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As Políticas Culturais: uma política pública da diversidade

É na defesa da diversidade das culturas que as políticas culturais tornam- se um campo de investigação acadêmica na segunda metade do século XX (CALABRE, 2007, 2013), com ações formuladas e/ou propostas desencadeadas pela sociedade civil, organizações não-governamentais e/ou pelo Estado “com o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura” (FÉLIX & FERNANDES, S/A, s/p), a partir de um “intenso movimento de institucionalização da cultura no campo das políticas públicas” (CALABRE, 2013, p. 323).

Para Rubim (2012, p. 13-15), as políticas culturais constituem uma invenção da contemporaneidade, datada e localmente gestada, pelo menos no caso do Ocidente, que está associada à criação do Ministério dos Assuntos Culturais na França, que tinha em sua direção André Malraux. “A missão de Malraux não foi apenas instituir o primeiro ministério da cultura existente no mundo, mas conformar uma dimensão de organização nunca antes pretendida para uma intervenção política na esfera cultural”.

Conforme Rubim (2012), a criação desse ministério centrava-se na busca da França retornar ao seu símbolo de poder, pelo menos no aspecto cultural. No pós-segunda guerra, as intervenções no campo cultural se davam como um ato político que tinha por finalidade a cultura. Se no decorrer da história, a cultura foi marcada por uma finalidade política por meio de sua instrumentalização, “Agora acontece uma radical guinada, na qual a cultura é o fim e a política apenas o recurso para atingir este fim” (RUBIM, 2012, p.15).

Leboganf Lancelot Nawa (2012), retomando Dorlande (2001), pontua que as políticas culturais, com seu nascimento eurocentrado, podem ser identificadas em três fases históricas na Europa do século XIX. A primeira fase é a “ideológica”, configurava-se no interesse do desenvolvimento de infraestruturas governamentais das instituições de museus e galerias nacionais de artes na/para a construção da

nação. A segunda é a “fase de governança na década de 1980. Durante esse período, o estado emergiu como um dos principais atores na formação da política cultural” (tradução própria)3. Essa fase caracteriza-se pela forte presença do Estado nas políticas culturais. E “fase emancipatória”, momento marcado pela mudança para o neo-conservadorismo e neo-liberalismo na Europa Ocidental com uma forte presença de financiamentos governamentais locais em políticas culturais a níveis municipais. (DORLANDE, 2001 apud NAWA, 2012, p. 29-31). A última fase, para Nawa, será a base para a construção de políticas culturais efetivas na Europa na década de 1990, pois a cultura passa a ser concebida em seu sentido amplo e reconhecida como parte constituinte do desenvolvimento humano: “No início dos anos 90, muitas cidades e autoridades regionais europeias apresentaram uma ‘abordagem transversal’ sobre as políticas culturais que incentivavam diversidades de culturas mundiais a existir lado a lado com as tradições europeias” (NAWA, 2012, p. 31) 4.

Nota-se a centralidade da cultura enquanto uma política de estado, que agora passaria a compor a preocupação nacional na construção do Estado-nação. Conforme Rubim (2012, p. 15-17), as políticas culturais são marcadas por dois momentos: o primeiro com a criação do Ministério Francês da cultura. Nesse momento, a dominância de um “modelo de democratização cultural”, que deveria ser “compartilhado por todos os cidadãos franceses”. Assim, esse primeiro momento questiona a cultura pensada de modo elitista visando à abordagem de uma definição mais ampla de política cultural na qual se reconheça a diversidade e a integração da cultura com a vida, projetando-se uma mudança para a democracia cultural.

Ainda para o autor, a intervenção política na atualidade a partir do modelo francês passou a ser o padrão na elaboração das políticas culturais mundiais com a UNESCO.

Inventadas as políticas culturais, sua inserção como tema relevante na agenda pública internacional decorre não só do exemplo francês, mas principalmente, da atividade desenvolvida no campo da cultura pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). (RUBIM, 2012, p. 17).

3 governmentality phase in the 1980. During this period, the state emerged as a key player in the

shaping of cultural policy.

