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As temáticas recorrentes na obra siloniana

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 39-53)

Após nosso passeio pela produção literária e cultural de Silone, iremos nos deter nos principais motivos que orientam a sua pena, aqueles que emergem e retornam com freqüência em suas obras. Achamos oportuno sublinhar, mais uma vez, que Silone se sente visceralmente ligado a sua gente, ou seja, aos cafoni50 de sua região. Ele sabe muito bem que esse termo, para o seu povo, é motivo de ofensa e de escárnio, mas, no Prefácio da Fontamara, ele explica o porquê:

Io so bene che il nome di cafone, nel linguaggio corrente di mio paese, sia della campagna che della città, è ora termine di offesa e dileggio; ma io l’adopero in questo libro nella certezza che quando nel mio paese il dolore non sara più vergogna, esso diventerà nome di rispetto, e forse anche di onore51.

O forte sentimento de ligação do escritor à sua terra não é apenas motivo de orgulho, mas algo bem enraizado na sua pessoa. Portanto, para o nosso autor, narrar a história vivenciada pelos cafoni - envolver-se com o destino deles - significa trazer ao conhecimento público as lutas dessas pessoas pela sobrevivência e, principalmente, fazer uma denúncia das endêmicas condições de pobreza a que estão sujeitos.

49ANNONI, Carlo. 1985, p. 77.

50 No italiano o termo ‘cafone’ tem um significado pejorativo. Silone o usa como homenagem ao homem

do campo e como respeito por sua condição na esperança que esta palavra perca sua conotação negativa.

Silone mostra como esses humildes camponeses efetivavam suas vidas na luta travada com a terra e o tempo, tal como podemos observar nessa descrição em

Vino e pane: [...] Li vedeva risalire la valle stancamente, cenciosi e affamati, nella loro mossa tipica, protesa in avanti, derivante dall’uso della zappa, dall’uso della soggezione, dall’uso dell’ininterrotta servitù52.

Os camponeses retratados nos romances de Silone são enganados pelas autoridades, tratados como objeto, usados pelo poder público. Eles acreditavam ser livres, mas são usados, como é possível verificar em Fontamara, no episódio do transporte dos camponeses para Avezzano, a fim de participar de uma manifestação fascista. Eles funcionavam, nesse contexto, apenas como enfeite de um cerimonial político que sancionava a permanência da injustiça53.

O escritor, todavia, entende que precisa narrar também pequenos acontecimentos corriqueiros, para ilustrar e justificar a postura das pessoas em relação à vida e ao convívio na sociedade.

Sono nato e cresciuto in un comune rurale dell’Abruzzo, in un’epoca in cui il fenomeno che più m’impressionò, [...], era un contrasto stridente, incomprensibile, quasi assurdo, tra la vita privata e familiare ch’era, o almeno così appariva, prevalentemente morigerata e onesta, e i rapporti sociali, assai spesso rozzi, odiosi, falsi54.

Parece-nos importante também focalizar com cuidado o tecido social, como nos ensina o escritor em Uscita di sicurezza:

Badare ai fatti propri, era la condizione fondamentale del vivere onesto e tranquillo, che ci veniva ribadita in ogni occasione. L’insegnamento della Chiesa lo confermava. Le virtù raccomandate concernevano esclusivamente la vita intima e familiare55.

O escritor muitas vezes critica a postura passiva de seus conterrâneos, que imobilizava as pessoas e não lhes permitia assumir posições em relação aos acontecimentos sociais. 52. SILONE, Ignazio 2004, p.127. 53 Idem. 2006, p. 96-110. 54 Idem. 2001, p. 56. 55 Ibidem, p. 57.

Tal procedimento estava bem enraizado tanto nos pobres quanto nos mais abastados, a idéia de que - como afirma Cristina, uma jovem personagem retratada em Vino e pane - as desigualdades sociais sono anch’esse create da Dio e dobbiamo

umilmente rispettarle56.

A religião, muitas vezes, reforçava esse pensamento e recalcava a necessidade da submissão dos camponeses às autoridades civis e eclesiásticas. Essas, por sua vez, prezavam as vantagens e benefícios advindos de seus compromissos com as autoridades.

