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As ONGs dentro da Rebrip

No documento mairajunqueira (páginas 95-97)

Capítulo V: Rebrip: anseios e discussões

5.3 As ONGs dentro da Rebrip

Ao pensar em todo o universo das ONGs brasileiras, são poucas as que fazem parte da Rebrip, mas serão para essas que nosso olhar se voltará a seguir, e que em sua grande maioria são as que identificamos no capítulo três como as que estão preocupadas com a resistência e a transformação social.

Nalu Faria afirma que as ONGs precisam acompanhar as agendas internacionais mais amplas. No entanto, ela crê que o tema do comércio, para as ONGs em geral, salvo algumas exceções, demorou para entrar em suas agendas. A partir da relação com os Fóruns Sociais Mundiais essas entidades perceberam a necessidade de participar dessas temáticas. Muitas dessas ONGs que começaram a fazer essa ligação com a temática e com a participação internacional são as mesmas que de uma forma geral desenvolveram, nos anos noventa, uma participação ativa na agenda internacional, participando do ciclo de conferências da ONU; e ao mesmo tempo foi crescendo a agenda internacional dos movimentos, seja via Aliança Social Continental, seja via Fórum Social Mundial (Cf. Nalu Faria, 05/01/2007).

Na visão de Nalu Faria, o momento atual demonstra para as ONGs que, se não estiverem participando desses processos, elas também perdem espaços de articulação, de contato e de presença efetiva na agenda internacional. Nas palavras de Edélcio Vigna, “elas passam a se perceber como parte, como células de um organismo maior internacional, que está se forjando, que está trabalhando, que pode ser chamado de globalização, anti- globalização, enfim, esse organismo” (Entrevista com IDEM, 05/01/07).

Continuando com o raciocínio do entrevistado, outro benefício para as ONGs é que essa é uma forma de obterem informações, e isso não acontece, ou acontece de uma forma debilitada, com organizações que não fazem parte de redes. E, no dias de hoje, a questão da informação é fundamental, pois organização trabalhando sozinha, somente no seu específico, provavelmente vai perder uma essencial dimensão mais ampla. Somado a isso, perde a possibilidade de também passar a se relacionar com uma ampla gama de organizações da sociedade civil, nacional e internacional que ela não incorporaria em sua ação se estivesse sozinha, além, é claro, de aumentar seu reconhecimento nacional e internacional (Cf. IDEM, 05/01/07).

Para a Rebrip, as ONGs têm uma importância muito forte na construção e no fortalecimento da Rede de maneira distinta da dos movimentos sociais. Por exemplo, as

campanhas vinculadas pelas ONGs são diferentes daquelas feitas pelos movimentos sociais, pois têm um caráter mais informativo, difundindo propostas, enquanto as campanhas dos movimentos têm característica de mobilização, de articulação e de luta. É fundamental para a Rede essa diversidade de ações. Percebe-se, assim, que à medida que as ONGs se fortalecem a Rede se fortalece, e o contrário também acontece.

Para Edélcio Vigna, as ONGs são a cabeça da Rebrip, pois elas trazem as propostas, elas são as organizações mais propositivas; ele as coloca como o cérebro da Rede. Os movimentos populares seriam, dessa forma, os braços e as pernas, pois é impossível trabalhar sem os braços e sem as pernas. Sendo assim, a Rebrip é vista como uma estrutura completa na figura de um corpo, como um organismo que só funciona se todas as partes estiverem bem conectadas (Cf. Edélcio Vigna, 22/01/2007).

Na sua visão, as ONGs têm, normalmente, como característica, trabalhar dentro das instituições e organizações nacionais ou internacionais, e os movimentos populares trabalham fora, nas ruas, fazendo pressão, são eles que levam a sociedade civil às ruas, pois eles têm a força de mobilização. Certamente isso não é uma regra, pois podemos observar outros cenários. Dessa forma, as ONGs vêm trabalhado as propostas, colocando as idéias na mesa, e os movimentos populares formatam e ajudam a dar acabamento a essas propostas e indicam como mobilizá-las.

Na opinião de Renata Reis, a Rebrip é um instrumento interessante para as ONGs, pois ela consegue aglutinar pessoas que discutem temas muito pertinentes do comércio, e esses temas não são isolados. Não se pode trabalhar com propriedade intelectual nos acordos internacionais, por exemplo, sem ter uma visão clara de qual é a contrapartida da agricultura na mesa de negociação. Esse ambiente de troca proporciona às ONGs trabalharem temas que vão além de suas especificidades (Cf. Renata Reis, 16/01/2007).

Ela também ressalta o fato de que a Rede proporciona uma maior facilidade para as ONGs participarem internacionalmente, mesmo que ainda possuam poucos espaços e que as grandes ONGs internacionais estão muito mais presentes nesses espaços. No caso da Rebrip a visibilidade que a Rede tem já facilita muito a participação das ONGs em espaços internacionais (Cf. IDEM, 16/01/2007).

Graciela Rodriguez também vê a participação das ONGs na Rebrip de maneira bem positiva, pois elas trazem um aprofundamento temático, e para as ONGs estarem na Rebrip é uma

forma de trabalhar de modo articulado. Ela coloca que quanto mais articuladas forem as organizações elas terão muito mais poder de incidência na transformação das políticas públicas. O fato de participar de redes possibilita a integração das temáticas. Com relação à participação internacional, segundo a entrevistada, não há como uma ONG pequena participar sozinha, e a Rebrip abre espaço para isso (Cf. Graciela Rodriguez, 11/01/2007).

Percebe-se, ao analisar as entrevistas, que não existe dúvida entre os membros de ONGs que participam da Rede com relação ao fato de que estar lá é fundamental no fortalecimento de sua própria organização, e que é essa uma das melhores formas de fazer com que sua ONG tenha uma maior importância no âmbito das negociações internacionais.

No documento mairajunqueira (páginas 95-97)