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AS SESSÕES DO CINEDUC: UM BROTAR DE MUNDOS

As Sessões do CINEDUC: um brotar de

mundos

No capítulo anterior, vimos como a experiência do cinema abre novos percursos para a compreensão sobre as bases fundamentais de uma educação fenomenológica, que se ancora na íntima relação entre corpo, cinema e educação. A noção do olhar como um fenômeno de criação de sentidos nos permite compreender que os nossos olhos não são meros acessórios para dar a luz aos nossos pensamentos, mas carregam uma potência expressiva que lança o sujeito de volta ao mundo da percepção, criando novas formas de perceber, de ser e de se relacionar com a realidade.

No presente capítulo, a percepção dos estudantes do ensino médio se configura como o norte para a compreensão de como ocorre a gênese da educação fenomenológica no cinema. Partimos das construções significativas do projeto que surgem por meio das relações fenomenológicas que surgem entre os Protagonistas e as imagens do cinem. Porém, antes de iniciarmos essa jornada, conheceremos de uma maneira mais detalhada onde toda essa trama foi montada, seus atores, autores e todo o roteiro percorrido até a execução do projeto.

CINEDUC: origem do Projeto e os seus Protagonistas

O projeto CINEDUC teve Inicio em 2017, tendo como protagonistas os estudantes do ensino básico de escolas públicas do Rio Grande do Norte. A ideia central da elaboração do projeto se deu junto aos meus alunos, durante as aulas de Educação Física no ensino médio da rede pública estadual do Rio Grande do Norte. Após o término do mestrado, inicio então a apresentar a relação entre o corpo, o cinema e a cultura de movimento em minhas aulas, o que rendeu muitos diálogos,

curiosidades, questionamentos sobre como seria possível trabalhar o cinema na Educação Física, tema em que elaborei minha dissertação, e na qual já vinha desenvolvendo outros trabalhos juntamente com outros pesquisadores do Grupo de Pesquisa Estesia – Corpo, fenomenologia e movimento. Partindo desses diálogos, expresso na ansiedade de levar aos estudantes todas as descobertas durante o mestrado sobre os temas que envolvem o corpo e o cinema, nasceu uma nova inquietação: compreender como o cinema transfigura o mundo dos sujeitos por meio da educação fenomenológica. Assim, para caminhar ao meu lado nessa grande jornada que une o corpo, a poesia e a educação, não encontrei outro percurso senão ao lado daqueles que foram os maiores responsáveis por todas as minhas excitações acerca dessa temática, os estudantes do ensino médio da Escola Estadual Régulo Tinôco.

A Escola Estadual Desembargador Régulo Tinôco atende a clientela do Ensino Fundamental II, Ensino Médio e o Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Com um total de mais de 1400 alunos, a escola conta com um espaço amplo e bem organizado, sendo recentemente reformado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Embora ela esteja localizada numa das áreas mais nobres da cidade de Natal, a maioria dos estudantes são moradores de um bairro periférico famoso por ser um dos mais perigosos da capital, o Planalto.

Segundo o jornal Tribuna do Norte (2017), os dados da Secretaria de Segurança pública do Rio Grande do Norte afirmam que o bairro Planalto em 2017 - ano quando iniciamos o projeto CINEDUC - era considerado um dos cinco bairros mais perigosos da capital, com um número elevado de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs). Muitos desses crimes estão relacionados diretamente com o narcotráfico, sendo fortalecido por diversos problemas sociais, tendo dentre eles o

elevado número de evasão escolar dos jovens.

Mesmo vivendo à margem da criminalidade, esses jovens, na sua grande maioria, convivem de maneira harmoniosa no interior da escola, uma vez que é muito raro ocorrer episódios de violência entre eles. Entretanto, a utilização de drogas no interior da escola se tornou um problema corriqueiro, o que por vezes ocasionou na intervenção direta da polícia, inclusive com a condução coercitiva de alguns para a delegacia. Durante esse ano, a direção achou por bem assinar a transferência de alguns estudantes, por compreender que a situação era de fato grave, principalmente após descobrir a existência de tráfico de entorpecentes no interior da escola.

