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A ascensão dos “pragmáticos reformistas” e da ala “plutocrata” no PTB paranaense

No dia 24 de fevereiro de 1957 ocorreu a Convenção Estadual do PTB do Paraná, que, inclusive, contou com a presença de João Goulart, vice-presidente da República e presidente nacional do partido, que participou da inauguração da estátua de Getúlio Vargas na Praça Tiradentes.

Durante a Convenção, João Goulart salientou a importância do PTB em seguir a linha doutrinária do trabalhismo, fortemente ancorada em princípios nacionalistas e nos ideais de Getúlio Vargas.

Lupion, irmão do governador, havia comprado um alqueire de terras na cidade de Piraquara por um preço considerado absurdo (na época, 1,5 milhões de cruzeiros). Acrescenta-se a isso o fato da propriedade comprada pela COPEL pertencer ao próprio José Lupion. O escândalo resultou na demissão de José Lupion e no rompimento entre os dois irmãos.

60 José Pedro Kunhavalik (2004, p.197) e Maria Cristina Colnaghi (1991, p. 14-15) dizem que Lupion procurou favorecer na região a Clevelândia Industrial e Territorial Ltda (CITLA) – de quem era “sócio oculto” – em detrimento dos colonos e posseiros. A CITLA, que atuava livremente na região, utilizava-se, por meio de capangas, de métodos arbitrários e violentos para persuadir e intimidar os colonos e posseiros que se recusavam a com eles negociar. Em último caso, chegavam a expulsá-los das terras. A situação na região tendia a torna-se ainda mais crítica à medida que as autoridades eram coniventes com as arbitrariedades e violências – tais como saques, espancamentos (inclusive de mulheres e crianças), incêndios a casas e galpões, destruição de plantações, morte de animais, extorsões, mutilações, estupros e assassinatos – cometidas pelos jagunços das companhias colonizadoras contra os colonos, o que tornou a região “uma terra sem lei”.

61 Cansados da inércia do governo em solucionar o problema agrário na região, cerca de seis mil colonos e posseiros, no dia 10 de outubro de 1957, pegaram em armas e se apoderaram dos principais municípios do sudoeste paranaense, como Pato Branco e Francisco Beltrão. Segundo Maria Cristina Colnaghi (1991, p. 18), o grande mérito do movimento agrário no sudoeste paranaense foi a expulsão da CITLA, o que trouxe, na verdade, apenas uma vitória parcial ao movimento, já que muitos continuavam ainda sendo posseiros e vivendo numa situação instável e insegura até meados da década de 1960 – quando a questão agrária efetivamente foi encaminhada para uma solução definitiva.

Jango também acompanhou de perto a definição dos petebistas paranaenses em manter-se em oposição ao governo Lupion e da escolha da nova Comissão Executiva62, presidida por Abilon de Souza Naves.

Imagem 2 João Goulart e Souza Naves na Convenção do PTB paranaense

(fevereiro/1957). Fonte: acervo pessoal de Léo de Almeida Neves (NEVES, 2002, p. 142).

62 A nova Executiva do PTB do Paraná ficou assim constituída: presidente: Abilon de Souza Naves; primeiro vice-presidente: Antônio Annibelli (deputado estadual e advogado em Clevelândia); segundo vide-presidente: Mário de Barros (deputado estadual e médico em Curitiba); terceiro vice-presidente: Jacinto Cunha (radialista da Rádio Clube Paranaense, de Curitiba); quarto vice-presidente: Gen. Iberê de Mattos (militar com atuação em Curitiba); secretário geral: Léo de Almeida Neves (advogado e jornalista em Curitiba); primeiro secretário: Raul de Rezende Filho (deputado estadual e cafeicultor na região de Jacarezinho); segundo secretário: Pedro Mariucci (deputado estadual e comerciante em Cornélio Procópio); terceiro secretário: José Teixeira da Silva (deputado estadual e médico em Nova Esperança); tesoureiro geral: José Campelli Filho (dentista em Curitiba); primeiro tesoureiro: Libâneo Cardoso (deputado estadual e médico em Castro); segundo tesoureiro: Walter Guimarães da Costa (prefeito de São Jerônimo da Serra); terceiro tesoureiro: João Wagner (líder sindical em Curitiba); conselho fiscal: Antônio Baby (deputado federal e líder ferroviário em União da Vitória), João Cernicchiaro (comerciante em Arapongas) e Herculano Rubim de Toledo (proprietário rural em Paranavaí) (O Estado do Paraná , 26 fev. 1957, p. 16).

A Convenção também marcou a ascensão do deputado estadual Antônio Annibelli, elencado ao posto de primeiro vice- presidente – o que, na prática, significava o exercício efetivo da presidência, uma vez que Souza Naves estava vivendo no Rio de Janeiro, onde exercia a presidência do Crédito Agrícola e Industrial (CREAI) do Banco do Brasil e integrava a Executiva Nacional do partido. Portanto, a ascensão de Antônio Annibelli, que se destacava pela combatividade a Lupion, era sintomática: as chances de entendimento com o governador estavam liquidadas.

