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As pesquisas relacionadas ao ensino e aprendizagem musical na terceira idade

PARTE I – REVISÃO DE LITERATURA

2.2 As pesquisas relacionadas ao ensino e aprendizagem musical na terceira idade

A revisão de literatura em Educação Musical apontou pesquisas com foco no ensino e aprendizagem musical com a presença de indivíduos idosos. Esses estudos examinam diferentes situações de ensino e aprendizagem: canto coral (RODRIGUES, 2007); aulas de musicalização (LUZ, 2006; 2007; TORRES, 2003); práticas de conjunto (SOUZA, 2006; TORRES, 2003); aulas de música em EJA (Educação de Jovens e Adultos), aulas coletivas e intergeracionais (RIBAS, 2006); aulas coletivas de instrumento - flauta doce (BUENO; BORGES, 2007); oficina de Música Popular Brasileira para a terceira idade (SOUZA; LEÃO, 2007) e o

relacionamento de indivíduos maduros com várias modalidades musicais - canto coral, teclado, piano, violino, regência (RENNER, 2007). De modo geral, as investigações procuram verificar as motivações, expectativas, práticas e metodologias que norteiam as aulas com alunos idosos. As pesquisas realizadas sobre as práticas musicais na terceira idade enfatizam principalmente os benefícios da mesma para diferentes aspectos da vida dos alunos.

Internacionalmente, Yarbrough (2007) destaca a presença do indivíduo idoso nos mais variados ambientes de ensino e aprendizagem musical como uma das novas tendências da Educação Musical para o século XXI. A autora ressalta a importância do ensino de música articular-se com a vida dessas pessoas, bem como enfatiza a importância da atuação do idoso em experiências musicais intergeracionais. Na visão da autora, a mudança da situação dos idosos na sociedade aos poucos fará com que essas pessoas participem cada vez mais de atividades de ensino e aprendizagem musical de tal forma que se torne possível a realização de um intercâmbio entre as diferentes faixas etárias nos mais diferentes locais destinados a essas práticas. Essa fusão poderá concorrer para o benefício da própria trajetória de vida e do desenvolvimento educacional / musical dos envolvidos.

A pesquisa de Bugos (2004) exemplifica a tendência explicitada por Yarbrough (2007). O trabalho objetivou avaliar as contribuições do ensino individual de piano na preservação das funções executivas (referentes a processos de

organização tais como a concentração e a manutenção da atenção e o

funcionamento da memória)

em idosos de 60 a 85 anos, avaliando o papel da educação musical no desafio de prevenir declínios cognitivos decorrentes da idade. Na investigação foram avaliadas as habilidades cognitivas e de memória de 39 pessoas nessas faixas etárias divididos em dois grupos experimentais com a duração de seis meses, em que apenas um grupo recebia ensino individualizado de piano. A investigação apresentou resultados que sugerem que o ensino individual de piano tem a capacidade de melhorar capacidades cognitivas em adultos idosos entre 60 e 85 anos, relativas à perda de memória, ao aumento na atenção e da concentração.

Segundo a autora, o ensino da música oferece oportunidades de enriquecimento na vida dos idosos, e especialmente, o ensino do instrumento,

permite explorar suas capacidades tanto cognitivas quanto criativas, favorecendo a prevenção de perdas cognitivas decorrentes da idade.

No Brasil, a pesquisa de Ribas (2006) confirma a previsão de Yarbrough (2007) sobre a fusão de diferentes faixas etárias desenvolvendo atividades musicais em locais comuns e de seus benefícios para as partes envolvidas. Em sua investigação sobre as práticas musicais de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), a autora traz resultados que indicam a importância das relações intergeracionais no ensino e aprendizagem da música. Para Ribas (2006) as práticas entre gerações propiciam, além da união entre diferentes faixas etárias: momentos de trocas de conhecimentos e experiências, a superação de dúvidas comuns, a “co- aprendizagem”, a superação de dificuldades interpretativo-musicais, o rompimento de preconceitos entre as partes envolvidas, dentre outros benefícios. Dessa forma, a relação entre gerações, por meio de uma reciprocidade músico-educacional se apresenta como elemento facilitador do ensino e aprendizagem musical entre jovens, adultos e idosos. A pesquisa mostra que não há fronteiras etárias na relação com a aprendizagem musical e que todos têm muito a oferecer e aprender.

A pesquisa de Torres (2003), por outro lado, voltou-se especificamente para alunos adultos e procurou compreender os sentimentos e as motivações da procura da música por “adultos jovens, médios e velhos” de diferentes áreas profissionais. Foram entrevistados 12 adultos de áreas profissionais diversas, com idades entre 34 e 64 anos, os quais tocavam instrumentos diversificados como: piano, violão, teclado, guitarra, flauta-doce, canto entre outros. Desse total, 02 adultos tinham idade acima de 60 anos.

Os resultados da pesquisa revelam que as atividades musicais são de extrema importância no cotidiano dos investigados e ocupam lugar de destaque na vida de cada profissional, independente da idade. A investigação mostrou ainda, que todos os adultos investigados se sentiam capazes e vitoriosos em relação a seus processos de musicalização. Para a autora, os alunos, embora com idades e atividades profissionais variadas, se deslumbravam com a atividade musical em grupo como um interesse comum. Essas atividades propiciam o enriquecimento e o crescimento de cada aluno individualmente e do grupo.

Constatou-se ainda, que a vontade e a dedicação são fundamentais no progresso na atividade musical dessa faixa etária. Nos dizeres da autora: “não existe limite de idade, não há tempo predeterminado para o adulto começar uma atividade

musical; ele tem vontade, procura criar as condições e acaba conseguindo realizar” (p. 158).

