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Primeiramente, o projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC), o qual emitiu parecer favorável (Anexo A), de acordo com o protocolo nº 71/10. Após a emissão do parecer favorável e autorização pela diretoria das escolas alvo do estudo, iniciou-se a coleta de dados.

Antes da aplicação do questionário a todos os integrantes do estudo, explicou-se o objetivo do trabalho e garantiu-se o sigilo e anonimato no intuito de preservar-lhes a identidade e privacidade, consoante o preconizado pela Resolução 196/96 sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras referentes a pesquisas com seres humanos (BRASIL, 1996). Esta se originou do plenário do Conselho Nacional de Saúde, que no uso das suas atribuições conferidas pelas leis nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e nº 8.142, de dezembro de 1990, decidiu aprovar, via Resolução nº 196, de 10/10/1996, normas e diretrizes que regulamentam as pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996; SEVERINO, 2000).

Outro aspecto importante e imprescindível à aplicação do questionário foi a solicitação da assinatura aos participantes e a seus respectivos responsáveis do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice C), para participação na pesquisa, o que ocorreu durante o intervalo das aulas na escola e de reuniões entre pais e mestres.

Com isso, cumpriram-se os princípios éticos inerentes à realização de pesquisas envolvendo os seres humanos, quais sejam: o respeito à pessoa por intermédio da obtenção do consentimento informado e manutenção da confidencialidade dos dados obtidos, o princípio da beneficência mediante a fundamentação científica da pesquisa e o princípio da justiça por meio da distribuição justa e equitativa dos benefícios e ônus do estudo científico (HULLEY et al., 2008).

5 RESULTADOS

Como se evidencia, o estudo possibilitou apreender dados comparativos de semelhança ou de diferença significante estatisticamente acerca dos 67 adolescentes do sexo masculino do grupo-caso e aos outros 67 adolescentes do mesmo sexo do grupo-controle concernentes aos aspectos demográficos e socioeconômicos, ao estilo de relacionamento afetivo e sexual, ao hábito de assistir a telenovelas de diversas emissoras de televisão e a equivalência entre assistir telenovelas e o comportamento sexual do adolescente.

Inicialmente, por meio da Tabela 1, apresentam-se os resultados no tocante à situação demográfica e socioeconômica individual e familiar dos adolescentes e do meio sociocultural onde estão inseridos. Os dados obtidos sinalizam a ausência de associação significante estatisticamente entre os grupos caso e controle, (p>0,05), o que denota a semelhança quanto aos aspectos abordados na tabela em discussão entre os adolescentes do sexo masculino de ambos os grupos. Ressalta-se apenas uma possibilidade de diferença significante estatisticamente entre os grupos caso e controle quanto ao número de pessoas que trabalhavam e residiam com o adolescente (p=0,061).

Tabela 1 - Caracterização demográfica e socioeconômica dos adolescentes. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Série do Ensino Médio

1ºano 24 20 0,733I 2ºano 34 36 3ºano 9 11 2. Situação conjugal Solteiro 66 66 1,000I Casado 1 0 Situação estável 0 1 3. Tipo de moradia Casa 64 61 0,215I Apartamento 2 6 4. Tipo de vinculação ao imóvel Próprio 54 51 0,529I Alugado 13 16 5. Situação trabalhista Trabalha 21 22 0,853I Não trabalha 46 45 6. Renda familiar Menos de 3 salários 14 16 0,816I Mais de 3 salários 3 8

7. Número de pessoas que exercem atividade laboral e residem com o adolescente

Nenhuma 4 3 Uma 16 11 0,061II Duas 29 24 Três 12 17 Mais de três 4 8 Variáveis Média (DP) P25 P50 P75 p-valor 8. Idade 16,79 (1,245) 16 17 18 0,792 II 9. Número de cômodos na residência 6,38 (2,187) 5 6 7,25 0,852 II 10. Número de pessoas que

residem com o adolescente 4,29

(2,563) 3 4 5 0,447

II 11. Número de pessoas que

exercem atividade laboral e

residem com o adolescente 2,12

(1,25) 1 2 3 0,061

II DP = desvio padrão; I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Mann-Whitney.

De acordo com esta tabela, a maioria dos adolescentes dos grupos caso e controle tinham uma média de idade de 16,79 anos (DP=1,245), eram solteiros,

estavam cursando o 2º ano do ensino médio, não trabalhavam, possuíam renda familiar de menos de três salários mínimos e residiam em casa própria constituída em média por 6,38 cômodos (DP=2,187) e com cerca de 4,29 pessoas (DP=2,563), e apenas 2,12 pessoas (DP=1,25), em média, exerciam alguma atividade laboral e contribuíam com a renda familiar.

