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E AS “NEUROSES” DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

EM CONTEXTOS CULTURAIS

E AS “NEUROSES” DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Por outro lado, a mercadoria passou a ser produzida através da divisão de funções e do uso de máquinas (Fig. 15) - assim surgiu o Taylorismo e o conceito de Estandardização - que tornaram o empregado mais dependente do empregador do que ao contrário. O empregado deixou de ter domínio sobre o que produzia pois não tinha meios de produção suficientes para competir dentro do mercado.

Quanto mais se produzia mais o empregador ganhava e o empregado perdia, pois apenas o primeiro tinha o retorno palpável do seu investimento. Como deixou de possuir o ganho proveniente da mercadoria que produzia o empregado passou a ser a própria mercadoria sendo a venda de si mesmo, e do seu corpo trabalhador, a única maneira de obter qualquer forma de ganho.

Assim os empregadores e comerciantes endinheirados, ou alta burguesia, passaram a ser a classe dominante distinguindo-se da prole trabalhadora.

Surgiu, situada entre essas duas classes, a classe média que, por consequência da industrialização, tinha acesso à cultura e daí a adequação do termo “cultura de massas”. Posteriormente a Marx surgiu a Escola de Frankfurt

[7] que defendia que a indústria era produtora de homogeneidade das massas culturais e que ameaçava a individualidade, a unicidade e a criatividade e foi, por

[7]

A Escola de Frankfurt surgiu cerca de um século depois de Marx e fez a ponte entre as várias correntes do pensamento económico. Apareceu com a criação do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt intencionado de promover o debate intelectual sem a hegemonia/soberania de qualquer outra escola de pensamento. Apesar disto, e influenciada por Carl Grunberg, o primeiro director do instituto, a escola desenvolveu-se numa linha de pensamento tendencialmente marxista.

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Valorização e Significação da Produção Material em Contextos Culturais

Figura 16 Canibal

Marco Rolla 2004 Instalação composta num ambiente de parede falsa, por um fogão de quatro bocas, uma cama acoplada ao fogão por detrás da parede, para sustentar um ou três corpos, e uma traquitana para fechar e abrir a porta do forno automaticamente, além de três

performers nus e embebidos

em azeite. Duração: 3h 30m Fonte: http://www.oqdesign.com. br/21/veja.html

isso mesmo, criticada pela sua conduta elitista e pela incapacidade de fazer uma análise real dos complexos e actuais processos de consumo. Detinha uma lógica capitalista direccionada para o progresso e para a razão científica que deu origem uma nova cultura moderna anti- tradicional, denominada de “não-cultura” ou de “pós- -cultura”, que permitia aos produtos de trabalho a liberdade de adquirirem um vasto leque de valores culturais e ilusões, isto é, a liberdade de adquirirem um valor de troca secundário.

Dela distinguiu-se Theodor Adorno (1903-1969) que utilizou o termo “industria cultural” substituindo o termo “cultura de massa”. Defendia que não se trata de uma cultura produzida pela massa, mas sim uma cultura produzida para a massa, que não cresce naturalmente mas através de um sistema de produção de cultura que estratifica e estéreotipiza tornando tudo idêntico, o que faz com que conhecimento seja apenas reconhecimento.

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A “industria cultural” desenvolve-se através da criação de um mercado organizado, que industrializa a cultura (Fig. 16), com a clara finalidade de dominação: por meio do consumo nas massas, por esta ser portadora da ideologia da classe dominante (cúmplice do Capitalismo), e também pela sua capacidade de falsificar a relação entre os homens através do progresso da técnica que contém o desenvolvimento da consciência nas massas. O público tornou-se na matéria para produzir audiências: impede a formação de indivíduos autónomos e independentes com capacidade de julgarem e pensarem por si.

“O forno se torna uma boca, um buraco ou um monstro que engole e cospe corpos humanos. [...] O fogão explicita a fragilidade do corpo ou a vulnerabilidade da existência humana. A máquina da indústria não digere os pedaços; ela regurgita os pedaços, criando uma visão absurda, libertando o inconsciente do espectador para uma reflexão sobre o tempo e a morte. A esquizofrenia do sistema instaurado, supostamente irreal, revela uma faceta verdadeiramente surreal do perverso jogo mercadológico da indústria. Acima dos conceitos éticos de uma sociedade, o mercado tenta sempre ditar o desejo no corpo, inerte, deglutido e usado para se vender e ser vendido...” (Rolla 2006:118)

Assistimos à formação de uma nova mentalidade, de um novo circulo vicioso, onde observamos o indivíduo alienado forçado a produzir num trabalho que lhe retira o poder e a autonomia. A sua própria produção volta-se contra si como uma força que o desliga e o desconecta da vida social.

Marx defende que é esse afastamento o motivo que orienta o indivíduo em direcção às culturas de consumo, pois é aí que encontra um mínimo de gratificação pelo seu trabalho, comprando e participando no consumo social.

Mas essa participação tem um preço e, ironicamente, o indivíduo é obrigado a trabalhar cada vez mais e melhor de

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modo a poder fugir a essa alienação social: “o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias cria”. (Kollross 2011 cit. Marx 2004:80) O seu preço não é determinado por seu valor de uso (ou seja, pelas suas propriedades físicas), mas sim pelo equivalente ao trabalho [8] socialmente necessário à sua produção.

Concluindo, o consumidor torna-se escravo de um sistema que determina o que ele deve consumir, imprimindo nele um desejo permanente de posse que nunca será efectivo. “Todo o Homem especula em criar uma necessidade forçada noutro Homem, para o obrigar a uma nova

dependência, para o prender a uma nova forma de prazer e para, consequentemente, o levar à ruína económica. Todos procuram estabelecer nos outros um poder alienígena para aí encontrar a satisfação da sua própria necessidade egoísta.” (T.L.4) (Berger 2010:43 cit. Marx 1962:50) ::: O SURGIMENTO DO DESIGN