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As independências (como definidoras do habitus)

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS (páginas 33-45)

Amador Gil (1999: 43), ao escrever sobre a controvérsia estabelecida pelo historiador argentino José Carlos Chiaramonte, afirma que o conceito de nacionalidade argentina só surge na década de 1830, com o romantismo. Muito provavelmente, se Chiaramonte estudasse o Brasil, diria que a nacionalidade brasileira apenas começa a se esboçar na mesma época, da mesma forma.

Entretanto, se são os ideólogos (ou, mudando o termo, a elite) aqueles que definem a nacionalidade, convém lembrar que “as próprias elites, qualquer sociólogo sabe, são condicionadas por fatores sociais e mesmo políticos sobre os quais elas muitas vezes têm pouco ou nenhum controle” (Carvalho, 1981: 20). Em qual meio sócio-político se inseriram as elites político-literárias brasileira e argentina em questão?

As independências e suas repercussões foram importantes fatores para os quais os homens letrados deram atenção com o intuito fornecer as ferramentas apropriadas para legitimar os fornecedores.

2. 1. A independência rio-platense com a queda do Reino de Espanha

O vice-reinado do território que viria a compor a Argentina começa em 1º de agosto de 1776, quando Pedro de Cevallos é designado vice-rei da enorme região do Río de la Plata, que compreendia a região do próprio rio, Paraguai, Tucumán, Cuyo, Potosí, Santa Cruz de La Sierra e Charcas12. A crise política da região é desencadeada em junho de 1806 pela tentativa de invasão inglesa com uma frota inglesa de 1500 homens a mando do general Beresford, na enseada de Barragán. À época, estava no comando do vice-reinado o marquês Rafael de Sobremonte (desde 1804), que foge para Córdoba e, depois, para Montevidéu. A resistência se estabelece ao redor das figuras de Juan Martín de Pueyrredón e Santiago de Liniers. Liniers ataca o forte de Buenos Aires ocupado por ingleses em 12 de agosto e Beresford se rende.

12 Os dados (locais, nomes, datas) desta subseção, quando não indicada a fonte, são extraídos de Romero, 2004:

A resistência popular contra o inimigo e a ausência da figura de autoridade do vice- rei tiveram conseqüências que ficariam como marcas da independência e configuração do imaginário argentinos no campo político; entretanto, a presença inglesa com as idéias de livre mercado agradou os comerciantes e demarcou em grande medida o imaginário econômico.

A luta abaixo da figura emblemática de Liniers não deixava de guardar alguma dúvida, afinal, o grande invasor europeu no momento era um francês, Napoleão, assim como Liniers. Mesmo assim, Liniers organizou as milícias: “todos os vizinhos se mobilizaram para a defesa, e Liniers, imposto pela vontade popular, estabeleceu que os chefes e oficiais de cada corpo fossem eleitos pelos seus próprios integrantes. O princípio da democracia começou a funcionar, mas a distinção entre espanhóis e criollos13 ficou manifesta na formação da milícia popular” (Romero, 2004: 42).

Logo, como se configura o primeiro esboço de nacionalidade argentina? “Por uma parte, a luta pela independência dos argentinos contra um inimigo comum os fez perceber pela primeira vez seu potencial como nação” (Shumway, 2005: 34).

A própria idéia de democracia se estabelece, como se pode observar, através da luta miliciana, sem a figura central do governante. Contra tal figura governante, Liniers investe uma decisão mais audaciosa: frente à nova ocupação inglesa em Montevidéu, o francês propõe que o vice-rei seja deposto.

A nova expedição inglesa, comandada por Whitelocke, chega à enseada de Barragán e encontra um contingente militar organizado por Martín de Álzagar que era superior ao encontrado por Beresford. Tratava-se da organização militar de toda a cidade de Buenos Aires enquanto Liniers preparava suas linhas. Enfim, em 6 de julho, o general inglês pede, também, a capitulação.

