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CAPÍTULO III ESTUDO DE CASO: PROJECTO DE TUTORIA SOCIAL

1. a motivação para o voluntariado; 2 os benefícios da intervenção; 3 as representações sobre

3.5.3 As representações sobre a instituição

No geral, a avaliação dos tutores e dos residentes sobre o trabalho desenvolvido pela instituição é positiva. Entretanto, metade dos tutores admitiu não conhecer, com maiores detalhes, o trabalho desenvolvido pela instituição para além do projecto de tutoria. Sabem da existência de outros projectos e iniciativas e acreditam que a instituição oferece oportunidades para que os utentes, em primeiro lugar assistidos como pessoas e não apenas geridos como percentagens (Passos, 2008), possam sair da sua situação de vulnerabilidade.

Neste sentido, é possível observarmos dois grupos de tutores: os que mantém fortes laços com a instituição e os que exercem a sua colaboração fora da mesma. É comum no segundo grupo de tutores que mesmo após a saída do residente do Centro continuem a acompanhá-lo, podendo ou não disponibilizar tempo à instituição para acompanhar um novo residente.

Para os residentes, viver num centro de acolhimento implica por um lado o reconhecimento da sua situação de incapacidade temporária e por outro uma oportunidade de recomeço. Não obstante o bom trabalho desenvolvido, os residentes acreditam que o Centro e o próprio JRS têm uma acção limitada em termos de influência sobre as políticas públicas e os processos de regularização.

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No geral, a imposição de regras e penalidades no não cumprimento dos deveres não é construída como obstáculo, tanto pelos tutores quanto pelos residentes, à construção de espaços de negociação e de liberdade. Giddens refere que “a operação de sanções, ou sanção, é uma característica crónica de todos os encontros sociais, por mais penetrante ou subtil que possa ser o processo mútuo de ajuste na interacção” (Giddens 1979: 87). O equilíbrio entre as duas esferas é o que permite construir boas relações de convivência, gerir as diferenças e desenvolver um trabalho crítico e de qualidade que atenda as diferentes necessidades.

“No Centro as coisas fazem-se de acordo com hierarquias, e com estruturas, e, portanto, existem linhas orientadoras. E aqui, nesse sítio que é único, ao fim ao cabo, que eu conheço assim, tenho ficado bastante satisfeita com o que tenho sentido e até visto. Porque gosto muito de observar as coisas a minha volta. E tenho sentido, tanto por parte dos técnicos, como das outras pessoas que aqui vem, tenho sentido que as pessoas fazem isso, as pessoas estão com verdade para fazer as coisas” (V).

“O T tem uma visão do trabalho dos tutores, do trabalho do JRS, das necessidades dos imigrantes que é muito boa. E acho que essa visão que ele tem, e tudo o que ele está a tentar conseguir, faz uma grande diferença para o JRS em geral. Então, eu não conheço o JRS antes do T, da chegada do T, mas acho que percebo as diferenças e acho que ele faz uma diferença brutal” (J).

“Eu posso dizer que quando me disseram o sítio, eu sou tudo menos racista, mas assustou-me um bocadinho a etnia cigana e o sítio em si, fiquei um bocadinho receosa. Pronto. E posso dizer que venho para aqui como vou para outro sítio qualquer. Estou completamente à vontade. E, especialmente dentro do CPA, eu tenho o melhor a dizer, as pessoas são extremamente bem- educadas, as pessoas preocupam-se em serem simpáticas” (P).

“Porque eu estou aqui no Centro, e como eu disse, existem regras. Então, devido a essas regras, mesmo se a pessoa não tem esse nível de comportamento tão agradável, mas devido à regra, ele tenta endireitar-se. Por isso que hoje aqui no Centro, até por enquanto, está bom. Não tenho muita queixa. A equipa técnica é legal. São pessoas à vontade. Eles não têm racismo, em primeiro lugar, e em segundo lugar, não são pessoas fechadas, são pessoas abertas, conversam connosco à vontade. Então, eu estou sempre à vontade com essas pessoas” (A).

“Parece ser bastante importante e parece que eles fazem um grande trabalho e muito bom. Pelo que vejo que lhes dão imensas oportunidades tanto a nível de emprego, também de voluntariado, penso que eles também é isso que fazem. Tentam também ajuda-los a adaptar-se a vida lá fora” (N).

“Para mim, considero uma actividade boa. É boa. E o JRS está a fazer um trabalho bom, na medida do que é possível, por que é difícil contornar aquilo que é a política pública. Muitas pessoas estão aí no Centro e têm potencialidades, mas o que lhes falta é a documentação, para se

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revelarem e poderem mostrar aquilo que realmente sabem. Bom, como o próprio JRS não tem essa capacidade de inverter a ordem, directamente, está a tentar contornar essa situação de uma outra forma. Eu acredito que podiam fazer mais, o JRS podia fazer mais, mas também têm ameaças. Há factores que o próprio JRS não pode controlar, né?” (B).

“Eu vejo o papel da instituição, do JRS, como um meio para conseguir integrar essas pessoas não só num plano económico ou a nível institucional, como os próprios currículos, análise de currículos, nesta parte prática, não é, mas também numa outra parte mais humana. O trabalho cá é mais institucional. Os profissionais cá também têm que ser. São um pouco mais a parte rígida da instituição, e tem que existir essa parte, tem que existir regras. Para isso funcionar só poderá funcionar através de regras, mas, também, sabemos que estamos a falar das pessoas, de pessoas. E cada caso é um caso, e sinto que da parte da instituição, o utente é visto mesmo como uma pessoa e está tudo a volta dessa pessoa. E temos que arranjar uma solução, não para um número, mas sim para uma pessoa” (C).

“Do pouco que eu conheço acredito que a instituição está a desenvolver um bom trabalho. Pouco vou ao CPA. Penso que a tutoria principalmente se desenvolve fora do CPA; já passam a semana lá. Ao saírem conhecem outras realidades e constroem outro espaço de expressão” (E). “Eles conseguiram trabalho para mim, tratamento de saúde, tenho problema de hipertireóide, meu joelho estava inchado [Emociona-se]. Obrigado Deus e obrigado CPA. Só que Deus que vai pagar. Quando te diz, quando alguém faz por você alguma coisa, tu diz: ‘Deus vai te pagar’. Se é bem, tu fica contente. Mas se é mau tu ficas chateado. Mas eu peço a Deus para pagar eles bem. Porque eles fazem para mim o bem. Eu tenho mesmo problema de doença nos olhos, estava mesmo com os olhos inchados. Eles me encaminharam para os hospitais. Quando eu vou ao hospital, eles vão comigo, fazem tudo comigo, até chegar o dia da operação. Então, eu agradeço muito, eu agradeço muito, eu agradeço muito. Agradeço o JRS e mais ao CPA. Agradeço muito” (O).

“A equipa é toda formidável, a que encontrei cá. É uma equipa já toda diferente, para quem saiu da VITAE e veio para esse Centro já considera que já está num hotel. E já está numa vida boa, isso é para ser realista, não é? Epá ‘Deus, obrigado’. Consegui pelo menos um sítio onde vou ter espaço de reflexão e tenho a minha tranquilidade, pronto, mais ou menos tranquilidade, mas de resto já vai se andando, vai se vendo o que se pode fazer, né? De resto, comecei a reparar que, pronto, vai aparecendo coisas boas. Na medida em que começaram a aparecer actividades de voluntariado, que eu gosto de fazer, né?” (I).

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