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As Iniciativas de Formação de Sistemas Domésticos de Comércio de Permissão de Emissões

GRUPO CARACTERÍSTICAS POSIÇÃO NAS NEGOCIAÇÕES

3. DO PROTOCOLO DE KYOTO AO MERCADO INTERNACIONAL DE CRÉDITOS DE CARBONO E A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NESSE MERCADO

3.4 As Iniciativas de Formação de Sistemas Domésticos de Comércio de Permissão de Emissões

Vários países industrializados, incluindo Austrália, Japão e Canadá, estão explorando os potencias internos do comércio de permissão de emissões, ou, simplesmente, comércio de emissões. A maioria dos países está em um estágio inicial de planejamento, análises e consultas. Poucos estão efetivamente implementando esquemas domésticos, como parte dos

seus esforços para atingir as metas estabelecidas no Protocolo de Kyoto. Este item apresenta uma visão geral dessas iniciativas.

Na União Européia, em junho de 2001, os 15 Estados membros firmaram um comprometimento político coletivo para implementação do Protocolo de Kyoto, a despeito da rejeição do tratado pelos Estados Unidos. Em outubro de 2001, a Comissão Européia propôs uma política climática que incluía a ratificação do Protocolo de Kyoto e uma série de medidas específicas para redução de emissões dos gases de efeito estufa. A peça central dessa política foi a proposta de Diretiva estabelecendo um esquema de comércio de emissões proposto para iniciar em 2005 (EGENHOFER E LEGGE, 2002).

O sistema legal para comércio de emissões, formalmente estabelecido por meio da Diretiva23 2003/87/EC, em vigor a partir de 2005, abrangerá 45% das emissões da União Européia. Com um contexto de abrangência ampla. Os Estados Membros irão alocar permissões às companhias participantes, que incluem diversos setores.

A Diretiva estabelece um sistema para comércio de emissões na Área Econômica Européia (EEA – European Economic Area24). Essa Diretiva tem um caráter descentralizado, ou seja, as medidas serão implementadas tanto na União Européia, como no nível nacional. Ela reconhece que a Comunidade Européia está comprometida em atingir 8% de redução nas emissões de gases de efeito estufa, entre 2008 e 2012, em relação ao ano base, 1990. Estão abrangidas somente as emissões de CO2 das instalações industriais de energia e geração de

calor (usinas térmicas, refinarias, fornos de carvão), produção e processamento de metais ferrosos (minério de ferro, ferro gusa, aço), indústria mineral (cimento, vidro, cerâmica), polpa de papel e papel. Para Egenhofer e Legge (2002) esses setores representarão cerca de 46% da emissão total de CO2 da União Européia em 2010.

As permissões serão emitidas pela autoridade competente de cada país, garantindo autorização para emitir gases de efeito estufa. As permissões serão atribuídas aos operadores de cada instalação afetada. A cada ano os referidos operadores deverão entregar um número de permissões equivalente ao total anual das emissões de sua instalação. As permissões são transferíveis entre pessoas dentro da Comunidade Européia, ou entre pessoa da Comunidade Européia e de terceiros países nos quais tais permissões sejam reconhecidas.

Caso qualquer operador não entregue permissões suficientes para cobrir suas emissões no ano, ser-lhe-á atribuída multa de €100 por cada tonelada de CO2 emitida sem a

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A Diretiva 2003/87/EC do Parlamento e do Conselho Europeu, de 13 de outubro de 2003, estabeleceu o esquema de comércio de permissões para emissões de gases de efeito estufa na Comunidade Européia, foi publicada no Diário Oficial da União Européia em 25 de outubro de 2003

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correspondente entrega de permissão. Há uma previsão para futura inclusão dos mecanismos baseados em projetos, Implementação Conjunta e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, a serem utilizados de forma suplementar.

Quirion e Hourcade (2004), em artigo sobre o esquema de comércio europeu, escrito antes da decisão russa a favor da ratificação do Protocolo, argumentaram que a União Européia poderá liderar uma política unilateral por algum tempo, porém, será muito improvável que essa política permaneça indefinidamente em isolamento. Após 2012, uma abordagem multilateral deverá ressurgir, ou todas as políticas climáticas, incluindo a da União Européias, serão suspensas.

