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3 A POLÍTICA DE HABITAÇÃO BRASILEIRA

3.1 As políticas de habitação brasileira: do BNH ao PMCMV

Ao longo da história da criação de políticas públicas voltadas para o acesso habitação no Brasil, observa-se que existem momentos de forte intervenção do Estado, todavia ocorrem processos de grande “esvaziamento”. Entretanto, nota-se que existem erros recorrentes nos períodos da organização e aplicação dessas políticas de acesso à habitação, erros esses que são prejudiciais para aquela parte da população que mais necessita do acesso à moradia própria e digna, que na maioria das vezes vivem em condições precárias de vulnerabilidade social3.

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Vulnerabilidade social é um conceito sociológico que designa os grupos sociais e os locais dentro de uma sociedade que são marginalizados, aqueles que estão excluídos dos benefícios e direitos que todos deveriam ter dentro de um mundo civilizado. Vulnerabilidade social refere-se então a condição em que se encontram as classes mais pobres e menos favorecidas da sociedade. Disponível em: <https://www.significadosbr.com.br/vulnerabilidade-social>. Acesso em: 23 jan. 2015. (Grifo nosso)

Este capítulo busca verificar o papel do Estado no que se refere à promoção do desenvolvimento urbano e social no país, como também tem o intuito de analisar o papel das políticas criadas para o acesso a Habitação no Brasil. O fio condutor será esclarecer a trajetória do Banco Nacional de Habitação – BNH (1964), a desarticulação da política pós Regime Militar, com características de desarticulação total da política urbana, até chegar às medidas recentes como a criação do Ministério das Cidades (2003), por fim, alcançando o nosso principal objeto de estudo que é a criação e implementação do Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV.

Antes de falar da política habitacional brasileira é necessário esclarecer o significado de casa, moradia e habitação. A palavra casa nos leva a uma ideia de estrutura física, de uma construção material, à visão de paredes e teto, ou seja, da edificação propriamente dita. A moradia, no entanto, indica a realização de uma função humana, o ato de morar, e a moradia foi institucionalizada como um direito reconhecido e implantado como pressuposto para a dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e. Finalmente, a palavra habitação conduz a uma visão mais dinâmica no uso da casa ou da moradia; indica a ação de habitar. As três definições são complementares e se referem à necessidade principal do ser humano de possuir um abrigo para nele realizar um conjunto de atividades que variam em função de cada cultura e do contexto social e ambiental nas quais se inserem. (PEDRÃO, 1989).

No Brasil essas palavras têm sido sistematicamente empregadas como sinônimas e representando tão-somente as edificações capazes de delimitar um espaço para abrigo. No caso da chamada "habitação popular", casas destinadas às famílias mais pobres. Tal abrigo humano chegou a dimensões tão reduzidas que não permitem a realização de forma satisfatória, pelas pessoas que as utilizam, das funções mais elementares por elas requeridas. (PEDRÃO, 1989).

Para maior compreensão de algumas análises referentes a essas políticas é importante trazer a diferença conceitual entre moradia e habitação. Em termos de direito civil, a moradia é um direito social atribuído pelo art. 6º da Constituição Federal de 1988, sendo diferente do direito a habitação, o qual incide sobre um bem imóvel como instrumentalização do direito à moradia. A moradia é a expressão social concreta do problema de urbanização, que fundamentalmente incide em uma concentração de magnitudes crescentes de populações em determinadas cidades e uma transformação

das condições de consumo e acesso a emprego da população urbanizada (PEDRÃO, 1989).

Com isso, para uma melhor apreensão do processo de desenvolvimento das políticas públicas habitacionais, neste primeiro momento do estudo será verificado quais as principais políticas de cunho nacional que estiveram voltadas para o acesso à habitação própria. Assim, terão destaque três fases históricas desse processo: a primeira corresponde ao período de 1964 a 1985 – estes períodos caracterizam o momento de maior grandeza e também do decréscimo do Regime Militar e do Banco Nacional de Habitação; a segunda fase acontece entre os anos de 1985 a 2003 – assinalado pelo surgimento dos vários ministérios, através da diluição das políticas habitacionais, e atrás disso tudo estava a criação do Plano Real e as políticas neoliberais; a última fase se desenvolve no período de 2003 a os dias atuais, todavia, essa fase terá uma atenção maior no próximo capítulo, onde dar-se-á ênfase para explicar com mais detalhes o “Programa Minha Casa Minha Vida” dentro do contexto de acesso à habitação, por ser o foco do estudo.

Observa-se que esses períodos de criações de políticas voltadas para habitação são descritas com características de cunho popular, no entanto, ao implementar os Programas e/ou Projetos, a realidade é que as características tem por objetivo a proteção do grande capital, através de medidas que favoreçam a especulação imobiliária.

É importante esclarecer que não se pretende com esse estudo realizar uma pesquisa minuciosa da história das políticas de habitação desenvolvidas no país, sendo assim, também não é o objetivo da dissertação fazer uma análise da gestão e formação financeira dos recursos da política. Contudo, o estudo da política contribuirá para um melhor entendimento das ações desenvolvidas pelo Estado, no contexto da promoção de políticas que incentivem a construção de moradias, em especial àquelas voltadas para a população de baixa renda, para assim compreender qual o real papel das inter-relações governamentais no direcionamento da política habitacional ao longo da história que envolve essa relação de reprodução social da vida versus a reprodução do espaço mercadoria.

3.2 O Banco Nacional de Habitação – BNH: avanços e limites da política urbana brasileira