4 in the early

90s, many European cities and regional authorities came up with a ‘transversal approach’ on cultural policies that encouraged diversities of cultures worldwide to exist side-by-side with European traditions.

A UNESCO, a partir de sua institucionalização a nível mundial, realizou ações no campo da cultura e das políticas culturais. Rubim elaborou uma tabela sobre essas ações (Ver Tabela 1 Ações da UNESCO no campo da cultura e Tabela 2 Ações da UNESCO no campo das políticas culturais)

Tabela 1 Ações da UNESCO no campo da cultura

Declaração Universal dos Direitos de Autor 1952 Declaração de Princípios de Cooperação Cultural Internacional 1966 Convenção sobre as Medidas que se Devem Adotar para Proibir e

Impedir a Importação, a Exportação e a Transferência Ilícita de Bens Culturais

1970

Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e

Natural 1972

Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais 1978 Recomendação Relativa à Condição do Artista 1980 Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e

Popular 1989

Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural 2001 Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das

Expressões Culturais 2005

Fonte: Elaboração própria baseada em Rubim, 2012, p.18.

As ações no campo da cultura, nos seus primeiros anos a partir da criação da UNESCO, estavam centradas na construção das identidades nacionais e na promoção de uma cultura de paz. Algumas dessas ações irão compor as políticas culturais, porém a intensificação nessa área se dará, principalmente, a partir da década de 1960, aprofundando-se nas décadas seguintes quando as políticas culturais passam a compor agendas governamentais e serem elementos prioritários para o desenvolvimento, principalmente dos países do Terceiro Mundo, as discussões objetivavam o respeito à diversidade.

Tabela 2 - Ações no campo das políticas culturais

Declaração Universal dos Direitos de Autor 1952

Declaração de Princípios de Cooperação Cultural Internacional 1966 Mesa-redonda sobre Políticas Culturais – Mônaco 1967 Gênese da Ideia de Encontro sobre as Políticas Culturais 1968 Conferência Intergovernamental sobre os Aspectos Institucionais,

Administrativos e Financeiros das Políticas Culturais – Veneza 1970 Convenção sobre Medidas que se devem adotar para proibir e impedir a

Importação, a Exportação e a Transferência Ilícita de Bens Culturais 1970 Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural 1972

Conferência Regional sobre as Políticas Culturais da Europa – Helsinki 1972 Conferência Regional sobre Políticas Culturais da Ásia – Jacarta 1973 Conferência Regional sobre as Políticas Culturais da África – Acra 1975 Conferência Regional sobre Políticas Culturais da América Latina e Caribe

– Bogotá 1978

Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais 1978

Recomendação Relativa à Condição do Artista 1980

Conferência Mundial sobre as Políticas Culturais –MONDIACULT –

Cidade do México 1982

Década Mundial do Desenvolvimento Cultural 1988 – 1997 1988 Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular 1989

Criação da Comissão Cultura e Desenvolvimento 1991

Documento: Nossa Diversidade Criativa 1996

Conferência Intergovernamental sobre Políticas Culturais para o

Desenvolvimento 1998

Relatório Mundial sobre a Cultura, Criatividade e Mercados 1998 Relatório Mundial sobe a Cultura, Diversidade Cultural, Conflito e

Pluralismo 2000

Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural 2001 Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões

Culturais 2005

Fonte: Elaboração própria baseado em Rubim 2012, p.19.

Assim, a institucionalização das políticas culturais surge no fim da Segunda Guerra Mundial (RUBIM, 2012). Com a criação das Nações Unidas, mais especificamente com a UNESCO, formula-se uma política de paz em que a cultura seria o elemento que deveria integrar as nações a partir do respeito das diferenças culturais. Tendo como objetivo:

[...] es la rama de Las Naciones Unidas que tiene por objeto fomentar el desarrollo cultural de todo el planeta, concretando la no demostrada idea de que cuando gran parte de la población consuma bienes culturales desaparecerá la mayoría de los conflictos que asolan la convivencia entre los seres humanos” (RAUSELL-KÖSTER, 1999 apud MORENO-CUBILOS, 2017, p. 108).