O Reino Unido estabeleceu um sistema diferenciado de comércio de emissões. O sistema inglês é um sistema voluntário que se baseia mais em iniciativas que em penalidades. O sistema foi planejado por um grupo de trabalho governo-indústria e permite às companhias a oportunidade de participar quer negociando um limite de permissões para a firma quer pela geração de créditos baseados em projetos que podem ser negociados no sistema.

A Dinamarca está experimentando um sistema de comércio de emissões limitado a um setor – geração de energia. Nesse sistema, o governo dinamarquês estabelece um limite, baseado nas emissões históricas, para as maiores plantas de energia. É esperado abranger 30% das emissões dinamarquesas.

Nos Estados Unidos, atualmente há um Projeto de Lei em discussão, o “Climate

Stewardship Act of 2003”, proposto pelos senadores John McCain (Republicano) e Joseph

Lieberman (Democrata) em 9 de janeiro de 2003. Em novembro de 2003, o Projeto de Lei foi rejeitado pelo Senado Americano, por uma pequena margem de 43 a 55, o que lhe dá boa chance de ser aprovado no futuro.

O projeto de Lei estabelece um limite para emissões de gases de efeito estufa, começando em 1 de janeiro de 2010. Esse limite será atingido por meio de um programa de comércio de emissões. Durante os primeiros seis anos do programa (2010-2016), as emissões de GEE estarão limitadas à quantidade produzida em 2000. Nos anos subseqüentes, o limite será reduzido para os níveis de 1990.

O Projeto de Lei não abrange qualquer entidade responsável pela emissão de até 10.000 toneladas métricas por ano de CO2, ou seu eqüivalente, bem como as fontes

residenciais e as atividades agrícolas.

De acordo com o Projeto de Lei, o governo irá inicialmente distribuir permissões correspondentes ao limite para um dado ano. O governo irá requerer das fontes cobertas pelo programa que submetam à EPA (Agência de Proteção Ambiental) uma dessas permissões

para cada tonelada de CO2, ou equivalente, que a fonte emita após o início do programa. As

permissões poderão ser vendidas e compradas livremente por qualquer um, e permissões não utilizadas num ano podem ser utilizadas em períodos posteriores.

O Projeto de Lei trata o setor de transportes diferentemente das fontes estacionárias de emissão de GEE. As refinarias e os importadores de petróleo refinado, que vendem combustíveis para o setor de transporte, deverão obter permissões para cada tonelada de CO2,

ou equivalente, que será emitida por seus produtos.

A alocação de permissões dar-se-á em três etapas. Primeira - As fontes de emissão serão divididas em grupos: geração de energia elétrica, produção industrial, atividades comerciais e transporte. A cada grupo será atribuído um percentual do número total de permissões disponíveis, na proporção da emissão do grupo durante o ano anterior à promulgação da Lei. Para os seis primeiros anos do programa, o volume total de permissões disponíveis será igual ao total das emissões dessas fontes no ano 2000. A partir de 2016, o volume total de emissões disponíveis será igual às emissões, das mesmas fontes, em 1990. Segunda - A divisão das permissões entre grupos de firmas. Terceira - A atribuição de permissões às firmas específicas.

Os créditos por reduções de fontes não cobertas pelo programa, créditos por projetos de seqüestro, créditos obtidos contra compromissos de redução futura e créditos comprados de programas de comércio de outros países podem ser usados para satisfazer até 15% dos requerimentos de permissões, até 2016. A partir de 2016, o uso desses créditos será limitado a 10%.

Para Kopp e Pizer (2003), as fontes cobertas pelo programa de comércio de emissões, a despeito de alguma incerteza, representam pelo menos 70% das emissões de GEE de fácil monitoramento nos Estados Unidos. A redução será de 860 milhões de toneladas de CO2 em

2010 e de 2,9 bilhões de toneladas em 2020. Para as fontes controladas, representa redução de 14% nos níveis previstos em 2010 – emissões totais de 6,2 bilhões de toneladas de CO2. Para

2020, Há uma previsão de emissões de 7,5 bilhões de toneladas de CO2, a redução será

equivalente a 39%.