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3.1 O Relaxamento da hipótese da Informação Perfeita: a consolidação de um novo

3.1.1 As Imperfeições da Informação: a abordagem Neoclássica

Um dos trabalhos seminais na área da Economia da Informação foi escrito por George Stigler em 1961. Neste paper, o autor destaca a importância do papel da informação na análise econômica “one should hardly have to tell academicians that information is a

valuable resource: knowledge is Power” (idem, p. 213).

O objetivo inicial de seu trabalho era fazer uma análise dos custos associados à pesquisa de preços como uma forma de se obter informações para compras futuras, associando a imperfeição da informação a um custo de transação. Na medida em que estes custos fossem considerados, não haveria razão para supor a ineficiência dos mercados14.

É válido destacar que as imperfeições da informação trabalhadas por Stigler estão relacionadas a um problema locacional15, uma vez que elas tratam da redução dos gastos gerados pela pesquisa do menor preço16. O cerne de sua pesquisa é que mesmo se tratando de bens homogêneos existem fatores que ocasionam uma dispersão dos preços, tais fatores estão relacionados à existência de custos de transporte, de logística, dentre outros.

Não obstante, essa dispersão pode ser ocasionada também por fatores “qualitativos”, dado que os vendedores podem personalizar suas vendas oferecendo vantagens para seus clientes, adicionando aos bens, serviços extras. Nesse caso, não existe homogeneidade absoluta, conforme destaca Stigler (1961):

Dispersion is a biased measure of ignorance because there is never absolute homogeneity in the commodity if we include the terms of sale within the concept of the commodity. Thus, some automobile dealers might perform more service, or carry a larger range of varieties in stock, and a portion of the observed dispersion is presumably attributable to such differences. But it would be metaphysical, and fruitless, to assert that all dispersion is due to heterogeneity (idem, p. 213).

Na análise de Stigler (1961), a heterogeneidade dos bens se traduz apenas por uma dispersão dos preços, de modo que para um bem com as mesmas características, pode existir mais de um preço. Essa imperfeição da informação não conduz a uma incerteza forte, no sentido keynesiano, uma vez que, se considerarmos que o preço é uma informação pública e pode ser observado pelo conjunto dos agentes, a imperfeição da informação pode ser relacionada apenas aos custos de transação oriundos da busca pelo menor preço.

O custo de busca para um consumidor é aproximadamente proporcional ao número de vendedores abordados, assim quanto mais vendedores abordados maiores os custos. O principal o custo considerado é o tempo despendido no processo de busca que varia de acordo com as preferências de cada agente; por exemplo, o tempo para uma pessoa que

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A concepção de Stigler (1961) difere do conceito de imperfeição da Informação trabalhada por Stiglitz (1986). Enquanto no primeiro a análise é focada na dispersão dos preços, em Stiglitz o foco recai sobre a determinação da qualidade, como será demonstrado mais adiante.

16Igualmente como aborda Salop (1976), a decisão de buscar informações ocorre após a comparação entre

possui uma renda maior pode ser considerado mais valioso do que para uma pessoa com uma renda menor17 (STIGLER, 1961).

De acordo com Stigler, o processo de busca pelo menor preço de um determinado bem depende da razão entre a dispersão dos preços do bem em questão, e os custos associados à pesquisa. Se esta razão for alta, se torna economicamente viável pesquisar vários vendedores, haja vista que os custos de pesquisa são compensados pela economia gerada na compra do bem.

Por sua vez, se esta razão for pequena, a economia gerada na pesquisa pode ser irrisória, não compensando os custos. Neste caso, o agente tem em mente um preço médio atribuído a cada bem, de forma que a decisão de fazer ou não a pesquisa, irá depender da diferença entre o preço encontrado pelo agente e o preço médio que ele tem em mente.

Podemos destacar que o relaxamento da hipótese auxiliar de que a informação é perfeita perpetrada por Stigler (1961), bem como da homogeneidade dos bens, é totalmente compatível com o PPC Neoclássico, definido no primeiro capítulo. Uma vez que, a aquisição da informação pode ser assimilada a um custo; neste sentido, o problema do agente é igualar o custo à receita marginal da compra da informação (HERSCOVICI, 2011, p. 16).

No entanto, quando a heterogeneidade se traduz por uma diferenciação da qualidade, a problemática se modifica. De acordo com o próprio Stigler (1961) a identificação dos menores preços é um importante papel da informação para a economia, mas os problemas na determinação da qualidade é sem dúvida uma questão crucial e analiticamente complexa. Em suas palavras:

The identification of sellers and the discovery of their prices are only one sample of the vast role of the search for information in economic life. Similar problems exist in the detection of profitable fields for investment and in the worker's choice of industry, location, and job. The search for knowledge on the quality of goods, which has been studiously avoided in this paper, is perhaps no more important but, certainly, analytically more difficult. Quality

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O tamanho da amostra a ser pesquisada é definido quando igualamos os custos de pesquisa ao retorno esperado pelo agente, em termos de queda dos preços (STIGLER, 1961).

has not yet been successfully specified by economics, and this elusiveness extends to all problems in which it enters (STIGLER, 1961, p. 224).

Quando as imperfeições do sistema de preços se relacionam tanto com a dispersão dos preços para uma mesma qualidade (homogeneidade), como também para uma dispersão dos preços com uma diferenciação da qualidade, o problema se torna mais complexo. Se considerarmos que as informações a respeito da qualidade dos bens são privadas, somente o vendedor tem o real conhecimento da qualidade do bem, o sistema de preços não tem condições de transmitir essas informações para o conjunto dos consumidores. Estas informações são assimétricas, pois sua divulgação depende da vontade do agente em revelar suas preferências; esta concepção não é compatível com o PPC Neoclássico, uma vez que, a presença de informações assimétricas impede o mercado de alcançar o ótimo de Pareto (HERSCOVICI, 2010).