• Nenhum resultado encontrado

TOTAL PARCIAL 378 310 51.548.685,00 TOTAL GERAL 711 614 89.055.514,

2.4.1 As Unidades de Conservação e o ICMS Ecológico

É prosaico depararmos com notícias em jornais dando conta sobre a instituição de novas unidades de conservação, nas mais variadas categorias, porém nem toda vez criadas pela real necessidade de se proteger a biodiversidade, o meio ambiente.

O que, a primeira vista, seria uma primorosa notícia, nem sempre corresponderá às expectativas aos olhos mais cautelosos, focalizados nas reais intenções do Administrador Público.

Pode ocorrer, em alguns casos, a possibilidade do gestor, com objetivo de projeção política, com fins a angariar a simpatia de seus concidadãos e daqueles que lutam pela melhoria do meio ambiente, instituir apenas “no papel" novas UC, sem qualquer estudo prévio, planejamento, sem realizar consulta pública e, o que é pior, sem prever orçamento ou mesmo destinação de recursos específicos, não só para a instituição e instalação da UC, mas também e principalmente, para a implementação e manejo.

Por conseguinte, podemos perquirir se realmente o Poder Público tem criado as unidades de conservação com a esperada e necessária seriedade que deveria ter.

Alguns requisitos previstos na Lei do SNUC são (ou melhor dizendo, deveriam ser) pressupostos comuns para criação de toda e qualquer unidade de conservação.

São pressupostos necessários devidamente previstos pelo legislador: os levantamentos prévios sobre a biodiversidade e população local, a constatação sobre a real necessidade de criação, o tipo mais adequado a ser instituído levando- se em consideração as condições sócio-ambientais da área, o tamanho ideal

tomando por base o uso ou preservação dos recursos naturais, conforme o caso, a destinação da UC para o qual foi criada, a confecção do plano de manejo e a necessária previsão orçamentária, com fins à regularização fundiária e à implementação do plano de manejo.

Mas, infelizmente, não é bem assim que ocorre. Tornou-se tão corriqueiro a falta de planejamento e de medidas que deveriam antecedecer à criação das unidades, que Maria Tereza Jorge Pádua101 garante que "praticamente nenhuma UC

é criada com previsão orçamentária para a regularização fundiária e para a implementação [...]".

Segundo a autora, as poucas exceções ocorrem em virtude de compensações ambientais, de exigências de financiamentos internacionais de organizações de proteção à natureza ou em função da aplicação de recursos provenientes de arrecadação do "ICMS Ecológico", adotado por alguns Estados.

Sobre o assunto, Fernando Facury Scaff comenta que:

Pioneiramente o instituto foi concebido no Estado do Paraná, em 1991, e hoje já se encontra efetivamente implantado também em Estados como Minas Gerais, Rondônia, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Tocantins e Pernambuco. Além disso, inúmeros outros Estados, dentre os quais o Pará, Rio de Janeiro, Goiás, Santa Catarina e

Ceará têm projetos do gênero em fase de discussão legislativa.102

Em nível internacional, Pedro M. Herrera Molina103, em sua monografia jurídica, considera que dentre as categorias de "tributos ecológicos"104, os impostos ecológicos buscam incidir nas condutas prejudiciais ao meio ambiente, cuja finalidade não é de estrangular o crescimento, mas sim de possibilitar o desenvolvimento sustentável105, fomentar a máxima eficiência econômica, com o mínimo de prejuízo ambiental, reduzir a contaminação a níveis suportáveis pelo ambiente e incentivar a produção através de técnicas mais limpas106.

101 PÁDUA, Maria Tereza Jorge (Colab.). Unidades de Conservação muito mais do que atos de

criação e planos de manejo. In: MILANO, Miguel Serediuk (Org.). Unidades de Conservação:

atualidades e tendências. Curitiba: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, 2002. p. 6.

102

SCAFF, Fernando Facury; TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. Tributação e Políticas Publicas: o

ICMS Ecológico. São Paulo: Revista de Direito Ambiental, 2005. n. 38, p. 99 a 120, ano 10, abr/jun.

103 MOLINA, Pedro M. Herrera. Derecho Tributário Ambiental (Enviromental tax law): La introducción

del interés ambiental en el ordenamiento tributário. Madrid: Marcial Pons. p. 55 a 116.

104 Segundo o autor, trata-se de impostos ecológicos, taxas ambientais (por prestação de serviços

públicos ambientais, pelo uso de bens ambientais como a água, o ar e uso do solo) e contribuições especiais ecológicas.

