• Nenhum resultado encontrado

Capítulo VI AS PERCEÇÕES DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

6.2. As representações cívicas

6.2.1. Associações

Procurámos as de índole artística, nomeadamente de música coral e filarmónica, agremiações ensinantes infanto-juvenis, normalmente praticantes de uma metodologia de transmissão de saberes ad libitum e muito empírica. Sobre o conhecimento da

Fábrica ouvimos da representante da música vocal:

«Indiretamente conheço! Sem saber do projeto assisti a uma iniciativa na escola do Furadouro (ateliê de luz), e não identifiquei que era a Fábrica da Criatividade. Desconheço o projeto ou o conceito. Em casa é falado muitas vezes o ateliê. O meu filho prefere o ateliê a jogar à bola e traz prendinhas. Imaginava que tal atividade fazia parte do programa extracurricular. Se era da responsabilidade do município, se se chamava Fábrica da Criatividade ou carica dourada, desconhecia».

Inquirimos se, como dirigente artística tem notado via coro algo da Fábrica: «não!…não noto ligação. Não imagino o que é lá trabalhado mas acredito no apelo à imaginação e à criatividade». Faria sentido uma articulação entre a Fábrica e o

coro?

«Sim…por exemplo o nosso futuro centro de artes estar em estreita colaboração. Talvez fosse interessante uma articulação com as coletividades artísticas. A Fábrica tendo especialistas poderia ser útil ao nível dos conceitos e dos benefícios».

Fábrica da Criatividade de Óbidos: estudo exploratório e perceções sociais

Concorda com o ensino alternativo…municipal, conhece a realidade no terreno mas pensa que faltam ferramentas para alcançar os objectivos. «A criatividade tem que chegar às coletividades».

Atentemo-nos numa sociedade filarmónica, com escola de música composta por 61 alunos. À habitual pergunta inicial sobre a Fábrica, um dos quatro elementos presentes da direção, diz-nos:

«Zero! Nunca foi apresentado. Estivemos envolvidos no ensino da música nas AEC, mas dispensámos o funcionário para evitar encargos. A CMO não dá conhecimento às coletividades desses projetos. Recebemos alunos não no zero mas no “um” ou no “dois”. Sabem o que vêm fazer. Está a acontecer que vêm do articulado (12/13) mas o inverso também acontece».

Há criatividade neste tipo de ensino?

«Pode ser relativo…o método de ensino já é diferente do que era. Começa- se já com o instrumento. Há criatividade quando a música é feita no momento. O músico não se sente realizado se não tocar em grupo. Temos conseguido reduzir o número de resistências (que neste sentido também é sinónimo de desistências)18. Dando o instrumento tenta-se ir ao encontro da criança».

Reafirmam que o projeto da Fábrica não é conhecido e precisavam de o analisar para ver o enquadramento.

«Podia haver uma ligação mas já tentaram chegar à escola e não houve abertura. Obviamente se houvesse colaboração de professores seria ótimo. Por ora somos uma banda filarmónica. Seria interessante haver apoio pedagógico. Não abrimos mão da sede por razões de afetividade «é bom que conheçam o pai…».

Calculam que não há enquadramento do projeto com a realidade associativa. Ainda há muito a noção da “quintinha”. Por aqui temos uma norma: «primeiro a escola, depois a escola e só de pois a música».

18

Fábrica da Criatividade de Óbidos: estudo exploratório e perceções sociais

6.2.2. Institucionais

O “programa melhor idade” é a execução do projeto municipal de apoio à terceira idade. Notámos a intervenção dos séniores no Maio Criativo através do programa Ódesign, que integra a rede de galerias e museus. Junto da responsável cessante na direção daquele programa sénior, foi-nos confirmado que “não existe relacionamento com a Fábrica”. Todavia, ocorreu-nos que em janeiro de 2012 participáramos com um coro sénior de um centro social num evento das janeiras no Complexo dos Arcos. De uma outra vez aquando uma visita de investigação (para este estudo) ao referido complexo, lá encontráramos casualmente o mesmo centro. Gerações de avós e netos, tocavam-se para que estes desenhassem o rosto dos antigos. Os três complexos realizaram em simultâneo trabalhos de fotografia com os infantes e séniores. Um diretor administrativo do Centro confirmara-nos (certamente por falta de informação) que…não havia ligação institucional entre estes organismos. No entanto, pelo menos uma vez, três centros do programa melhor idade deslocaram-se ao ateliê criativo do Furadouro onde praticaram

light painting. O atelierista também desconhecia qual o programa original de tão

louvável iniciativa. Reservemo-nos para a conclusão.

Ainda neste contexto sénior e perante a escassez de instituições, arrolámos a Santa Casa da Misericórdia, tradicionalmente filantrópica e socialmente histórica. O seu provedor «tem verificado que na zona oeste o desenvolvimento da criatividade é um assunto importante, particularmente no concelho de Óbidos». Interpreta que «esta estratégia da CMO, visa dar atenção aos artistas, demonstrando imaginação e sensibilidade para as artes». Tem um filho obidense, músico e expressa o seu desapontamento por aposta em recursos exteriores não aproveitando os locais. «Fala-se muito de criatividade», mas não sabe o que está a ser apoiado, logo… «nada sei». Com as instituições, sobre tal tema, «não existe relacionamento». Afirma que no Minho já «existem concelhos que apostam na criatividade» (Guimarães integra a rede das economias criativas). A Misericórdia de Óbidos tem uma creche, (não um jardim de infância, logo, não enquadrável em regime pré escolar) «pelo que a esse nível também não tem que ter relações». Apresentado o organograma da Fábrica para um melhor esclarecimento, questiona quem define os currículos e quem compõe o gabinete de educação. Ouve dizer que o «serviço é polémico e interfere em demais nas salas de aula. Não aposto na comunidade a mandar

Fábrica da Criatividade de Óbidos: estudo exploratório e perceções sociais

na escola. Há obidenses que não concordam com os complexos e põem os filhos nas Caldas». Em final de entrevista, dá nota que a sua instituição foi convidada a participar num programa, olvidável no momento, que integraria a presença de professores da universidade do Minho, não revelando outros pormenores.

Documentos relacionados