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Os aspectos apresentados são derivados da construção realizada por fonoaudiólogos que já atuavam em escolas desde a década de 1960. A atuação desse profissional na escola é de real importância, visto que, se encontra diante de um paradigma de construção de um sistema educacional de qualidade para todos, o que exige um desempenho e atuação diferenciada por parte daqueles que trabalham no campo da educação.

Segundo Coimbra, Luque e Machado (1991) a Fonoaudiologia Escolar constitui- se em uma área com importante participação ativa na educação. Outros autores clarificados logo abaixo, fazem seus contrapontos. Berberian (2000) em seu estudo contrapõe-se à idéia prevalente da Fonoaudiologia surgir na década de 1960, com a criação dos primeiros cursos universitários e nos leva a conhecer a história, anterior a este marco oficial, do processo social em que deu a constituição das práticas fonoaudiológicas, estreitamente ligado ao processo educacional entre os anos 1920 e 1940. A autora mostra que este encontro histórico entre a Educação e a Fonoaudiologia deu-se numa época de controle sistemático da língua pátria, nos bancos escolares, para neutralizar a influência advinda dos imigrantes. A institucionalização dos distúrbios de linguagem e sua conceituação, fortemente ligadas a esse controle da língua, são apontadas na pesquisa que abordo o contexto sociocultural da época.

Por sua vez, ao afunilar a relação Educação e Fonoaudiologia, Pacheco e Caraça (1989) afirmam que a ação fonoaudiológica na escola compreende três aspectos básicos: participação em equipe; triagem e terapia. Na equipe escolar, que normalmente é formada por professores, coordenadores pedagógicos, psicólogos e outros, o fonoaudiólogo tem o papel de assessor e consultor. Sua função é transmitir os conhecimentos específicos da área para a equipe com a finalidade de auxiliar os outros profissionais em todo o processo de elaboração do planejamento, bem como sugerir técnicas para o processo de alfabetização.

As triagens realizadas no âmbito escolar são compostas por uma bateria de testes através dos quais, se verificam a linguagem oral e escrita. Após os dados obtidos o profissional tem condições de orientar os pais e professores sobre os procedimentos a serem realizados junto ao aluno. Por fim, o processo terapêutico é discutido no que tange a sua validade no interior da escola, visto que, muitas vezes, ao se tratar de

dificuldades que envolvem a linguagem, exigem-se exames médicos complementares, inviáveis no contexto escolar. (PACHECO e CARAÇA 1989).

Kyrillos, Martins e Ferreira (1997) afirmam que a experiência da atuação do fonoaudiólogo associada à do professor, exige uma integração de conhecimentos, cooperação, entendimento e discussão de exercícios de trabalho escolar o que só têm a contribuir para o desenvolvimento dos alunos. Então, o fonoaudiólogo pode identificar a natureza dos “distúrbios” sinalizados pelos profissionais da escola e promover uma reflexão, no sentido de evitar os rótulos e todas as conseqüências implicadas. Para tanto, precisa estabelecer parceria com os profissionais da escola, discutir e avaliar, as suas reais necessidades. Quanto à atuação em equipe, ter uma perspectiva coletiva; traçar metas conjuntas para melhor atender o grupo de alunos; participar na elaboração do planejamento escolar, das reuniões de pais e professores, entre outros. Deve também orientar os professores, e caracterizar-se um processo de formação consciente e reflexiva.

Portanto, a presença do fonoaudiólogo na escola torna-se imperiosa à medida que previne e detecta dificuldades, além de encaminhar, quando necessário, para tratamento fonoaudiológico em clínicas particulares, clínicas-escolas ou a postos de saúde que ofereçam o serviço.

Pacheco e Caraça (1989) também ressaltam que a atuação do fonoaudiólogo junto à escola de educação especial, agregada a todos os outros componentes já relatados, se modifica a medida que sua população exige um olhar e um atendimento obrigatório. Essas crianças encontram-se freqüentemente com déficit de linguagem e, portanto necessitam do atendimento terapêutico que poderá ser realizado em grupo ou individualmente no contexto escolar.

