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Capítulo V – Apresentação e discussão dos resultados

3. O processo de inserção no Centro Social de S Félix da Marinha

3.4. As relações sociais do idoso na instituição

A maior ou menor facilidade de integração e aceitação da realidade institucional depende, em parte, das relações sociais que os idosos estabelecem dentro da instituição. Como tal, a convivência forçada e a partilha de um mesmo espaço que se desconhece pode refletir-se

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de forma negativa ou positiva na adaptação do idoso a uma realidade que lhe é estranha e muitas vezes entendida como hostil.

No que concerne às relações entre idosos, de acordo com os nossos registos de observação, verificamos que, de um modo geral, os utentes interagem entre si nas zonas de maior convívio da instituição (salas de estar). No entanto, são poucos os que procuram outras formas de lazer tais como jogar às cartas, damas ou dominó.

No que se refere às relações sociais que estabelecem na instituição, os idosos entrevistados, afirmam que as mesmas são boas, como refere André, Gabriela e Augusta.

“Eu acho que é uma relação boa.” (André, oitenta e um)

“Eu acho que é boa. Ao menos eu dou-me bem com toda a gente. (…) ” (Gabriela, setenta e nove) “ (…) É boa. Pelo menos eu não tenho que dizer. Falamos uns para os outros, não tenho que dizer, pelo menos eu.” (Augusta, noventa e três)

Por sua vez, a diretora técnica da instituição e animadora sociocultural referem que a relação entre idosos é genericamente boa. Para além disso, mencionam que os idosos se organizam em pequenos grupos, geralmente separados por sexo. Deste modo, os idosos tendem a relacionar-se com indivíduos que partilham os mesmos interesses, objetivos e valores. Como podemos constatar através dos seguintes exemplos:

“Julgo que temos um bom ambiente e uma boa relação. Como é lógico há pequenos grupos, não é um grupo único e uniforme. Temos utentes que se relacionam melhor uns com os outros e vão criando os seus grupos de amizade, como nós na nossa sociedade vamos criando os nossos microgrupos e eles funcionam da mesma forma.” (Diretora Técnica, trinta e cinco anos)

“Os idosos tais como os adolescentes fazem grupinhos. Os homens são mais difíceis de integrar junto as mulheres, são mais unidos entre eles. As mulheres dão-se todas bem mas também falam mal uma das outras, é típico. Mas de um modo geral, tratam-se com respeito e isso é fundamental na instituição” (Animadora Sociocultural, trinta anos)

Por vezes, as interações entre os idosos são marcadas por pequenos conflitos. Estes são ocasionais e ocorrem geralmente por motivos insignificantes ou por ciúmes, como menciona a animadora sociocultural, diretora técnica e Rosalina:

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“Já tem havido. (…) É assim, muitas vezes os motivos até são insignificantes. Basta um idoso ter-se sentado no lugar que pertence a outra senhora já é motivo de discussão, porque é assim eles têm um tempo tão liberto que às vezes coisas tão insignificantes que um simples lugar à hora do lanche é motivo para discutir.” (Animadora Sociocultural, trinta anos)

“Sim e os conflitos, muitas vezes, são por coisas muito simples e ridículas. Às vezes discutem porque o idoso A sentou-se na cadeira que normalmente se sente o idoso B e por isso já dá motivo a discussão e ficarem amuados. Ou porque a idosa A pegou na manta do idoso B. Muitas vezes também há pequenos conflitos porque são muito ciumentos. Se alguma funcionária ou mesmo eu passar fazemos um carinho a um e não fazemos a outro, pontualmente ficam sentidos e amuam. (…) ” (Diretora Técnica, trinca e cinco anos)

“Sim, sim, alguns (…). Ciúmes.” (Rosalina, setenta e nove)

No entanto, importa ressalvar que a existência de pequenos conflitos não é percebida por alguns dos idosos entrevistados, como sucede com Isaura e Gertrudes:

