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A partir das décadas de 1970 e 1980, segundo Silva (2003), o sistema de acumulação capitalista entrou em uma nova crise, que demandou mudanças na economia e no trabalho e se expressou no esgotamento do mercado interno de alguns países centrais, na queda de produtividade e de lucratividade e do consumo, na desvalorização do dólar, no aumento do desemprego estrutural, dentre outros fatores.

Contudo, a solução que fora encontrada para o capital manter-se vivo baseou-se na financeirização e na reestruturação do processo produtivo, o que permitiria aumentar a produtividade e a exploração da força de trabalho por meio de regime de trabalho em tempo parcial e temporário e a revalorização do trabalho doméstico (SILVA, 2003).

As crises capitalistas são decorrentes, em geral, de uma questão de superprodução, isto é, há mais produto do que os consumidores podem comprar. Então, os produtos não circulam, não são vendidos, ocasionando prejuízo, ou, então, são vendidos por preços mais baixos, ocasionando um lucro menor, isto é, a taxa de lucro decresce. Contudo, o capital também enfrenta crises estruturais superando assim a fase das crises cíclicas. É uma crise estrutural pelo fato de ela não ser mais superada, ser contínua e atingir as diferentes dimensões da vida humana (econômica, ideológica, ambiental, social, política), o que evidencia os limites não apenas do capitalismo, mas do capital.

Nesse sentido, são elucidativas as seguintes considerações de Antunes:

o sistema de capital (e, em particular, o capitalismo), depois de vivenciar a era dos ciclos, adentrava em uma nova fase, inédita, de crise estrutural,

marcada por um continuum depressivo que faria aquela fase cíclica anterior virar história. Embora pudesse haver alternância em seu epicentro, a crise se mostra longeva e duradoura, sistêmica e estrutural” (2009, p.10, grifo do original).

A crise estrutural e a reestruturação do sistema capitalista são a resposta do capital frente à sua própria crise, reajustando o seu poderio ideológico, econômico e político de dominação, o que resultou no surgimento de novas formas de acumulação capitalista, denominada de acumulação flexível calcada no toyotismo, com formas de produção menos rígidas e mais flexíveis que aquela defendida no fordismo (HARVEY, 1992).

Segundo Mancebo, Maués e Chaves (2006), os elementos que desencadearam na crise do modelo de acumulação fordista e do Estado de Bem-Estar Social foram: a transnacionalização da economia, o avanço tecnológico, a crise fiscal, a substituição da tecnologia rígida por outra mais flexível e informatizada, a falta de capacidade do fundo público de financiar a acumulação do capital e a reprodução da força do trabalho. Em meio a estes motivos que ajudaram a caracterizar a referida crise, identificada com a superprodução de mercadorias, podemos citar ainda: queda da taxa de lucro, crise do petróleo, alta inflacionária, dentre outros. Com o aprofundamento da crise de valorização do capital, todo o processo de regulamentação do pós-guerra que vigorava nos países desenvolvidos começou a se desmantelar.

O caminho sugerido para a saída da crise foram o ajuste fiscal e a reforma do aparelho estatal, pois, segundo Peroni (2003), o diagnóstico era de que a crise brasileira era fiscal. Então, as primeiras alternativas apontadas para a superação da crise do Estado foram as

parcerias público-privado, o que ocasionou uma maior expansão do setor público não-estatal. Em face dessa necessidade, foi redefinido o papel do Estado como meio de organização social, mediante a nova ideologia política, o neoliberalismo, que adotou medidas privatistas e de desregulamentação.

Mancebo, Maués e Chaves (2006) apontam que a saída na ótica dos neoconservadores seria o retorno das leis do mercado, agora irrestrito, e a retirada da intervenção do Estado na economia (Estado mínimo), culminando na diminuição dos gastos públicos e dos investimentos em políticas sociais. Nesse contexto de introdução de um novo modelo de acumulação do capital, foi necessário reformar o Estado que passa de interventor para gerencialista, característica da iniciativa privada entendida como ágil, eficiente e eficaz, centrada nos resultados, deixando de intervir na economia e que, assim, transfere funções específicas do setor de serviços para a responsabilidade do mercado.