Além desses problemas anteriormente citados, muitos outros também são visíveis aos nossos olhos. Não é muito difícil encontrarmos nos corredores uma jovem grávida, ou grupos --de estudantes que ficam na frente da escola consumindo álcool e outras drogas, até resolverem entrar na sala de aula, muitas vezes com o comportamento completamente alterado; outro problema muito comum que existe na escola são os elevados casos de atestados médicos, que justificam as muitas ausências na sala de aula devido a transtornos mentais, tais como depressão, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, dentre outros.

Outro pronto problemático para a escola e para a maioria dos estudantes foi o transporte escolar. De 2016 para o presente ano, houve - e ainda há - muitos problemas com esses transportes, e vários alunos ficaram sem condições de frequentar as aulas, pois muitos não tem condições financeiras para pagar o transporte público. Nesse ano, o Governo disponibilizou apenas um ônibus para atender uma demanda elevada de alunos, o que atrasa toda organização escolar, pois além do mesmo ônibus ter que fazer várias viagens entre a escola e a comunidade, muitos alunos já chegam estressados por perder as primeiras aulas e pelo ônibus

lotado, fatores que atrapalham significativamente a aprendizagem dos jovens estudantes.

A realização do CINEDUC só foi possível pelo apoio da gestão escolar e pela colaboração de outros professores que se dispuseram a acompanhar os estudantes até o local de sua realização, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Todavia, a ajuda do Governo em ceder os ônibus para que os estudantes pudessem participar das sessões de cinema era imprescindível, pelo fato de nem todos terem condições para tal. Mesmo com todo o empenho da direção escolar e de outros parceiros da instituição escolar, o projeto tem seu inicio marcado pela ausência dos transportes, sob o argumento dos responsáveis do setor de que muitos estariam quebrados, e os que estariam funcionando seriam usados para coisas mais importantes. Mesmo com o desprezo atribuído ao projeto por parte do Governo, o CINEDUC dá o seu pontapé inicial.

A possibilidade de estreia do projeto CINEDUC se deu pela presença, inicialmente, de 20 estudantes, que demonstraram um interesse prévio em participar, mesmo sem o auxílio do transporte. Foi graças a esses estudantes que o projeto começa a se popularizar na escola; foi por meio de seus relatos que o projeto CINEDUC deixou de ser um instante incerto para a pesquisa, para se tornar uma realidade.

A par de alguns resultados iniciais, a gestão escolar se empenhou bastante para que o projeto CINEDUC pudesse continuar vivo, inclusive disponibilizando outros professores para dar assistência ao projeto. Por diversas vezes membros da equipe escolar fizeram o pedido dos transportes transportes, , ou por requerimento documental, ou mesmo indo diretamente dialogar com os responsáveis do setor, relatando a importância de um projeto que abre espaço para o debate de tantos

problemas vivenciados pelos adolescentes, sobretudo no interior escolar. A partir de então, já na segunda sessão, o número de estudantes que participaram do projeto quase duplicou.

Com o aumento da adesão dos adolescentes ao CINEDUC, as sessões passaram a ter uma maior dinamicidade dos participantes ao longo no projeto. Em média, o projeto contou com a participação de 50 adolescentes por sessão, tendo o maior número de participantes durante o filme Minding The Gap, com 77 Protagonistas, quando a secretaria estadual disponibilizou dois ônibus para a escola. Com o crescimento do número dos participantes, as participações dos jovens cresceram quantitativamente e qualitativamente, de modo que os, comentários, trocas de reflexões ao longo dos diálogos oportunizaram espaços ricos de partilha de sensações, informações, dúvidas, conflitos.

