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Conforme anexo 6, o projeto foi aprovado pela Comissão Científica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).

4 RESULTADOS

Após análise e investigação das informações fornecidas pelo banco de dados dos casos relacionados ao surto, dois casos foram excluídos, pois foram identificados uma duplicidade e um indivíduo sem relação com o surto, resultando em 123 casos incluídos no estudo. Apesar disso, após dois meses da data de encerramento oficial desse surto no SINAN houve o registro de outra notificação da ocorrência de outro surto de caxumba nessa instituição, o que pode sugerir uma continuidade em decorrência do surto anterior utilizado para o estudo.

O registro de casos no SINAN módulo surto se dá por meio dos casos já confirmados para o agravo em questão, em decorrência disso, não é possível informar o número de casos suspeitos de caxumba na instituição.

O gráfico 1A apresenta a curva epidêmica dos casos de caxumba reportados à instituição no período de ocorrência do surto segundo o mês e o ano de início dos sintomas. Com isso, é possível observar a presença de dois períodos em que houve a predominância de casos de acordo com a sazonalidade da doença, atingindo um pico na primavera de 2015 e outro maior no outono de 2016.

Gráfico 1A – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo o mês e ano de

início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017

A partir do gráfico 1B nota-se que além do aumento da incidência no ano de 2016 houve transmissão ininterrupta de casos, ainda que com intensidade variável, durante todo o período. A redução de casos ao longo do tempo estaria associada com a intervenção de medidas de controle, como ocorreu durante a realização da profilaxia pós-exposição, e também pela redução do número de suscetíveis.

Gráfico 1B – Curva epidêmica dos casos de caxumba segundo a semana

epidemiológica e ano de início dos sintomas, UNICAMP, 2015-2017

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A maioria dos casos era do sexo masculino. A amplitude de variação das idades foi de 16 a 56 anos, com idade mediana de 22 anos. Quase 2/3 dos casos ocorreram em indivíduos de 16 a 24 anos coincidindo com a faixa etária mais frequente entre os estudantes de graduação do ensino superior. Além disso, 85% dos casos tinham entre 16 e 29 anos.

Tabela 2 – Distribuição dos casos de segundo sexo e a faixa etária, UNICAMP,

2015-2017

Faixa Etária Feminino Masculino Total

n % n % n % 16 a 19 anos 17 13,8 16 13,0 33 26,8 20 a 24 anos 16 13,0 30 24,4 46 37,4 25 a 29 anos 10 8,1 16 13,0 26 21,1 30 a 39 anos - - 06 4,9 06 4,9 40 a 49 anos 03 2,4 04 3,3 07 5,7 50 a 56 anos 04 3,3 01 0,8 05 4,1 Total 50 40,7 73 59,3 123 100,0 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A tabela 2 mostra que a proporção de casos de indivíduos de 16 a 19 anos foram semelhantes em homens e mulheres. Nas faixas seguintes até os 49 anos predominaram os casos masculinos, já entre a última faixa etária, entre 50 e 56 anos houve predomínio feminino.

Na figura 2 é possível observar que a partir do endereço de residência houve um agregado de casos no distrito de Barão Geraldo, onde o local de estudo fica localizado. O motivo dessa concentração de casos pode ser explicado pelo fato dessa região possuir diversas repúblicas/dormitórios onde os estudantes costumam permanecer durante o período de estudo na instituição de ensino.

Figura 2 – Distribuição dos casos de caxumba segundo o endereço de residência,

UNICAMP, 2015-2017

Fonte: BatchGeo – Google Maps

Os estudantes representaram 81,3% (100/123) dos casos, porém, docentes e servidores da instituição de ensino também foram afetados no surto, entre eles quatro (3,3%; 4/123) docentes. A incidência entre os alunos foi de 2,77 casos por 1.000 matriculados. Entre os docentes a incidência foi de 2,14 casos por 1.000 docentes contratados e entre os funcionários foi de 2,38 casos por servidor.