A introdução da acumulação flexível e do Estado mínimo engendrou modificações no mundo do trabalho, tais como:

(1) a introdução de novas tecnologias e, em muitos setores, a decorrente desvalorização geral da força de trabalho, incluindo o aumento do controle do processo de trabalho; (2) o surgimento de novas formas de organização do trabalho, com contratos mais flexíveis, destacando-se o uso do tempo de trabalho parcial, temporário ou subcontratado, e (3) o ataque ao salário real e ao poder dos sindicatos organizados, o que, somado à eliminação de muitos direitos sociais e trabalhistas anteriormente conquistados pela sociedade, tem levado à crescente precarização do trabalho e da vida (MANCEBO, MAUÉS, CHAVES, 2006, p.40).

O toyotismo, enquanto ideologia orgânica do novo complexo de reestruturação produtiva do capital (ALVES, 2011), tornou-se uma referência mundial para a gestão da força de trabalho, em que a principal crítica direcionava-se para a superprodução, orientando-se pelos princípios de produção em tempo justo (just-in-time), invertendo a racionalidade fordista, condicionando a organização da produção a partir do consumo, contra todas as formas de desperdício, decompondo o trabalho no transporte, na produção, na estocagem, no controle de qualidade (GOUNET, 1999) e na divisão do trabalho, na qual o trabalhador que executava apenas uma tarefa é substituído por um trabalhador polivalente, flexível, apto para atender a demanda flutuante. Desta forma, a reestruturação produtiva ocasionou processo de flexibilização dos contratos trabalhistas e a precarização do trabalho.

O trabalho informal, sem carteira assinada, em tempo parcial, sem garantia de direitos teve um grande aumento. As empresas terceirizadas cresceram vertiginosamente, oferecendo serviços a instituições públicas e privadas, isentando-as das responsabilidades trabalhistas. Há, nessa informalidade um acerto entre as partes, empregador e empregado, havendo uma prevalência do combinado sobre o legislado (MAUÉS; SOUZA, 2016a, p.05).

Neste contexto, não se modificam apenas os processos de produção, mas também é há mudanças dentro da esfera produtiva da fábrica, assim descontração industrial, revisão do papel do Estado, financeirização da economia e, também, heterogeneidade e fragmentação da classe trabalhadora.

Soares (2000) avalia que este novo modelo de acumulação implica em perda da identidade dos direitos sociais e na restrição da concepção de cidadania, na separação público- privado e no aumento da reprodução, dentro deste, aumento da mercantilização da força de trabalho e da legislação trabalhista, o que implica em desproteção trabalhista. Alves acrescenta que o novo complexo de reestruturação produtiva que se origina a partir da acumulação flexível, sob os domínios da crise estrutural do capital, acarreta no trabalho, “por um lado, a sua precarização (e desqualificação) contínua (e incessante), por outro lado, as novas especializações (e qualificações) de segmentos da classe dos trabalhadores assalariados” (2011, p.14).

Kuenzer (2011) pontua que a nova organização do mercado globalizado requereu novas exigências de competitividade, qualidade com menor custo, tecnologia baseada na microeletrônica e flexibilidade dos processos de trabalho. Isso não é novo, mas, segundo a autora, vem se constituindo na intensificação do processo de internacionalização da economia, de transformações tecnológicas e da descoberta de novos materiais e das novas formas de organização e gestão do trabalho.

Nesse sentido, Kuenzer argumenta:

A partir destas novas bases materiais de produção estabelecem-se novas formas de relações sociais, que, embora não superem a divisão social e técnica do trabalho, apresentam novas características, a partir da intensificação de práticas transnacionais na economia com seus padrões de produção e consumo, nas formas de comunicação com suas redes interplanetárias, no acesso às informações, na uniformização e integração de hábitos comuns e assim por diante. A sociedade nesta etapa apresenta novos paradigmas econômicos e socioculturais, marcados pela incorporação de culturas dominadas às culturas hegemônicas. Novos temas passam a fazer parte da agenda internacional, como a pobreza, as questões ambientais e raciais, a segurança coletiva, em que pese a exclusão reproduzir-se

permanentemente, posto que a lógica dominante é a da racionalidade econômica (2011, p.01).

Se, no plano material da sociedade, inicia-se uma transformação que desestruturou com extrema velocidade as relações construídas nas décadas anteriores, como resultado da ofensiva do capital contra o trabalho formal e estável, percebemos transformações que apontam a tendência de contratações em tempo flexível, temporárias, a convergência da precarização das relações laborais e a intensificação do trabalho. A partir dessa ótica, alguns autores consideram que seria iniciado um processo que apontaria para a crise do assalariamento e uma precarização do estatuto (DAL ROSSO, 2008; ANTUNES, 2008; ALVES, 2013).

