se tem uma imagem atualizada do personagem central da matéria, é comum busca-la em outras ocasiões onde a figura esteve presente para ilustrar a reportagem. Da mesma forma, podemos observar em algumas circunstâncias a utilização de imagens ilustrativas para dar apelo estético a determinado assunto, porém, no âmbito do jornalismo diário e em suas capas, essa utilização com caráter “plástico” é raramente encontrada.

O uso da fotografia permite atribuir credibilidade ao jornal, fazendo com que a imagem passe ter “tão importante quanto o texto, manchetes e outras grandes unidades gráficos” 40 [tradução nossa](LAREQUI, 1994, p.117). Além disso, a fotografia assume

um caráter interacional a partir do momento em que ela, exibida ao leitor, convida-o a pensar, refletir e compreender a imagem. Somado ao texto, seja de manchete, da própria notícia ou da legenda, a imagem fotográfica traz a sensação para o leitor de onipresença, tanto da mídia quanto da própria pessoa quem lê que passa a ser “testemunha” ocular do fato:

Assim, segundo Morin, a função inicial da imagem é representativa, é tornar presente o ausente, ou atingi-lo de algum modo em sua própria materialidade, e essa função é exercida desde o início em uma prática essencialmente mágica. Tal função, bastante conhecida e já exaustivamente estudada, não constitui, no entanto, uma característica apenas arcaica da imagem ou mesmo uma função apenas das imagens em âmbitos de culto. Ao contrário, sabe-se que esse potencial enfeitiçador da imagem é amplamente usado em nossos dias pela televisão, pelo cinema, pela internet, pela publicidade, pela moda. (CONTRERA; BAITELLO JUNIOR, 2004, p. 3)

Esse potencial “enfeitiçador” faz parte do processo produtivo do jornalismo popular, principalmente pelo público-alvo dessas publicações. Por estarmos em um mundo onde o referencial passa a ser o visual e não o textual, como bem pontuam ANTUNES e VAZ (2006), a imagem cresce em importância no design à proporção que o número de “letrados” é menor. As imagens são intencionais e a construção do sentido se dá “de forma a levar o olhar do leitor a uma interpretação do fato ou do momento registrado tal como o desejado pela publicação” (PORTARI, 2009, p.15). Para isso, é necessário que o desenho da página também esteja adequado. Essa preocupação existe, já que “a colocação de uma fotografia na página determina como o leitor vai olhar para

a foto e como ele irá percorrer o restante da página” [tradução nossa]41 (GARCIA, 1990,

p.235).

A leitura das imagens fotográficas e suas relações com as demais notícias que competem o espaço na página vai depender do percurso visual do leitor na página e, mais ainda, da composição conjunta de texto verbal e não-verbal no diagrama. O encontro entre imagem e texto é importante para a compreensão da reconstrução de sentido por parte dos leitores, como demonstramos no Capítulo 1.

RUIZ afirma que “a fotografia, infográfico ou ilustração não deve separar o bloco composto pelo título e subtítulo, se existir, e o início do texto” [tradução nossa]42

(RUIZ, 2002, p.84), e, em outro momento, ratifica: “devem ser agrupadas as fotos relacionadas entre si e separadas aquelas que não estejam relacionadas” [tradução nossa]43 (RUIZ, 2002, p.85).

Se há a preocupação da utilização ordenada da fotografia para haver ancoragem com a manchete a que compete, veremos que no jornalismo popular os projetos gráficos permitem que imagens extrapolem seus limites para alcançar outros conteúdos “alheios” à sua existência, como podemos observar em algumas capas dos populares SN e JN:

Figura 84 – SN de 3.06.2012 e JN de 18.02.2012

O SN faz com que a imagem da modelo e apresentadora Sabrina Sato extrapole “sua” manchete “Passado Triste” para invadir, literalmente, a fotografia da partida de

41 the placement of a photograph on the page determines how reader will look at the photo and how they

will move through the rest of that page

42 la fotografia, infográfico o ilustración no debería separar el bloque compuesto por el título, y el

subtítulo si lo hubiera, del inicio del texto”

futebol relacionada à manchete “América 100% líder com goleada”. Enquanto o JN aproxima a foto de um homem taxado como “Monstro de Beja” que se enforcou na cadeia com outro conteúdo não relacionado à sua morte que diz “Escravizou a mulher

durante 44 anos”.

Nos dois casos, a utilização da fotografia foge aos preceitos dos jornais “de referência” para assumir outras conotações e outras funções na página. O tensionamento visual entre imagens de diferentes notícias com elementos textuais ocorre gradativamente, conforme os olhos do leitor percorrem a página. Esse convite para interpretação das imagens, para Baitello Junior, se deve à independência com que atualmente as imagens técnicas44 adquiriram em relação aos homens, onde temos um “mundo da imagem” que tenta seduzir seus eleitores, sendo a primeira vitória das imagens a própria superfície, de onde muitos dos leitores não passam devido ao “padecimento dos olhos”. (BAITELLO JUNIOR, 2004, p.3)

Se há níveis de profundidade a serem explorados, as imagens se oferecem a serem decifradas e compreendidas. Uma a uma, a seu modo, oferece detalhes e indícios que, em consonância com os textos, ajudam na reconstrução do mundo, já que “toda imagem conta uma história” (HUTT & JAMES, 1989, p.121). Cada imagem ou ilustração, ao ser exposta na capa, atua na produção de sentido e, dessa forma, a sua utilização atua também na construção de mundos possíveis ofertados pelos jornais.

Documentos relacionados