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2 MARCO TEÓRICO

•MOBILIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES •Abordagens de motivação e divulgação

3.5.2 As Oficinas de Mapeamento Participativo (em meio analógico)

Foram realizadas duas oficinas com dois grupos diferentes, sendo que o resultado da primeira foi indutor de complemento e finalização para a outra, gerando um único registro de documental no dia 29/06/2019.

A ambientação se realizou em uma sala de aula, com lista de presença e autorização para uso de imagens e participação na pesquisa. Os materiais utilizados foram: uma planta cadastral impressa em dimensões de 1m x 1:30, com localização específica do Núcleo Pintassilgo; uma imagem aérea ortofoto em dimensões de 1m x 1:30cm; outros mapas extraídos do Google Maps impressos em A3 para servir de referência na escala regional mostrando os bairros do entorno; uma cartela de legendas tematizadas (ambientais, sociais, artes, lazer, comerciais, saneamento, etc.); revistas para recortes, canetas hidrocores e etiquetas adesivas de diversas cores; imagem área ampliada da cidade; e lona, gentilmente cedida35.

A facilitação do mapeamento participativo ficou a cargo da pesquisadora, que precisou criar as condições favoráveis para a atividade. Desta forma, conduziu o grupo a responder a partir das seguintes coordenadas: (i) inclua neste mapa o que ainda não aparece e que seja interessante mostrar para outras pessoas que não moram neste lugar que só vocês sabem; (ii) utilizem o meio que desejarem pra compor as legendas, podem ser recortes, etiquetas adesivas, escrever ou sinalizar; (iii) ao final, observem o todo e vejam se este mapa fala sozinho (por si só, sendo autoexplicativo). No desenvolvimento, os participantes foram estimulados a emitirem suas opiniões, suas indicações e posicionamentos no mapa. A facilitadora era acionada apenas para esclarecer dúvidas ou para colaborar anotando no mapa para auxiliar os mais tímidos.

No registro documental das imagens captadas é possível observar a surpresa e a atração que os mapas em maior escala do que nos livros escolares causaram, gerando atenção e grande interesse nos participantes em se localizarem no mapa, como sinal de pertencimento ao lugar, e, depois, aumentaram a escala da observação, querendo compreender a comunidade como um todo e os bairros do entorno no compartilhamento com demais colegas, para, na sequência, se familiarizarem adentrando nos detalhes das referências dentro do mapa da comunidade.

35 O mapa cadastral do Núcleo Habitacional e a imagem aérea foram cedidas gentilmente para uso da

pesquisa pela Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, e a lona com imagem ampliada da cidade foi cedida pela Gerência de Educação e Mobilização Ambiental do SEMASA – Serviço Municipal de Saneamento e Gestão Ambiental de Santo André.

Com o primeiro grupo, com 13 participantes, a atividade foi mais fluída e inconstante, a sala ficou aberta à participação dos estudantes de toda escola, e estes se revezaram por intervalo de tempo. Um grupo de moradores do entorno quis participar e registraram suas impressões no mapa regional. Entretanto, o grupo de moradores da comunidade foi o que mais interagiu entre si e com a pesquisadora, demonstrando grande despojamento para o compartilhamento e troca de informações do lugar social deles. Foram momentos ricos de detalhes, cheios de histórias surpreendentes: colegas moradores da mesma rua desconheciam detalhes citados pelo vizinho, ou mesmo a história de um cemitério clandestino “com lápide e tudo”. As descrições do ambiente natural, como a forte presença da mata e da Represa Billings ganharam maiores destaques espontaneamente. Muitos problemas de saneamento ambiental foram demarcados com grau de urgência e indignação. Outros pontos citados foram as interferências sonoras, como a da rodovia do Rodoanel, e as ruas com pavimentos precários. As descrições de instituições que oferecem serviços religiosos, comerciais e educacionais foram facilmente anotadas. O período da realização da atividade foi das 8h30 às 12h00.

No segundo grupo participaram dois jovens e dois professores das disciplinas de Sociologia e de Química, que ficaram apenas no início da oficina. Após uma introdução com objetivos e apresentação do trabalho do grupo anterior, os participantes se dedicaram a dar mais vivacidade e complementar com maior riqueza de detalhes, aumentando as legendas, os recortes e as anotações, inclusive a malha viária, para melhor localização entre as ruas oficiais. Houve momentos de grandes descobertas de setores onde as moradias são mais precárias, trecho conhecido como “fazendinha” dentro da comunidade, de afogamentos nas margens da represa, de trabalhos de educação ambiental promovidos por entidades assistenciais e religiosas. Também houve relatos de histórias que avós contavam do lugar, como a queda de um avião monomotor e lagoas bem no topo do morro mais alto no meio da mata. Por razão de características socioeconômicas melhores do que o grupo anterior, um celular conectado ao Google Maps foi utilizado para checar informações durante a atividade, demonstrando, na prática, o caráter híbrido das possibilidades do desenvolvimento deste mapeamento participativo. Abaixo, o registro dos melhores momentos do mapeamento participativo. A análise deste conteúdo se fará no próximo capítulo.

Fonte: Autora e Mariana Guarnieri (2019).

Figura 14 – Registro parcial do desenvolvimento do Mapeamento Participativo (analógico)

Cabe salientar que, conforme as orientações do Mapeo Coletivo36, a

pesquisadora selecionou as legendas com temáticas preestabelecidas antes da atividade, a fim de oferecer subsídios para maior facilitação da aplicação pelos participantes da pesquisa. Na coletânea variada foram elencados: temas de saneamento e poluição, organização comunitária, atividades recreativas e esportivas, mobilidade urbana, juventudes, etc. Após a decisão do que mapear por cada participante, este escolhia a legenda conforme a codificação mais representativa, após isso, a legenda era recortada e colada, neste ato georreferenciada analogicamente. Embora houvesse grande variedade de temas e subtemas, a coletânea de legendas não foi suficiente para a diversidade do imaginário e subjetividade entre os participantes, principalmente para os temas ambientais e sociais, por isso, lançou-se mão dos desenhos, colagens de revistas e sinalizações escritas. Neste sentido, foi acertada a decisão da facilitação em oferecer inúmeros instrumentos lúdicos como subsídios.

36 Manual de Mapeamento Coletivo (Argentina). Disponível em: http://www.iconoclasistas.net/mapeo-

colectivo/?utm_medium=website&utm_source=archdaily.com.br Acesso em 13 de nov. 2018

Fonte: Manual de Mapeamento Coletivo - Iconoclasitas (Argentina).