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As Principais Dificuldades

No documento Aprender português na China (páginas 54-58)

4. AS DIFICULDADES E OS PROBLEMAS DOS ALUNOS CHINESES NA

4.1. As Principais Dificuldades

Segundo o questionário66, a seguinte tabela mostra uma situação geral sobre as principais dificuldades sentidas pelos alunos chineses durante a sua aprendizagem da Língua Portuguesa.

Principais Dificuldades

25

22

21

12

10

9

6

5

3

3

Tipos de Dificuldade

de pessoa

s

Falta de prática Gramática Compreensão Pronúncia Falta de materiais Vocabulário Diferenças Culturais Confusão com o Inglês Influência do Chinês Falta de coragem para falar

Nos 43 alunos que responderam ao questionário, mais de metade refere o facto de haver poucas oportunidades de praticar o Português no seu dia-a-dia. Embora às vezes surjam oportunidades de fazer tradução ou interpretação, estas normalmente são dadas aos alunos do último ano e mesmo assim não se mostram suficientes para todos. Na realidade, sendo a

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Língua Portuguesa uma língua estrangeira pouco vulgar na China Continental, os alunos praticamente só falam Português nas aulas, entre eles ou com os professores. Aliás o único falante nativo de Língua Portuguesa com quem eles podem contactar constantemente é o leitor, cuja carga horária semanal máxima para cada turma não ultrapassa 4 horas.

Na verdade, os alunos chineses estudam Português num ambiente relativamente isolado em que o uso de Português é muito limitado. Eles conseguem entender o que os professores chineses dizem em Português67, mas cerca de 50% dos alunos, no questionário, dizem que sentem dificuldades em entender o Português que os nativos falam. Alguns alunos não conseguem distinguir a diferença entre as vogais abertas e semi-abertas ou entre as consoantes brandas e surdas; Alguns não entendem quando a fala inclui omissão de algumas sílabas ou de ligação de sílabas.

Em relação à pronúncia, os principais problemas residem na entoação e em alguns fonemas que não existem na Língua Chinesa, tais como “lhe”, “nhe”, “j”, “r”, etc. O “r” vibrante constitui um caso curioso porque quase todos os alunos precisam de treinar para o pronunciar correctamente. Dos 12 alunos que consideram a pronúncia portuguesa uma das principais dificuldades, dois até agora não o conseguem pronunciar.

Quando aprendem uma língua estrangeira, os chineses preocupam-se muito com a capacidade de poderem falar correctamente, por isso, prestam muita atenção à gramática. Em comparação com o Inglês, a gramática portuguesa é muito mais minuciosa, e ao mesmo tempo traz muitas coisas novas que nem existem em Inglês. Os 22 alunos do questionário todos acham a gramática portuguesa muito ou extremamente complicada, 15 dos quais indicam claramente que a parte mais difícil está na conjugação dos verbos. Alguns alunos referem que antes de dizer alguma coisa em Português, precisam de pensar em muitos aspectos como o género, a pessoa, a concordância, a conjugação, etc, por isso, falam sempre muito devagar para evitar erros. Embora os alunos saibam bem as regras gramaticais, por descuido, cometem alguns lapsos.

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Hoje em dia, com o desenvolvimento das novas tecnologias e da Internet, os alunos chineses já podem ter muito mais acesso às informações que lhes interessam acerca do mundo do Português. Mas a metodologia que o ensino chinês tradicionalmente adopta é os alunos estudarem só o que os professores ensinam. Por um lado, profundamente influenciada pela tal metodologia, a maior parte dos alunos não sabe ter iniciativa para aproveitar todos os recursos disponíveis para estudar o que não seja ensinado nas aulas, mas queixam-se de que não há materiais suficientes. Por outro lado, quando os alunos referem a falta de materiais, muitos falam particularmente na falta de exercícios escritos. Como acima mencionado, para os chineses, a gramática constitui uma parte muito importante na aprendizagem de qualquer língua estrangeira. E a maneira mais comum e eficaz de evitar erros gramaticais segundo o que os chineses pensam e adoptam é exactamente fazer muitos exercícios escritos. Neste aspecto, comparando com outras línguas estrangeiras mais faladas na China cheias de livros de exercícios publicados, os materiais portugueses destinados a tal finalidade, a que os alunos chineses podem ter acesso, são relativamente poucos.

Como precisam de atingir um nível razoável de Português em quatro anos de estudo, os aprendentes chineses são obrigados a adquirir uma determinada quantidade de vocábulos. Isso é complicado para alguém que aprende uma língua num ambiente em que a mesma não é muito falada. Como o Chinês é uma língua pictográfica, os alunos estão habituados a adquirir novos vocábulos através de memorização visual, ou seja, precisam de saber como se escreve a palavra para raciocinar sobre o seu significado. Este facto torna o processo de aquisição de novos vocábulos portugueses relativamente lento, porque os alunos chineses não conseguem entender as palavras com muita facilidade, apenas com base na audição. Além disso, a Língua Portuguesa usa letras romanas, que representam grandes diferenças visuais em comparação com os caracteres chineses. Isso pode causar incómodo e cansaço na leitura de textos extensos e os alunos não conseguem reparar imediadamente nos erros ortográficos. Na realidade, uma boa parte dos vocábulos novos que os alunos precisam de aprender aparecem somente nos textos escritos e não são de uso muito comum no dia-a-dia. Eles recorrem à memória para os fixar, mas devido à falta de uso, esquecem-nos com muita facilidade. Todos os 9 alunos mencionam esse facto quando indicam o vocabulário como uma das grandes dificuldades que encontram no estudo do Português.

Quando os alunos chineses se expressam em Português, nomeadamente os principiantes, cometem muitos erros de pragmática. Uma vez que conhecem pouco sobre a cultura portuguesa, assim como hábitos e costumes dos portugueses, os alunos falam um Português à maneira chinesa, traduzindo as ideias de Chinês para Português. Mas sendo a China e Portugal dois países com culturas completamente distintas, naturalmente existem muitas diferenças na maneira de cumprimentar, na cortesia, na simbologia, entre outros, o que constitui um problema para muitos alunos.

Na aprendizagem do Português, muitos alunos recorrem à Língua Inglesa para facilitar a compreensão. Mas às vezes acabam por confundir as duas línguas, especialmente na ortografia. Sendo duas línguas da Família Indo-Europeia, muitas palavras inglesas e portuguesas possuem os mesmos radicais ou letras semelhantes que podem ser muito confusas do ponto de vista chinês. É muito comum detectar nos trabalhos dos alunos “or” em vez de “ou”, “scientific” em vez de “científico” e muitos outros erros desse género. Além do Inglês, a influência da língua materna também constitui um grande problema para os alunos chineses no seu estudo do Português, de que mais adiante faremos uma análise detalhada.

Em comparação com os portugueses, nas aulas, os alunos chineses são muito tímidos e passivos, ou, do ponto de vista chinês, disciplinados. Na China, os alunos normalmente só podem falar ou intervir nas aulas quando os professores lhes dão autorização. Além disso, no pensamento chinês, cometer erros em frente dos outros é considerado uma grande vergonha, o que não ajuda nada na aprendizagem de línguas estrangeiras. Por isso, três alunos indicam no questionário que não ter coragem de falar é um dos seus grandes problemas.

No documento Aprender português na China (páginas 54-58)