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Capítulo III Enquadramento teórico (Revisão de Literatura)

3.2. As TIC em Contexto Educativo

3.2.3. As TIC no Currículo do 1º CEB e nas Metas de Aprendizagem

Vários organismos internacionais, nomeadamente, a UNESCO, têm chamado a atenção para o impacto que as TIC podem ter na renovação do Sistema Educativo, bem como para a resposta que devem dar aos múltiplos desafios das sociedades da informação (Pires, 2009). Vivemos numa sociedade em constante mudança e, é neste contexto, que surgem de uma forma cada vez mais incontornável as TIC na sala de aula.

Integrar as TIC no currículo do 1º CEB e nas metas de aprendizagem foi uma necessidade urgente e natural. Segundo Gonçalves (2012), “ (…) tratar-se-ia integrar as TIC num processo ou currículo que à partida não foi pensado para as integrar. As tecnologias deveriam estar de tal modo incorporadas que o currículo, pudesse desenvolver em torno das TIC de modo impercetível” (21). Das várias razões para incluir as TIC no currículo destacamos algumas abordagens propostas por Hawkridge (1990), de McCormick (1999) bem como por Bolstad e Gilbert (2006), citados por Gonçalves (2001). Iniciamos por referir um conjunto de razões, princípios e crenças defendidas por McCormick (1999):

 a promoção da economia através da formação de jovens capazes de trabalhar nas industrias e comércio mais modernos (imperativo económico);

 a forma como envolve atividades mais de acordo com uma visão da aprendizagem progressiva e construtivista (o seu valor para a aprendizagem);

 pelos conceitos e processos que transporta consigo considerados essenciais para o desenvolvimento de todos os indivíduos, da mesma forma que o estudo da Matemática, Ciência, História, humanidades etc. (o seu valor intrínseco);

 pela compreensão que qualquer cidadão moderno deverá ter da tecnologia para poder funcionar e assumir o controle coletivo do desenvolvimento da sociedade que é cada vez mais orientada pela e para a tecnologia (educação para a cidadania).

Para Hawkridge (1990) citado, por Drenoyianni and Selwood (1998) ao investigar modelos de uso de computadores dotados por diferentes autoridades havia definido quatro rationales (razão): o social, o vocacional, o pedagógico e o catalítico.

a) O rationale social - sensibilização para as TIC – defende que uma vez que os computadores fazem parte do quotidiano, a escola deve preparar os jovens para o mundo de amanhã sensibilizando-os para o uso do computador.

b) O rationale vocacional – literacia digital – preocupa-se com a programação e o uso de aplicativos e programas mais divulgados uma vez que as crianças devem aprender a usar os computadores para que possam estar preparadas para o mundo do trabalho.

c) No rationale pedagógico, as preocupações colocam-se na melhoria do ensino e da aprendizagem, muitas vezes recorrendo a software especialmente vocacionado para o ensino assistido por computador.

d) O rationale vocacional baseia-se na crença de que o computador pode mudar o que se ensina e, dado que a aprendizagem de certos temas ou competências podem ser facilitados pelo computador, torna-se desnecessário ensiná-los. Segundo esta perspetiva, o processo de ensino centra-se no aluno, uma vez que lhe permite assumir o controlo do que aprende.

Valorizar os recursos das TIC faz com que haja diversidade de metodologias e estratégias de ensino e atividades de aprendizagem as quais constituiem um dos princípios orientadores na organização e gestão do currículo propostos na Reorganização Curricular do Ensino Básico (Silva, 2004). Papert (1997) chega a falar num apaixonado caso de amor entre as crianças e computadores, enquanto que outros autores acreditam que as crianças são atraídas pelas novas tecnologias de uma forma quase impulsiva, embora esse aspeto nem sempre seja aproveitado pela escola para integrar outras aprendizagens (Valente e Osório, 2007).

No 1º Ciclo, as TIC não apresentam um estatuto disciplinar, ou seja, não possuem uma área curricular disciplinar. Têm um carácter transversal ao currículo. Os professores devem promover a sua utilização de modo integrado e em articulação com as diferentes áreas curriculares (Pires, 2009). Para Belchior e colaboradores (1993), os objetivos gerais da utilização das TIC na Educação são:

1) enriquecer e aprofundar a aprendizagem ao longo do currículo usando as TIC como suporte no trabalho de grupo, no trabalho individual e no reforço da aprendizagem de todos os alunos;

2) adquirir confiança e prazer no uso das TIC, familiarizando-se com as aplicações do dia-a-dia, sendo capazes de avaliar as potencialidades e as limitações das mesmas;

3) encorajar a flexibilidade e a abertura necessárias para aproveitar e tirar partido das mudanças tecnológicas e, ao mesmo tempo, alertar para as implicações/ consequências éticas para a sociedade;

4) criar nos alunos autonomia e responsabilidade pela sua própria aprendizagem e dar-lhes oportunidade de decidirem da pertinência, ou não, da utilização das TIC na realização dos seus projetos;

5) proporcionar aos alunos interessados o estudo da computação e de sistemas informáticos para a resolução de problemas.