Por meio desta tabela foi possível constatar uma provável diferença significante estatisticamente (p = 0,061) no que concerne ao número de pessoas que exerciam atividade laboral e residiam com o adolescente, pois os adolescentes do grupo-caso moravam, em sua maioria (49), com até duas pessoas que exerciam atividade laboral, enquanto que a maior parte dos constituintes do grupo-controle (49) moravam com duas e mais de duas pessoas que exerciam atividade laboral.

A seguir, na Tabela 2, consta a relação das pessoas que residem com o adolescente conforme o grau de parentesco.

Tabela 2 - Pessoas que residem com os adolescentes de acordo com o grau de parentesco. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Pai Sim 39 37 0,727I Não 28 30 2. Mãe Sim 56 59 0,458I Não 11 08 3. Irmãos Sim 46 45 0,853I Não 21 22 4. Tios Sim 12 11 0,604I Não 55 56 5. Primos Sim 11 15 0,382I Não 56 52 6. Avós Sim 14 11 0,506I Não 53 56 7. Namorada(o) Sim 1 1 0,752II Não 66 66 8. Amigos(as) Sim 3 0 0,122II Não 64 67 9. Sobrinho(a) Sim 2 0 0,248II Não 65 67 10. Padrasto/Madrasta Sim 0 2 0,248II Não 67 65

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Fischer.

Pela Tabela 2, detectou-se a semelhança estatística entre os grupos caso e controle, no tocante ao grau de parentesco entre os adolescentes e às pessoas que residiam com eles (p>0,05). Além disso, segundo verificou-se, em ambos os grupos, os adolescentes moravam, em sua maioria, com o pai, a mãe e os irmãos, cujos valores p foram, respectivamente, 0,727, 0,458, 0,853. Como averiguado também, uma minoria de adolescentes dos grupos caso e controle de modo semelhante, estatisticamente, moravam com tios (p = 0,604), primos (p = 0,382), avós (p = 0,506), sobrinhos (p = 0,248) e padrasto ou madrasta (p = 0,248). Além disso, verificou-se que poucos adolescentes, de ambos os grupos, de maneira

similar, moravam com outras pessoas não pertencentes à sua família, como amigos ou amigas (p = 0,122) e namorada (p = 0,752).

Expõe-se a seguir, na Tabela 3, a caracterização dos relacionamentos afetivos dos adolescentes.

Tabela 3 - Caracterização dos relacionamentos afetivos dos adolescentes. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Tipo de relacionamento atual

Sem relacionamento 18 15 0,651I

Namoro 22 27

Fica 27 25

2. Tipo de relacionamento com a primeira parceira sexual

Nenhum 6 8 0,102I

Fica 41 28

Namoro 19 30

Amizade 1 0

3. Tipo de relacionamento com a(s) parceira(s) sexual(is) atual(is)

Não tem relacionamento sexual no momento 40 28 0,063I

Fica 03 11

Namoro 20 26

Nenhum e namoro em caso de mais de 1 parceiro

sexual 2 0

Relacionamento sexual mediante pagamento 1 1

Outro tipo de relacionamento 0 1

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções.

Nesta tabela, identificou-se de maneira semelhante, estatisticamente (p = 0,651), que um maior número de adolescentes do grupo-caso apresenta como relacionamento afetivo atual o fica , enquanto uma maior quantidade de adolescentes do grupo-controle estão namorando.

Também na mesma tabela, verificou-se semelhança estatística entre o tipo de relacionamento afetivo com a primeira parceira sexual dos integrantes dos grupos caso e controle no momento da realização da pesquisa (p = 0,102), em virtude de a maior parte dos adolescentes do grupo-caso (41) apresentarem como relacionamento afetivo com a primeira parceira sexual o fica , enquanto os adolescentes do grupo-controle tiveram, em sua maioria, dois tipos de relacionamento afetivo com a primeira parceira sexual, qual seja, o namoro (30) e o

Ainda em referência à Tabela 3, detectou-se um indicativo de diferença de proporção quanto ao tipo de relacionamento afetivo com a parceira sexual atual (p = 0,063), pois enquanto quarenta adolescentes do grupo-caso não mantinham parceira sexual no momento apenas 28 do grupo-controle também não o mantinham; em virtude de três adolescentes do grupo-caso não mencionarem nenhum relacionamento afetivo com a parceira sexual em comparação a onze adolescentes do grupo-controle inclusos na mesma situação; em decorrência também de vinte adolescentes do grupo-caso namorarem a parceira sexual em relação a 26 adolescentes do grupo-controle terem o mesmo relacionamento afetivo.