Nesse contexto, a precarização do trabalho, segundo Alves, constitui-se

um traço estrutural do modo de produção capitalista, possuindo, entretanto, formas de ser no plano da efetividade histórica. Por natureza, a força de trabalho como mercadoria está imersa numa precariedade salarial que pode assumir a forma de precariedade salarial extrema ou, então, de precariedade salarial regulada. O que regula os tons da precariedade salarial é a correlação de força e poder entre as classes sociais. É, portanto, uma regulação social e política (2013, p.236).

O que se destaca na análise que o referido autor faz é que a precariedade salarial traz consequências em diversos campos, como no emprego, na carreira, no salário e nas condições de trabalho, além de modificar as condições do estatuto salarial que se refere a contratação salarial, remuneração e jornada de trabalho (ALVES, 2013). Portanto, o autor argumenta que a precarização do trabalho

aparece também como precarização existencial, tendo em vista que a gestão da nova relação homem-natureza alterou, de modo qualitativamente novo, o metabolismo social do sujeito que trabalha, considerando a tecnologia informacional e a adoção do sistema toyotista de produção; isso significa que o método just in time/kanban e a autonomação como disposição anímico- motivacional do trabalho vivo nos locais de trabalho das empresas capitalistas reestruturadas contribuíram para o aumento, em intensidade e amplitude, da carga ideológica e pressão pelo cumprimento de metas e resultados (ela não diz respeito apenas à produção, mas à totalidade da vida social, o que significa o surgimento do modo de vida just in time) (ALVES, 2013, p.239).

O “espírito do toyotismo”, portanto, se apresenta na captura da subjetividade do trabalhador que conduz ao “desvelamento da precarização do trabalho como precarização existencial”, o que atinge não somente a base material do trabalhador, mas também o seu emocional, “implicando, de modo intensivo e extensivo, o processo de reprodução social do trabalho vivo” na medida em que “ocorre a introjeção de valores-fetiches do capital no sujeito que colabora” (ALVES, 2013, p.236-237).

De acordo com Maués e Souza (2016b), as mudanças processadas no mundo do trabalho levaram a uma intensificação cada vez maior das atividades laborais, além de um produtivismo exacerbado, o que culminou em um estado permanente de precarização das condições de trabalho, fato determinante para a constituição de uma classe social que tem no trabalho um fardo que o torna cada vez mais alienado e estranhado na sociedade capitalista.

Para melhor compreender o que é intensificação do trabalho, recorremos a Dal Rosso (2008), que a define a partir da intensidade do trabalho, que, segundo o autor, está presente, em maior ou menor grau, em qualquer tipo de trabalho executado. A intensificação do trabalho deriva-se do processo de trabalho, que é a transformação da natureza pelos seres humanos por meio do uso de meios e instrumentos de produção disponíveis. Então, a intensificação do trabalho refere-se ao grau de dispêndio de energia física, afetiva e cognitiva do trabalhador no exercício da sua atividade concreta.

A intensidade é, portanto, mais que esforço físico, pois envolve sua mente, a afetividade despendida ou os saberes adquiridos através do tempo ou transmitidos pelo processo de socialização, além do envolvimento pessoal, o trabalhador faz uso de relações estabelecidas com outros sujeitos trabalhadores sem as quais o trabalho se torna inviável (DAL ROSSO, 2008, p.21).

Dal Rosso e Cardoso (2015, p.634) analisam o fenômeno da intensidade do trabalho a partir do conceito do valor, segundo a teoria marxista que emprega algumas expressões como “gasto aumentado do trabalho em um mesmo intervalo de tempo”, “elevada tensão da força de trabalho”, “preenchimento dos intervalos dos dias de trabalho”, “condensação” e “densidade laboral” para descrever a intensidade laborativa do sujeito trabalhador, da força de trabalho, da mão de obra. A expressão “gasto aumentado de trabalho” refere-se ao trabalhador individual ou coletivo que despende mais energia para executar seu trabalho no mesmo intervalo de tempo e tem por objetivo alcançar a ampliação qualitativa ou quantitativa dos resultados do trabalho, materializados em mercadorias e expressos em

valores dentro da conjuntura do modo de produção capitalista, pois, mais trabalho, também, é mais valor.

