• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II As Novas Tecnologias no Contexto Familiar

2.3. As Novas Tecnologias na Interação Familiar

É possível inferir que hoje em dia as tecnologias têm sido uma mais-valia para as famílias dado que promovem a interação social entre os seus membros, diminuem as distâncias, permitem uma comunicação mais próxima, ajudam na descoberta de outros lugares e possibilitam o acesso a informações necessárias para o âmbito escolar e

31

profissional. Contudo, investigadores/as como McGrath (2012) têm revelado que a “tecnologização” da infância e da adolescência conduziu a um isolamento social dos indivíduos dentro das habitações e, Livingstone (2012) indica que tal tem gerado falhas ao nível das gerações familiares no seu quotidiano.

Através da “domesticação” das tecnologias, podem surgir conflitos entre pais, mães e filho/a(s) adolescente(s) pelo facto de o maior conhecimento e desempenho destes/as últimos/as poder ser uma afronta à autoridade parental, visto que a família é um sistema social caracterizado por uma hierarquia de autoridade (Mesch, 2006b). A introdução das tecnologias na família pode ter o potencial de influenciar a hierarquia de autoridade familiar, bem como a transformação do/a adolescente no/a especialista em que a família se suporta e apoia tecnicamente, podendo contribuir para a diferenciação de papéis (Watt & White, 1999). A investigação de Mesch (2006b) infere que, enquanto novo perito, o/a adolescente é uma fonte de desequilíbrio na família, desafiando a autoridade parental e aumentando a probabilidade de conflito com o pai e com a mãe.

Quando se menciona novas tecnologias, existem opiniões muito díspares acerca do impacto das mesmas na relação entre os membros de uma família, encontrando-se na literatura estudos que corroboram ou não a ideia das novas tecnologias facilitarem a interação social. Através da revisão de literatura, autores/as como Prados, Vicent e Esteban (2014) assinalam que a presença das tecnologias no contexto familiar é cada vez maior e, para Church, Weight Berry e MacDonald (2010) e Villegas (2013) estas tornaram-se numa componente fundamental nas rotinas das famílias, tendo a sua presença o papel de agregá-las (Mesch, 2006b; Villegas, 2013). Neste âmbito, na sua investigação, Villegas (2013) salienta que, na família, as tecnologias podem ter duas funções: servirem como um dispositivo em atividades independentes e, serem consideradas mecanismos no processo de socialização e comunicação. Já Church et al., (2010) fazem referência que as tecnologias “(…) servem as necessidades pessoais, originam relações funcionais e envolvem o mundo social” (p.272). Livingstone (2002, como citado em Livingstone & Das, 2010) indica algumas utilidades das tecnologias nas residências familiares: i) a prestação de atividades de lazer comum, reunindo as gerações e, simultaneamente, estimulando e permitindo a comunicação familiar; ii) a prestação de recursos simbólicos para os mitos e as narrativas da família, desde a simples facilitação da comunicação através do fornecimento de um tópico de conversa, a uma complexa negociação de regras e expetativas; e, iii) a regulação do tempo e do espaço familiares, tal inclui o uso das tecnologias para definir atividades apropriadas ou horários (e.g., trabalhos de casa, hora de dormir).

32

Na família, as tecnologias podem desempenhar um papel ativo por possibilitar que pais e mães possam utilizá-las como algo que lhes permite cumprir certas responsabilidades que advêm com a parentalidade, conseguindo com isso manter o sistema funcional (Villegas, 2013). De acordo com Mesch (2006a), as tecnologias podem facilitar a união familiar, podendo igualmente reformular o significado do tempo, fazendo com que os indivíduos passem mais tempo em casa. O mesmo autor refere que as tecnologias em casa podem promover oportunidades para o desenvolvimento de atividades partilhadas (Mesch, 2006a); por sua vez, McGrath (2012) e Villegas (2013) referem que as tecnologias possibilitam a interação social, mas também podem conduzir a que os indivíduos se envolvam em atividades tecnológicas solitárias (Daly, 1996 como citado em Mesch, 2006a; Mesch, 2006a; McGrath, 2012).

Para além de algumas das vantagens supramencionadas, as tecnologias podem igualmente ser prejudiciais nas interações entre os membros de uma família. Por exemplo, Saxbe, Graesch e Alvik (2013) indicam que, numa família, a televisão pode contribuir para o isolamento das crianças e dos/as adolescentes por estes/as preferirem vê-la sozinhos/as no quarto ao invés de assistirem televisão na sala com o pai e com a mãe. De acordo com Rideout, Foehr e Roberts (2010), 58% dos/as participantes de uma investigação afirmam que o computador conduz a que passem menos tempo com os/as seus/as familiares e amigos/as e, que tal pode afetar negativamente o funcionamento e relacionamento familiares. Relativamente ao telemóvel, Hameededdin (2010) frisa que, hoje, a simples utilização do telemóvel encoraja os indivíduos a interagir com outros, maioritariamente pelo telemóvel do que presencialmente, ou seja, diminuindo o contacto próximo.

Face aos videojogos, Redmont (2010) menciona que as horas passadas a jogar, especialmente os de carácter mais violento, podem ser associados a uma diminuição na comunicação dos/as adolescentes com os/as irmãos/ãs. Por fim, Mesch (2006b) conclui que 40% dos pais e mães da amostra da sua investigação revelam que a Internet é motivo de altercação na relação paterno-filial. Outros estudos, como é o caso de Kraut et al., (1998) apontam que a Internet reduz significativamente a importância da proximidade física entre sujeitos, fortalecendo em simultâneo os laços e relações online. Em suma, neste capítulo compreendeu-se que as tecnologias são simultaneamente vantajosas e desvantajosas para as famílias com filhos/as adolescentes porque podem promover ou não interação social entre os seus membros. Por um lado, podem possibilitar momentos de união, de comunicação, de partilha de experiências e de aprendizagem, em que os diferentes membros da família podem

33

interagir em torno da televisão, do computador, do telemóvel, dos videojogos e da Internet. Por outro, podem contribuir para o isolamento dos indivíduos pelo facto de as suas atividades terem um carácter individual, reduzindo a interação; adicionalmente, podem originar conflitos intrafamiliares devido ao uso das tecnologias e ao conhecimento avançado da população mais jovem, podendo conduzir a uma alteração na hierarquia e nos papéis familiares.

35