Na Tabela 4, constam faixa etária de início da vida sexual e número de parceiras sexuais.

Tabela 4 - Faixa etária de início da vida sexual e número de parceiras sexuais. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Média (+/-DP) P25 P50 P75 p-valor

1.Idade de início da vida

sexual 14,44 (+/-1,713) 13 15 15 0,847

I 2.Quantidade de parceiras

sexuais 0.72 (+/- 1,040) 0 0 1 0,025

I

Variável Caso Controle p-valor

1.Quantidade de parceiras sexuais Nenhuma 40 28 0,025I Uma 21 29 Duas 2 4 Mais de duas 3 6

I = Foi realizado o Teste de Mann-Whitney.

Como revelou a Tabela 4, ambos os grupos apresentaram proporções semelhantes quanto ao tempo médio de início da vida sexual (14,44 anos, p = 0,847). Entretanto, em relação à quantidade de parceiras sexuais, houve diferença estatisticamente significativa entre os constituintes dos grupos caso e controle (p = 0,025), pois os do grupo-controle se engajaram em mais relacionamentos sexuais e com um maior número de parceiras do que os do grupo-caso.

Esses resultados possibilitaram afirmar que os adolescentes do grupo- controle tiveram mais relacionamentos sexuais, pois 29 pessoas deste grupo possuíam uma parceira sexual comparativamente a 21 do grupo-caso com a mesma quantidade de parceiras sexuais. Também como foi possível detectar que os

adolescentes do grupo-controle referiram mais parceiras sexuais do que os do grupo-caso. Foram dez adolescentes do grupo-controle com mais de uma parceira sexual para cinco do grupo-caso.

Sobre os motivos que impulsionaram os adolescentes a se relacionarem sexualmente pela primeira vez, veja-se a Tabela 5.

Tabela 5 - Motivos que impulsionaram os adolescentes a se relacionarem sexualmente pela primeira vez. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Curiosidade Sim Não 1057 2047 0,038 I 2. Atração Sim 40 28 0,038I Não 27 39 3. Paixão Sim 12 7 0,216I Não 55 60 4. Amor Sim 13 12 0,825I Não 54 55

5. Pressão da(o) parceira(o)

Sim 2 3 0,500II

Não 65 64

6. Pressão dos amigos

Sim 1 3 0,310II

Não 66 64

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Fischer.

Esta tabela possibilitou averiguar a diferença significante estatisticamente em referência aos motivos curiosidade (p = 0,038) e atração (p = 0,038) que impulsionaram os adolescentes ao relacionamento sexual pela primeira vez. Para um maior número de adolescentes (40) do grupo-caso, a atração os conduziu ao início da vida sexual, enquanto os do grupo-controle apontaram a curiosidade (20) e a atração (28) como motivos a levá-los à primeira relação sexual. Quanto a outros motivos (paixão, amor, pressão da parceira, pressão dos amigos), verificou-se semelhança entre os grupos.

Sobre o hábito dos adolescentes de assistir à telenovela das emissoras de televisão e número de telenovelas vistas por dia, confira-se a Tabela 6.

Tabela 6 - Hábito de assistir à telenovela das emissoras de televisão pelos adolescentes e número de telenovelas assistidas por dia. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Hábito de assistir à telenovela

Sim 34 43 0,116I Não 33 24 2. Emissora de televisão Rede Globo Sim 27 38 0,057I Não 40 29

Sistema Brasileiro de Televisão (SBT)

Sim 4 3 0,500II

Não 63 64

Rede Record

Sim 10 9 0,804I

Não 57 58

Variável Média (+/- DP) P25 P50 P75 p-valor

3. Número de telenovelas

assistidas por dia 0,94 (+/- 1,061) 0,00 1,00 2,00 0,161 III I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Fischer; III = Foi realizado o Teste de Mann-Whitney.

