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ASPECTOS BÁSICOS E HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES

1. INTRODUÇÃO

4.6. ASPECTOS BÁSICOS E HISTÓRICO DA CONSTRUÇÃO DE HABITAÇÕES

O Estado do Acre, último a integrar o território brasileiro (1903), foi colonizado especialmente por nordestinos, em sua maioria, cearenses, que emigravam de suas terras, fugindo da grande seca que ocorreu no Agreste, em 1877, em busca de riquezas que a exploração da borracha pudesse proporcionar. Famílias inteiras saiam de sua terra natal para tornarem-se seringueiros no atual estado brasileiro. Para o povoamento do estado, o governo brasileiro incentivava as famílias a tornarem-se “prósperas” com a exploração da borracha brasileira, fornecendo-a para a Europa e Estados Unidos, em meados da Revolução Industrial e Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Assim, já nos primórdios do povoamento, as principais edificações eram as Casas de Aviamento, o Barracão, a Casa do Seringalista (todas em madeira maciça), e as palafitas dos seringueiros e meeiros, construções estas mais rústicas, feitas geralmente de troncos abertos e cobertas folhas de palmeira (CARNEIRO, 2015).

Com o passar dos anos e o consequente desenvolvimento local, iniciaram-se as construções em alvenaria, que tem sido até a atualidade, o tipo de edificação principal por todo o Estado (CARNEIRO, 2015).

Porém, em meados da década de 80, foi inaugurada a Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC), e com ela a ideia de se construir com o recurso natural mais abundante na região, a madeira, foi sendo aos poucos concretizada. Pesquisadores da Divisão de Tecnologia em Madeira (DITM) elaboraram diversos projetos de edificação de casas populares em madeira. No mais antigo, catalogado no “Manual de construção por ajuda mútua”, publicado em meados dos anos 80, foram edificadas, com o apoio do Banco Nacional da Habitação (BNH), pouco mais que 600 habitações, utilizando técnica de habitação pré- fabricada em madeira para execução em regime de mutirão ou autoconstrução.

O mais recente projeto “Cidadão Habitar” foi formulado para atender as necessidades de intervenção no processo de ocupação desordenado e os anseios das populações de baixa renda e ao mesmo tempo, qualificar recursos humanos para autoconstrução (FUNTAC, 2000).

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As Figuras 7A (vista frente) e 7B (vista lateral), mostram imagens do protótipo uma habitação popular, construída em madeira, com o módulo de banheiro em alvenaria, edificado no parque na FUNTAC, no Setor Moveleiro do Município de Rio Branco, Acre.

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FIGURA 7 - Imagens de protótipo de habitação em madeira, edificada na FUNTAC em 2003 Fonte: Projeto Cidadão Habitar, FUNTAC, 2000.

Quando de sua execução, seguindo as diretrizes do Programa Comunidade Solidária do Governo Federal, as madeiras, oriundas de apreensões do Instituto de Meio Ambiente do Estado do Acre (IMAC) eram cedidas, cotadas a preço de mercado e serradas pela serraria da FUNTAC. Na ocasião foi elaborado um levantamento dos custos da unidade habitacional, assim descrito: R$ 3.500,00, para a madeira doada e R$ 4.000,00 para outros materiais, como subsídio integral do Governo do Estado do Acre, totalizando R$ 7.500,00 (FUNTAC, 2003).

Naquele projeto o preço do m² da edificação foi de R$ 165,56, visto que a habitação possui área total de 45,30 m² (FUNTAC, 2003).

Fazendo-se a atualização monetária pelo Índice Nacional da Construção Civil (INCC), com o índice acumulado anualmente, tendo como referência o mês de abril o valor total da edificação, atualizado até abril de 2016 seria de R$ 19.529,20, com Custo Unitário Final/m² de R$ 431,10.

Deve-se ressaltar que para aquela edificação, não foi incluído no custo final o valor da mão de obra, equipamentos, despesas administrativas nem a parte das telhas, pois também eram fabricadas na Serraria da FUNTAC. Também necessário mencionar que o projeto “Cidadão Habitar” se constituía de “doação de moradias” aos “sem teto” que residiam nas

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ruas do centro do município de Rio Branco. Assim, a mão de obra utilizada além da contratada pela FUNTAC, também era do beneficiário, visando sua capacitação profissional.

Após a consecução do PNHR, a partir de 2013, foram edificadas mais de 150 habitações populares em madeira, subsidiadas pelo Governo Federal através do Banco do Brasil, com projetos próprios da Secretaria de Habitação e Interesse Social do Estado do Acre (SEHAB), em parceria com a Secretaria de Obras Públicas do Estado do Acre (SEOP) e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Florestal, Indústria, Comércio e Serviços Sustentáveis (SEDENS). Os projetos foram financiados pelo Banco do Brasil, dentro do PNHR (SEDENS-AC, 2016).

As Figuras 8A e 8B apresentam casas financiadas pelo PNHR, construídas com madeira serrada na Aldeia Katukina em Cruzeiro do Sul, Acre (SEDENS-AC, 2016).

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FIGURA 8 - Vista de 1 casa e parte de aldeia em madeira, em Cruzeiro do Sul, Acre Fonte: Imagens capturadas por Gleidson Miranda, 2014.

As Figuras 9A e 9B são de duas das 38 casas financiadas pelo PNHR (via Banco do Brasil) na Vila Gregório, área rural do município de Tarauacá, Acre. Note-se que por serem destinadas às populações ribeirinhas, parte da edificação é constituída de alvenaria convencional, com projeto próprio de autoria da SEHAB, SEOP e SEDENS. (SEDENS-AC, 2016).

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FIGURA 9 - Imagens de habitação em madeira para ribeirinhos, Tarauacá, Acre Fonte: imagens capturadas por Gleidson Miranda, 2016.

Embora a madeira seja utilizada há séculos por diversas civilizações ao redor do mundo e ocorra em abundância na Região Norte do Brasil, para onde são direcionados os recursos do PNHR, existe preconceito dos próprios beneficiários no que diz respeito, especialmente, à durabilidade e segurança da edificação construída em madeira.

Na zona rural de municípios do estado do Acre, os beneficiários do PNHR ao serem contemplados com o financiamento sequer têm conhecimento de que se pode edificar a moradia utilizando um projeto já desenvolvido por agentes públicos e substituem suas residências construídas em madeira por casas de alvenaria convencional, conforme ilustrado na Figura 10.

FIGURA 10 - Substituição de casa de madeira por edificação em alvenaria. BR 317, proximidades de Xapuri, Acre. Obra financiada pelo PNHR

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Ao longo de quase 10 quilômetros, a partir do local da Figura 10, existiam 17 casas de madeira sendo substituída por habitação de alvenaria convencional, com subsídio integral do PNHR.

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