Dessa forma, é possível recuperar a visão que o povo tinha de Deus - um ser distante, embora presenciasse e soubesse sempre de tudo. Deus era visto como aliado e parceiro dos ricos e poderosos. Toda a revolta dos camponeses, então, era contra os santos que eles ofendiam - mannaggiano i santi sempre con le stesse rozze

parolacce57, ou com blasfêmias que, embora não trouxessem a desejada solução,

danno un certo sollievo58.

O fatalismo e o espírito de resignação são outras duas importantes decorrências do sentimento religioso. Os camponeses aceitavam, com um certo fatalismo e resignação, os eventos naturais - como terremotos, secas ou temporais. Até as injustiças e as doenças eram tidas como conseqüências naturais. Essaatitude fica clara nas palavras do carroceiro Magascià, personagem de Vino e pane, quando afirma que Le cose vanno per conto loro. Come l’acqua del fiume. A che serve

capire?59. Essa percepção dos fatos e dos acontecimentos sociais, como algo que não pode ser mudado, constitui a grande dificuldade para a transformação da sociedade.

Os heróis dos romances silonianos, após um longo e sofrido processo de conscientização, lutam e se empenham para extirpar e modificar essa postura em relação à vida e à sociedade.

A escrita crítica de Silone que tem como fundo social o solo abrucês, em plena ditadura fascista, não é uma simples narração, fechada em si própria, tampouco tem como único objetivo a denuncia da pobreza e da injustiça. A narrativa siloniana deve ser entendida como uma reafirmação da proposta de possibilidade de construção de uma sociedade justa e igual para todos. Posição reafirmada em Uscita 56 SILONE, Ignazio. 2004, p.116. 57 Idem. 2006, p.11. 58 Idem. 2001, p. 61. 59 Idem. 2004, p. 214.

di Sicurezza, quando é possível compreender seu sentimento moral e a busca da

justiça que o instiga a escrever.

Nos seus romances e, principalmente, nas páginas de Vino e pane - nossa obra de estudo - encontramos também o projeto de um socialismo com base nos princípios do Evangelho. Esseé um aspecto retomado, tanto em Il seme sotto la neve, quanto em L’avventura d’un povero cristiano, na proposta de vida fraterna e de partilha de Pietro Spina e seus companheiros, bem como na comunidade de Pietro da Morrone e seus eremitas.

Outro aspecto que merece destaque nos escritos silonianos é a perspectiva de uma tensão intelectual, como tentativa de penetrar no significado da história. Nesse caso, trata-se de uma visão que pode ser definida como humanismo, voltado à promoção do ser humano como um todo, uma tentativa de fazer confluir, nos valores que os ligam, o socialismo e o cristianismo.

Ainda na opinião de Salvatore Di Pasqua e Sebastiano Martelli60, podemos afirmar que as circunstâncias de vida do autor o levaram a viver três experiências essenciais: a pobreza, o comunismo e a religião, de uma maneira tão forte que inviabiliza a separação desses elementos na vida e na arte.

Tal atitude nos permite recuperar os temas da libertação, da regeneração que vem da ação do povo, presenças freqüentes nos romances silonianos. De fato, tanto em Vino e pane, quanto em Fontamara, Pietro e Berardo, embora de maneira diferente, procuram despertar os jovens e os camponeses para uma postura de reivindicação de seus próprios direitos contra os poderosos e as autoridades que os oprimem.

Reconhecemos, também, que um dos aspectos que aparecem em Silone é a distância cultural entre cidadãos e cafoni. Essapode ser comprovada, inclusive, no discurso lingüístico. Em Fontamara, num diálogo entre autoridades e camponeses, uma das personagens, depois de repetidas perguntas, assim se expressa: Parliamo e

non ci capiamo. Parliamo la stessa lingua, ma non parliamo la stessa lingua. Questo è vero e chi non lo sa? Un cittadino e un cafone difficilmente possono capirsi.[...] cittadini e cafoni sono due cose differenti61.

Aparecem, assim, dois mundos distantes, onde a língua se torna elemento que dificulta a comunicação. De fato a fala dos camponeses é fechada no dialeto,

60

MARTELLI, Sebastiano; DI PASQUA, Salvatore. 1988, p. 105.

intercalada por provérbios e lendas. O uso repetido destes dois recursos da língua determina as escolhas a serem feitas e as verdades duradouras. Por outro lado, a língua dos notáveis e dos homens da cidade se afasta cada vez mais do mundo dos camponeses dos vilarejos.

