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AS REFORMAS DO ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

Com o desenvolvimento cada vez maior das forças produtivas e das relações de produção, a sociedade passa a ser regulada pelo Estado, que nasce das necessidades da sociedade civil, entendida aqui como sociedade econômica. Portanto, o Estado é parte integrante do capital.

Sendo o capital um sistema marcado pela sua necessidade de autorreprodução de caráter incontrolável e irreformável, vai, ao longo do tempo histórico, produzindo grandes contradições; por sua natureza expansionista e acumulativa, não reconhece limites. Bertoldo e Santos (2012, p. 101) afirmam que “o processo de desenvolvimento capitalista fundado na lógica expansionista de acumulação tem afetado não apenas o campo da economia como também o conjunto das atividades sociais que são indispensáveis a sua reprodução, a exemplo da educação”.

O objetivo central do capital é efetivamente o lucro para a realização do máximo de acúmulo privado; o sistema subordina tudo à sua lógica. Portanto, o capital, por natureza, é marcado por crises. Crises que em um determinado tempo histórico eram resolvidas. Bertoldo e Santos (2012), analisando essa questão, anotam:

a crise estrutural do capital, iniciou no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, pode constatada com o denominado depressed continuum, que se diferencia do ciclo de expansão capitalista ao longo da história, marcado por períodos que alternavam expansão e crise. Para o pensador húngaro, a nova forma como a crise se expressa não é mais marcada por intervalos cíclicos entre expansão e recessão, mas por precipitações cada vez mais frequentes e contínuas, o que resulta em sérias consequências sociais, como o desemprego, o afrouxamento das leis trabalhistas, a precarização das condições de trabalho, a intensificação do trabalho, a redução salarial, entre outras. (BERTOLDO; SANTOS, 2012, p. 101).

Neste sentido, o Estado como lócus de defesa dos interesses do capital cria estratégias de reformas necessárias que colaboram para a resolução de suas crises. Segundo Netto e Braz (2012), na resposta a sua crise, verifica-se a existência de um Estado mínimo para o trabalhador e máximo para o capital, mediante a diminuição dos gastos públicos, a desregulamentação das relações de trabalho e a precarização do trabalho, entre outras ações.

No campo político surgem, com força cada vez maior, os ideais neoliberais que justificam a liberdade de mercado, a fim de que assim sejam preparados os alicerces para a reforma do Estado. No campo da indústria, por sua vez, ocorre a adoção do modelo toyotista mediante a implantação do sistema de qualidade total, a flexibilização dos processos de trabalho, a exigência de um perfil de trabalhador polivalente, bem como a emergência de postos de trabalhos cada vez mais automatizados. Além disso, o cliente passa a ser o grande mandatário das demandas, e não mais as indústrias, como no modelo taylorista-fordista, que estava focado na produção em série, sendo a produção personificada o diferencial do toyotismo em relação ao taylorismo-fordismo. Contudo, isto não significou um rompimento com a lógica do controle e da exploração do trabalhador.

Do ponto de vista político, a ampliação das reformas do Estado adentram na agenda neoliberal, com o desmonte do Estado na implementação de políticas públicas sociais. O Estado é acusado de ser o grande causador da crise, por gastar uma receita que não tem, o que torna necessário um programa de arrocho fiscal intenso.

Com o arrocho fiscal imposto ao Estado, verifica-se: mínima participação estatal nos rumos da economia, pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, política de privatização das estatais, livre circulação de capitais internacionais (o fortalecimento do processo de globalização da economia), adoção de medidas contra o protecionismo econômico, desburocratização do Estado, com leis e regras econômicas mais simplificadas para facilitar o desenvolvimento das atividades econômicas, e diminuição do Estado para tornar-se mais eficiente.

Assim, o Estado como grande regulador do capital tem, entre outras funções, buscar resolver os problemas de ordem social, causados pela própria lógica contraditória do capital. Nesse sentido, as políticas públicas ou os programas sociais ofertados pelo Estado têm como foco aqueles indivíduos considerados “excluídos” da sociedade. Cada vez mais presenciamos um conjunto de arranjos políticos que na prática funcionam como amortecedores dos conflitos sociais, já que os chamados “excluídos” podem representar um perigo para o capital.

Portanto, as políticas sociais servem como instrumentos para camuflar a exploração do trabalho pelo capital que, em última instância, funciona para diminuir/acalmar os efeitos perversos do capital sobre a classe trabalhadora.

As políticas sociais representam uma estratégia do capital para a sua reprodução, buscando acalmar a classe trabalhadora mediante o “atendimento de suas necessidades”.

Diante de um processo cada vez mais aprofundado pela crise estrutural do capital e do processo de reforma do Estado, nos últimos anos observam-se, cada vez mais, as consequências das reformas sobre as políticas sociais e os “direitos” dos trabalhadores conquistados das últimas décadas. Essas políticas têm significado para a classe trabalhadora a desregulamentação e a flexibilização do trabalho, evidenciando a descentralização do Estado ou a redução da presença do Estado nas políticas públicas. Elas traduzem o abandono das políticas sociais que no passado garantiam, ainda que de forma precária, os direitos sociais dos trabalhadores.

O processo de reforma do Estado no contexto da crise estrutural do capital tem efetivamente seus reflexos sobre as políticas sociais ofertadas pelo Estado e, especialmente, as políticas educacionais, assumindo um caráter minimalista no atendimento à população, sobretudo aquela que se encontra em situação de miserabilidade.

O Estado reorienta suas ações no atendimento das necessidades dessa parcela da população com o objetivo de controlar e amortizar os conflitos sociais. Assim, as políticas sociais, incluindo a educação, buscam amortizar e controlar os conflitos sociais e auxiliam, de forma decisiva, na cooptação da subjetividade dos indivíduos que estão à margem da sociedade, influenciando-os ou induzindo-os à construção de um pensar e de um agir pautados pela naturalização e aceitação de suas próprias condições de vida, colaborando a reprodução social do capital. Assim, a sociedade atual está cada vez mais direcionada para formar indivíduos resignados, conformados e adaptados à realidade existente, sendo este um dos grandes papéis que cabem às políticas sociais e, em particular, às políticas educacionais.

3.5 AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O ESTADO BRASILEIRO: UMA PRÁTICA