Mesmo que a luta militar popular organizada por Liniers lhe tivesse autorizado a audácia de sugerir depor o vice-rei Sobremonte, Liniers não ousou questionar a autoridade de Fernando VII, rei de Espanha, lhe oferecendo fidelidade. Contudo, este era o momento de depor não apenas o vice-rei, mas o rei: logo, um grupo peninsular (vizcaínos, galegos e catalães) dirigido por Álzaga investiu contra Liniers em 1º de janeiro de 1809. Curiosamente, os criollos, encabeçados por Cornelio de Saavedra, que logicamente deveriam apoiar a deposição do rei e, por conseqüência, de Liniers, ficam ao lado de Liniers, figura emblemática

na defesa do território que lhes pertencia. O grupo peninsular é deportado para Patagones, porém, trazido de volta pelo novo vice-rei, Baltasar de Hidalgo Cisneiros, que havia subido ao poder em julho de 1809 através da Junta Central de Sevilla. Segundo Romero, o conflito contra os criollos era inevitável; entretanto, a independência era deles: à sua medida e por sua conta.

A efervescência criolla pela independência não pôde ser contida quando, em maio de 1810 se soube que a autoridade de Bonaparte era reconhecida na Espanha. Em 22 de maio, se reúne um cabido aberto em Buenos Aires para decidir a situação. A vontade criolla de independência era maioria nos votos apurados, entretanto, ainda no dia seguinte, os espanhóis e representantes do vice-rei tentavam manobrar a situação que tendia à perda do poder. Em 25 de maio, o povo formado de militares nativos se concentra em frente ao cabido e, então, percebe-se que é inútil tentar resistir.

O novo governo era encabeçado por Saavedra e possuía Castelli, Belgrano, Azcuénaga, Alberti, Matheu e Larrea como vogais, e Paso e Moreno como secretários.

A hostilidade das províncias contra o governo central já começa desde a convocação dos deputados do interior, situação que Moreno tentava controlar através do jornal Gazeta de

Buenos Aires. Os deputados que chegavam faziam frente conservadora e obtiveram a proteção de Saavedra, fator que impele a renuncia de Moreno em 18 de dezembro. A renúncia pode ser vista como uma grande manifestação do seu espírito progressista. Moreno foi aquele que escreveu as linhas mais fortes sobre a necessidade de livre comércio, do pacto social e de defesa da revolução a qualquer preço: “... por que nos pintam à liberdade cega e armada de um punhal? Porque nenhum Estado envelhecido ou províncias podem regenerar-se sem cortar seus corrompidos abusos, sem verter arroios de sangue” (Moreno Apud Amador Gil, 1999: 78) dizia o homem do Plano de Operações, uma espécie de sociedade secreta para o sucesso da revolução de maio e consolidação do pacto social.

Entretanto, um mês depois, Moreno e seus discípulos voltam ao poder e criam um poder executivo de três membros, o Triunvirato: um deles era Bernardino Rivadavia (1780- 1842).

Em 8 de outubro de 1812, o governo cai. Uma das exigências dos revoltosos de outubro era uma Assembléia Geral Constituinte, que se reuniu a 31 de janeiro de 1813 e fez eclodir o conflito entre Buenos Aires e as províncias, pois foram negadas as credenciais aos

deputados ligados a Artigas e que defendiam a tese federalista. Mas mesmo acirrando ânimos, a Assembléia conseguiu um grande feito: afirmou a independência das Provincias Unidas.

O clima de felicidade é obscurecido pelas pretensões de Alvear de predomínio portenho e, sobretudo, com a criação do órgão chamado Director Supremo de las Provincias

Unidas que declara Artigas fora da lei. Aumenta a tensão entre bonaerenses (de Buenos Aires) e orientais (aqueles da região que viria a constituir-se como Uruguai). Em julho de 1814, Alvear, chefe do exército, entra em Montevidéu para extinguir qualquer predomínio espanhol. Entretanto, Alvear solicita ajuda aos ingleses, o que é visto, especialmente nas províncias, como traição. Artigas organiza insurretos de Santa Fe e em 3 de abril o exército do próprio Alvear se subleva. Alvear renuncia, a assembléia se dissolve.

Mesmo com todos os desentendimentos internos, a presença no Congresso de povos do interior insatisfeitos com Buenos Aires, representantes das provinciais litorâneas que, neste momento, estavam “em aberto estado de sublevação” (Romero, 2004: 57), o resultado de março de 1816 foi a presidência de Francisco Narciso de Laprida e a nomeação de Pueyrredón como diretor supremo. Em 9 de julho do mesmo ano, declara-se “vontade unânime e indubitável destas províncias romper os violentos vínculos que as ligavam aos reis da Espanha, recuperar os direitos de que foram despojados e investir-se do alto caráter de nação livre e independente do rei Fernando VII, seus sucessores e metrópole” (Idem: 58). Depois de 6 anos de guerra civil, a independência com relação à Espanha se firma definitivamente. Mas a guerra civil segue ainda por décadas pela região.