Nessa confluência de sentimentos e emoções que passa a permeiar de maneira mais intensa com a maior participação dos adolescentes, houve a participação de psicólogos, Raianne Mançonaro e Robério Maia, que foi de suma importância durante os momentos de maiores tensões no projeto. Um choro incontido, discussões polêmicas, comentários com forte cunho emotivo tiveram sempre o amparo sensível desses profissionais, que também fazem parte do Grupo de Pesquisa Estesia e estiveram a disposição dos participantes em todos os momentos do projeto; o CINEDUC contou com a ajuda substancial de outros membros de pesauisa do Estesia, como a professora de Educação Física Cláudia Fernandes, as bolsistas de Iniciação Científica Jullya Beatriz e Camila Campelo. Além destes, também participaram do projeto vários professores da escola Régulo Tinôco, sempre solícitos a ajudar em outros momentos que poderíamos chamar de bastidores

A dimensão educativa do que chamamos de educação não-escolar já se inicia com a chegada dos estudantes ao departamento de Educação Física. As diferentes intenções dos estudantes de se fazerem ali presentes é revelada ainda no hall do prédio, percebidas nas trocas de comentários sobre as sessões que já participaram, sobre o que espera da nova sessão, ou mesmo no aguardo da tão comentada hora do lanche para poder continuar a discussão.

Imagem 2 – Protagonistas do CINEDUC durante a sessão do filme Minding The Gap, no auditório VER - UFRN 2019

Fonte: autor, 2019.

A expressividade dos corpos jovens que se movem preenchendo o corredor do departamento de sorrisos, ou mesmo no apressar dos passos para encontrar um lugar privilegiado na sala para assistir ao filme, já nos deixa entrever o desejo em querer partilhar da experiência proposta pelo projeto.A experiência de estar em um ambiente

universitário parece revelar um certo espanto. Ao mesmo tempo, o desejo de conhecer o que ocorre por entre todas aquelas paredes, por outros espaços do Campus, expressos muitas vezes no olhar curioso de alguns, ou nas muitas perguntas recebidas de outros, dão-me a impressão de que se sentem importantes e fascinados em poder compartilhar um espaço que, como vimos nas discussões em alguns dos filmes, parece não se encaixar na realidade vivida desses jovens. Do mesmo modo, a experiência de assistir a um filme numa sala de cinema também não.

Imagem 3 – alunos atentos a fala da Psicóloga, Imagem 4 – Participação da psicóloga pesquisadora do Grupo Estesia do Grupo de pesquisa Estesia

Fonte: autor, 2019. Fonte: autor, 2019.

A expressividade dos corpos jovens que se movem preenchendo o corredor do departamento de sorrisos, ou mesmo no apressar dos passos para encontrar um lugar privilegiado na sala para assistir ao filme, já nos deixa entrever o desejo em querer partilhar da experiência proposta pelo projeto.A experiência de estar em um ambiente universitário parece revelar um certo espanto. Ao mesmo tempo, o desejo de conhecer o que ocorre por entre todas aquelas paredes, por outros espaços do Campus, expressos muitas vezes no olhar curioso de alguns, ou nas muitas perguntas recebidas de outros, dão-me a impressão de que se sentem importantes e fascinados

em poder compartilhar um espaço que, como vimos nas discussões em alguns dos filmes, parece não se encaixar na realidade vivida desses jovens. Do mesmo modo, a experiência de assistir a um filme numa sala de cinema também não.

Imagem 5 – Lanche coletivo, após a Imagem 6 – Lanche coletivo do sessão de filme do CINEDUC CINEDUC

Fonte: autor, 2018. Fonte: autor, 2018.

Partindo, a priori, do que dizem as fichas de análise sobre os filmes como um elemento norteador para contribuir com a noção de como surge uma educação fenomenológica a partir do cinema, apresentamos agora o que nossos jovens protagonistas revelaram de sentido sobre essenoção, atentando-se para os elementos referentes aos temas do Olhar e do Ver.

A experiência do olhar e do ver dos Protagonistas do CINEDUC

Nesse translado que aqui se abre, o olhar e o ver se configuraram como personagens principais para a elaboração dessa trama. E agora, o que o exercício do olhar e do ver as imagens por parte dos jovens Protagonistas do CINEDUC nos

oportunizam a pensar sobre a tese de que o cinema contribui para a criação de uma educação fenomenológica, a partir de seus olhares lançados às imagens dos filmes apresentados no projeto?

