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A ascensão política de Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta

ECONOMIA E SOCIEDADE: UMA ANÁLISE DOS DEBATES NA CÂMARA DOS SRS DEPUTADOS (1826-1831)

3.2 A ascensão política de Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta

Após a emancipação política do Brasil, Barbacena encontrava-se em Londres, em virtude de seu pedido de ida para a Grã-Bretanha para tratar de sua saúde e negócios, após o mesmo ter sido preso em 1821. Estando em Londres, Caldeira Brant pediu para interceder como representante diplomático da nova nação americana nas negociações pelo reconhecimento da independência brasileira frente a britânicos e portugueses. O marquês tinha trânsito com o governo londrino, possibilitando candidatar-se a representar o Brasil na referida negociação. Este trânsito com o governo inglês era resultado não apenas dos negócios que o mesmo tinha naquele país, mas

91 Thomaz Antonio Villanova Portugal era formado em leis pela Universidade de Coimbra e pertenceu ao

conselho do rei D. João VI. Foi ainda Desembargador do Paço no Rio de Janeiro, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios dos Reino (1818). Como Ministro da Fazenda mandou observar o privilégio da Fazenda Real na cobrança das dívidas do Banco do Brasil; criou na Capitania de Mato Grosso uma Alfândega do Rio e uma Alfândega no porto de Vila Vitória, além de uma na cidade de Natal. No Rio de Janeiro, instituiu a Academia de Artes (1820). Cf: http://www.fazenda.gov.br/portugues/institucional /ministros/dom_João 004.asp.

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também, em decorrência da ajuda que Brant prestou ao almirante Home Popham em 1805. Naquele ano, Popham encontrava-se na Bahia a caminho de Buenos Aires sem recursos para realizar sua viagem ao território argentino. Barbacena apresentou-se para socorrê-lo emprestando a quantia em dinheiro necessária e se recusou a receber juros pelo empréstimo realizado. Estas delicadezas abriram suas portas com o governo inglês, recebendo uma carta de agradecimento do almirantado. Tal postura ganhou ainda a simpatia de George Canning, que anos mais tarde tornou-se amigo de Caldeira Brant.93

Nas negociações pelo reconhecimento da Independência do Brasil, juntamente com Caldeira Brant, foi enviado a Londres Manuel Rodrigues Gameiro Pessoa, futuro barão e visconde com grandeza de Itabaiana.94O resultado positivo das negociações rendeu a Brant o título de visconde com honras de grandeza de Barbacena em 12 de outubro de 1824.95 Além dessa titulação recebida, o convívio com Gameiro proporcionou ao marquês a expansão de suas redes de sociabilidade com a família de Itabaiana. Muito provavelmente por sua intermediação, seu primo José Ricardo da Silva Horta conseguiu obter enlaces matrimoniais com D. Camila Leonor Julia Gameira, filha única de Gameiro e futura viscondessa de Gameiro em Portugal. O casamento entre os dois ocorreu em 4 de abril de 1830.96 Silva Horta era administrador e gerente da casa de negócio do marquês na praça de Salvador entre os anos de 1818 e 1830, quando o mesmo a liquidou e pagou a Horta a quantia de trinta contos de réis.97

Face a sua atuação política no reconhecimento da Independência do Brasil, Barbacena aproximou-se do círculo de amizades do Imperador. Concorrendo na eleição

93 CALÓGERAS, Pandiá. O marquês de Barbacena...op.cit., SISSON, Galeria dos brasileiros

ilustres...op.cit.

94 Manuel Rodrigues Gameiro Pessoa foi barão e visconde com grandeza de Itabaiana. Nasceu em

Portugal e faleceu em Nápoles em 22 de Janeiro de 1846. Foi Moço da Imperial Câmara e Comendador da Ordem de Cristo. Foi diplomata do governo brasileiro na França em 1822, na Grã Bretanha, em 1825 e em Viena. Recebeu as mercês de Grã-Cruz da Real Ordem da Torre e Espada de Portugal, Comendador da Ordem de S. Leopoldo da Áustria, e Grã-Cruz da Ordem Imperial do Cruzeiro. Era sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro desde 1839. Cf. http://www.sfreinobreza.com/ NobI2.htm

Em 1824, através do decreto de 5 de janeiro, foi autorizado pelo governo imperial a contratação do empréstimo em Londres de $ 3000000 (três milhões de libras esterlinas), e que teve como garantia do Brasil a hipoteca da alfândega do RJ. Estavam à frente dessa negociação Barbacena e Itabaiana, que lucraram com a intermediação (2% para cada), e que os levou, mais tarde, para uma situação de esclarecimento público. Cf. ALMEIDA, Paulo Roberto de. A diplomacia financeira do Brasil no Império. www.pralmeida.net/05DocsPRA/767DiploFinImperio2.doc

95 CALÓGERAS, Pandiá. O marquês de Barbacena...op.cit. As datas a respeito dos títulos de Barbacena

foram retiras de: http://www.jbcultura.com.br/gde_fam/ pafn241.htm#6496.

