• Nenhum resultado encontrado

4 AS ESCOLAS INTEGRANTES DA PESQUISA

4.5.2 AS PROFESSORAS DESTA ESCOLA

a) A Professora Isabela (Turno Matutino)

A professora concluiu o curso Normal há 15 anos, leciona há 11 e está esse mesmo tempo na Escola E. Não fez concurso para ser admitida e está há 6 anos com 1ª série, e este é o seu 1º ano com material Alfa. Pode ser considerada uma professora experiente.

Cursou universidade e, além desta 1ª série, leciona à noite, em outro estabelecimento, disciplina relacionada à formação universitária.

A professora utiliza o critério de desempenho para separar os alunos em filas: fortes, médios, fracos e fraquíssimos. O trabalho é diversificado para o atendimento das dificuldades desses quatro grupos, embora os alunos fracos não se engajem nas atividades propostas. Em sua turma, matricularam-se 35 crianças, 33 freqüentam. Nenhuma delas fez o pré, mas cursaram o PROAPE (Programa de Assistência ao Pré-Escolar) que a professora considera nula para desenvolver qualquer habilidade. Esta professora entende que freqüentar um pré escolar tem a vantagem de preparar a discriminação visual, auditiva, a coordenação motora e também desenvolver a capacidade de análise e síntese. Não há repetentes em sua turma e a idade média é 7 anos.

A professora Isabela acredita que as crianças necessitam muito de um bom período preparatório, pois dá a prontidão para a alfabetização e isto é uma vantagem do material Alfa, assim como a riqueza do material didático com exercícios variados. As desvantagens são muitas: o programa de matemática é fraco; não há uma “cartilha” para o aluno estudar em casa; o livro de exercícios não tem instrução e, assim, os pais não podem auxiliar; exige a assiduidade do aluno e, para vencer as unidades dadas com alunos faltosos, é necessário acrescentar que a professora Isabela, desde o início, não seguiu os passos propostos pelo Alfa porque entendeu que ele era igual aos outros métodos (embora tenha recebido treinamento da Casa Alfa), e iniciou a alfabetização pelas “famílias” cujas letras iniciais aparecem no período preparatório (unidades 1 - 25). Ao material do Alfa, a professora acrescentou uma cartilha da qual retirava pequenos textos para leitura individual e grupal. O material da alfabetização do material Alfa (arquivador e fichas) não foi utilizado pela professora, sob o argumento que a sala era pequena e dava muito trabalho lidar com as fichas. Vale acrescentar que, dentre as salas observadas, esta não é tão pequena, pois permite ao professor circular e verificar o trabalho dos alunos.

Considerando a realidade da escola pública, a professora acredita que um bom aluno de 1ª série é o que domina todos os padrões silábicos, lê pequenos textos, faz interpretação oral, mas não a escrita, porque tem dificuldades nesta.

Deve haver reprovação, entretanto, quando o aluno não domina totalmente os padrões silábicos simples (“ba” a “za”), nem lê.

Os alunos faltosos e os desnutridos (estes apresentam retardamento, são dispersivos, a aprendizagem é lenta) são os prováveis repetentes na avaliação da professora Isabela que acha possível identificá-los desde o 1º semestre. Caso todos freqüentassem, a professora acredita que 11 crianças seriam reprovadas; identificou 7 alunos como prováveis repetentes e esses sete realmente não conseguiram aprovação. A professora acrescenta que são os que tem um retardamento.

Um aluno alfabetizado para esta professora é aquele que lê, possui a matemática desenvolvida, uma vez vencido o programa de 1ª série.

A professora pensa que o objetivo mais importante da 1ª série é desenvolver no aluno a capacidade de ler e interpretar.

A professora acha difícil a família do aluno poder ajudar o seu trabalho, pois os pais das crianças são analfabetos e, em geral, são os irmãos que orientam as tarefas. Se os pais pudessem, a professora acredita que eles ajudariam se realizassem o acompanhamento do aluno junto à escola e orientassem nas tarefas enviadas para casa.

A aprendizagem lenta dos alunos (talvez por desnutrição, falta de acompanhamento em casa, fatos sócio-econômico), obrigando o professor a repetir muito e a freqüência baixa às aulas, constituem os problemas de aprendizagem apontados pela professora Isabele.

