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AS RELAÇÕES PÚBLICO-PRIVADAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA EDUCAÇÃO PÚBLICA

Luciane Kaster Barcellos Viveiro17 Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas18 Resumo

Este artigo aborda, com base em uma pesquisa documental, de que forma as relações público- privadas interferem no desenvolvimento da educação pública. Levanta uma discussão acerca da falta de protagonismo das especificidades regionais na construção dos Planos de Educação. Nesta vertente verificamos que o setor privado gerencia e executa as demandas educacionais que são de interesse/responsabilidade do setor público. Para tanto, neste texto apresentamos uma discussão acerca das parcerias público-privadas e suas relações com os Planos de Educação. Em um ano que presenciamos o desmonte da educação pública, através da negação de seu valor institucional, vimos com preocupação a forma como são apresentadas as atividades/funções/atribuições do serviço público.

Palavras-chave: Educação, Planos de Educação e Parceria Público-Privada. Resumen

Este articulo discute, basado em lainvestigación documental, cómolas relaciones público-privadas interfieren em eldesarrollo de laeducación pública. Plantea una discusión sobre la falta de protagonismo de las especificidades regionales em laconstrucción de los Planes de Educación. En esta linea, verificamos que el sector privado gestiona y ejecutalas demandas educativas que son de interés/responsabilidad para el sector público. Por lo tanto, em este texto presentamos una discusión sobre lasasociaciones público-privadas y surelación com los Planes de Educación. Enunaño que hemos presenciado eldesmantelamiento de laeducación pública, a través de lanegación de su valor institucional, nos dimoscuenta com preocupaciónla forma em que se presentanlasactividades/funciones/deberesdelservicio público.

Palabras clave: Educación, Planes de Educación y Asociación Público-Privada. Educação: um direito constitucional

As parcerias entre os setores público e privado vêm ocorrendo de forma cada vez mais frequente. Na área da educação, essas coletividades têm focado pouco na qualidade do ensino e, como tudo dentro do sistema capitalista, visado, de forma sutil, benesses financeiras.

Esta discussão, de fundamental importância para a educação das camadas populares que se utilizam do serviço público de educação, é a orbe deste artigo, cujos dados se originam da dissertação de mestrado intitulada - As Parcerias Público-Privadas no Âmbito da Educação Pública na Cidade de Pelotas-RS do PPGEdu – IFSul – Pelotas.Com base nos dados levantados na pesquisa documental, discutimos de que forma as relações público-privadas podem interferir no desenvolvimento da educação pública. Levantamos ainda, uma discussão acerca da falta de indicadores regionais na construção dos Planos de Educação, visto que estes documentos são elaborados por profissionais especializados em ideação e execução de projeto/propostas direcionadas ao setor público, com a finalidade de adquirir financiamentos públicos.

17Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense 18 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense

O que vemos, nos dados, é a indicação da presença do setor privado no gerenciamento e execução de demandas educacionais que são de interesse/responsabilidade do setor público. Nesta ótica, ousamos levantar uma discussão de que, desta forma, a rede pública de ensino pode se tornar refém dos interesses que ladeiam o capital. O direcionamento e gerenciamento do currículo da escola pública, nesta coletividade/parceria, é desenhado por profissionais que sequer conhecem o ambiente educacional em que será implantado, além de promover conteúdos eminentemente mercadológicos.

A lei 11.079 de 30 de dezembro de 2004institui as normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. No artigo 2 consta que a Parceria Público Privada (PPP) consiste em um ―[...] contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa‖. O que encontramos, porém, na área da educação é avalizado pela parceria, uma imposição conceitual que abarca, de forma indireta e desassociada da realidade escolar, o currículo. De modo casado, ainda, apresentam a venda de produtos educativos que incorporam ideais liberais. Com toda esta ingerência externa este espaço de construção curricular, que deveria ser democrático e edificado a partir das características de cada comunidade, consolida-se como ambiente de reprodução de ideais capitalistas. As escolas públicas, nesta trajetória, assumem uma identidade privada em que as premissas liberais se posicionam acima do currículo.

