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CAPÍTULO II – CARACTERIZAÇÃO CONTEXTUAL DA SEGURANÇA PÚBLICA

2.1. AS DIMENSÕES DA SEGURANÇA TURÍSTICA

2.1.2. AS INFLUÊNCIAS DA ACTIVIDADE TERRORISTA PARA A SEGURANÇA NO TURISMO

A economia do seculo XXI é dominada por 3 grandes indústrias: as telecomunicações, tecnologia de informação e o turismo. A indústria do turismo é um recurso valioso de desenvolvimento rápido e influente na economia de um país, representando um terço do valor

Autor: Manuel Santos 23 mundial do sector terciário e criando mais de 200 milhões de oportunidades de emprego a nível mundial. Mas apesar de força económica do turismo, este é altamente influenciável por fatores externos que podem representar riscos para o seu sucesso (Dantas, 2010).

Desastres naturais, instabilidade política e terrorismo afetam a “indústria” turística porque o seu consumo é feito com base na fé e na confiança. Acontecimentos que desestabilize essa confiança afetam toda a estrutura turística. Isso deve-se ao facto do turismo ser caracterizado por ser um produto intangível, o que significa que não pode ser testado antes de ser adquirido. Assim a perceção dos riscos relacionados com a segurança são fundamentais para a tomada de decisão dos turistas, pois trata-se de um compra de confiança e na altura da tomada de decisão essa perceção torna-se realidade (Lopes, 2014).

Enquanto os turistas são livres de evitar os destinos associados ao risco, as consequências dos desastres nos destinos turísticos são profundas e inevitáveis. O terrorismo que tem como alvo destinos turísticos, causa um impacto tão profundo como um desastre natural. Seja de que natureza for, o desastre tem um impacto trágico no local e nos seus residentes. A publicidade negativa resultante das notícias sobre o acontecimento tem um efeito que se prolonga no tempo até à recuperação total do local às condições antes do atentado. Para os destinos turísticos esse período resulta numa crise turística que afeta o normal funcionamento dos negócios relacionados com o turismo, afeta social e economicamente a população local e também a reputação do destino turístico em relação à segurança, atração e conforto” (Mazetto, 2002, p. 47).

Para tratarmos do tema terrorismo, inicialmente torna-se necessário defini-lo. Entretanto, diante das variáveis envolvidas no tema, tais como a natureza do alvo, se combatente ou civil; autoria da ação, se estatal ou não estatal; objetivos da ação, se religioso, político ou diverso. Na comunidade internacional, o alcance de uma definição unânime tem sido uma das maiores dificuldades. Por essa razão, conforme cita Buzanelli (2010, p. 32) ainda não há uma definição de terrorismo amplamente aceita e nem mesmo organismos internacionais

Autor: Manuel Santos 24 conseguiram chegar a um consenso. Estudiosos, analistas políticos e homens de Estado não conseguem chegar a um consenso sobre “terrorismo”, contudo tendem a compartilhar da conceção de que o conceito insere-se numa categoria específica do discurso político, cujo significado é a sistemática utilização da violência sobre pessoas e bens, para fins políticos, provocando sentimentos de medo e de insegurança, e um inevitável clima de terror (Garcia, 2006). Kofi Annan (ex-Secretário Geral da Organização das Nações Unidas), em uma palestra realizada em 2005, afirmou que “constitui terrorismo qualquer ação que tenha por finalidade causar a morte ou sérios danos físicos a civis ou não-combatentes, com o propósito de intimidar um povo ou obrigar um governo ou organização internacional a realizar ou deixar de realizar alguma ação” (Chomsky, 2009, p. 45).

Os atentados terroristas têm como objetivo mostrar a vulnerabilidade do país, espalhar o terror e expor que qualquer local pode ser alvo de atentados. Estes são arquitetados de forma a receber a maior cobertura possível da imprensa, e nada melhor que os grandes eventos, que ficarão para sempre marcados na história (Sandell & Suárez, 2010) .

“No mundo interdependente de hoje, um ataque terrorista em qualquer parte do planeta tem consequências económicas devastadoras e também elas globais” (Garcia, 2006, p. 350). O terrorismo em qualquer das suas formas é uma realidade obscura. “O mundo jamais se livrará do terrorismo, porque até agora não se conseguiu livrar da miséria social, da ignorância, do fanatismo, da exploração, da exclusão, da psicopatologia individual e social” (Barros, 203, p. 193). Abordando os aspetos culturais Huntington (2010) na sua obra “O Choque de civilizações”, descreve como motivação, a intromissão que a cultura ocidental vem criando no espaço cultural do oriente, parte que recebe ataque de grupos terroristas religiosos, visto que não aceitam os parâmetros sociais e religiosos pregados pelos ocidentais.