Ainda se consideram, na análise da intensificação, aspectos como: as condições de trabalho; as relações de cooperação entre os próprios trabalhadores; a transmissão de conhecimento que ocorre entre eles no processo de trabalho; e as relações familiares, grupais e societais, que acompanham o trabalhador no seu cotidiano e refletem no espaço do trabalho, como potencialidades ou como problemas.

A intensificação, para Dal Rosso, significa:

trabalhar mais densamente, ou simplesmente trabalhar mais, [...] supõe um esforço maior, um empenho mais firme, um engajamento superior, um gasto de energias pessoais para dar conta do plus, em termos de carga adicional ou de tarefa mais complexa (2008, p.22).

Essa complexificação pode se expressar no aumento do número de tarefas a serem realizadas, na mesma unidade temporal, por uma mesma pessoa ou equipe. Resultarão desse esforço a mais dos trabalhadores com o ato de trabalhar, podendo trazer um maior desgaste, fadiga e consequências para a própria pessoa, em diferentes aspectos, tais como o fisiológico, o mental, o relacional e o emocional (DAL ROSSO, 2008).

Durante a década de 1980, o capitalismo ocasionou um conjunto de transformações nefastas no interior do processo da classe trabalhadora, que se configurou no fenômeno, sobretudo, de desemprego estrutural, incorporação do trabalho feminino, intensificação da exploração do trabalho, da emergência de subproletarização (trabalho precário, parcial, temporário, subcontratado, terceirizado), assalariamento do setor de serviços e de outras formas de precarização das condições de trabalho, todas orientadas pela nova forma de regulação produtiva e que foram desastrosas porque desregularam direitos sociais históricos da classe trabalhadora, afetando não só a base material da classe-que-vive-do-

trabalho como também sua subjetividade, ou seja, “afetou sua forma de ser” (ANTUNES, 2008, p.23). Outra característica é que esse novo modo de produção acarretou para a classe trabalhadora tanto uma maior qualificação, quanto uma maior desqualificação, tendo com isso impingido à classe trabalhadora um processo de heterogenização, complexificação e fragmentação.

Entretanto, é preciso esclarecer que nos, anos 1980, mesmo com a crise do endividamento, o Brasil se encontrava, de acordo com Antunes (2004), razoavelmente

distante do processo de reestruturação da esfera produtiva que era gestado nos países de capitalismo central, mesmo sofrendo influxos da nova divisão internacional do trabalho e das mudanças técnico-científico-informacionais, cuja nova racionalidade procurava responder a necessidade das empresas nacionais de busca pela competitividade no mercado internacional, na reorganização da gestão das empresas transnacionais, com medidas influenciadas pelo modelo toyotista, e a necessidade de responder aos desafios do novo sindicalismo. Como corolário desta concepção de gestão do trabalho, houve redução da força de trabalho como forma de redução de custos, nos quais alguns setores destacam-se, como o automobilístico, o têxtil e os bancários.

Esse processo de reestruturação da esfera produtiva torna-se hegemônico no Brasil nos anos de 1990, influenciando e reorganizando quase a totalidade dos segmentos produtivos e do serviço público, ensejando um cenário de desemprego em escala estrutural e crescente precarização das relações laborais, aprofundando a desertificação neoliberal no Brasil (ANTUNES, 2005). É esse o cenário ao qual Antunes (2004) se refere para indicar a substituição do modelo fordista no Brasil pelo paradigma toyotista responsável por uma nova forma de organização do trabalho, assim como por um novo estágio do capitalismo brasileiro, que, combinados, acarretou em “enorme enxugamento da força de trabalho, acrescidos das mutações sociotécnicas no processo produtivo e na organização do controle social do trabalho” (ANTUNES, 2011, p.122).

Essas mudanças convergiram, segundo o autor, para a liofilização6 organizacional, resultado das inovações tecnológicas e de novas formas de gestão, entre as quais estão incluídas a flexibilização e a desregulamentação dos direitos sociais, terceirização, novas formas de gestão do trabalho, contratação por produção, dentre outras, mesclando práticas do fordismo com os processos da acumulação flexível e dos influxos do toyotismo.