Ao realizar sua crítica sobre a Dioptrica Cartesiana, Merleau-Ponty (2004) evidencia uma espécie de um breviário do pensamento sem muito intento de frequentar o visível, sendo mais fácil reconstituí-lo por um modelo causal, do qual seria capaz de encontrar a verdade do mundo. Nesse sentido, a semelhança de um objeto visto numa pintura, ou mesmo num filme, pertence propriamente ao pensamento daquilo que foi visto. A visão em seu ato nada mais representa do que a própria representação de algo percebido no mundo. A percepção, por fim, não apresenta o objeto percebido, mas serve ao pensamento como um mecanismo inferior, de tal modo que a semelhança da coisa percebida só teria sentido no interior de um sujeito destacado do mundo.

Merleau-Ponty (2004) afirma que a nossa visão nasce por ocasião do que acontece no corpo. Aqui, o ver é mais do que simplesmente o abrir das janelas da exterioridade para que o pensar possa julgar o que deve ser compreendido como fiel a realidade ou não; a visão é o próprio caminho de excitação para que a visibilidade corra para além do fenômeno visto, e a raiz desse acontecimento é uma visão promíscua que tem acesso ao ser pelo percurso direto expresso da sensorialidade do corpo. Isso equivale a dizer que a nossa visão não celebra outra coisa senão o seu poder de nos colocar a enxergar o mundo segundo os dados de nossa percepção, ou, nas proprias palavras do filósofo sobre o corpo, isso equivale a dizer que

Ele não é cego de si, ele radia de um si... O enigma consiste em meu corpo ser ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que olha todas as

coisas, pode também se olhar, e reconhecer no que vê então o “outro lado” de seu poder vidente. Ele se vê vidente, ele se toca tocante, é visível e sensível para si mesmo. É um si, não por transparência, como o pensamento, que só pensa seja o que for assimilando-o, constituindo-o, transformando-o em pensamento – mas um si por confusão, por narcisismo, inerência daquele que vê ao que ele vê, daquele que toca ao que ele toca, do senciente ao sentido – um si que é tomado portanto entre as coisas, que tem uma face e um dorso, um passado e um futuro... (MERLEAU-PONTY, 2004b, p. 16-17).

Aquilo que vejo não é simplesmente algo reduzido por um ato representativo do meu espírito. Nossa visão se cumpre nas coisas, e o nosso corpo, ao mesmo tempo vidente e visível para ele mesmo, anexa-se a elas, de modo que elas nos habitam como se a nós fizessem parte, como se a nós compartilhasse juntos essa experiência do mundo que nos permite ver a vida em sua gênese. Eu não preciso pensar para ver, ”basta eu olhar para uma coisa para saber dela juntar-me e atingí-la” (MERLEAU- PONTY, 2004b, p.16).

O fato da visão não se reduzir a um idealismo absoluto já impossibilita a interpretação de compreender a experiência do cinema como um fenômeno simplesmente racionalizável, fora do mundo, como pretenderia uma interpretação cartesiana. As imagens móveis do cinema apresentam uma semelhança com o mundo pelo fato de estarem imersas em nossa experiência; não são puros decalques da realidade, e se elas, por ventura, assemelham-se a nós é pelo fato de estarem incrustradas em nossa existência corporal.

Em muitos comentários dos jovens protagonistas podemos entrever como o conjunto entre o corpo e a imagem nos oferece a compreensão de como afetamos e somos afetados pelas imagens de diferentes maneiras. Em alguns comentários a

cordialidade entre o corpo e as imagens fica no plano da percepção das coisas vistas no mundo, em outros num corpo que se vê pelas lentes do mundo. No primeiro caso, os adolescentes revelam aquilo que as imagens afetaram a pensar em seu entorno; no segundo, foi descrito por alguns aquilo que nas imagens fizeram ampliar sua percepção sobre suas próprias experiências.