Além dos objetivos atrás descritos, e segundo os mesmos autores, também estão definidos os seguintes objetivos específicos para o 1º ciclo:

1) comunicar ideias e informações através do processador de texto;

2) manusear informação pesquisando, selecionando, analisando e interpretando dados;

3) efetuar investigações matemáticas ou explorar representações de situações reais ou imaginárias baseadas no computador;

4) explorar as TIC tendo em vista o desenvolvimento de aspetos criativos e estéticos;

5) projetar, fazer, medir e controlar no ambiente físico, utilizando várias ferramentas, materiais, sensores, interruptores e computadores, na ciência, matemática, arte e estudos ambientais;

6) identificar algumas consequências das TIC na sociedade e nos indivíduos. No que diz respeito à Matemática e, segundo Ponte (1986), citado por Sousa (2006), “(…) o computador, pelas suas potencialidades a nível de cálculo, visualização, modelação e geração de micromundo, é o instrumento mais poderoso de que atualmente dispõem os educadores matemáticos”(50). Para Belchior e colaboradores (1993), também defendem que a utilização de programas informáticos relacionados com a Matemática pode possibilitar e estimular a abordagem de vários conceitos: como o reconhecimento de formas, a contagem e a numeração, a classificação, o padrão, a ordenação, a transformação. Na opinião de Silva (2003), referido por Sousa (2006), a integração da tecnologia na escola na disciplina de Matemática não tem sido fácil no entanto a escola tem tentando responder aos desafios da atualidade é medida pela eficácia com que a tecnologia é integrada nos currículos escolares.

Em relação à Língua Portuguesa, no domínio das competências verbais, o computador não inibe o desenvolvimento da linguagem (Amante, 2007). Segundo (Clements & Natasi, 2002), citados por Amante (2007), existem programas que encorajam a exploração e a fantasia das crianças como, por exemplo, os programas de desenho “ (…) fazendo relatos enquanto desenham, deslocam objetos, ou

escrever”(52). Esta interação com os computadores possibilita que as crianças estimulem a sua comunicação oral. O computador, no que refere à linguagem escrita proporciona, as crianças têm a oportunidade de se envolver na exploração e co-construção de conhecimentos sobre representação simbólica e desenvolvimento de literacia (Amante, 2004; Laboo & Ash, 1998: citados por Amante, 2007).

Uma das principais características do Estudo do Meio tem a ver com o facto desta área se encontrar na interceção de todas as outras áreas do programa do 1º CEB. As crianças apercebem-se da realidade como um todo globalizado, motivo pelo qual o Estudo do Meio aborda conceitos com as Ciências da Natureza, a Etnografia, a História, a Geografia, entre outros, sendo assim a área com maior interdisciplinaridade (Freitas, 2003). Na área de Estudo do Meio, tal como na Matemática, as crianças têm uma crescente necessidade de visualizar e vivenciar algumas situações para que os conceitos sejam mais facilmente apreendidos tendo as TIC têm uma grande preponderância nestas áreas. Para Belchior e outros (1993) referem que: “(…) a maioria destas crianças encontra-se numa fase de desenvolvimento em que os seus processos mentais só podem crescer e desenvolver-se através de experiencias concretas. É muito importante, que sempre que possível, todas as atividades que fazem uso do computador sejam uma consequência natural de experiências concretas anteriormente realizadas”(32).

Para a Expressão Plástica, as TIC também podem contribuir ativamente nesta área no sentido estético e criativo das crianças através de um conjunto variado de programas informáticos, da exploração de jogos didáticos e do recurso à Internet. Os programas utilizados colocam ao dispor dos alunos um leque variado de formas e efeitos visuais que possibilitam a sua exploração no seio das expressões (Belchior e outros, 1993).

Para que haja uma integração completa das TIC é necessário a criação de ambientes educativos mais ricos que promovam uma aprendizagem de natureza construtivista (Amante, 2007). Assim, o aluno deixa de ser um agente passivo e passa a ser um agente ativo na construção do seu próprio saber, como defendem Piaget, Bruner; Vigotsky, Papert e outros autores de inspiração construtivista (Pires, 2009). As TIC devem ser vistas como uma ferramenta essencial para o enriquecimento dos contextos de aprendizagem. Segundo Santos (2006) “(…) a correta utilização do computador e a consequente exploração do diversificado

software educativo de que atualmente se dispõe podem revelar-se instrumentos

muito eficazes para aperfeiçoar e melhorar o processo de ensino aprendizagem em diferentes áreas curriculares” (16).

Em dezembro de 2009, são apresentadas as “Metas de Aprendizagem”, e este documento pretendeu organizar e facilitar o ensino porque veio fornecer uma visão o mais objetiva possível daquilo que se pretendia alcançar, permitindo que os professores se concentrassem no que é essencial e ajudar a delinear as melhores

estratégias de ensino (ME, 2012). Trata-se de um documento no qual são identificadas as competências que os alunos devem adquirir, assim como, as aprendizagens transversais que o Currículo Nacional do Ensino Básico possui. Estas metas são consideradas como um instrumento de apoio à gestão do currículo e devem ser usadas livremente pelos professores na sua prática letiva (Mota & Coutinho, 2011). De acordo com a DGIDC, as metas de aprendizagem estão ligadas aos diferentes campos do conhecimento científico que compõem o Currículo (áreas disciplinares/curriculares). Estas estão ligadas com aquisições de natureza transversal estruturantes do desenvolvimento global do indivíduo. O referido documento aborda três planos complementares em relação às áreas de competências, no entanto só o plano I e II têm uma maior ênfase aquelas que dizem respeito às TIC:

Plano I

A. TECNOLOGIAS DIGITAIS. Capacidade de operar com as tecnologias digitais, demonstrando compreensão dos conceitos envolvidos e das suas potencialidades para a aprendizagem.

Plano II

B. INFORMAÇÃO. Capacidade de procurar e de tratar a informação de acordo com objetivos concretos: investigação, seleção, análise e síntese de dados.

C. COMUNICAÇÃO. Capacidade de comunicar, interagir e colaborar usando ferramentas e ambientes de comunicação em rede como estratégia de aprendizagem individual e como contributo para a aprendizagem dos outros.

D. PRODUÇÃO. Capacidade de sistematizar conhecimento com base em processos de trabalho com recursos aos meios digitais disponíveis e de desenvolver produtos e práticas inovadoras.