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As práticas para a prevenção e Controle da Infecção

O Centro para Controle das Doenças (CDC) de Atlanta - EUA desenvolveu um estudo nacional para avaliar a abrangência e eficácia do programa nacional de controle de infecção hospitalar, validando indicadores epidemiológicos e a capacidade de redução dessas infecções. Este projeto foi intitulado SENIC (Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Control) e se tornou um estudo clássico para se comprovar a eficácia das ações de prevenção e controle de infecções. Nele foi observado que nos hospitais com controle de infecção atuante ocorreu uma queda relativa de 32% nas taxas de infecção hospitalar e nos hospitais sem um programa de controle estabelecido, estes indicadores aumentaram 18%, comparando-se a prevalência destes episódios entre os anos 1970 e 1976 nestes dois grupos de hospitais. Deste dado, inferiu-se que pelo menos 1/3 destas infecções

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são previsíveis (Haley, 1986). Entretanto, deve-se lembrar que os hospitais sem programa de controle as infecções hospitalares sofreram um aumento relativo, ampliando a diferença para 50%.

A partir destas informações apresentadas, podemos observar que as infecções hospitalares são um problema de saúde, que apresenta uma alta magnitude, inclusive no Brasil, mas existem programas eficazes para redução do seu impacto na saúde coletiva, sendo importante saber o que é preconizado na nossa legislação para ser feito em nosso país.

No Brasil, o Presidente da República sancionou a Lei nº 9.431, de 6 de janeiro de 1.997 (Brasil, Presidência da República, 1997) que “dispõe

sobre a obrigatoriedade da manutenção de programa de controle de infecção hospitalares pelos hospitais do País”. Este programa é definido

como “um conjunto de ações desenvolvidas, deliberada e sistematicamente,

com vistas à redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares”. Para orientar a sua aplicação foi elaborada pelo

Ministério da Saúde a Portaria 2616/98 definindo as diretrizes e normas para a prevenção e o controle das infecções hospitalares (Ministério da Saúde - MS, 1998).

A Medicina Baseada em Evidências é uma forma sistemática de apoio à tomada de decisões através da identificação criteriosa, da avaliação e da aplicação das melhores evidências científicas, integrando-as com expertise individual (Friedland et al., 2001). Empregando ou não, a metodologia desenvolvida pela Medicina Baseada em Evidências, várias entidades

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nacionais e internacionais realizaram uma revisão das medidas de prevenção e controle das principais infecções hospitalares. Estas medidas são empregadas como referencial teórico para as comissões de controle de infecção estabelecidas em nosso meio, com o objetivo da redução máxima possível da incidência e da gravidade das infecções hospitalares, como determinam as recomendações legais.

De acordo com a legislação brasileira, várias ações são atribuídas à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Dentre elas destacamos as que interessam ao nosso estudo, por interagirem diretamente com o exercício dos demais profissionais componentes da equipe de saúde, particularmente médicos e enfermeiros: vigilância epidemiológica das infecções hospitalares, compreendendo diagnóstico, notificação e consolidação de relatórios, avaliando o exercício profissional pelos índices de infecção; investigação de surtos, onde se revisa as práticas assistenciais; medidas de isolamento e precauções para se evitar a disseminação de doenças transmissíveis, onde muitas vezes a CCIH indica medidas protetoras adicionais para o atendimento dos pacientes; adequação e supervisão das normas técnicas visando à prevenção e tratamento das infecções hospitalares, fazendo com que a equipe da CCIH avalie condutas e padronizações existentes no hospital, podendo identificar inadequações de acordo com sua ótica; política de utilização de antimicrobianos, pela qual a CCIH define regras para prescrição desses medicamentos e elabora protocolos clínicos para tratamento das infecções hospitalares.

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A administração hospitalar recebe o apoio de várias comissões em assuntos específicos de ordem ética, técnica ou mesmo administrativa. Estes comitês fazem uma análise da situação local e aplicam os conhecimentos disponíveis sobre o assunto, apoiando e auditando o exercício profissional (Pereira, 1995). Portanto, dentro de uma estrutura organizacional, o controle de infecção pretende ser um órgão de consultoria à direção do hospital e a todos os profissionais que atuam diretamente com o paciente ou em atividades de apoio, em assuntos relativos à prevenção e controle das infecções hospitalares. O Programa de Controle de Infecção Hospitalar deve ser entendido como uma série de ações conjugadas, praticadas intencionalmente, de forma a prevenir e controlar, dentro do conhecimento científico, a ocorrência de infecções hospitalares. Além da prevenção, o programa enfatiza a redução máxima possível da gravidade, que é determinada principalmente pela letalidade desses episódios. Ora, para minimizar sua gravidade, ou seja, a probabilidade de morte dos pacientes com infecção pode interagir com a prescrição de antimicrobianos, principalmente no que diz respeito aos episódios adquiridos em decorrência da hospitalização.

