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As sanções pelas violações dos direitos assegurados por normas

2.4 A INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS

2.4.2 As sanções pelas violações dos direitos assegurados por normas

A maioria dos instrumentos internacionais não prevê sanções propriamente ditas, quando da violação dos direitos por eles assegurados, mas tão somente formas mais ou menos solenes de censura, por razões que se prendem com a própria especificidade da ordem jurídica internacional. Em geral, esses instrumentos consistem em relatórios148, os quais se “assentam no prestígio dos seus autores e contam com o peso da opinião pública, razão pela qual são acompanhadas, normalmente, de grande publicidade”149.

Em relação às sanções, quando existem, elas podem ser divididas em: administrativas e jurisdicionais. As sanções administrativas se consubstanciam na expulsão ou suspensão dos Estados prevaricadores das organizações internacionais em cujo âmbito se inserem as normas violadas (como está previsto pelo Conselho da Europa no artigo 32 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem). Já as sanções jurisdicionais decorrem da apreciação da ofensa por tribunal e apenas existem em instrumentos de aplicação em âmbito regional (são os casos da Corte Interamericana de Direitos Humanos 150 e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem151)152.

148 Cf. CAUPERS, 1985, p. 197-198. 149 Idem, ibidem, p. 198.

150

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em São José da Costa Rica, é um órgão judicial internacional autônomo do sistema da OEA, criado pela Convenção Americana dos Direitos do Homem, que tem competência de caráter contencioso e consultivo. Trata-se de tribunal composto por sete juízes nacionais dos Estados Membros da OEA, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais (artigo 52 da Convenção Interamericana). Mais informações acessar: <http://www.agu.gov.br/sistemas/site/TemplateImagemTextoThumb.aspx?idCo nteudo=113486&ordenacao=1&id_site=4922>. Acesso em: 04 nov. 2013. 151 O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, sediado em Estrasburgo, foi criado em 1959 pela Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais (1950), a fim de garantir o respeito das obrigações resultantes desta Convenção pelos Estados Contratantes. Qualquer processo submetido ao Tribunal tem obrigatoriamente por base uma queixa introduzida perante outro órgão, a Comissão Europeia dos Direitos do Homem, por um Estado ou por uma pessoa, uma organização não governamental ou um grupo de

Nos instrumentos internacionais relativos aos Direitos Sociais, incluindo os direitos trabalhistas (Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Carta Social Europeia) e por razões relativas à dependência da concretização efetiva destes direitos relativamente ao progresso social e econômico, não preveem sanções, mas apenas recomendações153.

Quanto à OIT, pôde-se constatar, no tópico anterior, que seus mecanismos de controle a respeito do cumprimento dos seus princípios e normas são graduais, múltiplos e complexos. “A imposição de suas medidas reveste significativa repercussão, o que normalmente induz os Estados Membros a corrigir as situações denunciadas, muitas vezes com a mediação da própria OIT”154.

A OIT não tem como objetivo a aplicação de sanções aos Estados Membros que a constituem, mas empreender todos os esforços para obter a efetiva aplicação dos princípios consagrados pela sua Constituição e pelas normas adotadas pela Conferência Internacional do Trabalho. Porém, na prática, os pronunciamentos da Conferência e do Conselho de Administração sobre os casos que são submetidos constituem verdadeiras “sanções morais”155.

A Constituição da OIT não dispõe sobre quais sanções devem ser aplicadas, no caso de algum Estado Membro descumprir as obrigações referentes aos instrumentos internacionais que emite, apenas prevê o seguinte, no seu artigo 33:

Se um Estado-membro não se conformar, no prazo prescrito, com as recomendações eventualmente contidas no relatório da Comissão de Inquérito, ou na decisão da Corte Internacional de Justiça, o Conselho de Administração poderá recomendar à Conferência a adoção de qualquer

pessoas. Mais informações acessar:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/euro/functrib.htm>. Acesso em: 08 set. 2013.

152 Cf. CAUPERS, 1985, p. 198. 153 Idem, ibidem, p. 198.

154 GUNTHER, Luiz Eduardo. A OIT e o direito do trabalho no Brasil. Curitiba: Juruá, 2011. p. 62.

medida que lhe pareça conveniente para assegurar a execução das mesmas recomendações156. No que diz respeito às sanções, o sistema na OIT é muito peculiar, pois não gera efetiva “punição” ao Estado que descumpre as suas obrigações, motivo pelo qual se tem discutido a inserção dos padrões trabalhistas em tratados internacionais, interligando “trabalho” e “capital”, ou seja, impondo esses padrões internacionais, além do âmbito da OIT, ou seja, no âmbito das relações comerciais, através da Organização Mundial do Comércio – OMC. Esse assunto será tratado no decorrer do próximo capítulo.

156Disponível em:

<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/doc/constituic ao_oit_538.pdf>. Acesso em: 26 set. 2013.

3 O DUMPING SOCIAL E A PROTEÇÃO AOS DIREITOS SOCIAIS DOS TRABALHADORES

"Todas as formas de exploração são idênticas, porque elas se aplicam, todas iguais, ao mesmo objeto: o homem." (Jürgen Habermas)

O presente capítulo versa sobre o dumping social e a proteção aos direitos dos trabalhadores. Inicialmente, faz-se um breve histórico sobre a legislação antidumping e a sua regulamentação no Brasil. A seguir, aborda-se o conceito jurídico de dumping e de dumping social. Por fim, traz-se a discussão internacional acerca da cláusula social e dos padrões trabalhistas no âmbito da OMC e da OIT.

O principal objetivo do estudo relativo a este capítulo assenta-se em saber se realmente existe uma preocupação com os direitos dos trabalhadores diante do dumping social, ou se as medidas discutidas não passam de protecionismo disfarçado.