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As necessidades formativas e a busca por uma formação pedagógica

No documento Ieda Maria Brock.pdf (páginas 52-55)

5. A ANÁLISE DOS DADOS

5.4 As necessidades formativas e a busca por uma formação pedagógica

Como já destacado no tópico anterior, é muito reduzido o número de professores da área da Medicina que busca por uma especialização na atividade de ensinar, conforme já citado pelo CINAEM. No entanto, essa necessidade de formação pedagógica é reforçada pelos sujeitos, como nos relata um dos sujeitos.

Em Medicina tem uma coisa muito esquisita. Nenhum professor universitário foi preparado para ser professor, ninguém, absolutamente ninguém. Então você tem uma heterogeneidade muito grande no curso. (professora Maria)

O CINAEM incentivou a criação de núcleos de Educação Médica em cada escola de Medicina. Esses núcleos têm por objetivo capacitar e profissionalizar os docentes. Tamosauskas (2003) menciona que os núcleos tiveram espaço de troca de experiência e de discussão nos congressos médicos da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) e mostraram as atuações da coordenação do curso, do corpo docente e de apoio ao discente.

Batista e Ribeiro (2000) analisam o papel dos núcleos e explicam a sua importância para o desenvolvimento profissional dos professores a partir da criação de espaços onde se possam discutir o fazer docente e o processo de formação decorrente da avaliação institucional. Vejamos no trecho abaixo:

Os núcleos de educação médica poderão desenvolver um papel fundamental na educação permanente, mobilizando os professores para o processo de desenvolvimento docente; seja na realização de eventos como fóruns, seminários, conferências, seja como oficinas e grupos de estudo, a partir de necessidades identificadas no processo de trabalho. A iniciativa deve ser estimulada a partir da reflexão sobre a prática, do conhecimento gerado por avaliação institucional e por projetos de pesquisa que envolvam, entre outras dimensões, o fazer docente e o processo de formação. (BATISTA; RIBEIRO, 2000, p.132)

Na área da Medicina, existe a obrigatoriedade das disciplinas de Pedagogia Médica e Didática, especialmente nos cursos de mestrado e de doutorado. A professora Maria identifica o mestrado como uma das fontes de saberes docentes e que atenderia a necessidade formativa desses professores em relação ao pedagógico. Mas pode-se identificar, no trecho abaixo, que a disciplina Didática aparece como um plano secundário em seu relato:

Nós gostamos de atender pacientes e fazer cirurgia. Quando fazemos o mestrado, acho que deveríamos aprender a ser professor, mas não é isso. Você está na sua linha de pesquisa e é obrigado a fazer o curso de Didática, mas faz porque é obrigado a cumprir. O doutorado é pior ainda. (professora Maria)

Essa questão é abordada por Marcondes e Gonçalves (1998) ao relatar que a pós- graduação stricto sensu, em Medicina, procurou minimizar a questão das disciplinas no contexto pedagógico, introduzindo duas disciplinas obrigatórias: Didática Especial e Pedagogia Médica.

O professor Marcos também fala da importância dessa formação pedagógica e esclarece, no trecho abaixo, como tem buscado essa formação:

Participo dos congressos de educação médica e eu acabo tendo uma vida dupla, pois tem os congressos que são da minha especialidade e os de Educação Médica. Isso é outra maneira deles (médicos) se atualizarem, ao invés deles irem fazer um curso de formação, eles podem ir aos congressos para se atualizarem. Existe a ABEM e tem congresso anual e está bem próximo. (professor Marcos)

A professora Maria em sua fala aborda que a busca por formação na área pedagógica e a constituição dos saberes acontecem através do auto aprendizado e principalmente da vontade de querer aprender e fazer:

Preparação vem da leitura e vontade de acompanhar o novo, muita viagem e congressos isso é fantástico. (professora Maria)

A fala dessa professora insere-se no contexto apresentado por Marcondes e Gonçalves (1998) e reforça a necessidade de uma capacitação do médico nas disciplinas pedagógicas.

Já para opinião do professor Anderson, os congressos de Educação Médica continuada auxiliam muito para a capacitação do médico e enfatiza que os congressos de Educação em que são discutidas as questões pedagógicas estão distantes da realidade.

Agora, se for um congresso de atualização médica continuada sim, eu acho que ajuda bastante. Mas os congressos pedagógicos estão desconectados com a realidade das universidades, pois tem lá muita teoria. O esquema pedagógico que apresentam é importante, mas na hora que você extrapola, percebe que são realidades muito diferentes. (professor Anderson)

Para Marcelo Garcia (2009, p.13) as possibilidades de melhorar o ensino e a aprendizagem se aplicam quando os professores questionam, de forma coletiva, as rotinas de ensino que não obtêm sucesso e “[...] examinam as novas concepções de ensino e aprendizagem, encontram formas de responder as diferenças e os conflitos e se implicam ativamente em seu desenvolvimento profissional”. Quando perguntados sobre a formação docente aos sujeitos da pesquisa - professores médicos - estes falam dos conhecimentos que devem ser adquiridos pela prática na Medicina e ao longo de sua carreira como professor e relacionam, ao tempo de docência, a sua prática com o “ser professor”.

Tudo contribui, é uma continuação, extensão do que eu aprendi. Mas tudo que o curso de Medicina me trouxe serviu para minha experiência. (professora Maria)

Esse contexto é enfatizado por Marcondes e Gonçalves (1998) ao esclarecer que se poderia imaginar que as disciplinas de “Didática Especial” e “Pedagogia Médica”, inseridas com obrigatoriedade nos cursos de pós-graduação em Medicina, pudessem contribuir para o aprendizado de alunos-professores. Porém, o pesquisador menciona que essas disciplinas se constituem no único momento de reflexão sobre o ensino médico, no entanto, elas têm cargas horárias pequenas e os recursos humanos para ministrá-las também são poucos.

Dessa reflexão, no caso da área da Medicina, pode-se dizer que o professor de Medicina se desenvolve na docência pelo autoaprendizado contínuo e que os professores interessados em melhorar o seu desempenho didático necessitam buscar informações pertinentes em livros e revistas. Ou, ainda, frequentar reuniões científicas sobre ensino médico, buscar assessoria, novos cenários de ensino e, principalmente, realizar as aulas com criatividade.

No documento Ieda Maria Brock.pdf (páginas 52-55)