96 José Ricardo da Silva Horta era filho de Antônio Manuel Pereira da Silva, sargento-mor de auxiliares

da Bahia, e de sua mulher D. Francisca Rodrigues Horta. Cf. ZUQUETE, Dr. Afonso Eduardo Martins.

Nobreza d'Portugal e do Brasil. vol. 2. Lisboa: Editorial Enciclopédia Ltda., 1960, p.634.

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Certidão de escritura de ajuste de contas entre o marquês de Barbacena e José Ricardo da Silva Horta referente à quitação da administração e gerência da Casa de Negócios do marquês localizada em Salvador desde 1818 até 1830. Cf. Arquivo Nacional. Coleção Marquês de Barbacena. BR AN RJ Q1.0.DPE.22.

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para o cargo de senador, ele foi eleito para o Senado por três províncias diferentes: Minas Gerais, Alagoas e Bahia98, sendo que D. Pedro I escolheu-o para representar a província de Alagoas. Tal escolha pela província alagoana fazia parte das estratégias de expansão do poder central junto às localidades, pois o Imperador nomeava homens de sua confiança para representar províncias menos atuantes no cenário nacional. Desta forma, o monarca ganhava o apoio das elites governantes daquelas localidades, ao mesmo tempo em que estas tinham um representante de destaque no campo político nacional, sendo o cargo de senador um dos elos entre o poder central e os poderes locais.99

A eleição de Barbacena por três províncias distintas demonstrou a sua influência política e seu poder de atuação no Primeiro Reinado. Sua eleição por Minas Gerais foi resultado de ser natural desta província, bem como sua família materna ser uma das mais importantes e influentes das Minas setecentista, na comarca do Rio das Velhas; por Alagoas, em virtude de seus negócios naquela região100e pela Bahia, foi decorrência da expansão de suas redes de sociabilidade, tanto por seu casamento contraído com filha de Antônio Cardoso dos Santos, um dos mais atuantes homens de negócio da Bahia, bem como, pelo casamento de sua filha, Ana Constança Caldeira Brant, com José Carlos de Almeida,101 natural de Lisboa, filho do segundo casamento de José Egídio Álvares de Almeida, barão, visconde com grandeza e, depois, marquês de Santo Amaro. Importante destacar que José Egídio Álvares de Almeida, o marquês de Santo Amaro, era filho do Cavaleiro Fidalgo da Casa Real José Álvares Pinto de Almeida, figura influente na Bahia, onde exerceu o cargo de capitão-mor das Ordenanças, e de Antonia de Freitas. Graças aos seus serviços prestados à Corte Joanina, José Egídio foi um dos poucos "brasileiros natos" a receberem um título de nobreza durante o governo de D.

98SISSON, op.cit. Oficio de 30/01/1825 do marques de Barbacena ao presidente e vereadores da Câmara

da cidade da Bahia agradecendo sua eleição como senador pela província baiana. Arquivo Nacional. Coleção Marquês de Barbacena. BR AN RJ Q1.0.APA.1; Ofício de 08/07/1825 do marques de Barbacena ao presidente e vereadores da Câmara da cidade de Alagoas agradecendo sua eleição como senador por aquela província. Arquivo Nacional. Coleção Marquês de Barbacena. BR AN RJ Q1.0.APA.2.

99 Já nos referimos a esta prática no capítulo 1 deste trabalho; bem como aos trabalhos de RIBEIRO, Eder

da Silva. O Conselho de Estado....op.cit. (cap. 1 e 3); e MARTINS, Maria Fernanda. "Os tempos da mudança: elites, poder e redes familiares no Brasil, séculos XVIII e XIX." In: FRAGOSO, João Luis Ribeiro, ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e SAMPAIO; Antônio Carlos Jucá de (orgs.).

Conquistadores e negociantes...op.cit., pp. 403-434; MARTINS, Maria Fernanda Viera. "A velha arte de

governar: o Conselho de Estado no Brasil Imperial." In: Topoi, v. 7, nº. 12, jan-jun. 2006, pp.178-221.