Portanto, devemos destacar como um tema original dos textos silonianos, a importância do signo verbal. A palavra é um valor que o escritor preza, acima de tudo, principalmente na hora de colocá-la na fala dos seus personagens.

Giuliana Rigobello62 sublinha a polifonia existente nas obras silonianas, nas quais podemos encontrar uma linguagem inflada e cheia de retórica, típica do fascismo; uma linguagem abstrata própria do comunismo e a linguagem rude, clara e concreta dos camponeses que chamam as coisas com seu próprio nome.

No entanto, a intenção do nosso escritor é articular a clareza da fala de seus conterrâneos. Ele pretendia tecer sua história com uma narrativa clara, valendo- se da maneira de contar aprendida desde sua infância. Nossa justificativa se fundamenta na afirmação de Walter Benjamin a propósito da relação entre narrativa e narrador. “[...] se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso” 63. A narrativa é modelada pela pena do escritor, embora essa mantenha sua própria autonomia.

Em Uscita di sicurezza, Silone, demonstrando sua contrariedade acerca de uma leitura circunscrita aos aspectos sociológicos e políticos de seus escritos, assim explica o motivo da escolha dos sujeitos de sua narrativa:

La sola realtà che veramente mi ha sempre interessato è la condizione dell’uomo nell’ingranaggio del mondo attuale, in qualunque sua latitudine e meridiano. [...] Se i miei personaggi sono più sovente contadini poveri, intellettuali e preti inquieti, burocrati di opposti apparati e se si muovono in un paesaggio arido, ciò non accade per la mia predilezione di un certo colore locale. Questa è la realtà che meglio conosco, la porto, per così dire, in me stesso, e in essa la condizione umana del nostro tempo mi appare più spoglia, quasi a nudo64.

62 RIGOBELLO, Giuliana. Ignazio Silone. Introduzione e guida allo studio dell’opera siloniana. Storia e

Antologia della critica. 1981, p. 157.

63 BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas, Magia e técnica, Arte e política. São Paulo: Ed. Brasiliense,

1996, p. 205.

Dessa maneira, concordamos com as opiniões de Martelli e Di Pasqua65, que embora a narrativa siloniana se alimente da realidade dos fatos narrados, estes se transformam em mito, pois o narrador conduz o leitor a um nível de leitura mais profundo, a um plano anagógico. Assim sendo, o romance se torna alegoria da vida, momento reflexivo sobre os fatos julgados como emblemáticos, que, retratados pela narrativa, podem se tornar um benefício moral para o leitor.

No retrato do mundo siloniano não se pode prescindir da presença da religião, como foi destacado em itens anteriores, por ser uma componente essencial, profundamente radicada na vivência das pessoas e no universo cultural abrucês.

A temática da religiosidade assume vital importância na produção de Silone e por isso há de se constituir um capítulo a parte de nossa pesquisa.

CAPÍTULO 2

O ROMANCE VINO E PANE: RETRATOS, PAISAGENS E TRADIÇÕES DO UNIVERSO ABRUCÊS

2.1 Retratos, paisagens e tradições na terra do Abruzzo

Na confecção da história de Vino e pane, Ignazio Silone coloca diferentes personagens, diversas paisagens, dos vales e das montanhas do Abruzzo, detalhando costumes e tradições que, num conjunto harmonioso, compõem o corpo dessa narrativa.

O escritor inicia o romance com o velho padre Don Benedetto, que aguarda ansiosamente notícias de Pietro Spina, e termina com Cristina indo atrás de Pietro, que havia fugido pelas montanhas nevadas. Entre o início da espera ansiosa, repleta de curiosidade, e um final incerto e trágico, se desenvolve toda a história do protagonista, numa paisagem monótona, que é interrompida, de vez em quando, por algum acontecimento marcante.

A fábula desse romance é ambientada, sobretudo, num pequeno vilarejo da Itália meridional e retrata o comportamento social dessa comunidade em pleno período do regime fascista. Toda a história se desenvolve ao redor de Pietro Spina, e através dele são retomados fragmentos e traços que podem lembrar a personalidade do escritor.