A instituição oferece e recebe alunos de programas de intercâmbio para os cursos de graduação e pós-graduação, sendo que durante o ano de 2016 haviam

2.187 estudantes estrangeiros matriculados. Com isso, foram identificados no presente surto seis estudantes vindos da Colômbia, Honduras, Itália e Irã. Assim, a incidência entre estudantes estrangeiros foi de 2,74 casos por 1.000 alunos matriculados, semelhante ao observado entre os estudantes em geral.

O gráfico 2 mostra a distribuição dos estudantes doentes por caxumba segundo o curso em que estava matriculado. Segundo a data de início dos sintomas, os casos iniciaram entre os estudantes do curso de Engenharia Química (data de início dos sintomas em 23/08/2015 e 24/08/2015).

Gráfico 2 – Curva epidêmica dos estudantes doentes por caxumba segundo o

curso, UNICAMP, 2015-2016

*Não foi possível obter informação sobre o curso de oito estudantes (sem informação).

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A tabela 3 mostra que a taxa de ataque durante o ano de 2015 foi de 0,7 casos/1.000 matriculados, sendo o campus de Engenharia Química o mais afetado (7,8 casos/1.000 matriculados). Já durante o ano de 2016, a mesma foi de 1,7 casos/1.000 matriculados e o campus de Educação Física representou a maior taxa (9,9 casos/1.000 matriculados).

Tabela 3 – Casos de caxumba segundo a unidade e ano, UNICAMP, 2015-2017 Unidade 2015 2016 casos matriculados TA1 (%) casos matriculados TA1 (%) Administração - 2.663 0,0 03 2.822 1,1 Artes - 1.521 0,0 03 1.496 2,0 Engenharia de Alimentos - 1.196 0,0 02 1.227 1,6 Línguas - 1.263 0,0 02 1.274 1,6 Engenharia Agrícola - 643 0,0 04 597 6,7 Geografia - 1.090 0,0 03 1.067 2,8 Medicina 01 2.983 0,3 05 3.044 1,6 Engenharia Mecânica 01 1.906 0,5 02 1.972 1,0 Matemática 01 1.549 0,6 08 1.511 5,3 Computação 01 1.088 0,9 04 1.125 3,6 Filosofia 02 2.063 1,0 05 2.105 2,4 Física 01 1.046 1,0 06 1.083 5,5 Educação Física 01 749 1,3 08 806 9,9 Biologia 02 1.428 1,4 03 1.390 2,2 Química 02 1.132 1,8 03 1.111 2,7 Engenharia Civil/Arquitetura 02 1.032 1,9 01 1.112 0,9 Engenharia Elétrica/Computação 04 1.729 2,3 06 1.728 3,5 Engenharia Química 08 1.026 7,8 01 1.050 1,0 Total 25 35.656 0,7 61 36.598 1,7 1

TA: taxa de ataque por 1.000 matriculados

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP e anuário da instituição referente ao ano de 2017.

Como referido anteriormente, a redução na taxa de ataque em alguns campi, como foi observado na Engenharia Química (7,8 casos/1.000 matriculados em 2015 para 1,0 casos/1.000 matriculados em 2016), pode ser explicada também pela redução do número de pessoas suscetíveis ao agravo.

Engenharia Química e Engenharia Elétrica são faculdades vizinhas no campus da UNICAMP em Campinas. Engenharia Civil e o Instituto de Química são unidades próximas a ambas, mas não contíguas. Chama a atenção também que a taxa de ataque se reduziu bastante no ano seguinte tanto entre os alunos de Engenharia Química quanto entre os alunos da Engenharia Civil, enquanto na Engenharia Elétrica e no Instituto de Química as taxas de ataque aumentaram no ano seguinte.

Em 2016, a maior taxa de ataque foi observada na Faculdade de Educação Física que não mantém proximidade com as outras unidades que apresentaram taxas altas de incidência. Porém, neste campus há um centro esportivo, onde todos os estudantes frequentam para realizar atividade física.

