• Nenhum resultado encontrado

As relações externas portuguesas: Brasil e Inglaterra

No documento Download/Open (páginas 79-81)

Capítulo II De volta a Portugal: d Pedro I no seu projeto político

2.4 As relações externas portuguesas: Brasil e Inglaterra

O reconhecimento da independência do Brasil pelas potências europeias exaltou ainda mais os ânimos dos portugueses. Portugal tinha perdido o Brasil e muitos temiam o enfraquecimento das suas relações comerciais, tão importantes para a nação lusa. Assim, a independência do Brasil foi um dos temas do Imparcial, que procurou explicar as condições em que se deu a separação, afirmando que: “se elle está separado pelas relações politicas, existe ainda unido pelas mutuas relações de fraternidade e de commercio, e porque tem por Imperante o mesmo que he tambem Rei dos Portuguezes.”231. De certo, o redator procurava

convencer seus leitores de que o Brasil não constituía uma potência inimiga, por ter se separado politicamente, muito menos d. Pedro deixaria de ser reconhecido pela “resolução da mais alta sabedoria” que consolidou o Império brasileiro.

O redator demonstra como no Brasil se deu a propagação das ideias liberais, que moveram os espíritos brasileiros no processo de independência. Segundo o jornal, os direitos do homem e a noção de estado opressivo de colônia foram ideias que passaram a circular no Brasil após a independência das províncias norte-americanas e também da Revolução Francesa. São os escritos dos filósofos das luzes: Thomas Paine, abade Raynal, Mably, Rousseau e Locke. Estas referências, para o redator, exaltaram os espíritos de uns, que se fizeram “libertinos, menos-cabando os principios da Religiaõ”, e outros, de “fanaticos republicanos”232.

O periódico explica a configuração política do Brasil antes da independência a partir da formação de duas facções, europeus e brasileiros. E que estes eram influenciados pelos Realistas puros e os Apostólicos de Portugal, facções que eram uma contra e a outra a favor da separação do Brasil. A decisão, portanto de d. Pedro, de colocar-se à frente do partido brasileiro resultou em duas vantagens:

230 Imparcial, n° 76, 11/08/1827. 231 Imparcial, n° 10, 23/01/1827. 232 Imparcial, n° 10, 23/01/1827.

1° enfrear o espirito democratico que se havia apoderado de muitos Brazileiros; estabelecer hum centro de poder para conservar a integridade daquelle império [...]; 2° conservar á Real Casa de Bragança aquelle vasto continente, e aos Portuguezes a fruição do seu commercio, e poderem lá estabelecer-se como antigamente.

Esta última citação resume bem a política que Silva Maia emprega para a aceitação da independência do Brasil e do seu imperador em terras lusas. O que ele preza são justamente as relações comerciais que os portugueses estabeleceram anos e anos no Brasil. O redator é consciente da dependência financeira em relação ao novo Império, e que aqui muitos portugueses, como ele, puderam construir seus patrimônios. Com relação a ao comércio entre Portugal e sua ex-colônia, o redator é enfático ao relatar que a industria portuguesa “tem só consumo no Brazil”, e que o Brasil poderia comprar os artigos de origem lusa em outras nações, tendo como resultado, para Portugal, uma economia estagnada, “a emigração dos capitalistas, a miseria publica”233. A situação financeira portuguesa não ia nada bem, sua

receita estava reduzida a 62% em relação à de 1800234. O Estado estava quase falido, não

muito diferente da situação política, que esperava a chegada de d. Miguel. Neste momento, a oposição realista se exaltava para derrubar a Carta, enquanto aguardavam a decisão de d. Miguel quando assumisse o reino, se ele “ia ser rei de todos, ou de um dos partidos”, dos realistas ou dos liberais.

Para o Brasil, a vantagem da relação com Portugal era a emigração portuguesa.

Segundo o periódico, o “que mais carece o Brasil he de populaçaõ” e a portuguesa é a melhor se comparada aos ingleses, alemães, franceses, suíços e italianos. Estes inundavam o país com seus excessos, bebiam, não tinham higiene e muitos buscavam nos meios lícitos ou ilícitos para ganharem dinheiro e voltarem para sua pátria de origem. Eles também seriam responsáveis por espalhar a ideia de que Portugal queria recolonizar o Brasil: “são elles que tem infundido no espirito incauto dos Brazileiros essa desconfiança mal fundada”235. O

redator ainda aponta para o fato de que se não fossem os inúmeros portugueses disseminados pelo Brasil, a Casa Real Bragantina já não mais reinaria ali, a não ser que fosse por forças militares.

O resumo que Silva Maia faz com relação à independência do Brasil é que a Revolução de 1820, no Porto, não foi a causa da separação, pois considera que o Brasil já

233 Imparcial, n° 88, 22/09/1827.

234 RAMOS, Rui, SOUSA; Bernardo Vasconcelos; MONTEIRO, Nuno Gonçalo (Org.). História de Portugal.

Lisboa: A Esfera dos Livros, 2009, pp. 478-484.

tinha um histórico revolucionário, portanto, seria inevitável para aquele ano. Além disso, as Cortes não promoveram a separação, “porque a maioria dos seus membros fez todos os esforços para a evitar”. E conclui que Portugal não perdeu o Brasil, porque eles ainda estavam unidos pelos laços fraternais e de comércio236.

Quanto à relação entre Portugal e Inglaterra, Silva Maia escreve sobre a dependência militar que os portugueses tinham dos ingleses. O medo da Espanha era antigo para Portugal. Temiam que aquela nação pudesse apoderar-se desta apenas fazendo intrigas, e partido “que procurará adquirir em degenerados portuguezes”.237 E foi a Inglaterra que os livrou desse

jugo em 1801, 1808 e 1812, quando seus exércitos e seu dinheiro conservaram a nação independente.

A amizade e alliança com Inglaterra he a unica que nos convém no estado precário em que nos achamos. Se encararmos para as relações commerciaes que temos com esta naçaõ, facilmente se conhecerá que he a unica que consome nossos fructos e vinho;

A Inglaterra era a única nação consumidora dos produtos portugueses, e só tinha necessidade de manter relações com Portugal porque o país era consumidor de seus produtos manufaturados. O vinho português que ia para Inglaterra era moeda de troca pelos produtos ingleses manufaturados, mas aquele reino podia comprar em outras nações a preços mais baratos e o paladar seria facilmente assimilado por hábito. Brasil e Inglaterra, portanto, eram extremamente necessários para a sobrevivência física e financeira de Portugal, exigindo que se mantenha a cordialidade em todas as suas relações.

No documento Download/Open (páginas 79-81)