Por meio desta tabela, foi possível detectar que os adolescentes do grupo-controle (43) assistiam a mais telenovelas do que os do ao grupo-caso (34), mas sem verificação de diferença significante estatisticamente (p = 0,116). Em associação a isso, segundo identificou-se, em relação às outras emissoras de televisão, os adolescentes de ambos os grupos assistiam mais às telenovelas exibidas pela Rede Globo e os do grupo-controle (38) ainda assistiam mais às telenovelas desta emissora do que os componentes do outro grupo (27), o que permitiu averiguar uma provável diferença significante estatisticamente (p = 0,057).

Tabela 7 - Telenovelas assistidas pelos adolescentes. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Malhação Sim 9 19 0,034I Não 58 48 2. O Cravo e a Rosa Sim 0 1 0,500II Não 67 66 3. Viver a Vida Sim 2 6 0,137II Não 65 61 4. Araguaia Sim 1 1 0,752II Não 66 66 5. Bela, a Feia Sim 4 4 0,641II Não 63 63

6. Escrito nas Estrelas

Sim 8 8 1,000I Não 59 59 7. Sinhá Moça Sim 1 1 0,752II Não 66 66 8. Ribeirão do Tempo Sim 7 4 0,345I Não 60 63 9. Passione Sim 10 11 0,812I Não 57 56 10. Os Mutantes Sim 2 2 0,690II Não 65 65 11. Sete Pecados Sim 2 2 0,690II Não 65 65 12. Ti Ti Ti Sim 2 1 0,500II Não 65 66

13. Ana Raio e Zé Trovão

Sim 0 1 0,500II

Não 67 66

14. Tempos Modernos

Sim 1 1 0,752II

Não 66 66

15 Uma Rosa com Amor

Sim 1 0 0,500II

Não 66 67

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Fischer

Esta tabela demonstrou a semelhança estatística entre os grupos caso e controle no referente a assistir às seguintes telenovelas exibidas pela Rede Globo: O Cravo e a Rosa (p = 0,500), Viver a Vida (p = 0,137), Araguaia (p = 0,752), Escrito nas Estrelas (p = 1,000), Sinhá Moça (p = 0,752), Passione (p = 0,812), Sete Pecados (p = 0,690), TiTiTi (p = 0,500) e Tempos Modernos (p = 0,752). Também revelou a semelhança estatística entre os grupos quanto a assistir às telenovelas citadas a seguir e apresentadas pela emissora Rede Record: Bela, a Feia (p = 0,641), Ribeirão do Tempo (p = 0,345) e Os Mutantes (p = 0,690). Ainda mostrou a semelhança estatística entre os grupos caso e controle quanto a assistir às seguintes telenovelas exibidas pelo SBT: Ana Raio e Zé Trovão (p = 0,500) e Uma Rosa com Amor (p = 0,500).

Destaca-se a Malhação como a telenovela assistida com frequência diferenciada estatisticamente e significativamente (p = 0,034) pelos adolescentes dos grupos caso e controle, pois esta telenovela era mais assistida pelos adolescentes do grupo-controle (19) do que pelos do grupo-caso (9).

Na Tabela 8, relacionam-se os motivos que atraem a atenção dos adolescentes ao ser exibida a telenovela.

Tabela 8 - Motivos que atraem a atenção dos adolescentes no momento da exibição das telenovelas. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. Os atores ou atrizes Sim 4 7 0,345I Não 63 60 2. O cenário Sim 9 10 0,804I Não 58 57 3. As brigas ou confusões Sim 9 12 0,476I Não 58 55 4. As cenas de romance Sim 13 11 0,652I Não 54 56 5. As cenas de comédia Sim 10 14 0,367I Não 57 53 6. As cenas de sexo Sim 6 6 1,000I Não 61 61 7. O enredo Sim 1 1 0,752II Não 66 66

8. Apresentar o cotidiano de maneira similar ao da vida real

Sim 0 1 0,500II

Não 67 66

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções; II = Foi realizado o Teste de Fischer

Por esta tabela, conforme se apreende, os adolescentes de ambos os grupos apontaram, de maneira semelhante estatisticamente, como motivos que os atraíam a assistirem à telenovela os atores e atrizes (p = 0,345), o cenário (p = 0,804), as brigas ou confusões (p = 0,476), as cenas de romance (p = 0,652), as cenas de comédia (p = 0,367), as cenas de sexo (p = 1,000), o enredo (p = 0,752) e apresentar o cotidiano de maneira similar ao da vida real (p = 0,500).

Por fim, a Tabela 9 mostra a relação entre o ato de assistir a telenovelas e o comportamento sexual dos adolescentes.