A Faculdade de Engenharia Agrícola, que também está entre as unidades com maiores taxas de ataque, é vizinha da Faculdade de Engenharia Química enquanto o Instituto de Física e o Instituto de Matemática são vizinhos entre si e do Instituto de Química.

Quanto às características clínicas dos casos confirmados, como é possível observar no gráfico 3, o edema em região da glândula parótida esteve presente em 95,1% (117/123) dos casos. A febre, uma das manifestações clínicas descritas na definição de caso, foi relatada por apenas 31,7% (39/123) dos casos.

Gráfico 3 – Distribuição dos casos de caxumba segundo os sinais e sintomas,

UNICAMP, 2015-2017

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A informação sobre presença ou ausência de complicações durante o adoecimento foi registrada em 19,5% (24/123) dos casos, sendo que, entre os indivíduos do sexo masculino, 8,3% (2/24) apresentaram orquite.

O registro sobre a presença ou ausência de comorbidades foi disponibilizada em 37,4% (46/123) dos casos. Entre eles, 8,7% (4/46) referiram apresentar hipertensão arterial, 4,3% (2/46) hipotireoidismo, 2,2% (1/46) diabetes mellitus e 2,2% (1/46) dislipidemia.

Em média, o intervalo entre a data do início dos sintomas e a data do atendimento médico dos casos foi de 2,1 dias com amplitude de variação entre 0 e 18 dias.

Apesar de ser um exame inespecífico, o nível sérico da enzima amilase é utilizado como marcador dos casos de caxumba. Entre os 115 (93,5%) casos que realizaram este exame, a dosagem média foi de 261,9 U/dl (24-1770 U/dl).

Em 64,2% (79/123) dos casos, o critério laboratorial foi utilizado para o diagnóstico da doença. Entre os 50,4% (62/123) que realizaram sorologia-IgM, o resultado foi positivo para caxumba em 8,1% (5/62). Já entre os 73,9% (91/123) que realizaram PCR-RT, a positividade para o vírus foi de 83,5% (76/91).

Com relação à oportunidade de coleta, a tabela 4 mostra que há um aumento no percentual de positividade quando a sorologia é realizada após seis dias da data de início dos sintomas.

Tabela 4 – Casos de caxumba que realizaram sorologia-IgM segundo o resultado os

dias de intervalo entre a data de início dos sintomas e a data de coleta, UNICAMP, 2015-2017

Resultado <6 dias ≥6 dias

n % n % Positivo 04 7,5 02 16,7 Negativo 46 86,8 09 75,0 Inconclusivo 03 5,7 01 8,3 Total 53 100 12 100 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

O contato prévio com algum caso suspeito e/ou confirmado para caxumba foi referido por 39,8% (49/123) dos casos. Porém, em 25,2% (31/123) dos casos essa informação era ignorada.

A informação sobre a situação vacinal dos casos reportados no surto estava disponível em 57,7% (71/123) deles. Como apresentado na tabela 5, 24,0% (17/71)

estavam com o esquema vacinal recomendado para o agravo, ou seja, tinham recebido pelo menos duas doses da vacina tríplice viral. Para a coorte dos nascidos antes de 1992, 48,3% haviam recebido uma dose da vacina e apenas 10,3 tinham duas doses. Já na coorte nascida após 1993, portanto após a introdução da vacina no calendário para os menores de um ano, 35,6% tinham recebido uma dose de vacina e 28,6% referiam a segunda Com relação à disponibilidade da data de aplicação da última dose da tríplice viral, 58,7% (27/46) dos casos a receberam há menos de 10 anos.