“Acho que não, damo-nos bem umas com as outras (Isaura, oitenta e seis anos)

“Por acaso até agora, no tempo que eu estou aqui ainda nada disso aconteceu, pelo menos que eu visse com os meus olhos. (…) ” (Gertrudes, setenta e quatro anos)

No que respeita às relações existentes entre utentes e profissionais observamos que as mesmas são geralmente boas, especialmente entre os utentes e os ajudantes de ação direta. Este tipo de relações caraterizam-se por serem informais, existindo, deste modo, uma maior proximidade entre os utentes e os profissionais. Como refere a diretora técnica e animadora:

” (…) Penso que além da relação profissional existe uma relação de amizade, de empatia e de carinho. (…) Penso que todos aqui que trabalhávamos acabamos por ser atenciosos, simpáticos, carinhosos para os nossos utentes”. (…) (Diretora Técnica, trinta e cinco anos)

“Eu penso que a relação é bastante boa. (…) Eu não costumo dar o meu contacto ao idoso (…). Há funcionários que dão e depois passa-se um bocado um bocado a batata quente para as mãos dos funcionários, aquilo que muitas vezes a família deveria fazer: as pequeninas compras, buscar a mercearia… Que não é por má vontade, quando os utentes não tem retaguarda nós tamos cá para isso. Agora quando tem família e a família viver a viver com eles é muito complicado sermos nós a fazer.” (Animadora Sociocultural, trinta anos)

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Para além disso, grande parte dos idosos asseguram que estão satisfeitos com os funcionários na medida em que estes os respeitam, executam bem o seu trabalho e são afáveis. É o caso de Natália, Celeste e André:

“Estou, eu acho que elas são muito meigas para mim, são minhas amigas (…) e elas gostam de mim por isso e eu gosto muito delas. ” (Natália, oitenta e quatro anos)

“Sim, estou com todos. (…) Porque são boas pessoas e somos bem tratados por eles. ” (Celeste, setenta anos)

“Porque me respeitam e eu também respeito” (André, oitenta e um anos)

Importa ainda ressalvar que, por vezes, existem desentendimentos pontuais entre os idosos e os funcionários. Nesse caso, tal como referem a diretora técnica e animadora, de modo a evitar o surgimento desses pequenos desentendimentos, realizam-se sessões de sensibilização, por parte da equipa de enfermagem, sobre por exemplo a tensão arterial, diabetes, importância do exercício físico e uso da medicação. Por sua vez, os funcionários procuram corrigir o idoso quando este está a fazer algo incorreto e mostrar-lhes que o trabalho que desenvolvem é importante para o seu bem-estar físico e mental.

“Por vezes (…) no caso dos nossos utentes diabéticos, existem muitos conflitos, quando o enfermeiro dá ordem para eles comerem mesmo dieta e não comerem pão e não comerem doces e eles não aceitam. Depois começam a discutir e a reclamar com a funcionária que está distribuir a refeição na sala de refeições e ela diz muitas vezes que não tem culpa, que cumpre ordens e que (…) é para o bem-estar deles. (…) Olhe, por exemplo, os enfermeiros têm por hábito x em x tempo fazer sessões de sensibilização com os nossos utentes. A Andreia ainda não viu, mas fazem a nível da tensão arterial, da glicemia, de eles se movimentarem, de não estarem parados, de terem cuidado com a medicação (…) E depois também por parte de todas as funcionárias do Centro de Dia quando vemos o nosso idoso a fazer algo que achamos que não está correto tentamos corrigi-lo, sensibiliza-lo (…) (Diretora Técnica, trinta e cinco anos)

“É assim, por norma não. Os últimos conflitos que me lembro aqui mais é as vezes a funcionária que vai buscar uma utente para lavar ou qualquer coisa e a utente (…) não quer. Mas assim conflitos, não. (…) Os funcionários tentam conversar com o idoso, o compreender e fazê-los entender que o que fazem é para o seu bem.” (Animadora sociocultural, trinta anos)