Para o estudo dessa obra nos apoiaremos nas teorias do teórico Mikhail Bakhtin, que analisa questões referentes ao romance como gênero literário moderno. De fato, o romance nasce como um texto híbrido pela presença, em seu contexto, de fábulas, lendas e provérbios. Portanto, desse encontro entre a cultura oficial e os elementos da cultura popular surge à narrativa do romance que retrata a inserção do homem na história, tornando-o construtor de seu destino.

Nesse sentido, nos ajudam as afirmações de Martelli e Di Pasqua66 quando sustentam que na linguagem siloniana confluem diversos registros e códigos bem como: realístico, mimético, popular, fabular, anedótico, alegórico e anagógico. A coexistência desses elementos permite observar que a ação narrativa supera o

dado puramente histórico e pode transformar-se no espaço onde se explica o encontro de uma consciência que interroga uma outra consciência.

A pluralidade de personagens, muitas vezes sem nome, – mulheres, crianças, rapazes, pastores, carroceiros–, que povoam as cenas, são confrontados a outros, chamados pelo nome e cujos papéis marcam as passagens do romance e seu desenvolvimento. A descrição que o escritor faz dessas personagens nos permite identificá-las em um harmônico conjunto formado por elementos da paisagem, das tradições e dos papéis sociais.

Entendemos que seja importante citar para este trabalho a narração do rito da produção do pão, que era feito em casa para satisfazer as necessidades de cada família:

La panificazione era un rito con regole severe. La donna teneva avvolti i capelli con un tovagliolo, come un velo monacale, e passava la farina al setaccio, nella madia aperta. Separava cosí la farina bianca dalla crusca e il fiore dalla farina ordinaria. La crusca serviva per le galline e il maiale, la farina ordinaria per il pane, il fiore per la pasta. La donna aveva la faccia e le mani incipriate dal polverio della farina che si sollevava dal movimento ritmico del setaccio67.

O Abruzzo das montanhas e dos vales, retratado na narrativa de Vino e

pane, aparece nas descrições de paisagens desoladas, mostrando, assim, a pobreza e

a precariedade da vida das pessoas que ali viviam.

Tra le rocce, negli avvallamenti composti dai detriti delle alluvioni, si vedevano campicelli coltivati, poderetti che non si miruravano a ettari, ma a canne e a coppe. Sulle pendici della montagna si vedevano altri di quei minuscoli campicelli, appiccicati come cerotti. (...) I fianchi della valle apparivano sempre più corrosi, screpolati e poveri di vegetazione68.

Os animais que povoam a paisagem roubavam, entre as pedras, a escassa vegetação que conseguia brotar da terra seca: Tra le rocce un branco di capre

brucavano a uno a uno i pochi fili d’erba nuova69.

67 SILONE, Ignazio. 2004, p.248. 68

Ibidem, p.70.

A relação entre homem e animal era muito estreita e estes participavam das mesmas situações e condições de seus donos. Assim, Silone nos conta, entre o irônico e o ridículo, o batizado de um burro na praça do povoado.

Nello spiazzo tra la locanda e il ponte di Pietrasecca, sotto la finestra di don Paolo ebbe luogo una domenica mattina il battesimo di un giovane asino comprato all’ultima fiera. Un giovanotto teneva l’asino per la cavezza e un vecchio contadino lo batteva con una stanga di legno. Dopo ogni colpo i due uomini gridavano alle orecchie della bestia: - Garibaldi.

Garibaldi era il nome scelto per l’asino. Nella mente dei cafoni voleva dire forza e coraggio. Il battesimo si protrasse per le lunghe, perché, naturalmente ce ne volle prima che l’asino si persuadesse di essere Garibaldi70.

Neste trecho que acabamos de citar podemos observar como os elementos culturais, tradicionais e religiosos se estendiam, não apenas às pessoas, mas também aos animais, companheiros no trabalho e na dura luta pela sobrevivência. Acrescentamos que batizar um burro não significava apenas dar um nome ao animal, mas elevá-lo a um nível mais próximo ao plano humano.