As políticas formuladas pelas Nações Unidas no campo da cultura centravam-se na preocupação dos Estados-membros em relação aos seus bens culturais nacionais, principalmente os arquitetônicos que apresentavam ruídos ou em fase de destruição ocasionados pela guerra. No momento de criação da UNESCO a extinta Unidade da África do Sul adere à conferência, mas retira-se em 1956 alegando “interferência’ da instituição nos ‘problemas raciais’ do país”,

retornando novamente em 1994 já no seu período de construção democrática (UNESCO, s/d).

As políticas culturais, sendo uma política pública, apresentam-se como uma ação ou intervenção do Estado. É esse caráter imperativo que demanda do poder estatal conferindo legitimidade a uma política pública (SILVA, 2001). Nesse sentido, as políticas culturais são resultados que podem demandar de vários segmentos da sociedade, mas seu caráter de política pública só é conferido quando o Estado a legitima. É com seu caráter imperativo que a cultura passa a ser objeto de políticas públicas.

Esse imperativo do Estado com as políticas culturais começa a ser questionado na contemporaneidade.

Para além do aparato institucional do Estado, as políticas culturais podem ser realizadas por inúmeros setores e agentes sociais, inclusive atuando em conjuntos. Este é, particularmente, um alinhamento exigido pelas novas demandas sociais emergidas das constantes transformações culturais observadas na contemporaneidade. (FÉLIX E FERNANDES, S/I).

As contestações da operacionalidade das políticas culturais se dão pelo entendimento de que a cultura não deve ser uma obrigação apenas do Estado, porque dessa forma o campo cultural não proporcionará um desenvolvimento socioeconômico, restringindo-se apenas ao campo econômico, agravando no processo da globalização e do capitalismo que tendem a reificar, dando valor econômico a tudo, inclusive a cultura.

Percebe-se a relação implicada de cultura e política no sentido de definir a cultura como uma política ou uma política cultural. Canclini (2001, p. 65) compreende que as políticas culturais resumem-se a um “conjunto de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis e grupos comunitários organizados a fim de orientar o desenvolvimento simbólico, satisfazer as necessidades culturais da população e obter consenso para um tipo de ordem ou de transformação social”. Definição compartilhada por Paula Félix e Tatiane Fernandes (s/a, s.p) e que têm como “o objetivo de promover intervenções na sociedade através da cultura”.

Conceitualmente, em um dicionário elaborado por Teixeira Coelho (1991, p. 9) o verbete política cultural apresenta-se “como uma ciência da organização das estruturas culturais”. A política cultural foi por muito tempo abordado em um aspecto sociológico que concebia o resultado do comportamento humano em contextos culturais específicos. O problema dessa visão, segundo o autor, é sua explicação

por “causa-efeito”, nesse sentido, “prevalecia, em outras palavras, uma abordagem da questão cultural, e de seu tratamento pelas políticas culturais, a partir de um enfoque materialista e histórico-social”. Mas essa concepção acabou por ser universal e generalista, pois partia externamente, não contextualizando e não levando em conta as aspirações do “grupo alvo”. Quanto a essa concepção o autor entende que:

Essa orientação foi responsável por um bom número de preconceitos, juízos

apressados e redutores sobre a dinâmica cultural – de modo especial, sobre

a cultura dita popular e de massa – e pela formulação de programas de

caráter fortemente normativo ou, sem eufemismo, autoritário. (COELHO, 1997, p. 10).

Essa visão sociológica da cultura perdurou até a primeira metade do século XX, quando a “antropologia do imaginário” possibilitou a ampliação dos estudos culturais que levaria em conta os domínios “arquetipal e biológico” entendendo via imaginário “permitir que se conheçam as fantasias e fantasmas do grupo objeto de uma política [...] capaz, de permitir o acesso àquilo que, no comportamento humano, não é convencional e episódico, mas simbólico no sentido de motivado diretamente” (COELHO, 1997, p.11).

A ampliação da cultura para uma análise antropológica permitiu no campo das políticas culturais um reconhecimento sob o ângulo de produção e recepção, isso porque essa abordagem privilegiou os sujeitos das políticas públicas. Essa abordagem, que leva em consideração os sujeitos, possibilitou reformulações políticas demandadas pelos próprios sujeitos de interesse não se restringindo apenas ao Estado como na abordagem sociológica da cultura, que tende a destacar somente a relação econômica e institucionalizada.

