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Não existe nação num espaço apropriado. Não existe desenvolvimento sem articulação nacional”

Carlos Lopes

Numa sumária abordagem a este conceito, as instituições “representam as formas

partilhadas e colectivamente aceites de interacção entre as pessoas, as formas como pensam sobre elas próprias, os outros e o mundo e que servem para criar significados e justificações que reduzem a incerteza da interacção humana (Bastiensen et al, 2002, p. 9). Pegando nas

palavras do sociólogo guineense, a desarticulação no processo de desenvolvimento guineense acontece irremediavelmente porque é um risco falar de instituições.

François Peroux61 assinala que “as instituições são quadros duradouros de acção,

regras duradouras do jogo social e hábitos colectivos, por oposição a actos ou acontecimentos sucessivos e descontínuos.

Segundo John Rawls (2001, p.63), esta noção é definida “como sendo um sistema

público de regras que determina funções e posições, fixando, põe exemplo, os respectivos direitos e deveres, bem como poderes e imunidades.”

Para uma análise mais clara, é necessário, antes de mais, compreender a evolução própria das instituições na GB, ver os factores de mudança e de permanência e ainda as consequências efectivas sobre a economia e a sociedade e contextualizá-los num processo complicado para quem aparece mais tarde à economia internacional num contexto global. Parece-nos que a escolha das instituições económicas requer uma concepção não só do bem humano mas também da forma das instituições aptas a realizá-las não desprezando contudo, razões de ordem moral, política como as de ordem económica.

Os advogados deste Consenso preconizavam um consenso nítido e assente em padrões indiscutíveis a serem implementados pelos países em vias de desenvolvimento para se tornarem mais prósperos, todavia, a não observância de critérios sólidos que edifiquem ou

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capacitem62 as instituições podem fragilizar o Estado, pois a lógica do funcionamento do mercado de concorrência perfeita ignora as necessidades básicas dos cidadãos. Os últimos trabalhos empíricos em torno da eficácia e eficiência das instituições na GB demonstram que elas são inócuas.

Os resultados “decepcionantes” com as ideologias prescritas no pós independência, baseadas numa economia centralizada, levaram a GB a abrir mão dos princípios que nortearam a luta pela independência e a optar por ideias sobre como organizar a vida económica e política do país só que, o esgotamento da capacidade técnica aliado à saída dos quadros qualificados para o estrangeiro, para o sector privado ou para as organizações internacionais contribuíram para o esvaziamento desta pretensão.

Ao longo da década de 90, os países em transição empreenderam esforços inúteis em busca do sucesso, ao aperceberem-se que as alterações que deveriam levar a cabo tornavam-se cada vez mais complicadas e/ou até, politicamente inviáveis. Uma das inatacáveis contribuições históricas do CW foi ter marcado o fim dos dois lados da moeda, isto é, a dicotomia entre a economia do desenvolvimento e a economia mainstream, que vinha a irromper ao longo de várias décadas.

Acreditava-se sim, que a inflação era o resultado de circunstâncias “estruturais”, como a desigualdade da distribuição de renda e de riqueza. Da mesma maneira, acreditava-se que um país menos desenvolvido não podia, de facto, beneficiar de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) e de um comércio mundial mais livre. Logo, a prescrição do CW para que os governos suprimissem as barreiras alfandegárias contra as importações e exportações, contra o investimento estrangeiro e contra as transacções com moedas estrangeiras esbarrou-se com a antiga crença de que os países em desenvolvimento tinham que abrigar as suas economias de um sistema internacional fundado na injustiça.

Parece-nos que a crise das dívidas dos anos 80 e o fim da guerra-fria tornaram impossível aos governos sustentar políticas económicas que não fossem fundamentadas em princípios económicos estáveis ou que fossem baseadas em ideias que se opusessem ao investimento estrangeiro. A GB não teve outra opção além da que a levou a entregar-se nos braços afáveis, contudo austeros, do resultado do CW.

Em troca, teriam que descobrir as políticas macro-económicas ortodoxas e derrubar as estruturas proteccionistas que tinham sido construídas. Este processo ocorreu entre os países

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O PNUD (1997, p. 13) traduz capacyti building como o processo através do qual os indivíduos, organizações, instituições e sociedades desenvolvem as suas capacidades/potencialidades para desempenhar funções, resolver problemas ou definir objectivos

altamente endividados, aflitos por uma alívio das suas muitas obrigações financeiras externas – um alívio, oferecido em troca da adopção das reformas económicas a encetar.

Uma reforma fiscal de nada serviria se os impostos não pudessem ser arrecadados e a falência quase total do sistema fiscal guineense é prova de que as parcas receitas públicas não vão para além das licenças. A eliminação das restrições ao investimento estrangeiro, ainda que indispensável, para atrair capital externo, era pouco para tornar o país internacionalmente competitivo na corrida para atrair investimentos de longo prazo.

Um sistema judicial credível, uma mão-de-obra qualificada e um conjunto de infra- estruturas convincentes e de telecomunicações eficientes, eram condições cine qua non para atracção de investidores estrangeiros.

É nesta base que pensamos que instituições sólidas e convincentes e processos democráticos transparentes, constituem uma necessidade premente tendo em vista a consumação das mudanças nas políticas sócio-económicas e parafraseando Francis Fukuyama (1999, p. 63) numa tentativa de estabelecer uma relação entre o liberalismo vigente e a democracia vai acrescentando que (…) Os processos democráticos podem ser manipulados

pela elites e nem sempre reflectem exactamente a vontade ou os verdadeiros interesses do povo (…).