Tabela 5 – Casos de caxumba segundo o número de doses da vacina tríplice viral e

o ano de nascimento, UNICAMP, 2015-2017 Número de doses Ano de nascimento Total Até 1992 Após 1993 n % n % n % Uma dose 14 48,3 15 35,6 29 40,8 Duas doses 03 10,3 12 28,6 15 21,2 Três doses ou mais - 0,0 02 4,8 02 2,8 Nenhuma 12 41,4 13 31,0 25 35,2 Total 29 100 42 100 71 100 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A distribuição do número de doses recebidas em cada faixa etária apresentada na tabela 6 mostra que para os casos acima de 30 anos de idade nenhum indivíduo havia recebido as duas doses. Como a informação sobre o estado vacinal estava disponível apenas para 14 casos as proporções tem pouco significado. Para os menores de 30 anos a proporção de não vacinados variou de 25% no grupo de 25 a 29 anos a 33,3% no grupo de 20 a 24 anos.

A proporção de vacinados com uma ou mais doses variou entre 71,4% no grupo de 16 a 19 anos a 75% no grupo de 25 a 29 anos. Embora essa proporção tenha aumentado gradativamente entre esses três grupos etários a proporção de casos com registro de duas doses apresentou a tendência inversa sendo mais alta entre os casos com 16 a 19 anos e menor no grupo de 25 a 29 anos.

Tabela 6 – Casos de caxumba segundo a faixa etária e o número de doses da

vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017

Faixa etária 1 dose ≥2 doses Nenhuma

n % n % n % 16 a 19 anos 05 23,8 10 47,6 06 28,6 20 a 24 anos 11 45,8 05 20,8 08 33,3 25 a 29 anos 07 58,3 02 16,7 03 25,0 30 a 39 anos 02 40,0 - 0,0 03 60,0 40 a 49 anos 03 60,0 - 0,0 02 40,0 50 a 56 anos 01 25,0 - 0,0 03 75,0 Total 29 40,8 17 24,0 25 35,2 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

Segundo o critério utilizado para diagnóstico da doença, os dados sobre a situação vacinal estavam disponíveis em 62% (49/79) dos casos confirmados pelo critério laboratorial e 52% (22/42) dos casos confirmados pelo critério clínico- epidemiológico. Com isso, é possível visualizar na tabela 7 que os casos laboratorialmente confirmados apresentaram uma porcentagem menor de indivíduos com pelo menos duas doses da vacina tríplice viral em relação aos casos confirmados pelo critério clínico-epidemiológico.

Tabela 7 – Casos de caxumba segundo o critério de confirmação e número de

doses da vacina tríplice viral, UNICAMP, 2015-2017

Número de doses Critério de confirmação Total Laboratorial Clínico- epidemiológico n % n % n % Uma dose 22 44,9 07 31,8 29 40,8 Duas doses 8 16,3 07 31,8 15 21,1 Três doses ou mais 2 4,1 - - 02 2,8 Nenhuma 17 34,7 08 36,4 25 35,2 Total 49 100 22 100 71 100 Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

A partir dos primeiros casos reportados, em 27 de agosto de 2015 foram iniciadas as medidas para controle do surto, ou seja, a realização da profilaxia pós- exposição, comumente chamada de bloqueio vacinal. Essas ações, em sua maioria, ocorreram durante um dia de acordo com a unidade, faculdade ou instituto, do curso do primeiro caso reportado e também em alguns locais com circulação em comum entre os indivíduos (gráficos 4A e 4B).

Gráfico 4A – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo a

semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2015

Fonte: DDTR/CVE/CCD/SES-SP

Gráfico 4B – Locais e campus de realização da profilaxia pós-exposição segundo a

semana epidemiológica de ocorrência, UNICAMP, 2016

Entre agosto e dezembro de 2015 foram aplicadas 5.185 doses da vacina tríplice viral durante a realização da profilaxia pós-exposição; e entre janeiro e julho de 2016 foram 4.091 doses, representando, aproximadamente, 11,2% e 8,7% dos docentes e servidores da instituição e estudantes matriculados, respectivamente. A média entre o intervalo da data de início dos sintomas do primeiro caso no campus do curso matriculado e a realização da profilaxia pós-exposição foi de 35,4 (2-85) dias, sendo que em alguns locais houve sua realização antes da ocorrência de qualquer caso.

5 DISCUSSÃO

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