Entretanto, se os deputados juraram a independência, não havia acordo de governo: Artigas dominava Santa Fe e Entre Ríos; em janeiro de 1817, os portugueses ocupam Montevidéu e as províncias do litoral seguiam insatisfeitas.

Santa Fe demonstrava bastante autonomia com relação a Buenos Aires pela aceitação da autoridade de Artigas, fator que possibilita a Estanislao López a tentativa de organização da província e redação de uma carta constitucional federal e democrática. Como resposta, Buenos Aires escreve outra carta constitucional, esta guiada por idéias centralistas e aristocráticas. Buenos Aires sofre uma violenta reação.

Conforme Prado (1994: 41), a carta portenha tinha todos os aspectos para a acomodação de um sistema monárquico. Contra a carta bonaerense, vem a mobilização dos caudilhos do litoral. Além deste erro dos portenhos, quando o Directorio soube do avanço das

tropas de Entre Ríos e Santa Fe sobre Buenos Aires, um pedido de ajuda às tropas portuguesas foi um recurso bastante infeliz. Este era imperdoável. Segue-se o período de desunião das Provincias Unidas de 1820 a 1835, com uma breve unificação na presidência de Bernardino Rivadavia de 1826 a 1827. Curiosamente, some o governo central, mas segue a “indiscutível convicção da unidade nacional” (Romero, op. cit.: 63).

A partir de 1820, três personagens foram centrais na tentativa de reunir a nação argentina sob um governo central: Estanislao López, de Santa Fe; Juan Facundo Quiroga, de La Rioja; e Juan Manuel de Rosas, de Buenos Aires. Mas o conflito demorou quatro anos devido um período de relativa paz graças à política de Rivadavia, que durou até 1824. Tal política se caracterizou por uma abrupta abertura da Argentina às idéias de livre mercado e culto, contra alguns privilégios que algumas ordens religiosas detinham, aumento do número de escolas primárias, organização do ensino de ciências em geral e a criação da Universidade de Buenos Aires, em 1821.

A resposta contra Rivadavia foi Juan Facundo Quiroga, que criou uma bandeira com os dizeres: “religião ou morte”.

Entretanto, o estado de alerta pelos problemas com relação ao império brasileiro causado pela anexação da Banda Oriental impeliu a um acordo entre as províncias para a criação de um exército nacional. Em dezembro de 1825, o Brasil declara guerra à Argentina e, no ano seguinte, o congresso argentino cria um poder executivo e nomeia Bernardino Rivadavia para o cargo. A guerra contra os brasileiros, encabeçada pelo Almirante Brown, é vencida em 1827 e Montevidéu é retomada.

Em 1831, surge a declaração da cidade de Buenos Aires como capital da nação com a concordância de Santa Fe e Entre Ríos, o que acirra os ânimos do presidente Rivadavia com os federais, como, por exemplo, Rosas, que queria a cidade para servir os interesses das elites locais e não do país. O projeto de constituição centralista de 1826 também não agradou ao federal Quiroga, que ataca e vence Lamadrid, governador de Tucumán e defensor da carta. Agora, Quiroga exercia poder sobre todo o norte e centro do país.

A necessidade de apaziguar os ânimos internos fez com que Rivadavia sugerisse a independência da Banda Oriental ao derrotado Brasil. Aí se nota a debilidade do seu governo frente às forças internas e junho de 1828 é o mês em que o presidente argentino renuncia. O

Uruguai se torna independente, com a intermediação da Inglaterra nas negociações entre Brasil e Argentina14.

Com o assassinato de Manuel Dorrego, federal e governador de Buenos Aires, “a oposição federalista se congregou ao redor de Rosas” (Shumway, 2005: 135), cuja importância aumentou até a sua eleição a governador de Buenos Aires em dezembro do próximo ano, 1829. Quiroga, desconfiado, cria a Liga do Interior, após haver destituído os governos locais. O confronto direto entre as duas Argentinas divididas só foi adiado pela terceira personalidade em questão: Estanislao López faz prisioneiro o general Paz, um dos homens que criou a liga do Interior. Quiroga no interior, Rosas em Buenos Aires e López nas províncias litorâneas: três federais na disputa da supremacia após a queda do unitário Rivadavia.