Tabela 9 - Relação entre o ato de assistir a telenovelas e o comportamento sexual dos adolescentes. Fortaleza-CE, 2010.

Variáveis Caso Controle p-valor

1. A telenovela influenciou sua decisão em ter a primeira relação sexual

Sim 5 11 0,243I

Não 29 32

2. A telenovela estimula a se relacionar sexualmente

Sim 11 12 0,463I

Não 22 31

3. A telenovela estimula a utilizar preservativo masculino

Sim

Não 1915 2419 0,995

I 4. A telenovela estimula a apresentar muitos

parceiros sexuais

Sim 13 21 0,352I

Não 21 22

5. A telenovela influencia seu comportamento sexual

Sim 5 15 0,062I

Não 27 28

6. A telenovela veicula cenas de sexo entre adolescentes

Sim

Não 2113 2220 0,412

I 7. As cenas de sexo entre adolescentes

influenciam seu comportamento sexual

Sim 9 8 0,663I

Não 12 14

8. A telenovela ensina algo sobre prevenção da infecção pelo vírus HIV

Sim 23 31 0,513I

Não 10 12

I = Foi realizado o Teste do Qui-quadrado de diferença de proporções

Esta tabela demonstrou a relação entre o ato de assistir à telenovela e o comportamento sexual dos adolescentes e, consequentemente, a influência da telenovela em algumas questões relacionadas ao comportamento sexual dos constituintes dos grupos caso e controle.

Assim como se identificou, a grande parte dos integrantes de ambos os grupos (29 do grupo-caso e 32 do grupo-controle), de modo semelhante estatisticamente (p = 0,243), apontaram que a telenovela não influenciou sua decisão em ter a primeira relação sexual.

Consecutivamente, boa parte dos constituintes dos grupos caso (22) e controle (31) referiram, com ausência de diferença significante estatisticamente (p = 0,463), que a telenovela não os estimula a se relacionar sexualmente.

Em seguida, segundo se verificou, muitos adolescentes do grupo-caso (19) e do grupo-controle (24), de modo semelhante estatisticamente (p = 0,995), mencionaram que a telenovela incentiva o uso do preservativo masculino.

Também, consoante se apreendeu, para elevado número de componentes do grupo-caso (21) e do grupo-controle (22), sem ausência significante estatisticamente (p = 0,352), a telenovela não estimula a ter muitos parceiros sexuais.

E, ainda, segundo adolescentes dos grupos caso (27) e controle (28), a telenovela não influencia seu comportamento sexual. No entanto, verificou-se uma possibilidade de diferença significante estatisticamente (p = 0,062) no tocante à influência da telenovela no comportamento sexual dos adolescentes dos grupos caso e controle, pois um maior número de adolescentes (15) do grupo-controle em comparação à quantidade de meninos do grupo-caso (5) apontou que a telenovela influenciou seu comportamento sexual.

Após isso, identificou-se, conforme integrantes do grupo-caso (21) e do grupo-controle (22), que a telenovela veicula cenas de sexo entre adolescentes de modo semelhante estatisticamente (p = 0,412).

Ademais, de acordo com parte de constituintes dos grupos caso (12) e controle (14), as cenas de sexo entre os adolescentes exibidas pela telenovela não influenciaram seu comportamento sexual de modo que reflete a ausência de diferença significante estatisticamente (p = 0,663).

Finalmente, como constatou-se, adolescentes dos grupos caso (23) e controle (31) mencionaram, semelhantemente (p = 0,513), que a telenovela ensina algo sobre prevenção da infecção pelo vírus HIV.

6 DISCUSSÃO

Conforme se identificou em ambos os grupos pesquisados, a maior parte dos adolescentes, cuja média de idade é de 16,79 anos, são solteiros, frequentam o 2º ano do ensino médio, residem em casa própria, com aproximadamente quatro familiares, sendo estes, principalmente, o pai, a mãe e os irmãos e têm uma renda familiar de menos de três salários mínimos, que é adquirida pela atividade laboral exercida pelos seus familiares, pois a maioria dos adolescentes não trabalham.