100 Economia Açucareira da Bahia...op.cit.

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João, o de barão de Santo Amaro.102 Em 1823, o marquês de Santo Amaro foi um dos deputados da Constituinte representando a província do Rio de Janeiro. Com o fechamento da Assembleia, foi um dos dez conselheiros que formularam e assinaram a Carta Constitucional do Império de 1824 e, em 1826, eleito senador, foi o primeiro presidente do Senado Imperial e nomeado Conselheiro de Estado efetivo de D. Pedro I. Casou-se duas vezes; a primeira, com Maria do Carmo de Passos e Almeida e, a segunda, com Maria Benedita Cordeiro Papança de Almeida.103Vale ressaltar que Santo Amaro e Barbacena já tinham ligações de parentesco em virtude das estratégias desenvolvidas por Maximiliano de Oliveira Leite, um dos membros do tronco da família Horta. Com o casamento de sua filha, Brant associava-se ainda mais ao topo da hierarquia política e se aproximava cada vez mais dos círculos sociais de D. Pedro I.

Caldeira Brant Pontes estendeu a influência de sua família pelo Rio de Janeiro através do casamento de seu filho Pedro Caldeira Brant, futuro conde de Iguaçu,104com a dama do Paço D. Cecília Rosa de Araújo Vahia, 1ª condessa de Iguaçu.105 Desta forma, a família Brant aliava-se ao tradicional ramo dos Vahia,106dos condes de Sarapuí, Bento Antônio de Vahia e Rita Clara de Araújo Vahia, pais da noiva e "proprietários de

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Nasceu em Santo Amaro em 1º de Setembro de 1767. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, José Egídio Álvares de Almeida “foi empossado como Conselheiro de Capa e Espada do Tribunal do Conselho da Fazenda, no Rio de Janeiro, em 14 de Novembro de 1808. Foi também Provedor da Alfândega da Bahia, nomeado em data controvertida, 22 de Setembro de 1800 ou 8 de Maio de 1801, e confirmado em 21 de Janeiro de 1802. Adquiriu a propriedade desse ofício em 18 de Maio de 1801 e nele sucedeu a seu sogro José Rufino Pereira da Silveira da Costa e Almeida. Pretendeu também nessa época ser Provedor da Casa da Moeda da Bahia. Acompanhou a Família Real na sua ida de Salvador para o Rio de Janeiro, o que lhe valeu ser nomeado Secretário de D. João VI e depois, em 1818, Conselheiro do Erário Régio”.Cf. http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/pessoal/alfandega_salvador/funcionarios .asp.

103José Egídio Álvares de Almeida foi ainda Grande do Império, Gentil-Homem da Câmara do primeiro

Imperador, Grã-Cruz da Imperial Ordem do Cruzeiro. As informações a respeito de José Egídio foram

retiradas de: RIBEIRO, Eder. O Conselho de Estado....op.cit. Outras informações estão disponíveis em: http://www.sfreinobreza. com/Nobs2.htm.

104 Título de origem toponímica. Pedro Caldeira Brant nasceu em Salvador (BA) e faleceu no Rio de Janeiro. Casou pela primeira vez em 21/08/1838, no Rio de Janeiro, com Cecília Rosa de Araújo Vahia, nascida a 08/11/1820 em São João de Meriti-RJ e falecida a 09.02.1846, 1ª condessa de Iguaçu, pertencente a importante família Vahia do Rio de Janeiro. Casou-se em segundas núpcias, a 02/09/1848, com Maria Isabel de Bragança, 2ª condessa de Iguaçu. Cf. http://www.sfreinobreza.com/NobI1.htm. 105

Pedro Caldeira Brant e Cecília Rosa receberam o título de conde e condessa de Iguaçu, no decreto de 02/12/1840, depois do Golpe da Maioridade de D. Pedro II (23/06/1840), face à aliança do Partido Liberal com a facção Áulica palaciana contra o Partido Conservador.