Os trabalhos exclusivamente com idosos destacam a contribuição da atividade musical para o desenvolvimento cognitivo desses indivíduos. A pesquisa desenvolvida por Luz (2006), que aplicou uma estratégia metodológica de iniciação à linguagem musical com alunos idosos, enfatizou a importância da música na melhoria da vida dos idosos e mostrou ser possível a aprendizagem musical de pessoas maduras, independente de sua faixa etária.

Segundo o autor, o desenvolvimento das atividades musicais entre idosos, fundamentadas em vivências e interpretações musicais desde o início do processo, levou ao desmoronamento do mito de que somente crianças, jovens ou adultos são capazes de aprender música. A investigação constatou que através da aprendizagem musical os participantes tiveram oportunidade de se sentirem reintegrados socialmente e realizar novos propósitos de vida, desenvolvendo amplas faculdades humanas, dentre elas a cognição (LUZ, 2006).

O trabalho desenvolvido por Souza e Leão (2007) e por Bueno e Borges (2007) em grupos de musicalização de pessoas idosas trazem contribuições fundamentais sobre a aprendizagem musical na terceira idade. Souza e Leão (2007) investigaram a vivência musical de idosos em uma Oficina de Música Popular com um grupo de participantes com idade média de 70 anos. A pesquisa de Bueno e Borges (2007) analisou o desenvolvimento de um trabalho de musicalização com a utilização da flauta doce entre senhoras com idades que variavam de 60 a 85 anos. O trabalho de musicalização se realizou por meio da oralidade, de observações visuais, percepções auditivas, imitações e vivências lúdicas.

As pesquisas em questão enfatizam um aspecto extremamente importante a ser considerado por profissionais nas experiências musicais com indivíduos idosos: a necessidade de se considerar o vínculo da aprendizagem musical voltada a essa faixa etária com suas experiências e trajetórias de vida. Para Bueno e Borges (2007) a aprendizagem musical deve ser pautada na vivência e experiência de vida do aluno idoso, proporcionando a expressão de seus sentimentos, emoções e afetos, o que resultará na educação do pensamento e no desenvolvimento cognitivo do idoso. Além disso, para as autoras, a aprendizagem da música na terceira idade é apresentada como um meio de se contribuir para a valorização dessa faixa etária,

permitindo o resgate da cultura e do conhecimento que o idoso possui, proporcionando o afloramento de emoções e sensações e o resgate da auto-estima.

Souza e Leão (2007), com uma abordagem similar, sustentam que a aprendizagem musical direcionada ao idoso extrapola o simples domínio de “habilidades específicas”, perpassando a vivência e a sensibilidade do indivíduo nessa faixa etária. Nesse processo, a construção do conhecimento musical deve basear-se em etapas que se estendam até o fim do ciclo vital.

De forma semelhante, Rodrigues (2007) em sua análise sobre o canto coral na terceira idade constatou que a experiência musical acarreta benefícios aos idosos, proporcionando o rompimento de barreiras sócio-culturais e promovendo o desenvolvimento de várias habilidades cognitivas como: o canto; a memória; a leitura de partituras; o repertório musical e o aumento da capacidade de concentração. Assim como os autores já explicitados, a autora enfatiza a capacidade da aprendizagem de idosos. Em suas palavras “o idoso possui inúmeras possibilidades como sujeito ativo, com amplas capacidades para explorar o seu lado intelectual, musical, cognitivo” (RODRIGUES, 2007, p. 70).

A Educação Musical, portanto, tem sido apontada como um meio para a qualidade do envelhecimento na terceira idade. Souza (2006) faz uma reflexão a respeito das contribuições da área para um envelhecimento bem-sucedido e aborda sua atuação com alunos entre 50 e 92 anos na iniciação musical. Segundo a autora, a aprendizagem musical dos alunos proporciona autonomia e independência e são observadas melhoras na respiração, na coordenação motora, na atenção e concentração, entre outros.

Outra pesquisa realizada na área de Educação, mas com foco na Educação Musical (RENNER, 2007) aborda o fazer musical de “adultos maduros”, buscando elucidar as razões que os levam a essa prática e a repercussão da mesma na qualidade de vida desses indivíduos. Os resultados do trabalho dão ênfase à participação da música na ampliação e manutenção da qualidade de vida. A pesquisa mostra que a atividade musical apresenta grande contribuição na vida das pessoas maduras e que estas se constituem como agentes no processo de aprendizagem musical, aprendendo através de experiências ao longo do tempo, independente da ação das instituições de ensino. Para a autora, essa aprendizagem caracteriza-se pela autonomia e autodirecionamento e está relacionada ao crescimento psicológico.

Os resultados das pesquisas mencionadas apontam o crescimento das atividades musicais em diferentes ciclos da vida humana e destacam a relevância do ensino e aprendizagem musical na terceira idade. Essa demanda por aprendizagem musical tem exigido um novo olhar sobre os processos de ensino e aprendizagem da música e revelam a necessidade de conhecer como os profissionais estão atuando com esse público. As pesquisas encontradas abordam temas significativos envolvendo a música e o idoso, entretanto, trabalhos que tratem especificamente da questão da formação de professores de música em relação ao idoso e dos saberes que emergem da prática com a terceira idade não foram encontrados na literatura da Educação Musical.

A necessidade de se investigar os professores que atuam com a terceira idade conduziu-me aos trabalhos voltados para o tema “formação de professores”. Estas pesquisas atribuem importância ao trabalho / papel do professor em sua atuação docente e têm sido desenvolvidas também na Educação Musical. Este constitui o tema que será abordado a seguir.

2.3 As pesquisas sobre formação de professores na Educação Musical