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1.3 A LGUNS E LEMENTOS DA T EORIA L EXICOGRÁFICA

1.3.2 As Marcas de Uso

As marcas de uso são componentes imprescindíveis à composição dos verbetes de dicionários gerais. Elas são as ferramentas mais utilizadas no tratamento da variação linguística e “caracterizam as palavras que fogem, sob certos aspectos, ao uso corriqueiro, normal, da língua de uma comunidade linguística” (STREHLER, 1998, p. 174).

Garriga Escribano (2003, p. 115) coloca que, ainda que sua proposição nos dicionários, em geral, seja feita de forma assistemática e pouco objetiva, “[...] não há dicionário que prescinda delas, posto que se trata de uma das informações mais valorizadas

pelos usuários”6. Porto Dapena (2002, p. 249), em contrapartida, acredita que o consulente dê pouca atenção a elas por desconhecer o significado das abreviaturas; soma-se a isso a imprecisão e incoerência com que são apresentadas, o que corrobora para o desinteresse em compreendê-las. Assim como Porto Dapena (2002, p. 249), também acreditamos que o consulente, em geral, não dê importância a elas, justamente pelo fato de desconhecê-las; em geral, a informação que ele busca em um dicionário é a definição da lexia que pretende compreender.

Borba (2003, p. 315) também ressalta a assistematicidade com que a inclusão das marcas é feita: “os dicionários costumam incluir este tipo de informação por um conjunto de rótulos, tarefa complicada e feita de forma irregular em nossos dicionários”.

Welker (2004, p. 134) destaca a relevância das marcas de uso na constituição do verbete:

[...] apesar de todas as dificuldades, seria desejável que houvesse mais marcas de uso do que se verificam na maioria dos dicionários. Elas são imprescindíveis quando se precisa de ajuda na produção de textos, mas também são importantes na recepção, pois sem elas não se alcança uma compreensão exata do texto.

Ressaltamos que sua importância deve-se ao fato de que elas são as responsáveis por atualizar a UL quanto ao seu status no sistema linguístico e à dimensão geográfica em que são utilizadas.

Porto Dapena (2002, p. 251) atribui às marcas a função de destacar uma UL ou acepção que apresenta uma característica peculiar frente a outras consideradas normais e, portanto, não marcadas. Isso porque nem todos os vocábulos são marcados por um contexto específico; muitos são usados nas regiões e classes sociais, de um modo geral.

Garriga Escribano (2003, p. 115) subdivide as marcas em: diacrônicas, diatópicas, diafásicas, diastráticas, diatécnicas e marcas de transição semântica.

As marcas diacrônicas informam se a UL é arcaica, desusada, obsoleta ou pouco usada, para citar algumas formas de expressá-la. Empregá-las é, para o autor, uma tarefa complexa, uma vez que, muitas vezes, não é possível determinar em termos exatos quando um item lexical deixa de ser usado e torna-se um arcaísmo. Nas palavras de Strehler (1998, p. 176), “[...] decidir se uma palavra merece a marca de uso “velho” ou “envelhecido”

6 No hay diccionario que prescinda de ellas, ya que se trata de una de las informaciones más valoradas por los usuários.

pode ser uma tarefa delicada. Sobretudo se os autores têm poucos meios logísticos para observar a evolução do léxico, época por época”.

Diante desta dificuldade, muitos dicionários elaborados nos últimos anos estão excluindo tais marcas e ocupando-se somente dos lemas de uso corrente, como explica Garriga Escribano (2003, p. 116). Para Porto Dapena (2002, p. 257), elas deveriam ser chamadas de marcas temporais, já que sua função é indicar a frequência com que a UL é utilizada no momento atual (se é pouco ou muito usado, por exemplo), bem como sua idade (se ele é antiquado ou um neologismo).

As marcas diatópicas, por sua vez, remetem à localização geográfica na qual o vocábulo é usado, “registram dialetos, subdialetos, falas locais de uma língua”. (PARREIRA DA SILVA, 2003, p. 1). Em sua inclusão, Strehler (1998, p. 176) destaca como problemático o grau de fiabilidade das informações sobre elas, dada a ausência ou fluidez de dados que permitem ao lexicógrafo afirmar a dimensão territorial onde o vocábulo é usado.

Quanto às marcas diafásicas e diastráticas, Porto Dapena (2002, p. 262) explica que a tradição lexicográfica classifica-as de forma imprecisa, já que os dicionários, em geral, não definem claramente cada uma delas. É comum encontrar explicações nas quais se diz, somente, que elas remetem ao estilo e ao nível de língua nos quais o vocábulo se encaixa. Strehler (1998, p. 177), sem diferenciá-las, chama-as de marcas sociais, pelo fato de elas serem relativas aos níveis de linguagem e se referirem à percepção dos diferentes registros pelos falantes. Apesar desta imprecisão e ausência de critérios definitórios, reconhece-se sua finalidade prática ao indicar ao usuário o contexto e a situação comunicativa nos quais a entrada pode ser usada, como explica Garriga Escribano (2003, p. 118).

Porto Dapena (2002, p. 262) diferencia-as de forma clara. As marcas diastráticas são as que remetem aos distintos níveis da língua (culto, vulgar, popular, familiar, gíria, chulo, burlesco, jocoso, etc.) e as diafásicas, à situação do discurso na qual as variedades linguísticas são usadas (situação formal ou informal). Para Parreira da Silva (2003, p. 2), as primeiras podem mesclar-se às marcas diatópicas, visto que marcam o vocabulário de subgrupos, pertencentes a camadas sociais distintas. Pode-se dizer, portanto, que as marcas diastráticas encontram-se no nível linguístico e as diafásicas, no nível discursivo, os quais se mesclam nas situações comunicativas.

As marcas diatécnicas remetem aos tecnicismos ou termos técnicos. Sua presença nos dicionários é cada vez maior, devido à crescente importância da divulgação científica. Para Porto Dapena (2002, p. 263), essas marcas deveriam ser denominadas marcas terminológicas, já que indicam que uma lexia pertence a determinada terminologia.

Por fim, as marcas de transição semântica visam a restringir o léxico quando sua utilização ocorre em sentido figurado, de acordo com Garriga Escribano (2003, p. 118). Porto Dapena (2002, p. 254) explica que, em geral, os dicionários apresentam-nas simplesmente como “fig.”, mas não especificam a causa da modificação no sentido, ou seja, se ela advém da metáfora, da metonímia, entre outras.

Olímpio de Oliveira Silva (2002, p. 843) trata das marcas lexicográficas em sentido amplo, ou seja, inclui, além das acima mencionadas, as marcas gramaticais. Segundo ela, de todos os elementos que compõem o fazer lexicográfico, talvez elas sejam as que mais demonstram a dependência da Lexicografia em relação a outras disciplinas linguísticas; é por esse motivo, segundo a autora, que sua inclusão supõe dificuldades, posto que a carência de estudos existentes nestas disciplinas acarreta um tratamento subjetivo delas pelos lexicógrafos.

Podemos inferir, do exposto, que faltam subsídios teóricos nos quais a Lexicografia possa apoiar-se para o estabelecimento de uma classificação unânime das marcas de uso, o que resulta em abordagens superficiais, subjetivas e discordantes nos dicionários. Tomamos como base para nosso trabalho, a classificação das marcas de uso proposta por Garriga Escribano (2003) unida às considerações feitas por Porto Dapena (2002), uma vez que elas condizem com a visão que temos delas e de questões que, em muitos pontos, são discordantes entre os lexicógrafos.

O último componente da microestrutura a ser abordado são os exemplos.