As políticas culturais não perdem, aqui, sua relação de institucionalidade do Estado. O que acontece a partir desse momento é um diálogo entre os sujeitos.

Políticas culturais serão, quase sempre, intervencionistas (provirão do lado de fora, do exterior do grupo ou indivíduo receptor) enquanto persistir a prática da delegação e representação que marcam a organização política moderna. Mas, se antes essa intervenção era justificada (quando o era) com a ausência de instrumentos capazes de possibilitar uma outra espécie de operação, agora, com os estudos do imaginário, a intervenção pode ser delimitada, se não eliminada, pela conversa que se abre entre propositores e receptores de políticas culturais. (COELHO, 1997, p. 11)

É essa relação dialógica que vê à política cultural como uma “ciência da organização das estruturas culturais” e que possibilitará uma abordagem que leve

em consideração as formas de sociabilidade e vivência entre os sujeitos. Nessa perspectiva, os atores culturais e a própria comunidade são ouvidos e, na maioria das vezes, as políticas culturais demandam de suas ações e questionamentos quanto da ação do Estado para que se efetivem políticas públicas na área da cultura.

A política cultural é entendida habitualmente como programa de intervenções realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupos comunitários com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o desenvolvimento de suas representações simbólicas. (COELHO, 1997, p. 292).

Ainda para o autor

Essas intervenções assumem forma de:

1. normas jurídicas, no caso do Estado, ou procedimentos tipificados, em relação aos demais agentes, que regem as relações entre os diversos sujeitos e objetos culturais; e

2. intervenções diretas de ação cultural no processo cultural propriamente dito (construção de centros de cultura, apoio a manifestações culturais específicas, etc.). Como ciência da organização das estruturas culturais, a política cultural tem por objetivo o estudo dos diferentes modos de proposição e agenciamento dessas iniciativas bem como a compreensão de suas significações nos diferentes contextos sociais em que se apresentam. (COELHO, 1997, p. 292).

Percebe-se a ação do Estado no estabelecimento de normas e criação de lugares que serão considerados espaços culturais e instituições culturais. Tal concepção acaba por confundir política cultural com política social, e essa confusão acaba conferindo ao Estado um papel de protetor da cultura. É preciso que se atente para essa diferenciação, pois o Estado como instância de poder legitimado deve garantir para seus cidadãos lazer e entretenimento, logo acesso a cultura, quando se eleva a uma política social essa compreensão se restringe a uma política de bem- estar oferecida e dada por essa instituição (COELHO, 1991).

Essa concepção de política cultural demandada pelo Estado apresenta-se de duas maneiras para Coelho (1991, p. 293). A primeira é “uma visão conspiratória da realidade social e política”, ou seja, é dever do Estado “levar a cultura ao povo”. Nessa visão, a cultura parte de cima para baixo, não concebendo seus atores como produtores de cultura. A segunda visão é que as políticas culturais “se apresentam como respostas às demandas sociais.” São demandas levantadas por outros sujeitos, principalmente atores culturais e a própria comunidade para que o Estado reconheça as demandas relativas à cultura.

Para Coelho, as formulações para a área das políticas culturais são formuladas por quatro paradigmas: “O primeiro deles apresenta essas políticas como derivadas de uma lógica de bem-estar social [...] uma necessidade do ser humano”, em seguida, apresenta-se o caráter “intervencionista” assumindo a procura de “uma identidade étnica, sexual, religiosa, nacional ou outra”. O terceiro paradigma encontra-se em uma “reconstrução nacional (Japão) ou a construção nacional sob nova orientação política (Cuba)”. O quarto e último paradigma é a “necessidade de uma prática comunicacional entre o Estado ou instituição formuladora da política e seus cidadãos, [...]” (COELHO, 1997, p.293-294).

