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Capitulo 3 – Os desenhos como representação do conhecimento

3.2 As narrativas dos alunos

A escrita das narrativas (NA) foi baseada, como pedido pela professora, não apenas nos desenhos por cada aluno criado, mas também pela convocação de conhecimentos históricos aprendidos nas aulas sobre esta temática. O pedido foi expresso do seguinte modo: “Com base nos teus desenhos, escreve um pequeno texto

sobre a vida quotidiana em Roma”.

A análise destes textos vai ser sustentada por categorias que explicitam a sua natureza (V. Quadro 3).

43 Quadro 3: Categorias da NATUREZA das narrativas escritas

Categorias Indicadores

“história” (h) Incluem-se nesta categoria todas as narrativas /enunciados que apresentam uma história imaginária a partir do desenho

Descrição (D) Incluem-se nesta categoria todas as narrativas que descrevem pormenores e aspetos específicos do desenho

Avaliação (A) Incluem-se nesta categoria todas as narrativas que apresentam opiniões, interpretações e juízos de valor pessoais

Pouco claro (PC) Incluem-se nesta categoria todas as narrativas que não respondem ao pedido

Após uma primeira leitura, foi possível criar uma tabela (V. Tabela 2)que nos permite ver a distribuição das narrativas pelas categorias propostas. É de realçar que algumas das narrativas não são unas, ou seja, segmentos do seu texto foram categorizados em categorias diferentes (V. sombreado em diagonal), daí a referências às unidades de análise (U).

Tabela 2: Distribuição das narrativas pelas categorias (N=22)

Após a análise das narrativas escritas pelos alunos, constata-se que, a maioria dos alunos respondeu à tarefa pedida. São alguns exemplos, as narrativas dos alunos NA19 e NA10, que fizeram um desenho onde estão ilustrados os vários espaços públicos (Fórum, Termas e Coliseu):

Categorias Aluno

U ‘história’ Descrição Avaliação

Pouco Claro 1 2 3 2D; 1A 4 2D; 2A 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 1h/1D 18 19 20 21 22 1h/1D

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“ NA19.1: [O fórum era o lugar onde tudo se comprava e vendia. Era também o espaço onde os cidadãos podiam fazer discursos em público. As termas eram muito populares entre os romanos. Passavam pelas termas uma vez por dia, pelo menos. As termas eram construídas por diversas salas. No coliseu assistiam a combates entre lutadores e animais selvagens como hipopótamos e leões, ou então lutas condenadas à morte.]”.

“ NA10.1: [No coliseu assistiam-se a combates entre lutadores, ou condenados à morte (Ex:

cristãos) que eram obrigados a lutar até à morte ou lançados às feras. Os lutadores, ou gladiadores colocavam-se em frente ao imperador e gritavam Avé César… Alguns gladiadores são salvos da morte pelo imperador, outros eram dados como alimento às feras juntamente com os mortos.] ”.

Seguindo a nossa análise, deparamo-nos com a presença de narrativas que contêm unidades de análise atribuídas a diferentes categorias, sendo o caso de quatro (4) alunos: NA4, NA3, NA17 e NA22. Estes, além de fazerem uma descrição do que desenharam, também apresentam opiniões e interpretações pessoais, bem como histórias imaginárias a partir do desenho.

Perante a narrativa do aluno 4, pode-se a verificar a presença de dois tipos de categorias:

“NA4.1: [Neste trabalho retrato uma cena fascinante do incrível quotidiano romano. Este

episódio é uma luta no Coliseu entre gladiadores. Era frequente, nas diferentes classes sociais romanas, assistir a espetáculos grandiosos que consistiam na luta até à morte entre lutadores, gladiadores e animais selvagens (como o caso dos leões e hipopótamos.] ” - DESCRIÇÃO

“NA4.2: [Os condenados à morte. Tal como os escravos e os cristãos, eram frequentemente

alvos de horríveis espetáculos de carnificina contra animais selvagens e contra outros condenados.] ” - INTERPRETAÇÃO