Para ampliar essa discussão, alguns momentos do projeto expõem de maneira significativa essas questões. Alguns relatos sobre dos adolescentes que apontam como o olhar tanto afeta como também pode ser afetado pelas imagens cinematográficas.

Durante as discussões dos filmes, a medida que novas sessões iam acontecendo, percebemos um maior envolvimento por parte dos adolescentes. Eles pareciam se familiarizar mais com o novo espaço, participando de uma maneira mais ativa, procurando meios de procurar comunicar aquilo que viam na tela aos outros, como uma criança que ainda não possui os meios para proferir de maneira exata uma palavra de sua língua falada, mas conhece os meios para interagir e expressar ao outro aquilo que deseja. Tal fato pode ser resumido na última fala da nossa primeira sessão: “gostei muito, mas não sei ainda me expressar muito” (PROTAGONISTA [M] 3, sessão do filme Juno, 2017).

Coincidentemente, ou não, foram nas primeiras sessões que muitos relatos de dúvidas, exitações sobre o que alguns deles viam, surgiram. Essas imprecisões do que viam quase sempre eram seguidos por perguntas, ou mesmo se desenvolviam por uma fala titubeante, denunciada também pela conduta, pela voz e pelas próprias expressões faciais. Embora isso pudesse significar, num primeiro golpe, que tais incertezas se resumiam ao fato de suas sensações dispor barreiras para o campo da visão, e, ao mesmo instante, para a elaboração de seus comentários, identificamos

nos olhares dos nossos estudantes justamente o contrário.

Na sessão do filme As Vantagens de Ser Invisível (2012), as dúvidas dos jovens evidenciaram como a dimensão simbólica do olhar permeia de uma maneira muito particular as imagens fílmicas, e por elas o nosso olhar parece também ser afetado. Numa das cenas mais emblemáticas do filme, em que envolve fusões entre o presente e o passado traumático do jovem protagonista, as diferentes percepções parecem preencher, fazer parte da imagem na tentativa de compor uma ausência, uma falta. Tal fato pode ser ratificado, a partir dos seguintes comentários:

Quando eu cheguei, já havia iniciado o filme, mas estávamos falando aqui, que eu não havia percebido, que a tia dele tinha feito algo... Eu achei que ele só estava lembrando da tia dele, que a tia dele estava colocando a mão na coxa dele, e eu achei que era só um gesto de carinho (PROTAGONISTA [F]10, As vantagens de Ser Invisível, 2012).

Da primeira vez eu também pensava isso, só que vendo agora eu tenho a certeza de que ela estuprou ele, quando ele era menor, ou assediou, sei lá, alguma coisa desse tipo. Porque o filme não mostra a cena explícita (PROTAGONISTA [F] 2, As Vantagens de Ser Invisível, 2012).

A cena em questão se refere ao momento em que a garota por quem o

protagonista é apaixonado toca em sua perna, antes de beija-lo. No mesmo instante,

aquele gesto retoma ao garoto uma experiência complexa do passado, o toque de sua

tia, que dias após ao ato sofre um acidente fatal. Nos dois comentários expressos

provavelmente pelo o que acontecera antes, uma vez que não acompanhou o filme

do início; no segundo, a dúvida se converte em certeza, tendo como referência a

primeira apreciação passada, com a atual, no presente momento. A dúvida de um

serve, também, de base para a certeza do outro. Experiências diferentes que partem

do simbólico expresso no contato do olhar com a cena para então se comunicarem.

De fato, ainda sobre a cena em questão, o diretor não tem a intencionalidade

de apresentar maiores detalhes de uma maneira aberta sobre o que realmente

aconteceu, deixando uma lacuna, um espaço a ser preenchido. Entretanto, esse

silêncio que, embora não esteja explicito por palavras, encontra-se expresso nos

gestos, na fisionomia do personagem, na sua vertigem que surge nesse entrelaçar de

sua temporalidade vivida. Assim, o simbólico expresso pelo olhar dos Protagonistas

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