Ressalta-se: a semelhança entre esses dados socioeconômicos apresentados pelos adolescentes dos grupos caso e controle é importante para não interferir na avaliação da influência da telenovela no uso do preservativo masculino. Isto porque o nível socioeconômico é um fator passível de influenciar no uso do preservativo masculino em todas as relações sexuais, conforme pesquisas segundo as quais o nível socioeconômico guarda uma relação direta com o nível de oportunidades educacionais, de acesso à informação e aos serviços de saúde. Como observado, os adolescentes de nível socioeconômico mais baixo, como os que frequentam a escola pública e, notadamente, os pertencentes aos grupos caso e controle da pesquisa em discussão, têm menos acesso a informações de qualidade sobre a infecção pelo vírus HIV, menor percepção da autoeficácia do uso consistente do preservativo masculino, menor intenção de utilizar constantemente a camisinha masculina e, portanto, menos usam adequadamente o preservativo masculino (CAMARGO; BERTOLDO, 2006; BERGAMIM; BORGES, 2009; MATOS; VEIGA; REIS, 2009; CRUZEIRO et al., 2010).

Associado a essas considerações, quanto maior a escolaridade e a renda familiar maior são o uso do preservativo masculino nas relações sexuais. Assim, os adolescentes dos grupos caso e controle com o mesmo nível de escolaridade e a mesma renda familiar não são influenciados de nenhuma maneira por essas duas variáveis no tocante à utilização da camisinha nos intercursos sexuais (PAIVA et al., 2008).

No entanto, com diferença significante estatisticamente, a grande maioria dos adolescentes do grupo-caso moram com menos familiares que trabalham (uma ou duas pessoas), enquanto a maior parte dos adolescentes do grupo controle residem com dois ou mais de dois familiares que exercem atividades laborais para

garantir a mesma renda familiar da família dos adolescentes do grupo-caso e, por conseguinte, a subsistência da família.

Assim, como se pode inferir, possivelmente, os adolescentes do grupo- controle têm menos contato diário com seus familiares e, portanto, são menos influenciados socialmente por eles e recebem menos orientações referentes ao uso frequente e constante do preservativo masculino e, consequentemente, à prevenção da infecção pelo vírus HIV.

Já os adolescentes do grupo-caso convivem com mais familiares que não trabalham e, dessa maneira, podem receber mais influência social e cultural destes familiares e, notadamente, podem ser mais conscientizados sexualmente em questões importantes como o uso do preservativo em todas as relações sexuais, o qual é um comportamento sexual preventivo que reduz sua vulnerabilidade à infecção pelo vírus HIV.

Em corroboração a esse resultado, consoante pesquisas, um dos fatores estimuladores ao uso constante e frequente do preservativo masculino pelos adolescentes do sexo masculino é o grau de conhecimento sobre o uso adequado da camisinha (TEIXEIRA et al., 2006) adquirido por meio das conversas com os pais, os quais são apontados pelos adolescentes como fonte de informação e de esclarecimento das dúvidas sobre assuntos relacionados à sexualidade, sexo e uso adequado do preservativo masculino (BRÊTAS; OHARA; JARDIM, 2008; BORGES; NICHIATA; SCHOR, 2006).

Dessa forma, segundo se entende, os adolescentes do grupo-controle podem não estar usando constantemente o preservativo masculino em decorrência da pouca estimulação familiar sobre este em suas relações sexuais, o que não reduz sua vulnerabilidade à infecção pelo vírus HIV, ao contrário do vivenciado pelos adolescentes do grupo-caso.

Conforme o discutido anteriormente, e como autores mencionam, os adolescentes que conversam sobre o adequado uso do preservativo com seus pais usam mais frequentemente a camisinha masculina durante os intercursos sexuais. Desse modo, contribuem para a redução do comportamento de risco e da infecção pelo vírus HIV, motivada pelo não uso do preservativo constantemente (MARTINEZ; ABMA; COPEN, 2010). Assim como o mencionado em uma pesquisa segundo a qual a mãe é uma das pessoas mais influentes no tocante à intenção do uso do preservativo pelos adolescentes do sexo masculino (MATOS; VEIGA; REIS, 2009).

Ainda de acordo com estudos, a intenção de uso do preservativo pelos adolescentes do sexo masculino é impulsionada pelo conhecimento dos benefícios à saúde sexual proporcionada pelo seu uso consistente e, consequentemente, pela tomada de atitude de utilizá-lo consistentemente, associada às pressões sociais exercidas pelo meio onde está inserido. Isto justifica, talvez, o resultado de que os adolescentes do grupo-controle não utilizam o preservativo masculino em todas as relações sexuais, pois a família não dispõe de tempo suficiente para conversar com eles sobre o uso consistente do preservativo masculino em todas as relações

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