Segundo Antunes, se, por um lado, há baixa remuneração da força de trabalho, em certa proporção, “pode-se constituir como obstáculo para o avanço tecnológico”, e deve ser acrescentado, por outro lado, que

a combinação entre padrões produtivos tecnologicamente mais avançados e uma melhor “qualificação” da força de trabalho oferece como resultante um

6 Liofilização “se refere aqui ao processo pelo qual o trabalho vivo é progressivamente substituído pelo maquinário tecno-informacional (trabalho morto). Nas empresas ‘liofilizadas’, é necessário um ‘novo tipo de trabalhador’, que os capitais denominam, de maneira enganosa, como ‘colaborador”’ (ANTUNES, 2012, p.48).

aumento da superexploração da força de trabalho, traço constitutivo e marcante do capitalismo brasileiro (2012, p.48).

Isso traz sérias consequências para o trabalho, porque,

para os capitais produtivos (nacionais e transnacionais), interessa a mescla entre os equipamentos informacionais e a força de trabalho “qualificada”, “polivalente”, “multifuncional”, apta para operá-los, percebendo, entretanto, salários muito inferiores àqueles alcançados pelos trabalhadores das economias avançadas, além de regida por direitos sociais amplamente flexibilizados (ANTUNES, 2012, p.48).

Kuenzer afirma que pedagogia orgânica ao taylorismo/fordismo tem como fim o atendimento à divisão social e técnica do trabalho, numa clara separação de classes:

bem definidas que determinam as funções a serem exercidas por dirigentes e trabalhadores no mundo da produção. Este, por sua vez, tem como paradigma a organização em unidades fabris que concentram grande numero de trabalhadores distribuídos em uma estrutura verticalizada que se desdobra em vários níveis operacionais, intermediários (de supervisão) e de planejamento e gestão, cuja finalidade é a produção em massa de produtos homogêneos para atender a demandas pouco diversificadas. A organização da produção em linha expressa o principio taylorista da divisão do processo produtivo em pequenas partes, onde os tempos e movimentos são padronizados e rigorosamente controlados por inspetores de qualidade e as ações de planejamento são separadas da produção. A mediação entre execução e planejamento é feita por supervisores, profissionais da administração de recursos humanos, que gerenciam pessoas por meio da utilização de metodologias que combinam os princípios da administração cientifica (Taylor e Fayol) e ao da administração comportamentalista que se utiliza de categorias psicossociais, tais como liderança, motivação, satisfação no trabalho, para conseguir a adesão dos trabalhadores ao projeto empresarial (2011, p.1).

As décadas de 1980 e 1990 foram consideradas como as “décadas das inovações capitalistas” caracterizadas pela flexibilização da produção e da especialização flexível, ocorrendo, portanto,

maiores movimentos de desconcentração industrial, com uma nova divisão internacional do trabalho e uma nova etapa da internacionalização do capital, ou seja, de um novo patamar de concentração e centralização do capital em escala planetária (ALVES, 2011, p.20).

Torna-se “clara a situação de debilitação do mundo do trabalho” (ALVES, 2011, p.20).

Dessa forma, a tríade mundialização do capital, acumulação flexível e neoliberalismo se constituiu, na análise deste mesmo autor, como “um novo (e precário) mundo do trabalho, complexificado, fragmentado e heterogeneizado” (ALVES, 2011, p.21).

Nasce, portanto, um amplo debate acerca das consequências da nova forma de acumulação do capital sobre o mundo do trabalho, como desdobramento da nova tendência regressiva do capital, reorganizado sob um novo paradigma técnico-produtivo e do recrudescimento da competitividade das empresas capitalistas, que repercute sobre a elaboração de uma nova configuração do trabalho, do emprego e do assalariamento.

No contexto das sucessivas crises do capital e da mudança das relações de produção, foi necessária uma reorganização do trabalho para o capital reestruturar o seu sistema ideológico e político de dominação e, com isso, passa-se a valorizar os processos pedagógicos escolares, tentando viabilizar a obtenção do consentimento pela população e materializar a inserção do projeto de sociabilidade do capital por meio da educação (NEVES; SANT’ANNA, 2005).

Nos tempos de mundialização do capital, com sua crescente etapa de financeirização, a educação tem sido vista como uma ferramenta importante na consolidação desse estágio de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Alguns acordos firmados pelo Brasil, em diferentes cúpulas e conferências, tais como as de Jomtien, Dakar, as Metas do Milênio e outras,