No entanto, esses paradigmas podem apresentar-se intimamente relacionados, de modo que, “uma prática comunicacional pode ser requisito indispensável para a política de procura de um sentido, para a política do enquadramento ideológico e também, embora num grau bem menor, para a política de difusão cultural ou da procura do bem-estar” (COELHO, 1997, p. 294).

Os quatro paradigmas levantados pelo autor nos ajudarão a pensar as políticas culturais na África do Sul pós-apartheid em que o Estado legitima a cultura para a construção de um bem-estar dos sul-africanos, intervindo nas políticas culturais através do processo de patrimonialização da cultura na reconstrução do país no momento de uma nova orientação política e criando meios de diálogos com instituições estatais como as comissões provinciais e os conselhos provinciais de cultura, ligados às comunidades.

Retornando para a compreensão das políticas culturais, Isaura Botelho (2001), concebe que na composição dessa política a cultura apresenta duas dimensões, a sociológica e a antropológica. Essas dimensões é que determinam o tipo de investimento governamental delimitando as estratégias nas políticas culturais. A dimensão antropológica considera as formas simbólicas como cultura, compreendendo as formas de vida e de sociabilidade do indivíduo. A dimensão sociológica, por sua vez, constitui a especialização, ou seja, é a organização profissional, institucional, política ou econômica, a visibilidade, não se dá na forma simbólica como na dimensão antropológica, mas na sua própria atuação como instituição especializada.

A autora alerta para não tornar essas dimensões como ideológicas, porque isso acabaria criando uma “dicotomia cultura popular versus cultura erudita, como se estas fossem polos excludentes e representassem em si mesmas opções

ideológicas”. As dimensões antropológica e sociológica da cultura devem ser entendidas como estratégias para a incorporação da cultura nas agendas governamentais (BOTELHO, 2001, p. 76).

Mesmo a cultura sendo incorporada na agenda governamental para a elaboração de uma política para o setor, Botelho (2001, p. 82), chama a atenção para uma tomada de consciência em sua elaboração, pois é preciso que a implementação aconteça levando em conta todos os públicos e não supervalorizando uns em detrimento de outros. É preciso uma “democracia cultural” e não “democratização da cultura”. “Hoje, parece claro que a democratização cultural não é induzir os 100% da população a fazerem determinadas coisas, [...] mas sim oferecer a todos a possibilidade de escolher, o que é chamado de democracia cultural”, nesse aspecto, a autora “defende uma política pública articulada que contemple as várias dimensões da vida cultural sem preconceitos elitistas ou populistas”.

A política cultural como ação articulada propõe que se leve em consideração as possibilidades de se fazer cultura pelos sujeitos culturais e que o Estado os reconheçam como tal, pois segundo Paula Félix dos Reis (s.a, p. 5-6), a participação dos sujeitos é dinâmica, variando conforme os contextos vividos e o momento histórico. O Estado foi por muito tempo o principal provedor “mas à medida que o campo sociocultural se transforma, outros atores começam a surgir e ganhar força”.

Tereza Ventura (2005) abordando a redefinição das agendas de política cultural compreende que o Estado por muito tempo negligenciou dimensões de caráter étnico, moral e identitário. A tutela do estado com esses enfoques acabou por silenciar o debate político-cultural, pois as políticas na maioria das vezes emanavam do próprio Estado não havendo uma relação entre os sujeitos das políticas públicas.

É preciso uma relação dinâmica entre os sujeitos das políticas culturais: a comunidade, as ONG´s, a sociedade civil, os atores culturais e o Estado que irá conferir a legitimidade da política.

Política cultural não trata apenas dos direitos de produção simbólica de bens, mas de um processo generativo, que não é assegurado por leis, mas por práticas que operam fora do Estado e das intervenções discursivas que lutam pelo seu controle, é um processo institucional e discursivo, no qual os membros de culturas marginalizadas sejam capazes de deliberar suas

demandas e necessidades, bem como manter as práticas dentro das quais se tecem e emergem suas aspirações (Ventura, 2005, p. 85-86).

A relação dinâmica entre os sujeitos é abordada por Canclini (2001), que parte do pressuposto de que uma política cultural não se restringe a atuação governamental.

Los estudios recientes tienden a incluir bajo este concepto al conjunto de