Pietrasecca, o vilarejo escolhido a fim de que Pietro Spina/Don Paolo Spada se curasse, nos é retratado pelo olhar dessa personagem, que, da janela da pensão de Matalena, assim observa a vida dos moradores do povoado. Os dias dos

cafoni seguiam sempre no mesmo ritmo, como um rito repetido há muito tempo e

por muitas gerações:

Era una vita rudimentale. Al mattino passava alla locanda una certa Chiarina con una capra. Matalena prendeva la scodella e mungeva la capra, fino all’ultima goccia di latte. Era l’ora in cui gli uomini erano già partiti e le donne si spicciavano i capelli alla finestra o fuori della porta, affinché gli insetti non entrassero in casa. Verso mezzogiorno arrivava alla locanda una certa Filomena Sapone, con un bambino in braccio e la lattuga del suo orto. Si sedeva sulla soglia della locanda, apriva il busto e ne sortiva i seni; il marmocchio non si faceva pregare71.

Esse cenário aldeão, marcado pela rotina e a repetição, era interrompido pelas crianças que, com seus gritos e brincadeiras, animavam as ruas e as praças dando vida a uma paisagem monótona e imutável:

70

SILONE, Ignazio. 2004, p.74.

I ragazzi del villaggio costituivano, in un certo senso, una comunità a parte, con proprie leggi, propri riti e un proprio dialetto. Tra essi vi erano i primati nel tiro del sasso, nel salto del torrente, nella rincorsa delle lucertole, nell’orinare a distanza contro vento. Le madri gridavano dalla mattina alla sera dietro i loro figli. L’aria risuonava spesso delle maledizioni più terribili, alle quali però nessuno faceva caso, tanto erano frequenti72.

Nesse cenário, identificamos também o espaço do elemento religioso, profundamente enraizado na cultura abrucesa e no coração das pessoas, transformando-se, outrossim, em um aspecto importante da paisagem. Assim, o carroceiro Magascià explica para Pietro o motivo da presença de uma capelinha construída ao lado da estrada que de Fossa dei Marsi levava e Pietrasecca.

È una cappella consacrata alla Madonna delle Rose, ricorda un antico miracolo. In quell’anno, nel mese di gennaio, si videro fiorire le rose, maturare le ciliegie, figliare le pecore. Invece di rallegrarsi, naturalmente la gente cominciò ad avere paura. Tutte quessegentilezze non annunziavano per caso qualche grande sciagura? Infatti d’estate arrivò il colera73.

O sentimento religioso dos camponeses oscilava sempre entre o medo, o respeito e a confiança para com a divindade objeto de sua devoção. De fato, nessa outra história vemos que as imagens que reproduziam os santos e o próprio Jesus Cristo eram retratadas com as mesmas características dos cafoni que a eles confiavam suas agruras, faziam seus votos e pagavam as promessas. Portanto, uma estátua representava Cristo que sembrava un cafone ammazzato in una rissa e già

in disfacimento74, enquanto a sua Mãe dolorosa pareva la vedova di un ricco

commerciante perseguitato dalle disgrazie75. Esta, com os olhos para o céu, segurava il figlio nel quale aveva riposto tante speranze e che peggio non poteva

finire76. Uma escrita acompanhava a estátua - Videte se dolor vester est sicut dolor

meus-77, essa frase resumia toda a dor da Mãe do crucificado que abarcava, nesse sofrimento, todas as dores dos que nela procuravam alívio em suas aflições.

72 SILONE,Ignazio. 2004, p.81. 73 Ibidem, p. 70. 74 Ibidem, p. 233. 75 Ibidem, p. 233. 76 Ibidem, p. 233. 77

Tra. “Vejam se vossa dor é igual à minha dor”. SILONE, Ignazio. 2004, p. 233. Frase repetida de tradição religiosa

A partir dos trechos de Vino e pane, acima citados, podemos entender, por meio das reflexões do protagonista que observa os personagens e as paisagens, como os camponeses conduziam suas vidas. Mas, nos é possível ainda conhecer um pouco da vivência de uma religiosidade antiga e supersticiosa. Nesse caso, estamos recorrendo a um exemplo já citado, mas que, nesse contexto, nos oferece uma outra perspectiva.

A metà strada egli incontrò una donna che faceva lo strascíno, che camminava cioè in ginocchio a un lato della strada. [....] Da principio don Paolo pensò che fosse una pazza. Invece, come la povera donna spiegò, era una madre che aveva il figlio in guerra e in un momento de fervore religioso, per allontanare un oscuro presentimento, aveva fatto voto di scendere in ginocchi da Pietrasecca a Lama per ottenere dalla Vergine che il

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 39-53)