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Capitulo 1: Diversidade de redes infraestruturais: Os seus momentos

1.2 As Infraestruturas

“A globalização não implica uma hiper-estandardização, mas, pelo contrário, uma oportunidade na qual as infraestruturas podem ajudar na especialização, à medida que se desenvolvem novos territórios espaciais, que se conectam com um sistema global mais amplo. As redes, e não as fronteiras, guiam a nossa compreensão das mutações da condição humana.” Katrina Stoll (2011)

De acordo com diversos autores (Katrina Stoll, Keller Easterling e Kelly Shannon) que se debruçam sobre as infraestruturas, referem-nas, como sendo sistemas físicos e invisíveis que organizam os diferentes tipos de fluxos e variados processos, ou a ligação entre elementos componentes de sistemas. Ambos os sistemas referidos, físicos (estradas, rios, gasodutos; os sistemas sociais, hospitais, prisões...) e invisíveis (internet, telecomunicações, eletricidade…) estão associados e ambos têm vindo a ser determinantes para a compreensão do novo paradigma urbanístico, a mudança de ciclo.

As infraestruturas estão dependentes da evolução tecnológica e são como tal, elementos em constante mutações. Porém o contrário também se reflete, pois a necessidade atual de criar melhores infraestruturas possibilita o avanço tecnológico. Easterling (2011) refere-se à globalização e as suas mudanças como resultado da manifestação espacial da própria infraestrutura, da Arquitetura e do Urbanismo. Compreendendo- se assim a importância que as infraestruturas têm vindo a desenrolar na mudança de ciclo, pelos acontecimentos históricos passados e presentes. Não só ao nível da evolução tecnológica, como a internet, mas também à possibilidade de acontecimentos como fluxos globais (rapidez de deslocação) e migrações (melhores qualidades infraestruturais em determinadas cidades).

As infraestruturas podem ser vistas como elementos separados e é verdade que cada uma tem o seu papel no território. Porém e segundo as autoras percebe-se a importância ao nível do planeamento e gestão, pela visão múltipla dos elementos infraestruturais. Para Stoll (2011), um dos problemas referidos ao nível dos sistemas infraestruturais está no seu planeamento, que por vezes é feito de forma independente e em competição uns com os outros. Um exemplo é a rivalidade que existe nos Estados Unidos entre o sistema de autoestradas e os caminhos-de-ferro, onde o sistema viário é dominante e onde raramente as exigências ao nível ecológico e social são existentes.

Esta compreensão lacta das infraestruturas, remete para o mundo profissional a necessidade de uma maior interdisciplinaridade ao nível do planeamento e que se traduz ao nível projectual6 numa paisagem com

diferentes infraestruturas relacionadas, criando um espaço coerente.

6 ―Os limites dos edifìcios que são tipicamente considerados como objetos geométricos formais tornam-se infraestruturais – tecnologias

móveis, (...) a infraestrutura não é subestrutura urbana, mas é a própria estrutura urbana, os verdadeiros parâmetros do urbanismo global‖ Fonte: Keller Easterling, (2011)

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Quando se fala de infraestruturas poderá não ser tão imediatista a sua relação com a política. Contudo as questões infraestruturais estão muito dependentes do fator político e a sua relação com investidores.

Para Stoll (2011) as infraestruturas estão associadas ao fator determinante da rede de transportes enquanto instrumento para a organização e desenvolvimento do domínio coletivo. Maioria dos modelos de desenvolvimento dos países tem como principal investimento a rede de transportes e a Urbe é composta cada vez mais pelo sector privado, onde a infraestrutura7 (domínio público) é vista como um instrumento de controlo

e organização do investimento privado.

O papel dos diferentes intervenientes no território e o seu papel em relação à construção das infraestruturas é questionável, desde o Estado, o Privado, o poder militar, ou ao mercado. Easterling (2011) conclui que pela diversidade de administradores de infraestruturas, bem como a quantidade destas, fazem com que por vezes não haja resposta política nas decisões territoriais e a participação de demasiadas entidades pode levar a motivações puramente económicas e inadequadas.

