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As Negociações que se seguiram à criação da Convenção da Diversidade Biológica.

AS NEGOCIAÇÕES NA CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA.

6.3. As Negociações que se seguiram à criação da Convenção da Diversidade Biológica.

Reduzido a sua expressão mais simples, este era o contorno básico dos objetivos e das posições assumidas pelos estados em desenvolvimento em 1993. Convém ponderar que suas linhas essenciais não iriam modificar-se radicalmente nos 15 anos posteriores, embora variados elementos relevantes tenham sido acrescentados ou mesmo ressaltados nestes anos posteriores.

Cabe, por conseguinte, considerar neste momento a operação político- diplomática através da qual se procurou, desde a ratificação da Convenção da Diversidade Biológica, viabilizar as posições e os objetivos acima esboçados. Tratava-se, em última análise, de persuadir países econômica e politicamente mais fortes e influentes a aceitar mudanças consideráveis numa ordem internacional que lhes era amplamente favorável. Seguramente um objetivo deveras ambicioso, visto que, claramente, poucos países em desenvolvimento tinham condições de contribuir de forma significativa para semelhante esforço. O Brasil, a Índia e a China representavam alguns desses poucos, o que, por sua vez, obrigavá-os a assumir papel de liderança numa mobilização que se propunha nada menos do que a reestruturação da lógica comumente empregada na obtenção do livre acesso aos recursos biogenéticos e aos saberes tradicionais associados.

Cabe agora lançar uma visão de conjunto sobre este amplo campo de negociação diplomática que percorreu aproximadamente 15 anos de conferências e reuniões na Convenção da Diversidade Biológica. De que maneira objetivos tão ambiciosos se enquadraram num contexto geral de negociações? De que modo as metas, as formas de atuação e os objetivos mais próximos das partes negociadoras foram condicionados pela natureza do respectivo organismo da CDB?

Para ensaiarmos respostas satisfatórias a estas questões necessitamos atentar para uma constatação que se impõe logo de saída: o período que compreende as reuniões da Convenção é demasiado extenso e, portanto, exige do observador analista uma subdivisão inicial capaz de facilitar o mapeamento dos condicionamentos e das formas pelas quais seus mais importantes protagonistas atuaram no plano das negociações multilaterais, mobilizando recursos de natureza política e técnica para ampliar e garantir a consecução dos interesses e objetivos tidos por nacionais.

Consequentemente, a análise de 8 Conferências das Partes e de 9 reuniões paralelas nos possibilita subdividir o período geral de 15 anos em duas fases centrais: uma primeira fase que compreenderia o intervalo entre a primeira Conferência das Partes concluída em 1995 até a quinta Conferência das Partes encerrada em 2000 e, uma segunda fase que compreenderia o intervalo entre a sexta Conferência das Partes até a oitava Conferência das Partes, ou seja, de 2002 a 2007.

Para efeitos de organização, poderíamos denominar o primeiro intervalo de “Fase de Identidade Indefinida da Convenção”, enquanto que, para o segundo intervalo, optamos pela denominação de “Fase de Identidade em vias de Conclusão”54.

Nestes termos, a fase de Identidade Indefinida caracteriza-se pela ausência de uma posição clara e estruturada acerca dos temas da propriedade intelectual, do acesso e compartilhamento de benefícios e da proteção aos saberes tradicionais e às coletividades tradicionais. Acrescente-se a estes fatores a não delimitação e a não coerência dos principais princípios e normas envolvidos e a desorganização da estrutura interna da Convenção.

Em suma, entre 1995 e 2000 a Convenção não foi capaz de estruturar um plano de trabalho suficientemente organizado no que concerne à temática do acesso e do compartilhamento de benefícios, assim como não traduziu uma posição coerente no tabuleiro das negociações internacionais capaz de contrapor as

54 Como o próprio tratado da Convenção atesta, o escopo das negociações e das reuniões na CDB

ultrapassam as preocupações referentes exclusivamente à questão do acesso, da repartição de benefícios e da proteção aos saberes tradicionais. Convém ressalvar, por conseguinte, que os critérios por nós utilizados na elaboração da respectiva divisão em Identidade Indefinida e Identidade em Vias de Conclusão se referem exclusivamente aos temas em pauta. Destarte, não julgamos acreditamos que esta divisão possa abarcar igualmente a evolução de todos os demais temas.

deliberações na OMC e na OMPI. Por ora, a exposição destas características mais expressivas é suficiente, pois no decorrer deste capítulo analisaremos com maiores detalhes a influência deste contexto nas negociações ocorridas durante a segunda metade da década de 1990.

Já, no que concerne ao período denominado de “Fase de Identidade em vias de Conclusão”, podemos elencar algumas característica precípuas que o diferenciam da fase anterior. Com efeito, a partir de 2000 as negociações na Convenção adquirem um caráter progressivamente mais definido no tratamento do tema do acesso e da repartição de benefícios, delimitação esta que contrasta com as indefinições do intervalo anterior.

Destarte, a primeira metade da década de 2000 observaria nas negociações da CDB o estabelecimento de uma tríade de questões organizadas em torno dos seguintes temas: acesso e repartição de benefícios, status das coleções ex-situ, e direitos de propriedade intelectual, temas esses que passaram a transitar em torno da questão transversal da proteção aos saberes tradicionais. Ao mesmo tempo, a Convenção procederia a uma definição de postura internacional, comtrapondo-se às negociações da OMC relacionadas ao Acordo TRIPs e ao tratamento dos direitos de propriedade intelectual preconizado pela OMPI. Ainda, a própria estrutura e dinâmica das negociações e das reuniões internas adquiriria substância, pois vários grupos de trabalho surgiram com o objetivo explícito de organizar estes temas especialmente complexos e controversos.

6.3. A Primeira Fase de Negociações na Convenção da Diversidade Biológica –