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CAPÍTULO 4 AGRICULTURA FAMILIAR; A LOGICA DA REPRODUÇÃO NO FINAL

4.6 As políticas públicas e a necessidade de novas alternativas

A política de financiamentos em Turvo, vincula-se prioritariamente à lavoura do arroz irrigado. A pesquisa revelou que todos os rizicultores entrevistados foram beneficiados pelo crédito rural subsidiado, (PROVARZEAS), que concedia financiamentos subsidiados para investimentos sendo utilizados para a compra de trator, pulverizadores, colheitadeiras, silos para armazenagem do arroz, e financiamentos para custeio, destinados a tomar a área plana e fazer os tabuleiros para o plantio do arroz irrigado.

A entrevista com um agricultor, (Comunidade São Peregrino) resume bem a situação geral dos plantadores de arroz; “Eu fu i beneficiado com o PROVARZEAS. Ele fo i um programa muito bom para os plantadores de arroz aqui no Turvo. Com o dinheiro eu comprei um trator, pulverizador e colheitadeira além de fazer os tabuleiros para plantar o arroz irrigado. Antes do

PROVARZEAS, eu colhia 3 0 sacas de arroz por hectare e agora estou colhendo aproximadamente 1 9 0 ” .

O PROVARZEAS foi um mecanismo de financiamento seletivo, por privilegiar apenas determinadas unidades agrícolas: exclusivamente os plantadores de arroz. Diante do exposto, pode-se dizer que, a exemplo do que ocorreu no país, na área de estudo a modernização também foi seletiva.

No outro extremo, os plantadores de feijão, milho, mandioca e banana, ficaram marginalizados do processo; uma vez que não atendiam as condições preestâbeiecidãs dõ sistema de financiamento. Estes agricultores integraram-se à fumicultura, suinocultura e avicultura, como forma de permanecer no meio rural.

Diante do exposto, pode-se dizer que, em Turvo, a distribuição dos financiamentos subsidiados pelo Estado também ocorre de forma desigual.

Sobre a questão da distribuição do crédito agrícola, a declaração de um agricultor aponta a desigualdade na distribuição dos financiamentos:

Os recursos aqui no Turvo devem ser melhor distribuídos. Eu nunca ganhei um financiamento, apesar de fazer 30 anos que eu estou solicitando. Tem colono que planta arroz e ganha financiamento todos os anos. Na minha opinião, o que poderia fazer é um rodízio: um ano, determinados colonos sejam beneficiados, em outro ano, beneficiar aqueles que não ganharam no ano anterior, e assim por diante... ” (Agricultor da Comunidade de Morro Chato).

A avaliação que os agricultores fazem em relação àqueles que estão bem ou mal sucedidos é diretamente associada aos que receberam ou não apoio do Estado. Neste sentido, o crédito subsidiado (sobretudo PROVARZEAS e o PRONAF), vem gerando conflitos entre os beneficiados e aqueles que não tiveram acesso.

Para a maioria dos agricultores, há uma expectativa da ação do Estado no sentido de oferecer financiamentos a juros subsidiados. Essa expectativa tem sua origem, principalmente, no programa de financiamento do PROVARZEAS. O Estado é considerado um agente capaz de promover a melhoria das condições do agricultor, ou ainda, sua ausência, é considerada como sendo a causa de sua própria ruína.

Quanto à concessão do crédito rural, uma entrevista com o técnico da EPAGRI (S.S), corrobora com o assunto:

Quanto ao crédito de custeio, tem ano que sai com certo atraso, mas no geral, o pessoal tem conseguido financiamentos. Com maiores dificuldades, os pequenos produtores, aqueles que não movimentam conta em banco. Aqueles sempre têm uma dificuldade maior. O Banco sempre prefere emprestar dinheiro para aqueles que^têm um saldo médio~ bancário, au pura aqueles que não precisam do dinheiro, que irão deixar lá aplicado...

Outra preocupação dos agricultores, que afeta a situação sócioeconômica do grupo familiar, é a excessiva fragmentação das propriedades, tendo como causa principal, a sucessão

hereditária, ‘'estamos encurralado^\ foi a expressão de um chefe de famíHa, proprietário de 7,5 hectares de terra. A especialização das atividades agropecuárias, ao elevar a escala de produção, toma-se incompatível com as pequenas propriedades, e esta preocupação foi evidenciada em depoimento do técnico da EPAGRI (S. S.). Na oportunidade, apontou algumas alternativas;

O município de Turvo tem todas as condições de se tomar um pólo produtor de arroz ecológico, de arroz sem agrotóxicos [Ver anexo 5J. Em relação aos demais produtos, o município tem condições de produzir produtos diferenciados. Para a pequena produção, a saída é a produção diferenciada, coisa que é difícil fazer em grandes propriedades. Eu acredito que vai tender para esse lado. Daqui pra frente, quem quiser permanecer na propriedade, certamente terá que reduzir custos, e partir para um produto diferenciado. Está havendo um interesse maior por produtos sem agrotóxicos, de form a mais ecológica. O que a gente pode observar, é que antes, se consumia mais pela aparência do produto, um produto bonito, tinha boa aceitação, tinha um bom mercado, não interessando se era carregado de agrotóxicos. Atualmente, está começando ocorrer mudanças.

Em relação à diversificação da produção agropecuária, vários entrevistados, manifestaram que o maior entrave para sua expansão é a instabilidade de preços e o precário sistema de comercialização para os produtores cuja escala de produção é pequena. Considera-se oportuno registrar o depoimento de um agricultor, que contempla a opinião dos demais entrevistados:

Precisamos construir indústrias no campo, para poder beneficiar os nossos produtos. E também uma fábrica de enlatados e de sucos, para industrializar a nossa produção. Aqui nós temos uma boa matéria-prima. Por exemplo, no ano passado, aqui no Turvo, vários colonos colheram maracujá, inclusive eu. M as na hora de vender a produção, não teve preço nenhum. Acredito que, a partir deste ano, vai haver desinteresse pelo produto. Nós não deveríamos vender o maracujá, mas sim o suco industrializado. Então, precisa de uma indústria aqui no campo, ou mesmo uma cooperativa que beneficie a nossa produção. Por exemplo, o arroz, sai da cooperativa beneficiado, direto para os grandes mercados consumidores. A partir deste ano, a cooperativa também está industrializando o peixe(...) isto teria que acontecer com o maracujá, pepino, ervilha, milho e outros hortifrutigranjeiros.

As entrevistas e observações, permitem afirmar que, em relação à produção diferenciada, há um grande interesse, por parte dos profissionais, agentes do poder público, em prestar assistência técnica às atividades especializadas, consolidados, como por exemplo o arroz e as que estão em expansão, no caso a rizipiscicultura. Contudo, há uma carência em relação aos demais produtos e o cultivo do maracujá é um exemplo típico da situação.

Os agricultores manifestaram interesse na produção agropecuária diferenciada e diversificada e declararam ser de importância fundamental que os profissionais da EPAGRI,

juntamente com os da Cooperativa e Sindicato dos Trabalhadores Rurais, mobilizassem as associações comunitárias, no sentido de atuar principalmente com produtos sem agrotóxicos. Esta produção poderia ser comercializada, através de uma feira, em menor escala, e através da cooperativa, quando a produção for conduzida ao grande mercado consumidor. Além disso, a diversificação da produção, aumentaria o autoconsumo para o grupo familiar, estratégia que tenderia a minimizar a dependência dos agricultores na aquisição de produtos alimentícios.

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