“NA4.3: [Entre os vencedores o Imperador decidia aqueles que, em conjunto com os mortos, iam ser dados como alimento às feras, ou aqueles que eram salvos do terrível destino. O sangue derramado durante estes combates escorria até à rede de esgotos de Roma e seguia o seu trágico caminho através do rio Tibre.] ” -- DESCRIÇÃO

“NA4.4: [Escolhi representar este episódio devido ao facto de, apesar destes espetáculos terem sido uma total barbaridade e um atentado aos direitos humanos, serem também uma prova sobre a evolução dos comportamentos e atitudes humanas importantíssimo. Quem diria que há apenas dois mil anos atrás era frequente a existência de lutas até à morte? Quem diria que apenas dois mil anos atrás os cristãos ainda eram perseguidos?] ” - AVALIAÇÃO

Este aluno começa por uma breve descrição, para logo fazer uma interpretação e avaliação do que desenhou, usando uma adjetivação muito emocional. No terceiro momento desta narrativa, o aluno volta a fazer uma descrição do que desenhou. Já no último momento o aluno dá novamente a sua opinião e faz uma avaliação e interpretação pessoal do seu desenho, comparando, os valores sobre os direitos humanos contemporâneos com os da época.

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Eis um outro exemplo, que é o da narrativa do aluno 3, começa por fazer uma descrição do desenho, seguida de uma avaliação e interpretação pessoal. Por fim, torna a fazer uma descrição do que desenhou, apresentando uma explicitação e um certo conhecimento da cena que representou:

“NA3.1: [O meu desenho representa uma luta, entre um gladiador e uma fera. Estes combates assistiam-se no Coliseu. Muitas vezes as lutas eram entre condenados à morte, como escravos e os cristãos.] ”. - DESCRIÇÃO

“NA3.2: [Os combates entre gladiadores são os mais emocionantes.] ”. - AVALIAÇÃO

“NA3.3: [Muitas vezes, os que vão morrer, podem ser salvos mediante a decisão do Imperador, ou da plateia.] ” - DESCRIÇÃO

A narrativa do aluno 17 é mais simples, inicia com uma descrição do desenho que realizou e conclui com uma história imaginada:

“NA17.1: [Desenhei um fórum, num comércio, em que um romano está a cortar carne para um patrício (cheio de dinheiro).] ”. - DESCRIÇÃO

“NA17.2: [E o romano está aliviado porque já tem dinheiro para comprar um mero pão.] ”.- “HISTÓRIA”

A narrativa do aluno 22 tem o mesmo formato do aluno anterior, composta por uma descrição e por uma história imaginada a partir do seu desenho:

“NA22.1: [As termas eram muito populares entre os romanos, pelo menos, uma vez por dia passavam por lá. Elas eram constituídas por diferentes salas. Tinham as piscinas quentes, mornas e frias, entre outras. Da parte da manhã as termas eram para as mulheres e da parte da tarde para os homens. As termas eram um local público mais visitado pelas pessoas.]”.

“NA22.2: [As pessoas que não passassem pela água fria, levam com um balde de água fria.]”. Há que ressaltar que muitas das narrativas são uma explicitação do desenho, na medida que, sem elas não se perceberia o que estava ilustrado, daí elas terem uma função clarificadora e explicativa (D16; DE14).

No entanto, nem sempre a narrativa explica o desenho ilustrado, apresentando informação histórica aprendida pelos alunos nas aulas (D4; DE7). O contrário também sucede, ou seja, os desenhos são bastante demostrativos do que se pede, e a narrativa é pobre na sua explicação e conteúdo. Eis um exemplo: “NA16.1: [Eu escolhi as termas porque é o que mais me interessava entre as outras cenas.] ”. Comparemos agora com o desenho correspondente:

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D6

As narrativas dos três desenhos que foram designados como insipientes, também não são claras, revelando as mesmas características dos desenhos.

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