Na visão terrorista, o objetivo é abalar o outro lado que detém uma capacidade de poder maior do que o seu no uso de práticas de extermínio. Como os grupos terroristas não possuem a mesma capacidade de extermínio, tal como os Estados, resta a eles combater o poder maior

Autor: Manuel Santos 25 através do ataque surpresa, pontual e inesperado. Com isso, fica claro que uma defesa abrangente ou conclusiva não é uma tarefa fácil, para não dizer impossível (Wellausen, 2002). Sendo assim, cabe aos serviços de inteligência dificultar ao máximo as ações dos grupos terroristas. Segundo Rapoport um estudioso do terrorismo, há quatro ondas do terrorismo: a Anarquista; a Nacionalista e Anticolonialista; a das organizações de esquerda revolucionária e a dos grupos terroristas de motivação islâmica (Buzanelli, 2010).

O impacto da ação terrorista de 11 de Setembro de 2001 provocou na comunidade internacional uma ambígua sensação de perplexidade, insegurança, medo e revolta. A força das imagens revelou o inacreditável. O mundo ligado em rede assistia chocado ao despertar sombrio de um novo século cuja violência passou a ter autor desconhecido e alvo difuso. Dentro desta lógica perversa, o sucesso de uma guerra é diretamente proporcional ao dano civil, ao espetáculo e à morte de inocentes (Brant, 2003).

Dentre os ataques de cunho terrorista mais recentes, destacam-se os atentados praticados nos Estados Unidos (queda das Torres Gémeas do World Trade Center e ao Pentágono Militar), a explosão de bombas na Ilha de Bali e no dia 11 de Março de 2004, os atentados às estações de trem de Madrid. A ameaça do terrorismo, não importando sua forma, no contexto da gestão da segurança turística constitui-se numa das ameaças mais sérias em nível mundial. Para especialistas e demais segmentos envolvidos, sua administração e controle, representa um grande desafio visando resgatar o equilíbrio no sistema (Gollo, 2004).

Um dos sectores mais atingidos, em função do medo de voar das pessoas, é o sector do transporte aéreo. Beni (2001) Apresenta uma ampla e interessante análise no capítulo destinado ao estudo da retractilidade do turismo e os impactos dos atentados de 11 de Setembro de 2001. Segundo o autor, o ano de 2001 conforme dados da (OMT), foi o pior ano para o turismo em relação as duas últimas décadas. Também é sabido que não foram apenas os Estados Unidos, como importante destino turístico, afetados pelas consequências dos atentados. Outros países como França, Alemanha, Inglaterra igualmente sofreram os efeitos

Autor: Manuel Santos 26 negativos em suas atividades turísticas. Antes dos atentados, as preocupações quanto a segurança estavam com o foco mais voltadas para questões de violência, acidentes, sinistros etc. simulações e treinamentos no combate a incêndios, evacuação de prédios e estabelecimentos, operações de resgate normalmente não eram bem vistas pelos administradores, pois, imagens de empresas ou sectores poderiam ser afetados. Os controlos de ingressos, movimentação e circulação de pessoas e mercadorias não eram tão rigorosos e selecionadores, pois, geraram o aumento das filas nos aeroportos e reclamações por parte dos usuários quanto ao atraso nos voos. As medidas e estratégias de segurança eram colocadas em prática para atender situações momentâneas, portanto, descontínuas. Todo este conjunto de fatores provocou mudanças e alterações profundas na gestão da segurança no turismo. Outro autor Grunewald (2003) elenca uma série de aspetos a serem considerados nesta análise, ao que ele chama de “efeitos Nova Iorque”:

• A segurança contribui decisivamente para posicionar a imagem de um destino e apresenta-se como valor a ser agregado no processo competitivo das empresas turísticas;

• A demanda turística espera encontrar a presença ostensiva da polícia, além do emprego de agentes de inteligência;

• Necessidade de capacitação quanto a medidas de segurança para todos os envolvidos;

• Implementação de controlos mais rígidos, principalmente no sector de transporte aéreo.

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