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CAPÍTULO 2 DESAFIOS E PERSPECTIVAS: MEDIDA SOCIOEDUCATIVA,

2.4. As práticas de socioeducação no ambiente escolar

Para compreender o ato infracional juvenil na sociedade contemporânea, que traz uma abordagem histórica no atendimento as sujeitos em vulnerabilidade, encontramos possibilidades nas especificidades das medidas socioeducativas.

A socioeducação pode atender às premissas no ECA, disposto no capítulo IV, do direito a educação, cultura, esporte e lazer.

Diante da especificidade dos locais de convivência dos sujeitos sociais, seja na escola ou nos centros de atendimento da Fundação CASA-SP, se verifica a responsabilização dos atores na construção de propostas pedagógicas para redirecionar a trajetória escolar e de vida dos jovens em cumprimento de medida socioeducativa.

Podemos refletir com Oliveira et al. (2010, p. 27) sobre o conceito de socioeducação, com base nos processos de uma ação educativa

Qualquer tipo de educação é, por natureza, eminentemente social. O conceito de socioeducação ou educação social, no entanto, destaca e privilegia o aprendizado para o convívio social e para o exercício da cidadania. Trata-se de uma proposta que implica em uma nova forma do indivíduo se relacionar consigo e com o mundo. Deve-se compreender que educação social é educar para o coletivo, no coletivo, com o coletivo. É uma tarefa que pressupõe um projeto social compartilhado, em que vários atores e instituições concorrem para o desenvolvimento e fortalecimento da identidade pessoal, cultural e social de cada indivíduo.

Portanto, consideramos importante este universo de experiências em que os profissionais, no palco de suas atuações, podem ressignificar a educação.

Também, por meio das narrativas dos teóricos Freire e Mészáros, é possível pensar a educação e repensá-la no contexto dos protagonistas no cenário escolar, estabelecendo um diálogo com as suas obras.

Ao adentrar no teor do estudo, podemos indagar se realmente a educação é uma ferramenta possível de mudanças. Consideramos importante dialogar sobre as opiniões que se estabelecem nos aspectos fundamentais das obras: A educação para além do capital e Pedagogia do Oprimido, no que se refere à relação entre opressor e oprimido e seus reflexos no cotidiano educacional.

61 Nas páginas de seu livro A educação para além do capital, István Mészáros reflete algumas questões essenciais sobre a educação:

Qual o papel da educação na construção de um outro mundo possível? Como construir uma educação cuja principal referencia seja o ser humano? Como se constitui uma educação que realize as transformações políticas, econômicas, culturais e sociais necessárias? (MÉSZÁROS, 2008, p.10).

O autor nos coloca tais indagações, permitindo reflexões acerca dos objetivos que permeiam a organização de nossa pesquisa, enfatizando a relação que se estabelece entre educação e ser humano. Ao discutir tais questões que interferem nas interpretações sobre o papel da escola no contexto político, social, econômico e cultural, acredita-se serem, também, pontos relevantes nesse estudo.

Mészáros (2008, p. 105), ao retratar o papel da educação expressa que

Quando pensamos na complementaridade dialética das dimensões nacional e internacional da sociedade em nosso tempo, revela-se imediatamente que o papel da educação como a educação consensual pratica de forma consciente é extremamente importante.

Neste paralelo entre o papel da escola e o papel da educação, incluindo os protagonistas no cenário escolar, se pode alcançar com intensidade a busca de compreensão a partir de nossas inquietações no processo do estudo documental e de campo, correspondendo à transformação de práticas educativas.

Vale ainda considerar que Freire (2005, p. 40) estabelece uma relação de diálogo sobre os opressores e oprimidos, como podemos observar neste trecho:

O opressor só se solidariza com os oprimidos quando o seu gesto deixa de ser um gesto piegas e sentimental, de caráter individual, e passa a ser um ato de amor àqueles. Quando, para ele, os oprimidos deixam de ser uma designação abstrata e passam a ser os homens concretos, injustiçados e roubados. Roubados na sua palavra, por isto no seu trabalho comprado, que significa a sua pessoa vendida. Só na plenitude deste ato de amar, na sua existenciação, na sua práxis, se constitui a solidariedade verdadeira. Dizer que os homens são pessoas e, como pessoas, são livres, e nada concretamente fazer para que esta afirmação se objetive, é uma farsa.