106Bento Antonio Vahia nasceu em 1780 no Rio de Janeiro e faleceu em 1843. Foi agraciado com o título

de Conde de Sarapuí pelo decreto de 02/12/1840. Título de origem toponímica, tomado de um rio do mesmo nome, no estado do Rio de Janeiro. A família Vahia é de origem galega e dela fez parte um dos mais famosos governadores da cidade do Rio de Janeiro, Luiz Vahia Monteiro, " O Onça", que deu origem à expressão " no tempo do Onça". O ramo carioca desta família, ao qual pertence o Barão, tem sua origem em Isabel Teixeira (Vahia) de Mesquita, tia materna do citado governador, cf. http://www.sfreinobreza.com/Nobs2.htm . A respeito do governdor na capitania Luiz Vahia Monteiro (1725-1732), cf. BICALHO, Maria Fernanda. A Cidade e o Império. O Rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.

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terras na região de São João de Meriti."107 Após o falecimento de D. Cecília Rosa, Pedro Caldeira contraiu matrimônio com D. Maria Isabel de Alcântara Brasileira de Bragança, 2ª viscondessa de Iguaçu, filha da marquesa de Santos com D. Pedro I; aproveitando as redes desenvolvidas por seu pai com o primeiro imperador brasileiro.108 Felisberto Caldeira Brant foi comandante chefe do exército em operações no Rio Grande do Sul no ano de 1826 e, face ao comando das tropas na Cisplatina, recebeu o título de marquês de Barbacena em 12 de outubro de 1826109. Após a sua saída do comando das tropas na Cisplatina, atuação essa bastante criticada,110 Felisberto recebeu a missão de acompanhar a filha do primeiro monarca, D. Maria da Glória - rainha de Portugal, após a abdicação de seu pai ao trono português em 1826 - a Viena para que fosse entregue a seu avô, D. Francisco I, rei da Áustria, a fim de concluir sua educação na corte austríaca até completar a maioridade, quando desposaria seu tio D. Miguel e assumiria o trono português. Findada essa missão, o marquês estava a cargo de encontrar uma noiva a D. Pedro I, viúvo após o falecimento de D. Leopoldina.

Na verdade, Barbacena só ficou a cargo desta última missão, porque em fevereiro de 1828, quando chegou a Áustria com a incumbência de verificar o andamento das negociações de busca por uma nova imperatriz a D. Pedro I, o mesmo havia desconfiado que Metternich, chanceler austríaco, estava sabotando o monarca brasileiro na aquisição de novos enlaces matrimoniais. As negociações de um novo matrimônio para D. Pedro estavam a cargo de seu ex-sogro, D. Francisco I. O monarca austríaco havia se colocado à disposição do imperador brasileiro para ser o intermediador das negociações pelo novo consorte matrimonial. No entanto, dentro da corte austríaca este novo casamento não era bem visto. A rejeição a ele era causada pela preocupação que membros da corte, em especial seu chanceler Metternich, tinham de que do novo consórcio fosse gerado um filho varão que pudesse colocar em risco a ascensão ao trono brasileiro de D. Pedro de Alcântara, filho de D. Leopoldina, fazendo

107

Segundo Eder da Silva Ribeiro, Vahia descendia de Domingos de Azeredo Coutinho, um dos primeiros povoadores do Rio de Janeiro. Cf. RIBEIRO, Eder. O Conselho de Estado....op. cit., p.146.

108 Idem.

109CALÓGERAS, op. cit. Data da titulação retirada de: http://www.jbcultura.com.br/gde_fam/pafn

241.htm#6496.

110 A respeito da atuação do tenente general Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliveira Horta na Guerra

da Cisplatina cf. PEREIRA, Aline Pinto. Domínios e Império: o Tratado de 1825 e a Guerra da

Cisplatina na construção do Estado Imperial...op.cit.; MIRANDA, Marcia Eckert. A Estalagem e o Império: crise do Antigo Regime, Fiscalidade e Fronteira na província de São Pedro (1808-1831). Tese

de Doutorado em História Econômica. Campinas: UNICAMP/Instituto de Economia, 2006; JUNQUEIRA, Lucas de Faria. A Bahia e o Prata no Primeiro Reinado: comércio, recrutamento e Guerra

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com que os Habsburgos perdessem a coroa no Brasil. Portanto, membros da corte austríaca espalharam por toda a Europa a má fama de D. Pedro I como esposo, fazendo com que o monarca brasileiro recebesse inúmeras recusas para um novo consorte.111 Segundo Pandiá Calógeras, a família imperial austríaca não partilhava dos planos de sabotagem perpetrados por Metternich, mas afirma que o chanceler austríaco "dominava os Habsburgos"112. Sendo assim, era inviável que através da atuação da coroa austríaca o imperador brasileiro conseguisse desposar alguma princesa europeia.