Ademais, convém ressaltar que houve uma significativa renovação na Executiva Estadual, com o afastamento dos lupionistas – como o deputado federal Divonsir Borba Cortes, do ex-secretário geral Alexandre Zainko e dos ex-membros do conselho fiscal Estevam Ribeiro de Souza Neto e Parahylio Borba. Aliás, a Convenção significou a derrota definitiva de Parahylio Borba, que migrou para o PSP.

Dentre os novos integrantes da Executiva do PTB paranaense destacava-se um grupo de trabalhistas defensores de um programa nacionalista e reformista, formado pelos deputados estaduais Mário de Barros (candidato do PTB ao governo do Paraná em 1955) e José Teixeira da Silveira63, pelo gen. Iberê de Mattos64 e pelo jovem advogado e jornalista Léo de Almeida Neves, membro da Mocidade Trabalhista do Paraná e que, aos 25 anos de idade, foi elencado ao posto de Secretário Geral.

Além de possuir fortes vínculos de amizade com Souza Naves, Léo de Almeida Neves destacava-se por seus artigos e ideias próximas à doutrina pasqualinista, o que lhe rendeu o apelido de “Pasqualini paranaense”, tornando-se o principal expoente do grupo dos “pragmáticos reformistas” do PTB do Paraná. Além disso, Léo de Almeida Neves também era um bom orador e Souza Naves, “que era

63 José Teixeira da Silveira era médico e irmão de Roberto Teixeira da Silveira (do PTB-RJ e governador do estado do Rio de Janeiro entre 1959-1961). Em 1958, foi eleito deputado federal, sendo o único parlamentar paranaense a integrar a Frente Parlamentar Nacionalista entre 1958 e 1962.

64 O gen. Iberê de Mattos era engenheiro civil e ex-diretor da Rede de Viação Paraná- Santa Catarina (RVPSC), onde gozava de grande prestígio entre os ferroviários – o que lhe rendeu o apelido de “general do povo”. Ingressou no PTB a convite de Souza Naves. Posteriormente, se elegeria prefeito de Curitiba nas eleições de 1958.

inibido e avesso a discursos públicos, frequentemente o convidava para discursar em seu lugar” (NEVES, 2002, p. 138-139).

Portanto, a Convenção Estadual de fevereiro de 1957 representou o início de uma importante mudança interna no PTB do Paraná com a ascensão de uma ala mais progressista, adepta a um programa nacionalista e reformista, na Executiva estadual – até então amplamente dominada pelos “pragmáticos getulistas”.

Por outro lado, Souza Naves, durante o segundo semestre de 1957, intensificou a sua campanha ao Senado e se aproximou dos cafeicultores65 do norte do estado, procurando trazê-los para a órbita do PTB, dentre eles Nelson Maculan – então vereador udenista em Londrina e presidente da Associação Rural da mesma cidade. Além dos cafeicultores, Souza Naves também atraiu para o PTB paranaense alguns abastados empresários, como Miguel Buffara, de Paranaguá, Petrônio Fernal, de Ponta Grossa, e Luiz Alberto Dalcanale, da região oeste. Dessa maneira, ascendia no PTB paranaense a “ala dos plutocratas”. De acordo com o jornalista e militante comunista Milton Ivan Heller66, seus membros “andavam com camisa de seda e possuíam pouca afinidade com o trabalhismo”. Sem dúvida, a aproximação de Souza Naves com empresários e cafeicultores tinha o objetivo de garantir ao partido um grande aporte financeiro para a campanha eleitoral de 1958.

Portanto, com a ascensão dos “pragmáticos reformistas” e dos “plutocratas”, configurou-se, a partir de 1957, a formação de três principais tendências dentro do PTB paranaense:

 A “ala plutocrata” do PTB: formada por empresários e cafeicultores que ingressaram no partido por intermédio de Souza Naves. Em geral, era um grupo conservador e fisiológico com pouca afinidade com o trabalhismo, cuja base política encontrava-se na região norte do estado.

65 Inclusive, o Cel. Francisco de Paula Soares, presidente da UDN do Paraná, passou a acusar Souza Naves de utilizar a sua condição de presidente da Carteira Agrícola e Industrial (CREAI) do Banco do Brasil – cargo que ocupou de março de 1956 a julho de 1958 – para facilitar crédito agrícola junto aos fazendeiros do norte do estado, com claros objetivos eleitoreiros (Cf. O Dia, 30 out. 1957, p. 1).

 o “PTB do centro”: liderado por Souza Naves, era o grupo mais numeroso do partido, reunindo políticos e profissionais liberais da corrente “pragmático getulista”.

 e o “PTB progressista” ou “pragmático-reformista”: composta pelos adepto dos ideais nacionalistas e reformistas, cujo principal expoente era Léo de Almeida Neves. Essa ala, no final da década de 1950, passou a dominar o Diretório Municipal de Curitiba, que se tornou a principal base política desse grupo.

Por sua vez, Souza Naves liderava e aglutinava, com eficiência, as três correntes que existiam dentro do PTB paranaense, uma vez que era um político paciente, conciliador e muito pragmático.

O ingresso de Jânio Quadros no PTB do Paraná e as

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