Solicitou-se a professora Isabela, já que ela não seguiu os passos propostos pelo Alfa, que estimasse em que unidade estaria finalizando o seu trabalho com esta turma. A professora não conseguiu fazer esta identificação, pois

“não sabia exatamente o que o Alfa mandava abordar”.

A professora informou que a retenção ou aprovação dos alunos é decisão exclusiva dela, mas não especificou os critérios que adotou para fazê-lo.

Os índices desta professora, ao final do ano foram:

Alunos matriculados: 35 - Aprovados 22 (62,85%) - Reprovados 7 (20%) - Desistentes 4 (11,42%) - Transferidos 2 (5,71%) TOTAL 35

A professora Isabela permaneceu com 1ª série em 85, embora tenha solicitado outra turma mais adiantada. A direção argumentou que a manteria na 1ª série porque poucos professores querem alfabetizar e não haveria, portanto, ninguém para substituí-la.

b) A Professora Eunice (Turno Matutino)

A professora concluiu o curso Normal há 15 anos, leciona há 13 e está há 12 anos na Escola E. Foi admitida por concurso público e está há cinco anos com 1ª série, e há 1 adota o material Alfa. Também pode ser considerada uma professora experiente.

Fez curso superior e, além desta 1ª série, ensina outra disciplina nesta escola para alunos maiores.

A professora não adota o critério de desempenho para dividir a turma e também não diversifica o trabalho entre os alunos de níveis diferentes de aprendizagem. Matricularam-se em sua turma 36 alunos, freqüentam 25 e todos são repetentes. A professora alega não poder avaliar as vantagens de uma criança que freqüentou o pré porque nunca recebeu uma 1ª série que não fosse toda de repetentes. A idade de sua turma é de 10 anos, em média.

A professora acredita que a vantagem do Alfa é o material rico, tanto para o aluno quanto para o professor e é válido se o nível da clientela não for muito baixo. Entre as desvantagens, a professora Eunice acredita que ele possui um ritmo muito lento e não é válido para repetentes de muitos anos, pois perde muito tempo com o período preparatório (já desenvolvido noa repetentes).

Um bom aluno de 1ª série é definido pela professora como aquele que é assíduo e participa de todas as atividades em sala. Deve ser reprovado aquele que não possuir essas características, nem dominar os padrões silábicos simples (consoantes e vogais). As evidências do provável repetente são: aprendizagem deficiente em leitura, ausência de participação nas atividades de classe, baixa assiduidade e doenças freqüentes.

A professora acrescenta que em agosto é possível avaliar os alunos que se encaixam nessa categoria e, baseada nesses parâmetros, julgou 9 alunos, mas onze efetivamente não conseguiram aprovação.

Uma criança que lê textos simples, percebe o que é melhor na vida, conhece sua própria pessoa e respeita os outros, é definida como um aluno alfabetizado pela professora Eunice.

A chegada a uma 2ª série lendo corretamente todos os padrões vivenciados é o objetivo mais importante da 1ª série para esta professora.

A família do aluno pode ajudar o trabalho da professora caso participe da escola, vindo até ela, às reuniões de pais e mestres e também se acompanhar a execução das tarefas em casa.

A ausência do pré escolar, o desinteresse dos alunos repetentes são os problemas de aprendizagem enfrentados pelo professora Eunice, segundo seu próprio relato.

Nesta turma, a professora não finalizou o programa do Alfa, pois alcançou a 90ª unidade ao final do ano letivo.

Questionada a respeito, esta professora declarou que é de sua inteira responsabilidade a decisão de promover ou não os alunos, mas não identificou os critérios que utiliza nesse julgamento.

Ao final do ano, esta professora obteve os seguintes índices em sua turma: Alunos matriculados: 36 - Aprovados 14 (38,88%) - Reprovados 11 (30,55%) - Desistentes 9 (25%) - Transferidos 1 (2,77%) - Classe espec 1 (2,7750 TOTAL 36

A professora continuou com 1ª série em 85, mas sem o material Alfa.

4.6 - COMENTÁRIO GERAL SOBRE AS PROFESSORAS INTEGRANTES