A Constituição Federal de 1988 no capítulo I, do título II, trata do tema relativo aos direitos e deveres individuais e coletivos que estão previstos como um dos direitos sociais. De forma complementar, no artigo 6º, aponta como direitos sociais ―[...] a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição‖.

No artigo 206, inciso I, dispõe que deve ser assegurada a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, além da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, ou seja, em estabelecimentos públicos. Balizados pela legislação entendemos que, da forma como se apresenta, as parcerias público-privadas, rompem com os direitos constitucionais à medida que priorizam algumas áreas em detrimento de outras.

A educação é uma das áreas mais visadas pelas parcerias público-privadas. Dissemina-se a informação de que a educação pública brasileira é frágil e sucateada com vistas a transformá-la em alvo fácil para estas parcerias. Com a imagem de fragilidade construída, o Estado estabelece parcerias que permitem tanto o gerenciamento quanto a execução de ações por parte da iniciativa privada em escolas públicas. Estas ações têm impactos visíveis: sucateamento do aparelho público, precarização do trabalho dos professores e manipulação do processo de ensino e de aprendizagem.

Desta forma, a educação pública, nos moldes dasPPP‘s, inclina-se aos padrões capitalistas utilizando ferramentas reprodutivistas baseado em um perfil de mercado. Saviani (1999) apresenta a teoria da curvatura da vara, citada anteriormente por Lênin, criticado por assumir posições extremas e radicais, no qual exemplifica que ―quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-la para o lado oposto‖. A partir dessa teoria vemos a educação como ―a vara‖ que, para endireitá-la, será preciso curvá-la para o outro lado.

A partir da análise do documento intitulado ―4 anos juntos Pelotas-RS‖, disponibilizado na página da Comunitas19, é possível verificar que a PPP se fixa desde as discussões, perpassando pela

construção e culminando na execução dos Planos de Educação. É este viés que demonstramos as seções seguintes deste artigo.

Do comunitas à parceria com a educação em Pelotas: análise do material

Em reportagem publicada no site da Gaúcha ZH, em 24/5/2019, a repórter Angela Chagas apresenta a seguinte notícia: ―Governo do RS estuda modelos de parcerias público-privadas para escolas estaduais‖ - Uma das propostas prevê que empresas façam reformas e cuidem da manutenção das instituições de ensino. Modelo americano de escolas "charter" também é avaliado.

Os modelos das chamadas charter schools apareceram no Estado na década de 1990 e funcionam da seguinte forma, segundo a reportagem: ―[...] uma instituição privada recebe recursos do governo para administrar uma escola pública. É responsável pela construção da estrutura, pela contratação de professores e funcionários e pela definição do currículo. Os estudantes não pagam mensalidade‖. No teor do texto jornalístico, o ex-prefeito de Pelotas e atual governador do Estado, Eduardo Leite, teria afirmado: ―Queremos esse modelo aqui. Só porque um serviço é público não significa que precisa ser administrado pelo poder público‖.

Na página da prefeitura de Pelotas buscamos informações sobre a existência de PPP‘s. Com poucos dados disponíveis, buscamos outras fontes, como por exemplo, a página do Centro de Formação Tecnológica de Pelotas (CETEP), mantida em uma rede social, local de Formação Continuadas dos professores da Rede Pública municipal, além de jornais virtuais.

O Portal Pelotas Notícias, em reportagem publicada no dia 18 de dezembro de 2014 indica a Comunitas como parceira da Prefeitura. Na reportagem, o então prefeito Eduardo Leite, à época, menciona um convênio firmado entre a Prefeitura de Pelotas e a Comunitas, no ano de 2013, a fim de ―[...] desenvolver em conjunto um projeto de aprimoramento da gestão pública municipal, intitulado Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável.‖ Dentre as questões apontados, pelo gestor municipal, encontra-se a intenção em ―[...]estimular a soma de esforços entre a iniciativa privada e os governos municipais para novas parcerias público-privadas.‖

A reportagem cita, ainda, que na área da educação o Programa Juntos iria:

[...] revolucionar os serviços, a partir de uma estrutura bastante simples. Uma das propostas é a Educopédia, que torna acessível às escolas vídeos e às vezes até jogos digitais elaborados para abordar os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Pelotas será pioneira, o projeto está em fase preparatória e será implantado em março de 2015 em quatro escolas-piloto da rede municipal. Foi então por meio desta reportagem que obtivemos as pistas da existência da parceria e nos subsidiou para chegar ao site da Comunitas que, por sua vez, nos conduziu ao link do Programa Juntos. Chamamos a atenção à forma como se tem acesso a estes contratos/parcerias/documentos. Não se encontram em espaços de fácil verificação e nos rendeu horas de busca nos diversos locais públicos de informação. Na página da Comunitas encontramos os documentos que atestam parcerias firmadas, em três áreas de atuação: saúde, segurança e educação, com algumas cidades brasileiras e do exterior. Nosso recorte de pesquisa envolve a educação na cidade de Pelotas, desta forma selecionamos os relatórios que estabelecem algum

19A Comunitas é uma Organização da sociedade civil brasileira que tem como objetivo contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos e incentivar a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país.

vínculo com este espaço. Debruçamo-nos nas discussões que envolvem estas parcerias a partir do Programa Juntos, da organização Comunitas na educação municipal de Pelotas. Este programa consiste, segundo dados impressos na plataforma digital, disponível na Rede Mundial de Computadores (WEB), em um espaço de aperfeiçoamento da gestão pública que atua em diversas cidades brasileiras.

Na plataforma a Comunitas se identifica como ―[...] uma organização da sociedade civil brasileira que tem como objetivo contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos e estimular a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país.‖ (COMUNITAS, 2018).

Peroni (2015) aponta que o mercado utiliza, para enfatizar a necessidade das PPPs, a premissa de que somente o setor privado é capaz de ―concertar‖ o setor público, reforçando uma visão errônea destas instituições.

[...] mercado justifica a sua atuação no público para formar um sujeito instrumental à reestruturação produtiva, e um projeto de desenvolvimento competitivo em nível internacional, no entanto, as parcerias atuam com produtos padronizados e replicáveis, no sentido de igual para todos, o que é considerado em nossas pesquisas como um retrocesso. (PERONI, 2015, p. 149).

Assim, a Comunitas e o Programa Juntos neste ―acordo‖ com a cidade de Pelotas intentam ―[...] estimular parcerias que melhorem a gestão pública, resultando no desenvolvimento local e aprimoramento dos serviços públicos [...]‖ (COMUNITAS, 2018).

Firmada no governo de prefeito Eduardo Leite, compreendido entre os anos de 2013 e 2016, esta parceria ―buscaria o equilíbrio fiscal do município‖ como exposto por ele no relatório de resultados disponível no site da Comunitas. Esta assertiva vai ao encontro da motivação, pelo menos a exposta no site, do programa Juntos que visa

[...] o ajuste das contas públicas e a reorganização da administração municipal, tendo como consequência a ampliação dos investimentos em serviços públicos que beneficiem a população, principalmente em áreas de maior demanda, como educação, saúde e melhorias urbanas [...] (Comunitas, 2018).

Os modelos de replicabilidade, utilizados como ferramenta pela Comunitas, são, na verdade, um grande retrocesso. Estes modelos partem do princípio de que uma metodologia, aplicada com êxito, em outra localidade (pais, estado, município), pelo setor privado, tendo como indicadores qualidade e inovação, pode e deve ser replicado em outra escola. Desta forma, o mesmo modelo de educação, que segundo o julgamento da Comunitas deu certo, é replicado em outras regiões. Deixam de lado quesitos imprescindíveis para uma educação que atenda a comunidade: cultura e regionalidade.