105 Para Franz Josef Brüseke (BRÜSEKE, Franz Josef. O problema do desenvolvimento sustentável.

In: CAVALCANTI, Clóvis (Org.). Desenvolvimento e natureza: Estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez; Recife, PE: Fundação Joaquim Nabuco, 1995. p. 34-35), o conceito de desenvolvimento sustentável foi adotado para "marcar uma nova filosofia do desenvolvimento que combina eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica."

No Brasil, o Princípio 16 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92)107, da Conferência da Nações Unidas, aliado ao que dispõe o art. 158, IV e Parágrafo único, II da CF/88108, de certa forma proporcionou incentivo à adoção do ICMS Ecológico pelos Estados e, por conseguinte, atraiu a atenção de prefeitos para a criação de unidades de conservação em seus municípios, com fins a aumentarem o recebimento da cota- parte no repasse constitucional do bolo tributário relativo ao ICMS.

Tal situação pode ocorrer uma vez que o critério mais utilizado no repasse do ICMS Ecológico revela-se no número e no tamanho das áreas sob proteção especial: quanto maior a UC e em maior quantidade, maior o recebimento na repartição das receitas tributárias. O que acaba distorcendo o objetivo da redistribuição tributária.

No Estado do Pará, o art. 225, § 2º da Constituição Estadual de 1989109,

assegura tratamento especial aos municípios que possuam UC em seus territórios, referenciada no art. 158, IV e Parágrafo único, II da Constituição Federal, no tocante ao repasse de ICMS. Ocorre que o dispositivo ainda não foi regulamentado, logo não possui efetividade, embora já se tenha tentado a legalização da matéria.

Foi o que aconteceu a partir da elaboração de monografia da lavra de Fernando Facury Scaff e de Lise Vieira da Costa Tupiassu, os quais acolheram alguns critérios, tais como saúde, saneamento e educação, fundamentais para o desenvolvimento de uma consciência cidadã e conhecedora da importância da preservação ecológica, para estabelecer a base de uma política redistributiva.

O trabalho, que culminou com a elaboração de um Anteprojeto de Lei, proposto na Assembléia Legislativa do Estado do Pará, proposto à época por um

107

"Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as

autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de

instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais" (grifamos).

108 "Art. 158. Pertencem aos Municípios: [...]

IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios: [...]

II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territórios, lei federal."

109 "Art. 225. Pertencem aos Municípios: [...]

§ 2°. É assegurado aos Municípios que tenham parte de seus territórios integrando unidades de conservação ambiental, tratamento especial, quanto ao crédito das parcelas da receita referenciada no artigo 158, IV e parágrafo único, II, da Constituição Federal, sem prejuízo de outras receitas, na forma da lei."

75% 8,75% 5% 5% 6,25% Valor Adicionado Unidades de Conservação Saneamento Saúde Educação

partido de oposição, culminando com a não aprovação por parte da bancada governista, idealizava a seguinte distribuição do ICMS Ecológico:

· 35% sejam rateados privilegiando os municípios que têm maior parte de seu território coberto por áreas destinadas a Unidades de Conservação Ambiental e Espaços Territoriais Especialmente Protegidos, de acordo com as definições legais;

· 25% privilegiem os municípios que tenham, relativamente, maior número de crianças matriculadas no ensino fundamental e menor taxa de evasão escolar;

· 20% sejam distribuídos para municípios que tenham maior número de pessoas atendidas pelo sistema de saneamento, e;

· 20% rateados em observância ao percentual relativo de leitos hospitalares disponíveis à população e conforme o inverso do coeficiente de mortalidade infantil dos municípios 110

Na ilustração abaixo podemos constatar claramente a proposta de repartição da quota-parte municipal do ICMS no Pará:

Ilustração 2 – Proposta de repartição da quota-parte municipal do ICMS no Pará

Fonte: SCAFF, Fernando Facury; TUPIASSU, Lise Vieira da Costa. Tributação e Políticas

Publicas: o ICMS Ecológico. São Paulo: Revista de Direito Ambiental, 2005. n. 38, p. 99 a 120, ano 10, abr/jun.

Lamentavelmente o ICMS Ecológico ainda é uma realidade longínqua para a maioria dos Estados brasileiros, incluindo o Pará.

Todavia, cabe ressaltar que, como referido acima, apesar de aparentemente tratar-se de admirável opção para compensar os municípios que possuem áreas sob proteção especial, o efeito pode não ser o esperado, visto que

os gestores municipais poderiam passar a instituir, aleatoriamente, atos de criação de unidades de conservação sem a devida seriedade.