Barbacena conseguiu, com grande diplomacia, retirar das mãos de D. Francisco I os pourparles que o autorizavam a negociar o novo casamento de D. Pedro I. Ele suspendeu as negociações sem que deixasse transparecer que havia tomado aquela medida por suspeitar da atuação de Metternich para as recusas. Por sua atuação na corte austríaca, quando retornou ao Brasil, o monarca brasileiro incumbiu-o na procura de uma nova noiva, assim que completasse sua missão como tutor sub-rogado de sua filha até entregá-la aos cuidados de seu avô na Áustria. No retorno ao país, em maio de 1828, Brant também já estava ciente do boato de traição de D. Miguel, que teria usurpado o trono de sua sobrinha D. Maria da Glória em Portugal.113

Barbacena embarcou para a Europa a fim de cumprir suas missões em 24 de junho de 1828. As saídas encontradas por ele para solucionar os percalços que se apresentaram no cumprimento destas, fizeram com que fosse alcançado ao topo da hierarquia política do Primeiro Reinado.

No que diz respeito à crise de sucessão do trono português, o marquês foi avisado ainda em mar a caminho da Europa pelo visconde de Itabaiana e pelo marquês de Rezende114, plenipotenciários brasileiros na Europa, da confirmação do golpe praticado por D. Miguel em Portugal. A ação, segundo os diplomatas brasileiros, contava com a participação e influência do chanceler austríaco Metternich, simpatizante do sistema absolutista, que era contrário à solução dada por D. Pedro I à sucessão da

111 CALÓGERAS, op. cit.

112

Idem, p.69.

113Ibidem, pp. 65-78.

114 Antônio Telles da Silva Caminha e Meneses nasceu em Torres Vedras, Portugal a 22 de setembro de

1790. Era filho de Fernando Telles da Silva Caminha e Menezes, 3º marquês de Alegrete, 11º de Penalva e 7º conde de Tarouca, e de sua mulher D. Joana de Almeida, filha dos 2º marqueses de Lavradio e 5º condes de Avintes em Portugal. Aderiu à Independência do Brasil e serviu como ministro em Viena em missão especial em 1824, em Paris em 1828 e na Rússia em 1830. Gentil-Homem da Câmara d’El Rei D. João VI e do Sr. D. Pedro I, Mordomo Mor e Veador de S. M. a Imperatriz viúva, duquesa da Bragança, Sócio da Academia de Ciências de Lisboa, Grã-Cruz da Ordem da Rosa, da R .Ordem de Cristo de Portugal, da Ordem Militar da Torres e Espada, da Coroa de Ferro da Áustria, da Ordem N. S. de Vila Viçosa. Era Cavaleiro da Ordem de Malta. Faleceu em Lisboa em 8 de Abril de 1875. Cf. http://www.sfreinobreza.com/Nobr.htm

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Coroa portuguesa, da qual abdicou ao trono em favor de sua filha, e deu uma Carta Constitucional aos portugueses que limitava as ações do soberano português.115 Desta forma, Barbacena sabia que não podia entregar a infanta, D. Maria, aos cuidados de seu avô na Áustria, pois, se assim o fizesse, fatalmente ela seria feita prisioneira da corte austríaca e obrigada a casar-se com seu tio D. Miguel, aceitando a abdicação do trono português em seu favor ou, ainda, a fariam abdicar ao trono e lhe pagariam uma pensão vitalícia116. Portanto, a solução encontrada por Barbacena foi enviar a infanta a Londres aos cuidados da Família Real britânica, enquanto aguardava novas instruções do Rio de Janeiro em como proceder com a delicada situação portuguesa. Ao final deste período, a decisão final do Imperador foi pelo retorno de sua filha ao Brasil, ideia que Barbacena o havia aconselhado a seguir, em razão do clima hostil encontrado na Europa com as intrigas articuladas pelo governo austríaco. Barbacena e D. Maria ficaram em Londres durante 11 meses. Eles passaram dificuldades financeiras e as despesas realizadas pelos dois foram pagas com dinheiro pessoal de D. Pedro I e, outra parte, com dinheiro que o governo português recebia do governo brasileiro como resultado da separação política entre as partes. As despesas em Londres trouxeram problemas futuros ao marquês.117

Entretanto, enquanto Barbacena dava cumprimento de suas missões na Europa, na Corte do Rio de Janeiro as providências tomadas pelo marquês para solucionar a crise de sucessão portuguesa, os cuidados com a infanta D. Maria e a procura de uma noiva para o Imperador D. Pedro I eram criticadas por seus inimigos políticos na Corte,