Na volta de uma expedição para o extermínio de indígenas dos pampas argentinos, Rosas se vê acuado pela ação dos restauradores em Buenos Aires; entretanto, quando Quiroga é assassinato em 16 de fevereiro de 1835 não haveria mais reação que impedisse a submissão dos caudilhos provinciais ao sistema federal estabelecido por Rosas, em que o porto bonaerense obtinha vantagens da produção de toda a Argentina. Seguiram 17 anos de autoritarismo com um Estado policial.

Rosas oferecia algo que, havia muito, era um desejo argentino: segurança e paz contra algo que se chamava anarquia. E a combateu:

“Rosas recorreu ao terror como instrumento de governo para eliminar aos inimigos, para castigar os dissidentes, para manter em alerta os que duvidavam e também para controlar seus seguidores. O terror não era uma simples série de episódios que apenas se aplicava de acordo com as circunstâncias. Era intrínseco ao sistema de Rosas, era o selo distintivo do regime e seu castigo final. Ao ordenar execuções sem julgamento em virtude dos poderes extraordinários de que desfrutava, o mesmo Rosas era o autor do terror. Mas o agente especial do terrorismo era a Sociedad Popular Restauradora, um clube político e uma organização parapolicial. A Sociedad dispunha de um braço armado, que se conhecia comumente como

mazorca. Estes eram os autênticos terroristas recrutados entre a polícia, a milícia, degoladores e delinqüentes profissionais, que formavam esquadrões armados que saíam para cumprir missões, matando, saqueando e ameaçando” (Lynch, 2001: 33).

14 As Provincias Unidas ganham, na constituição de 1826, o nome de “República Argentina” (Cf. Shumway,

Contra tal estado de retrocesso político, os árduos defensores da liberdade deveriam ter e, de fato, tiveram como maior bandeira política, a necessidade de derrubar o governo rosista.

Enfim, Echeverría resume bem o primórdio da Argentina: “A primeira, a maior e gloriosa página de nossa história, pertence à espada” (Apud Prieto, 1967: 6). Mas a glória da espada tinha um enorme quê de dramático e inelutável, pelo menos aos são-simonianos que entram em cena em seguida. A revolução contra a metrópole define o ethos argentino: possibilidade de organização militar, política e econômica autônoma, entretanto, que agonizou durante décadas em uma guerra civil melancólica. “Havia uma revolução feliz na América do Norte com guerra exterior e sem violência interna. Havia outra, a francesa, que evocava uma esperança frustrada. E, por fim, entre ambas experiências, jazia a revolução do sul, pura violência agônica, guerra sem término, drama reconcentrado” (Botana, 2005: 257).

2. 2. A independência brasileira declarada por um português

O insucesso das Provincias Unidas de implementar um governo centralista foi o grande sucesso desde a chegada da família real portuguesa em 1808 até a independência de 1822. O sucesso da centralização administrativa foi devido, por um lado, à formação homogênea da elite no que diz respeito à ideologia e ao treinamento (Cf. Carvalho, 1981: 177) e, por outro lado, ao medo que, em terras brasileiras, se traduzia, também, por temor à

haitinização, ou seja, que ocorresse no Brasil a insurreição de escravos e mestiços que ocorreu no Haiti em 1794. A interiorização da metrópole promoveu o efeito inverso do que ocorreu na região cisplatina: as elites locais não se assentavam sobre os seus subordinados para uma hegemonia regional; ao contrário disso, recorriam ao poder central como proteção de uma sensação de insegurança generalizada por todo o território devido ao número exagerado de desempregados, pobres e escravos em uma terra de “habitantes de diversas cores, que se aborrecem mutuamente” (Sierra y Mariscal Apud Dias, 2005: 26).

“Ao contrário do que se dá na maior parte dos países da América espanhola, em que os ‘creolos’ expulsam e expropriam os espanhóis metropolitanos, assistimos, em torno da nova Corte e da transmigração da dinastia de Bragança, ao enraizamento de novos capitais e

interesses portugueses, associados às classes dominantes nativas e também polarizadas em torno da luta pela afirmação de um poder executivo central [...]” (Dias, 2005: 30).

