• Nenhum resultado encontrado

2.1.2.1 - RESÍDUOS INDUSTRIAIS

No concernente a resíduos industriais, os aspectos preponderantes em seu gerenciamento em uma indústria estão diretamente relacionados ao programa de minimização que deve ser contemplado. Neste programa é indiscutível que as premissas básicas sejam a redução na fonte e a reciclagem.

De forma resumida, o gerenciamento dos resíduos industriais, segundo Rocca et al. (1993) contemplará principalmente 04 etapas: 1.identificação e classificação dos resíduos, 2.segregação, armazenamento e transporte; 3.tratamento e 4.disposição final, as quais vêm descritas a seguir, contemplando-se no contexto geral o programa de minimização.

1ª) Identificação e classificação dos resíduos: isto se fará especificamente conforme as normas ABNT/NBR 10.004, NBR 10.005, NBR 10.006 e 10.007, a partir das quais se obtém a princípio a subdivisão nas Classes I e II, perigosos e não perigosos (Classes A- não inertes, e B-

inertes), por avaliação das características de toxicidade, inflamabilidade, patogenicidade, corrosividade e reatividade além dos ensaios complementares para a caracterização completa dos resíduos, respectivamente, ensaios de lixiviação, solubilização e formas de amostragem.

2ª) Segregação, armazenamento e transporte: fundamentais no gerenciamento, posto que sem a separação adequada dos resíduos não se garante a possibilidade de reciclagem. O armazenamento, acondicionamento e transportes seguros seguem as determinações da legislação ambiental.

3ª) Tratamento: considerando os resíduos industriais, são inúmeras as formas de tratamento, entre métodos físicos e químicos. Desde tratamentos específicos pela composição química e toxicidade dos resíduos (neutralização, ultrafiltração, nanofiltração, osmose reversa, filtros zeólitos, etc.) a tratamentos mais gerais e abrangentes como estabilização e solidificação, landfarming, desidratação e secagem de lodos, incineração, coprocessamento.

4ª) Disposição final: os aterros industriais ainda são relevantes, apesar da necessária discussão acerca da reciclagem/reaproveitamento e da não geração de passivos ambientais.

O solo como atenuador de resíduos traz graves riscos da disposição indiscriminada como transporte de poluentes pelos líquidos percolados. Os aterros industriais como forma de disposição de resíduos no solo fundamentada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, garante um confinamento seguro em termos de poluição ambiental e proteção à saúde pública (ROCCA et al., 1993), mas não deixa de representar área de passivo ambiental. É necessário buscarem-se outras alternativas.

A necessidade de projeto criterioso, com localização adequada, observando-se as condições topográficas e hidrogeológicas é fundamental. Somam-se a estas premissas, a implantação de infraestrutura de apoio, obras de controle da poluição e adoção de regras operacionais específicas.

A disposição de resíduos tóxicos em aterros industriais não é prontamente aceito, especialmente na Europa, considerando que estes locais despendem extensivas áreas que poderiam ser usadas para agricultura ou outra aplicação industrial ou áreas de preservação ambiental. Diretivas da União Européia têm impulsionado tecnologias capazes de eliminar esses resíduos transformando-os em inócuos ou reutilizáveis como matérias primas secundárias (MARABINI et al., 1998).

Borges (2007) discorre com profundidade e completude sobre o gerenciamento de resíduos industriais, apresentando, junto com esquema de classificação formatado da NBR 10004, interessante análise de pre-tratamento /tratamento e disposição final.

Todo gerenciamento é permeado pela orientação de um programa de minimização, contemplando os objetivos de redução na fonte e reciclagem.

Embora a redução na geração de resíduo seja sempre uma ação necessária, ela é limitada, uma vez que existem impurezas na matéria-prima, envolve custos e patamares de desenvolvimento tecnológico (SOUZA et al., 1999; JOHN, 2000).