Nos documentos desta parceria encontramos cinco cartilhas: Cartilha Programa Juntos - Governança compartilhada em prol da melhoria da Gestão, Cartilha de Replicabilidade – Escritório de Gerenciamento de Projetos, O uso da Tecnologia na Gestão Pública, O papel dos municípios na segurança pública: o caso Pacto Pelotas pela paz e 4 anos Juntos Pelotas-RS

O primeiro documento ―Cartilha Programa Juntos - Governança compartilhada em prol da melhoria da Gestão‖ apresenta o Programa Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável e serve como um guia para os municípios qualificarem os investimentos de forma sustentável, que de acordo com eles, estará em prol da melhoria do país. A diretora-presidente do Comunitas aponta que ―[…] a cartilha do Juntos serve como inspiração, referência e guia para aqueles que acreditam no trabalho multissetorial e em rede como melhor caminho para a melhoria da gestão pública brasileira e, consequentemente, da qualidade de vida dos cidadãos‖ (COMUNITAS, 2016, p. 6). presenta algumas cidades em que a atuação desta entidade se dá de forma bastante contundente, entre elas, destaca Pelotas.

O segundo a ―Cartilha de Replicabilidade – Escritório de Gerenciamento de Projetos‖ apresenta a forma de atuação deste programa em parceria com as cidades, além do compromisso que assumem. Apresentam que:

[…] as cidades, assim que aderem ao programa, firmam um pacto de transparência com o Juntos, comprometendo-se a exibir todas as informações consideradas fundamentais para o andamento dos projetos. O objetivo é oferecer mecanismos que permitam o reajuste das contas municipais, o aumento da capacidade de investimento das prefeituras e, consequentemente, da qualidade dos serviços públicos ofertados à população. (COMUNITAS, 2017, p. 13) (Grifo nosso)

O terceiro documento ―O uso da tecnologia na gestão pública‖, propõe ―tornar a burocracia tradicional mais profissional, eficiente e próxima do cidadão‖ (COMUNITAS, s/d, p. 46). Este manual é um guia aos municípios apresentando uma metodologia de uso da tecnologia para desburocratização das informações, rapidez na pesquisa dos dados e na replicabilidade das informações. É enfatizado que, através desta parceria, outras cidades podem tomar, como exemplo, as boas práticas apresentadas por municípios e aderirem ao programa, também.

O quarto documento consiste em uma cartilha que aborda a segurança pública, um dos pilares de atuação do Juntos. Denominada ―O papel dos municípios na segurança pública: o caso Pacto Pelotas pela Paz‖ consiste em um guia de como o programa atua na área da segurança pública no município. Além de apresentar muitos gráficos que tratam da violência na cidade, a cartilha, no corpo do seu texto, afirma que ―[…] além de ser desintegrado, o modelo tradicional de policiamento caracteriza-se por ser genérico e busca resolver todos os problemas em todos os lugares ao mesmo tempo [...]‖. (COMUNITAS, 2017, p.15) Insinua que esta é a causa dos altos índices de violência na cidade. Apresenta, ainda, que, a solução do problema da criminalidade é ―[…] resgatar a confiança da sociedade no poder público, pois este consegue ―entregar‖ resultados de forma mais concreta [...]‖ (COMUNITAS, 2017, p.15). Assim, defende que o modelo de combate apresentado nesta cartilha, pelo setor privado, é ―mais eficaz‖ do que o utilizado pelo setor público.

Por fim, o quinto documento é a cartilha 4 anos juntos – Pelotas-RS que apresenta uma síntese da atuação do programa e informa as principais atividades implementadas no município. (COMUNITAS, 2015). De todos os documentos encontrados optamos por nos aprofundar neste por detalha as parcerias e apresentar os relatórios do que foi executado. Esta cartilha se divide em 5 áreas: Gestão - Escritório de Gerenciamento de Projetos; Saúde – Co-criação de Serviços de Saúde; Educação - Apoio ao Plano Municipal de Educação; Lazer - Viva o Laranjal e Comunicação - Jornalista Dedicado. (COMUNITAS, 2015)

Utilizamos a metodologia da Análise Textual Discursiva (ATD)de base documental, para analisar o documento. A ATD baseia-se nos estudos de Moraes &Galiazzi(2016) que a descrevem como ―[...] uma metodologia de análise de informações de natureza qualitativa com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos [...]‖. (p. 13)

Moraes (2003p. 192) destaca que a ATD consiste em ―[...]um processo auto-organizado de construção de compreensão [que] emergem de uma sequência recursiva [...]: desconstrução do corpus, a unitarização, o estabelecimento de relações entre os elementos unitários, a categorização, e o captar do novo emergente [...]. Após todas as etapas temos o Metatexto que incorre na análise dos dados após todas as fases. Para se chegar a este documento final foram estabelecidas categorias de análise que emergiram do material, com base na incidência no texto, como descrito no quadro, a seguir:

Mapeamento de Categorias a partir do texto em análise

Unidade Categorias Subcategorias Incidência

Educação

Planos de

Educação Plano Nacional de Educação Plano Municipal de Educação 1 8 Contexto/Situação da Educação no Município 1 Secretaria de

Educação Secretaria Municipal de Educação de Pelotas Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro 2 2 Coordenadoria Regional de Educação 1 Políticas

Educacionais Programa Melhoria da Educação no Município Atendimento Educacional 1 1

Rede Municipal de Educação 1

Gestão Educacional 1

Parceria Fundação Itaú Social 3

Escolas Piloto 1

Serviços EDUCOPÉDIA 5

Fonte: elaborada pelas autoras

Após analisarmos cada categorias verificamos que o setor privado estabelece parcerias com o setor público com a finalidade, apresentada por eles, de suprir uma necessidade que, aparentemente, os municípios não conseguem resolver. Assim, partir da análise da cartilha que relata as atividades durante 4 anos no município de Pelotas pelo Programa Juntos, podemos inferir que, no âmbito da educação, o setor privado está presente desde o cerne das atividades educacionais, que são vistas aqui como o planejamento e a construção do plano municipal de educação, até sua inserção, de fato, nas atividades escolares utilizadas pelos professores, como a plataforma digital Educopédia, instalada em algumas Escolas piloto do município.

Foi possível, nesta análise, verificar, também, a interferência do setor privado empresarial nas políticas educacionais na educação pública da cidade de Pelotas, utilizando serviços, propostos pela Fundação Itaú Social. A título de exemplo temos a Educopédia que foi ofertada para algumas das muitas Escolas municipais em todas foram contempladas com a plataforma digital, sem ficar identificado, no documento, o porquê da escolha de umas em detrimento de outras. Além desse fato para que um professor possa utilizar os serviços apresentados por esta plataforma, é necessária uma formação específica que, conforme declarado no próprio documento, foi ofertada para somente 50 docentes da rede.

A análise de cada categoria demonstra que setor privado se torna protagonista a educação pública. Temos, portanto, um ensino público, balizado parâmetros que fogem a realidade atendida.

Contudo, ao selecionarmos o recorte ―educação‖ como foco principal, percebemos, através dos dados que emergiram do documento, que os interesses privados e políticos perpassam toda a esfera educacional, desde os planos de educação até a oferta de serviços, e, desta forma, o empresariado ganha mais espaço nas decisões e a gestão educacional e de recursos

A relação que se estabelece do setor privado sob o setor público por meio das parcerias geralmente visa, enquanto empresas, lucro e aparentam ser competitivas no atendimento às demandas ―precarizada‖ do Estado. Essas empresas podem até ter alguns objetivos humanitários, porém, normalmente, sua visão é a rentabilidade do negócio, e não necessariamente servir o público. Nesse sentido, a educação passa a ser vista como uma grande empresa, em que é preciso atingir metas sem que seja levado em consideração o processo pedagógico. O que se refere às políticas educacionais, dentro das parcerias, há uma intenção d reformulação do ensino público apregoando a ideia de modernização do sistema educativo a partir das tecnologias. reforçam a ideia de que a educação pública vem passando por crise e possui inúmeros problemas por outro lado o sistema privado funciona melhor. Não há uma clareza de argumentos que comprovem tal premissa, porém o uso de enunciados velados são identificáveis ao longo de todo documento. Demonstram, argumentativamente, que a iniciativa privada produz qualidade, e os modelos apresentados destoam da realidade atendida pela escola pública.

Assim, aquele que não se encaixa os modelos de educação propostas pelo Estado e organizados pelo setor privado, não terá chance de garantir seu direito constitucional a educação e permanecer na escola. Em nossa análise nos remetemos ao mito do Procusto, citado por Bagno (2014) na obra ―Pesquisa na Escola‖, em que o autor compara aquele que não se encaixa na