Por um lado, a vinda de D. João VI ao Brasil era uma forma de prender a colônia aos modelos europeus que, segundo os imaginários de época, estavam constantemente ameaçados pela degeneração causada pela mistura de diversas raças e pela possibilidade de efervescência revolucionária, que poderia vir diretamente das revoluções americana e francesa ou pelos vizinhos da parte hispânica com idéias jacobinas e que já havia resultado em Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana. Ao contrário das elites ao sul do continente, o Brasil pôde juntar sob o poder central as diversas elites locais, afinal, as opiniões políticas ponderadas eram as “conservadoras, conforme requeriam a época e o meio” (Idem: 24).

O grande ressentimento dos brasileiros com relação à chegada da família real residia nas forças armadas, pois D. João VI reorganizou as tropas, reservando as altas patentes àqueles que vinham do velho mundo. E, como se sabe, intrometer-se nas patentes do exército é um grande erro por parte de qualquer estadista.

Em contraste a isso, a junção dos inseguros brasileiros e portugueses com uma “elite burocrática” que se reunia ao redor da Corte à busca de títulos e participação no funcionalismo público fomentou uma rede de obras públicas e de comunicação entre todo o território brasileiro através do aumento de impostos sobre bens de exportação. Depois de 300 anos, a colônia portuguesa passa do modelo de exploração para o de povoamento (Cf. Idem: 33-4), ou seja, procura criar um ambiente propício para um local de fixação de pessoas e não apenas de passagem. O primeiro jornal da colônia passou a ser editado em setembro de 1808, abrem-se locais culturais como “teatros, bibliotecas, academias literárias e científicas, para atender aos requisitos da Corte e de uma população urbana em expansão [...] [cujo] número de habitantes da capital dobrou, passando de cerca de 50 mil a 100 mil pessoas” (Fausto, 2006: 125). O Rio de Janeiro passa a receber uma grande leva de imigrantes de várias nacionalidades, de cientistas, naturalistas, artistas e uma missão francesa.

Entretanto, se a família real estava no Brasil para que medos fossem apaziguados e as elites brasileiras estivessem tranqüilamente assentadas sobre o status de “civilizado”, por que houve a independência política brasileira com relação a Portugal?

Assim que D. João VI chegou ao Brasil, abriu o porto às ‘nações amigas’, ou seja, “à Inglaterra, o que significou o fim do pacto colonial e a satisfação de certos setores coloniais.

Esse decreto, que se pretendia provisório, para atender às necessidades colocadas pela guerra na Europa, acabou sendo irreversível” (Prado, 1994: 21). Portugal perdia o monopólio econômico da colônia e nunca mais o reaveria.

Com o fim da guerra na Europa, em 1814, já não havia justificativa para a permanência da família real no Brasil. Contudo, permaneceu até 1821 devido aos “enormes investimentos locais que faziam os principais homens de negócio da Corte demonstrando sua intenção de permanecer no país” (Dias, op. cit.: 20). A construção de uma nação podia ser muito interessante para quem a construísse; e foram os próprios “portugueses imigrados que vieram fundar um novo Império nos trópicos” (Idem: 32).

Portugal seguia uma monarquia mercantilista, agora, hostilizada pela política liberal da Inglaterra que foi a força motriz dos progressistas portugueses na Revolução do Porto. A saída de D. João VI de Portugal, com a concomitante abertura dos portos que culminou no Tratado de Navegação e Comércio de 1810, não foi o único fator que agradou os liberais e foram um acinte aos conservadores: com a necessidade de modernizar o Brasil, além dos novos impostos exorbitantes que pesavam muito na colônia, D. João VI passou a vender bens da Igreja e da Coroa, exasperando ainda mais as relações com os setores conservadores de Portugal (Cf. Idem: 15-6).

A crise é política, econômica e militar: o rei não está em Portugal, a liberdade de comércio não beneficia à metrópole que antes detinha o monopólio, e as forças militares portuguesas se encontram no Brasil, enquanto que a proteção do território estava sob o comando do general inglês Beresford. Em agosto de 1820, os militares impulsionam a revolução liberal do Porto, revolução em que se chocaram duas elites: os portugueses conservadores e os portugueses liberais15.

Os revolucionários portugueses do Porto criam uma Junta Provisória como resposta à ausência real; Junta esta que contaria com a presença de 200 representantes de todo o

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