Além disso, atendendo às recomendações da Portaria MS 54/96, (Ministério da Saúde - MS, 1996) todo hospital deve instituir um comitê visando à racionalização da prescrição de antimicrobianos, correlacionado com o perfil de sensibilidade das cepas isoladas em casos de infecção hospitalar. Para isso deve ser estudado e divulgado o padrão microbiológico

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das infecções hospitalares e o perfil de sensibilidade dos microrganismos isolados. Em conjunto com a farmácia, deve ser estudado o perfil de consumo de antimicrobianos e suas repercussões na micro-ecologia hospitalar, consolidando informações obtidas na vigilância epidemiológica e os dados fornecidos pelos Serviços de Farmácia e Microbiologia Clínica. É fundamental definir em conjunto com a Comissão de Padronização de Medicamentos, com o aval da Direção e da Comissão de Ética Médica, uma política de racionalização do consumo de antimicrobianos e avaliar seus resultados, pela qual é possível exigir a justificativa para prescrição de antibióticos sob controle da CCIH.

A vigilância epidemiológica deve ser entendida como a obtenção de informação para a ação (Fischmann, 1994). Sempre que possível o diagnóstico e a notificação das infecções hospitalares deve ser relacionado aos fatores predisponentes, para orientação das medidas de prevenção e controle. Esta pesquisa deve ser feita de forma contínua, sistemática e o mais abrangente possível, através do método da busca ativa de casos de infecção hospitalar (Perl, 1997). A investigação epidemiológica deve ser acionada imediatamente sempre que for identificado um surto ou outro agravo inusitado à saúde dos pacientes relacionado às infecções hospitalares. Deve-se estimular a participação da equipe multiprofissional na elucidação da cadeia epidemiológica e elaboração das medidas de controle específicas (Checko, 1996). Estas atividades implicam no diagnóstico das infecções e da identificação dos possíveis fatores de risco, muitos

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relacionados às condutas e práticas profissionais e principalmente inserem uma auditoria da CCIH avaliando os resultados do atendimento ao paciente, propondo e em surtos até executando as medidas corretivas. Pelo princípio da informação voltada para a ação, os indicadores epidemiológicos obtidos pela CCIH só fazem sentido se compreendidos pela equipe de saúde na sua essência, inseridos em um contexto de reavaliação da prática profissional, pois a CCIH raramente presta assistência ao paciente e os resultados de seu trabalho dependem da aderência dos profissionais de saúde às suas orientações.

Para avaliar a adequação das normas e rotinas técnico-operacionais relacionadas à prevenção e tratamento das infecções hospitalares, a CCIH realiza as visitas técnicas que são atividades que acompanham os bastidores do hospital, avaliando todas as ações desenvolvidas, sob o ponto de vista do controle de infecção. Realizam uma abordagem pró-ativa, pois detectam e corrigem problemas antes mesmo que eles repercutam nos indicadores epidemiológicos das infecções hospitalares. Observam os cuidados prestados direta ou indiretamente aos pacientes, identificando problemas em relação à estrutura física, insumos, equipamentos ou aos próprios procedimentos médicos e de enfermagem. Revisam rotinas e técnicas a partir de sua atualização científica e legal. Pela verificação, avaliação e orientação, definem prioridades visando o aprimoramento da qualidade assistencial (Fernandes et al., 2000). Esta atividade pode ter um alto potencial gerador de conflitos, ao confrontar condutas estabelecidas e

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praticadas pela equipe de saúde na assistência ao paciente com as medidas recomendadas pela CCIH, visando minimizar as suas repercussões no ambiente hospitalar. Por exemplo, a utilização de um determinado antimicrobiano pode ser adequada ao paciente, mas podem existir outras opções que ocasionem menor pressão seletiva sobre a flora hospitalar e desta forma, na ótica da CCIH, mais recomendados ao caso.

Outra medida importante para evitar a disseminação de microrganismos no hospital é o isolamento de pacientes portadores de algumas patologias transmissíveis e a instituição das Precauções Padrão, definidas como medidas para serem aplicadas no atendimento de todos os pacientes, independente da presença de infecção detectável, visando prevenir a transmissão de infecções, principalmente por contato com sangue e fluídos corpóreos (Garner, 1996). Os controladores de infecção devem estar atualizados técnico-cientificamente em doenças infecto-contagiosas e suas formas de transmissão para a elaboração de medidas de isolamento e Precauções-Padrão e devem colaborar com a difusão dessas informações, elaborando um manual específico e supervisionando a sua aplicação. A CCIH também deve colaborar com a detecção de casos suspeitos de doenças transmissíveis durante as ações de vigilância epidemiológica das IH, indicando e suspendendo os isolamentos, resolvendo dúvidas do corpo clínico, enfermagem e outros serviços, podendo também haver divergências na indicação desta medida preventiva, principalmente ao suspender os isolamentos indicados pelos profissionais de saúde.

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A partir da atualização técnico-científica em controle de riscos biológicos no ambiente hospitalar, o controle de infecção deve interagir com outros setores e propor medidas de prevenção da ocorrência de acidentes com perfuro cortantes, colaborando na elaboração de protocolos de acompanhamento dos profissionais acidentados. Deve também colaborar na determinação das funções que estão sobre risco aumentado de determinados agentes biológicos, para elaboração de campanhas profiláticas e medidas de controle específicas, incluindo imunização dos profissionais que atuam nos hospitais (Sherertz et al., 1993).

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