A interdisciplinaridade e realização de análises são fulcrais devido à grande dimensão do campo infraestrutural, tendo em conta o espaço como um ‗jogo‘ (Easterling,2011), onde a infraestrutura está sempre em mutação. As relações entre a operacionalização e organização dos elementos invisíveis na configuração do espaço, ou seja, a contribuição da arquitetura na conjugação dos múltiplos acontecimentos da infraestrutura elevam o papel do arquiteto, urbanista no diálogo político e concretização formal.

O discurso sobre infraestruturas não consiste só na sua complexidade enquanto sistemas estruturantes mas também a sua forma e a sua relação na paisagem.

A imagem infraestrutural é geralmente associada a grandes objetos de variadas formas e que alteram em muito a imagem da sua envolvente. Caso disso as autoestradas, os imensos cabos elétricos, a fábricas de produção elétrica, entre outros. Como tal o desenho destes elementos tem efeitos de maior importância para o território, que afecta em especial os arquitetos, engenheiros e urbanistas.

7 ― (…) as infraestruturas assumem-se como a coluna vertebral na qual as empreitadas construtivas podem ser insertadas (…) ‖ Fonte: (Katrina Stoll, 2011)

Ilustração 4 Evolução da cidade e suas infraestruturas/ Fonte: http://extrastatecraft.net

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A abordagem ao tema principal da 2ª Circular como infraestrutura é apenas um dos muitos casos mundiais da necessidade de repensar estes elementos quanto à sua forma, desenho e consequentemente desenvolvimento, qualidade e dinamização territorial. A noção de um novo paradigma acentua estas necessidades de repensar estas formas.

Os muitos autores que se debruçam sobre a forma projectual da relação entre infraestruturas debruçam-se sobre diferentes especialidades, mas com o mesmo princípio, a implementação de diferentes usos que se estruturam pelas infraestruturas, garantindo-lhes outras qualidades.

Para Stoll, (2011) a formalização da infraestrutura deverá estar de acordo com um pensamento espacial inovador e imaginativo, que se define numa sensibilidade com a imagem da cidade, através da reabilitação infraestrutural.

A perceção desta sensibilidade pode ser encarada pelas palavras de Stoll (2011) ao referir o próprio funcionamento destes sistemas infraestruturais e a sua potencialidade e oportunidade8. Refere-se a uma mais-

valia para a resolução de problemas urbanos, na redução da marginalidade e segregação social e por estimular novas formas de interação entre elementos. Neste sentido, pode-se afirmar o papel importante que os avanços na tecnologia podem oferecer quando aproveitados de um modo positivo, podendo ser benéficos para a sociedade e a economia, refletidos numa nova imagem para o território.

8 ―Uma via pode ser mais que uma via, não só como ligação imediata, mas também como produção de energia, como elemento de coesão social e de acesso igualitário ao espaço físico, onde as vias de trânsito podem funcionar como centro social, respondendo assim a questões de acessibilidade e dinamização de economias locais, nomeadamente bairros e urbanizações.‖ Fonte: (Easterling, 2011)

Ilustração 5: Relações infraestruturais de um projeto proposto, Kelly Shannon, Cantho Master Plan,2010, Vietname / Fonte: “Arquitetura e Arte, Setembro/Outubro, nº96/97, 2011”

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A complexidade inerente às infraestruturas, referida por diversos autores é, essencial para se perceber as novas possíveis paisagens, decorrentes da compreensão das diferentes escalas e sistemas infraestruturais. Enquanto Arquitetos Urbanistas devemos utilizar o projeto infraestrutural de ―poder‖ público para estruturar territórios. Desde a infraestrutura física visível à invisível podemos concluir que nenhuma destas perspectivas é suficiente se for pensada isoladamente, mas que juntas são produtivas.

Ilustração 6 Relações entre vias dedicadas a diferentes tipos de mobilidade, Kelly Shannon, Cantho Master Plan,2010, Vietname / Fonte: “Arquitectura e Arte, Setembro/Outubro, nº96/97, 2011

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