Aqui, impunha-se a redescoberta das “instituições”, e ao que parece é que surgiram mais ideias a respeito de formulação de reformas de mercado do que as respeitantes à reformulação e capacitação das instituições no sentido de as tornar mais eficazes. Ora, parece-nos impensável utilizar este conceito para o país em estudo, na medida em que simplesmente ou não existem ou simplesmente não funcionam.

A obsessão com as instituições, por sua vez, parece-nos negligenciar as consequências sociais na passagem de uma sociedade socialista para o capitalismo porque é isto que se trata de forma ideológica. Adam Smith insistia na ideia subjacente aos efeitos potencialmente desastrosos das reformas saídas de processos idênticos tendo em vista a melhoria das condições de vida dos cidadãos, mas nas consequências positivas para a colectividade da procura do interesse individual, atitude duvidosa no plano ético mas também potencialmente aniquiladora da coesão social.

Notámos que instituições frágeis estão na raiz da inércia do processo de desenvolvimento em conceber governos que efectivamente governem e proporcionem padrões de vida mais elevados aos guineenses. A desregulamentação de muitas áreas da actividade económica, aliado a um controlo sobre a economia informal, acrescidos de uma maior

prudência nas despesas públicas e ainda um ambiente institucional na GB, estão longe de ser conseguidos.

Conforme reparou Van Maanen, B. (1996, p.36-37), a qualidade dos serviços públicos deteriorou tanto com a saída dos quadros como pela instalação de um certo “anarquismo e a

paralisação dos sectores estatais” mas vai enumerando um número substancial de

condicionantes a um bom desempenho estatal tais como, um elevado número pastas estatais, a politização, a personalização do aparelho de estado, os funcionários públicos “não

consideram as suas funções públicas como obrigações”. Estas entre muitas outras

condicionantes potenciam o mau funcionamento das instituições não esquecendo a corrupção generalizada com a raiz no processo de privatização dos serviços públicos essenciais.

O que assinalámos é que, as instituições do sector público são um autêntico “calcanhar de Aquiles” das reformas económicas. Na GB, elas constituem ainda, duras dificuldades e investimentos que resultaram num retorno bastante baixos, distorceram as leis do mercado de trabalho, reduziram a produtividade geral, prejudicaram a competitividade internacional e tornam-se numa autêntica incubadora de parasitas porque fomentam a corrupção e corroem o sistema político.

Para o efeito, lembramos que as instituições são importantes e as leis não menos relevantes no ordenamento dos mercados, todavia, não são, por si só suficientes. Para além destes vectores, há a considerar os valores morais adoptados e aceites por todos, que garantam um perfeito relacionamento entre os indivíduos e as instituições. É nesta perspectiva que salientamos a importância da confiança mútua entre indivíduos e instituições com um fundo de cultura da moral.

Saliente-se o facto de que frequentemente se assistem transferências das elites governamentais para actividades privadas, instituições ou organizações internacionais ou ainda, ONG’s onde o tráfico de estratégias pessoais se confunde com os objectivos nacionais com vista ao desenvolvimento ou à recuperação sócio-económica do país.

Considerando a solidariedade como um valor inalienável, somos de opinião de que o interesse pessoal não deve sobrepor-se ao interesse colectivo, independentemente das relações sociais estabelecidas. Pensamos ainda, que a existência de um equilíbrio entre interesse em pleno uso da liberdade, não deve proporcionar melhoria da qualidade de vida de alguns em detrimento de outros.

Um sólido ambiente macro-económico e um sector privado competitivo são necessários. Porém, estabilidade e reformas de mercado estão destinadas ao fracasso na ausência de um

forte e eficiente sector público. Os resultados mais visíveis são o surgimento de classes que se empresariaram através de acumulações pouco transparentes com benefício de tráfego ilícito de influência política.

Assim, renovar uma instituição requer um esforço a longo prazo e uma capacidade de lidar com delicados desafios políticos e técnicos que não apresentam nenhuma solução predeterminada. Além disso, a reforma das instituições está vulnerável às descontinuidades políticas e à volatilidade económica. Uma troca de ministro ou um repentino corte orçamental pode acabar com anos de esforços para montar quadros competentes ou modernizar a cultura organizacional de uma departamento público.

O debate sobre a noção de instituições no processo desenvolvimentista tem vindo a simplificar-se pois que, apesar de vago o conceito, tornou-se quase tautológica, na medida em que o não funcionamento ou a disfunção das mesmas na economia significam que as suas instituições estão, por um lado, necessariamente erradas por outro, pensa-se que as “boas” instituições conduzem ao sucesso económico e as “más” instituições conduzem a lacunas no desenvolvimento.

Concluímos assim, que as medidas prescritas para alcançar este estado utópico de crescimento económico ou de desenvolvimento, são em si mesmas, objectivos utópicos, não inválidas, todavia, pretensiosas. Chang, Ha-Joon (2003, p.219) pensa, no entanto que “os

PAD’s levaram décadas ou mesmo séculos para desenvolver as instituições, (…) e que “são altamente inadequados os prazos de cinco a dez anos de transição que actualmente se dão aos países em desenvolvimento para que adaptem suas instituições aos “padrões globais.

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