Em termos dos resíduos de fibra cerâmica, especificamente para os resíduos de lã de vidro, pode-se registrar segundo a ISOVER (2010):

“Os resíduos de lã de vidro, inclusive aqueles gerados por sobras de obras, são classificados como Classe II A - não perigoso e não inerte, conforme a NBR 10004:2004. Não podem ser descartados em terrenos baldios, em sistemas de esgoto ou próximos a cursos d’água. A melhor opção para destinar os resíduos de lã de vidro são os aterros industriais classe II. As embalagens usadas dos produtos de lã de vidro (sacos plásticos e caixas de papelão sem sobras de lã de vidro ou de outros materiais) podem ser destinadas para reciclagem em empresas especializadas que atuam neste setor.”

Para os resíduos de lã cerâmica, o fato de estas fibras pertencerem ao grupo 2B, de produtos possivelmente cancerígenos, pelo IARC, no qual ainda se encontram também as fibras de amianto, automaticamente classifica os resíduos gerados como resíduos de classe I ou perigosos. Sua destinação é prevista, então, em aterros industriais classe I.

2.1.2.2 - A INDÚSTRIA DE CIMENTO E O CONTEXTO AMBIENTAL

A indústria do cimento está reciclando cada vez mais resíduos orgânicos perigosos como combustível para fabricação do clínquer, recuperando o valor energético dos resíduos e ajudando na conservação dos combustíveis fósseis. Por outro lado, o concreto de cimento Portland é capaz de incorporar com segurança cinzas volantes, escórias e outros subprodutos industriais (MEHTA; MONTEIRO, 2008).

Ghrici et al (2006) relatam que, para reduzir consumo de energia, emissão de CO2, as indústrias de cimento vêm utilizando adições minerais como escórias, pozolanas naturais e fíler de calcário em misturas com o cimento ou na moagem direta do clínquer.

Mounanga et al (2011) em consonância com estudos desenvolvidos por Aitcin (2000), Mehta (2001), Malhotra (2006), também propõem a substituição do clínquer por adições minerais (resíduos industriais, escória de alto forno, cinzas volantes ou fíler de calcário). Essa substituição pode ser feita durante a fase de moagem ou diretamente na mistura de concreto como parcial substituição ao cimento.

Esses materiais cimentícios contribuem para melhorar o desempenho a longo prazo do concreto (resistência mecânica e durabilidade). Contudo, a substituição do cimento por adições minerais, especialmente em altos volumes, geralmente reduz a taxa de desenvolvimento de resistência nas primeiras idades do concreto significativamente. De fato a reação pozolânica é um processo lento, comparado à hidratação do cimento Portland (MOUNANGA et al, 2011).

Nesse contexto pode-se considerar o Brasil como país incipiente na indústria de cimento, mas que já apresenta há décadas produtos consolidados no mercado com a incorporação de resíduos em sua fabricação na ordem de até 70% em substituição ao clínquer. Citem-se aqui o cimento CPIII com 35 a 70% de escória de alto forno, além do CP II E32 com incorporação de 5 a 34% dessa escória, além dos cimentos pozolânicos, CP IV, com incorporação de cinzas volantes e outros aditivos (ABCP, 2002).

Há que se considerar também os benefícios que a redução de clínquer na fabricação do cimento tem no contexto de emissões de CO2 à atmosfera e a contribuição negativa destas emissões no que se refere ao efeito estufa e aquecimento global. Tem-se que as principais

causas do aumento de emissão de CO2 se devem mais significativamente a outras fontes que

não a indústria, causas como o desmatamento e transporte, por exemplo. Todavia se a contribuição industrial pode ser reduzida, todos os encaminhamentos e pesquisas neste sentido são relevantes (MEHTA e MONTEIRO, 2008).

Na verdade, sabe-se que ações isoladas não irão solucionar os problemas advindos pelos resíduos . A indústria deve tentar fechar seu ciclo produtivo de tal forma que minimize a saída de resíduos e a entrada de matéria-prima não renovável (DORSTHORST; HENDRIKS, 2000).