Observa-se, segundo Zorzi (2001) que a área de Fonoaudiologia Escolar encontra-se diante de um crescimento significativo e se faz mister caracterizar a atuação desse profissional em escolas comum que objetiva unicamente ações pedagógicas e de cooperação e complementação e não de tratamento, diferente da atuação fonoaudiológica na escola especial que deve voltar-se para o atendimento clínico.

Segundo este mesmo autor a ação fonoaudiológica na esfera educacional tem como foco os aspectos patológicos, porém em uma nova concepção: frente aos conhecimentos que esse profissional dispõe nas áreas de comunicação oral e escrita, deveria promover e otimizar sua atuação no sentido de prevenir problemas no contexto educacional.

A fonoaudiologia apresenta um posicionamento majoritário em sua parceria fonoaudiologia/educação, visto que, há tendências de pesquisas que primam por esta relação, tais como aquelas apresentadas por Collaço (1991), que relata sua participação no trabalho em equipe numa escola de São Paulo durante o ano de 1968 a 1978, com o objetivo de orientar professores quanto aos aspectos referentes à alfabetização, bem como prevenir as alterações de fala e escrita.

Bittar (1991) expõe em sua pesquisa três experiências realizadas em escolas particulares no período de 1974 a 1979, tendo como objetivo, orientar professores quanto ao conteúdo a ser trabalhado em comunicação e expressão; detectar, através de triagens, as dificuldades de linguagem oral/escrita; e orientar e realizar o encaminhamento adequado para seu tratamento e orientação aos pais, por meio de palestras, quanto ao desenvolvimento normal de linguagem.

Pereira, Santos e Osborn (1995) destacam em suas pesquisas de um Programa de Saúde Escolar, que a atuação do fonoaudiólogo na escola engloba algumas vertentes tais como: a) orientação a pais e professores sobre o processo de desenvolvimento normal e sensibilização para estimular processamento auditivo, linguagem e produção fonoarticulatórios; b) exames fonoaudiológicos que avaliam emissão e recepção oral, voz, respiração, órgãos fonoarticulatórios e processamento auditivo; c) realização de testes para leitura e escrita; d) encaminhamento dos alunos com alterações para reavaliação e tratamento; e) orientação a pais e professores após as avaliações.

Canepa (1999) apresentou em sua pesquisa um histórico sobre a atuação fonoaudiológica pioneira em uma escola de São Paulo que apresentava uma visão humanista do indivíduo. Descreveu o setor fonoaudiológico constituído neste espaço, e apresentou os objetivos de profilaxia e encaminhamentos, quando necessário, das dificuldades que não eram passíveis de trabalho no âmbito escolar.

Portanto, a Fonoaudiologia e a Educação permitem desvelar um espaço de atuações articuladas e com parcerias que agregam valores no sentido de possibilitar às diferentes populações, absorver as especificidades de ambas as áreas e enriquecer as atuações e minimizar as dificuldades encontradas. Desvenda-se aqui, a necessidade de colaboração e cooperação entre todos participantes do processo educacional - fonoaudiólogos, pais, professores, alunos, coordenadores pedagógicos, diretores, comunidade e outros - na tentativa de tornar o ambiente educacional flexível e potencializar as habilidades de cada aluno para um amplo aprendizado.

Embora o principal objetivo neste momento da pesquisa venha ser caracterizar a relação da Fonoaudiologia Escolar e sua função na Educação Especial, a Fonoaudiologia também se encontra com outros enlaces tão importantes quanto este, que envolve a comunicação, entre eles a relação com a Otorrinolaringologia em trabalhos de voz; audição e deglutição, com a Ortodontia; a Neurologia e outras áreas de conhecimento que cabe apenas citá-las.

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