Nas palavras de Freire (1996, p. 98) o binômio “opressor” e “oprimido”, refere-se à ideia de pensarmos estes personagens no cenário escolar, embora haja questionamentos sobre

62 as práticas que se estabelecem na cotidianidade do processo de compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo.

Ao olhar sobre o “oprimido” na perspectiva de Freire (2005, p. 60) entendemos que

A ação libertadora, pelo contrário, reconhecendo esta dependência dos oprimidos como ponto vulnerável, deve tentar, através da reflexão e da ação, transformá-la em independência. Esta, porém, não é doação que uma liderança, por mais bem-intencionada que seja, lhes faça. Não podemos esquecer que a libertação dos oprimidos é libertação de homens e não de “coisas”. Por isto, se não é autolibertação – ninguém se liberta sozinho -, também não é libertação de uns feita por outros.

Do ponto de vista pedagógico, partimos dos pressupostos, de que a escola pode ser um espaço de trocas de experiências entre os sujeitos sociais, ou seja, acreditar na transformação da comunidade escolar que mediatiza as relações interpessoais e intersubjetivas.

No diálogo que se estabelece no ambiente escolar, acreditamos no desafio de seus protagonistas quanto à efetividade de ações educativas para aprimorar a multiplicidade de grupos que se reúnem no universo institucional da escola.

Para compreender as relações que se estabelecem, podemos verificar a opinião de Pérez Gómez (2001, p. 12) que diz

É interessante [...] ampliar [...] interpretação culturalista para a compreensão da vida da escola, dos modos de intercambio e dos efeitos que provoca nas novas gerações [...] útil entender a escola como um cruzamento de culturas que provocam tensões, aberturas, restrições e constrates na construção de significados.

A complexidade das relações interpessoais, vida urbana periférica, cultura, economia, política, cultura, ética, diversidade, dentre outras indagações, fazem parte da dimensionalidade que a educação propaga.

E a partir destes referenciais teóricos e ao número significativo de produção teórica, observamos a necessidade de pensar a educação e os jovens em medida socioeducativa de semiliberdade, discutindo as situações do cotidiano que interferem nas relações sociais no ambiente escolar.

No reconhecimento das obras de Freire e Mészáros, no campo da educação, respeitando suas peculiaridades, temos a oportunidade de dialogar sobre as mudanças paradigmáticas entre educação e medida socioeducativa de semiliberdade. No ambiente socioeducativo, são trazidos elementos significativos para discutir a política atual de jovens

63 autores do ato infracional em contraponto com os desafios dos profissionais no cenário escolar.

No contexto educacional, a pesquisa, aponta para a necessidade da ressignificação de valores pertinentes ao papel fundamental da escola. E, enquanto instrumento de transformação social, cultural e política, mediante ao diagnóstico por meio das entrevistas com os jovens em cumprimento de medida socioeducativa de semiliberdade da Fundação CASA-SP, teremos a oportunidade de refletir sobre a função social da escola.

Precisamos considerar que as formações intelectuais, culturais e sociais no âmbito educacional são aspectos significativos aos educandos e educadores. Por outro lado, também compreender que a escola é um lugar de diversidades, contudo há espaço para o diálogo, respeito e tolerância.

O direito à educação desafia a igualdade de oportunidades, uma vez preconizada nas legislações vigentes em nosso país, educação para todos nas escolas. Para tanto, buscar alternativas para o processo de inclusão aos adolescentes em situação de vulnerabilidade pessoal e social implica em estar matriculados na escola e frequentando as salas de aulas.

Desta forma, o aporte teórico trazido por Paulo Freire e Mészáros pode contribuir para a análise das categorias a partir dos depoimentos dos adolescentes, na maneira de ser, fazer, conhecer e conviver no espaço da escola.

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